Um disco indispensável: Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - The Beatles (Parlophone, 1967)

A revolução sonora psicodélica dos Beatles aconteceu mesmo nesse disco, após uma temporada de descansos após o fim dos shows, sendo que o último foi no Candlestick Park em San Francisco, nos EUA em 29 de agosto de 1966 e após esse dia, os quatro de Liverpool tomaram cada um o seu rumo e esperarem se juntarem: John Lennon foi para a Espanha acompanhar as filmagens de "Como Ganhei a Guerra" com o diretor Richard Lester, no qual acabou protagonizando. George aproveitou a temporada e foi para a Índia meditar e aprender mais cítara e cultura indiana, além de ter mais contato com Ravi Shankar, Ringo ficou alguns dias viajando na Europa e Paul McCartney trabalhou como compositor de trilha sonora do filme The Family Way, primeiro trabalho individual de um Beatle. Foi nesse período antes das gravações da obra que espalhou-se um boato de que Paul McCartney havia sofrido um acidente e morrido, e que ao saberem, a banda decidiu escolher um sósia para substituir ele, e esse sósia chamava-se William Campbell, ou Billy Shears, que possivelmente permanece até hoje se passando por Sir Paul, sendo que este boato até hoje permanece sendo negado pelo próprio Paul. Em novembro de 1966, a banda se reunira pela primeira vez em três meses para gravar material inédito, com George Martin na produção e Geoff Emerick como engenheiro de som, mas teriam um longo tempo para poderem trabalhar em um disco ousado e moderno, diferente de todos os discos que já haviam feito desde que estavam no cast da EMI, em especial da Parlophone, em 1962, quando ainda estavam começando a dar alguns passos para o sucesso, apesar desses passos terem se expandido muito depois de 1966: a banda estava precisando mudar, musicalmente e no meio destas primeiras gravações, surgiu uma canção psicodélica, chamada Strawberry Fields Forever, um tema que acabaria expandindo a influência do som psicodélico dos Beatles, "Estava filmando na Espanha com (Richard) Lester e no meio das filmagens, e me lembrei do Campo de Exército da Salvação de Strawberry Fields, que ficava perto de minha casa e após as filmagens, tive tempo para escrever Strawberry Fields com base nas lembranças do local que era perto de casa, apresentei a letra e depois começamos a trabalhar no que viria a ser os temas de Sgt.Pepper", relembra John Lennon em uma entrevista durante os anos 70, sobre como os Beatles iniciariam o trabalho de uma das mais importantes obras do rock and roll que acabaria gerando outros discos, embora o disco tenha sofrido também influências de outro grande clássico feito em 1966, Pet Sounds, dos norte-americanos Beach Boys, onde se nota muito a presença de orquestra, vários outros instrumentos e de influências modernas, que estavam presentes neste disco, e também de grupos como 13th Floor Elevators, The Moody Blues, Rolling Stones e do The Who e também do jovem compositor Bob Dylan "Estávamos ouvindo muita coisa que faziam de diferente, Satisfaction dos Stones não era o mesmo som que nós fazíamos, sempre íamos num rumo parecido até a gente começar a fazer Rubber Soul e Revolver, que eram uma continuação um do outro" relembraria Paul McCartney, que até hoje nega os tais boatos de que morrera em um acidente de moto em 1966, após os shows que encerraram as atividades dos Beatles em palco. Outro tema composto durante o período de criação foi Penny Lane, que era uma rua bem conhecida em Liverpool, na qual falava da cidade após a Segunda Guerra, desde os bombeiros até um barbeiro de origem italiano, porém, não entraram no disco "Achavam que estes temas não tinham possibilidades de fazerem sucesso dentro do disco, aí saiu em compacto", disse George Martin, que concebeu o belo arranjo de metais de Penny Lane, que nos remete às músicas da primeira metade do século XX, que foram base para a concepção de Sgt. Pepper's.
Na festa de lançamento do álbum realizado na casa do empresário
Brian Epstein,em junho de 1967, o ano do impacto musical.
A banda tinha se impressionado com o que estavam ouvindo das bandas que estavam criando suas próprias sonoridades entre 1965 e 1966, bandas como Rolling Stones, Iron Butterfly, The Monkees, The Beach Boys, Yadbirds, o menestrel Bob Dylan e até o The Who já acbaram tendo um rumo diferente "A gente ainda seguia como banda, mas para muitos já havia um fato de que não somos mais uma banda, se ainda estávamos fazendo discos e vivendo uma rotina", afirmou McCartney sobre os supostos boatos do fim da banda, originados também por uma frase polêmica de John Lennon, onde ele teria dito que "somos mais poulares que Jesus Cristo" na qual a Igreja Católica sofreu um baque e incentivou os jovens a deixarem de ouvir o grupo, em especial nos EUA, onde houve fogueiras na qual queimavam discos e objetivos da banda e muitos comentários sobre as posições católicas os atormentaram em coletivas de imprensa por onde passavam para fazer os últimos shows em 1966. O título do disco surgiu como uma brincadeira de Paul, como sempre "Líamos cartazes e nomes tipo Freddy and His Medicine Band ou algo assim e aí foi quando veio algo bem assim", disse Paul a respeito do nome "E do nada, veio um nome improvisado e sugeri 'Hey, que tal Sgt. Pepper?', e o resto completei e transformei em música", e assim veio o nome de um dos mais conceituados discos do rock and roll, com muito experimentalismo e originalidade. O primeiro tema, chamado Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, começa com ruídos de um início de um espetáculo, incluindo acordeon e o "público" que na verdade eram os Beatles, George Martin e algumas pessoas presentes no estúdio, aí começa uma levada rocker puxada por um solo de guitarra, risos e metais fazem parte do início desta performance que segue com With A Little Help From My Friends, um tema com uma sonoridade doo-wop, com Ringo cantando perfeitamente um belíssimo tema feito pelos amigos Lennon e McCartney, ou Billy Shears, citado antes do começo da música; em seguida, vem um dos mais emblemáticos temas do disco, chamado Lucy In The Sky With Diamonds, que parece ser uma belíssima rock-ballad psicodélica, que às vezes, se lermos as iniciais, pode nos remeter à sigla LSD, que a banda já declarou ter usado (leia isso na Discografia Indispensável da banda), e que consumiram muito durante as gravações, junto da maconha, mas que segundo John Lennon, o autor da letra, era sobre um desenho feito pelo seu filho Julian, que mostrou ao pai uma mulher no céu segurando um diamante; Getting Better seria uma levada hard-rocker bem parecida com que os Beatles tinham feito nos anos anteriores (1962 a 1966), seguido de um riff de guitarra, falava que tudo iria ficar bem, o nome foi retirado das várias vezes que Jimmy Nicol, que substituiu Ringo por algumas semanas, respondia como estava o baterista doente naquele momento estava, "Ringo is getting beter" era a resposta; Fixing A Hole é uma daquelas músicas que a gente ouve e nos lembra um pouco as baladinhas, daquelas que se ouvem no rádio, com um solo de guitarra fácil de aprender até assoviando, e foi apontada como uma canção sobre o uso de heroína; She's Leaving Home tem um quê de música clássica, pode-se notar muito isso na harpa e no arranjo de cordas, na qual a banda falava da dor de uma jovem que deixou o lar, além de ter sido um dos temas que não foram arranjados por Martin, o que deixou aborrecido, por terem chamado Mike Leander; os ares cirquenses influenciaram John Lennon a compor Being For Benefit of Mr. Kite, cujo o título teve sido inspiração de um cartaz de circo, e o tema até parece bem cirquense mesmo, repare pela bateria bem suave, e John no clavicórdio, órgão e piano e o próprio cantando numa voz nasal e fria, George Martin, o produtor acabou gostando muito do resultado dessa atmosfera sonora; a música hindu entraria no bailado do disco, George compôs e gravou na cítara Within You Without You, na qual contou com músicos indianos, violinos e influências da música de Ravi Shankar; o estilo oldie de Paul seguia ainda em When I'm Sixty-Four, com sopros e uma levada de vaudeville e cabaret, proclamando como será a sua vida quando chegar aos 64 anos de vida; os boatos sobre a morte de Paul vieram a calhar em Lovely Rita, na qual falava de uma "meter maid", uma controladora de parquímetros, na qual o próprio Beatle teria observado essa controladora de parquímetros e ao ter se distraído, sofreu um acidente, mas falando mais na música mesmo, se pode reparar um pouco, têm aquele jeito rocker dos anos de 1965 e 1966, seguido de uma atmosfera sonora semelhante ao do R&B; o galo canta dando início a mais uma música, desta vez Good Morning, Good Morning, que foi John se inspirou numa frase de cereal e o trabalho da guitarra ficou a cargo de Paul, enquanto os sopros e o peso de uma banda de hard-rock soam nessa música, ao final aparecem os ruídos de animais como o galo do início, cachorro, gato, cavalo e a guitarra dá mais um toque anunciando a Reprise da faixa-título, mais acelerada e mais rock and roll, com as vozes de John e Paul bradando a Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta, e no final os aplausos parecem que o show já terminou, mas aí que você se engana: o bis deixa um registro marcante, a chave de ouro que fecha o disco é A Day In The Life, que contou com 41 músicos de orquestra, foi baseada em uma história real de colagens de notícias do acidente nas ruas de Blackburn e Lancshire e mostrava uma visão crítica muito especial do que se descreve na música, John tocou violão, guitarra e piano, Paul gravou baixo e também piano, George ficou nos bongôs e no piano e Ringo tocava as baquetas, também contou com Mal Evans cronometrando o tempo por um despertador, a música contou com supostas ligações às drogas e uma hidden track (faixa escondida, aquelas raridades que sobram e ficam pro final depois de alguns segundos ou minutos) com um ambiente de festa após as gravações, na qual mantinha-se mais referências sobre as drogas. Enfim, a viagem sonora de Sgt. Pepper's acabou tendo um final feliz, e sobre a capa, não preciso dizer muita coisa, já precisam ler aqui no Capas de Disco Indispensáveis.
Algumas músicas como Lucy In The Sky With Diamonds e A Day In The Life foram banidas das rádios britânicas, como a BBC por referências sobre drogas e isso acabou prejudicando a banda, que ganhara muito sucesso nas rádios e isso acabou azedando a relação da banda com a emissora de rádio, mas só assim a banda seguiria sendo mais popular, tendo seu disco tocado ou não nas rádios. Enfim, um disco que não adianta utilizar mil palavras, pois é um disco que segue mais eterno e mais moderno do que nunca, e acabou influenciando muitas bandas, sons que viriam adiante após o ano bem-sucedido de 1967. Que viva Sgt. Pepper's!
Set do disco:
1 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (John Lennon/Paul McCartney)
2 - With A Little Help From My Friends (John Lennon/Paul McCartney)
3 - Lucy In The Sky With Diamonds (John Lennon/Paul McCartney)
4 - Getting Better (John Lennon/Paul McCartney)
5 - Fixing A Hole (John Lennon/Paul McCartney)
6 - She's Leaving Home (John Lennon/Paul McCartney) 
7 - Being For Benefit for Mr. Kite (John Lennon/Paul McCartney)
8 - Within You Without You (George Harrison)
9 - When I'm Sixty-Four (John Lennon/Paul McCartney) 
10 - Lovely Rita (John Lennon/Paul McCartney) 
11 - Good Morning, Good Morning (John Lennon/Paul McCartney)
12 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise) (John Lennon/Paul McCartney)
13 - A Day In The Life (John Lennon/Paul McCartney)

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