Um disco indispensável: 1999 - Prince & The Revolution (Warner Bros Records, 1982)

Em 1980, não havia ninguém que não conhecesse o talentoso Prince Rogers Nelson - ou simplesmente Prince, mal sabia o que estava perdendo desse cara, visto como uma das novas caras da música pop surgida no final dos anos 70. O baixinho de Minneapolis, cidade do Minnesota tinha chegado ao topo com I Wanna Be Your Lover, do seu segundo álbum que levava seu próprio nome em 1979, após uma estreia muito despercebida em For You, ele se consagra definitivamente como um dos nomes do pop, do soul, do R&B e também da música em geral. No começo dos anos 1980, ele formara uma banda que seria seu maior suporte por seis anos, a The Revolution: originalmente surgidos como The Rebels, a banda era formada além de Prince nos vocais principais, guitarras e piano, Jill "JJ" Jones nos vocais, Andre Cymone e depois Brown Mark no baixo, Dez Dickerson na guitarra, Bobby Z. na bateria e percussão, "Dr." Matt Bobby Fink nos teclados juntamente de Lisa Coleman mais adiante acompanhavam Prince nos shows e às vezes no disco, uma vez que o suposto Prince seria um multiinstrumentista superdotado, produtor e até engenheiro dos seus próprios discos (ACHOU QUE EU TAVA BRINCANDO???). Ou seja, o cara fazia de tudo, e aí só deixava algumas partes para a banda gravar numa boa, e foi assim quando aconteceu o álbum Dirty Mind, lançado nesse mesmo 1980 em que a The Revolution estreava, mesmo que não creditados ainda no disco. O sucesso era indescritível, algo que levava multidões a irem atrás do jovem e talentoso músico, o mais novo queridinho do pop, mesmo que esse título ficava mais com Michael Jackson. Por quê, meus caros leitores e leitoras? Michael já tinha estrada e estava se consolidando como solista depois de anos visto como o pequeno talento dos Jackson 5 (na época, The Jacksons, devido ao fato de a Motown ter mantido esse nome após eles romperem o contrato), porém nunca houve uma grande rixa entre ambos, pois tinham as mesmas influências musicais e seria muito raro ouvir algo sobre os dois. Mas, passou o tempo e Prince seguia fazendo sucesso como nunca, dominando as paradas e fazendo a cabeça e os ouvidos da juventude na pista de dança, e com o estouro de Dirty Mind, o momento era de seguir o baile, e foi assim em Controversy (1981): a forma como acontecia seu sucesso era impressionante, e logo de cara manteve a boa maré de vendagens dos dois álbuns anteriores. E junto de Controversy, veio na mesma época a emissora televisiva Music TeleVision, a nossa queridíssima MTV, que conseguiu popularizar ainda mais o conceito de "música e vídeo" ou seja: o artista não precisava mais depender de fazer vídeos da mesma música para programas diferentes, exibido em países diferentes, não. Agora você tinha como lançar um videoclipe próprio e ser mandado para outras as emissoras, tanto antes quanto depois do surgimento da MTV, e Prince foi um dos primeiros nomes lá no comecinho da emissora a se consagrarem nessa emissora durante seu surgimento. Um de seus primeiros clipes a acontecerem na MTV foi de um álbum que se tornou um dos grandes álbuns de maior sucesso até então: o duplo 1999, lançado em 27 de outubro de 1982, mais moderno, mais eletrônico e mais impactante logo na primeira escuta, ou seja: a forma de como este disco foi feito é algo que marca a gente mesmo.
Gravado num período de oito meses, ou seja, de janeiro até agosto, nos estúdios Kiowa Trail Home Studio, no Minnesota - seu estado natal, e no lendário estúdio de Hollywood, Sunset Sound, e nesse período, Prince desenvolveu experiências com bateria eletrônica e sintetizadores, fazendo programações e loops que resultaram nas 11 faixas deste clássico, e também vale destacar aqui a capa, um pouco psicodélica, e que traz o nome da Revolution numa espécie de bola de futebol americano escrita ao inverso, e também com elementos da capa do álbum anterior, vale lembrar que em 1983, o disco foi lançado em duas partes no Brasil e em alguns outros países, o que deixou muitos fãs decepcionados pois esperavam receber o pacote completo e não pela metade: na capa do primeiro você tinha Prince sensualizando no que parece ser um ambiente de motel, e na capa do segundo volume você tinha a banda junto em destaque num cenário meio futurístico, mas quem conseguiu com a capa original importada teve sorte mesmo. O álbum já abre com tudo, logo de cara temos a faixa 1999 com uma voz lenta e robotizada dizendo "Don't worry, I won't hurt you/I only want you to have some fun..." (Não se preocupe, não quero machucar você/Eu preciso de você para me divertir - tradução livre) e na sequência, um funkzinho bem suingado movido a sintetizadores, e traz nos primeiros versos as vozes de Dez e de Lisa, e Prince surge bem antes do refrão - algo bem parecido com You Are the Sunshine of My Life, de Stevie Wonder, e vocês sabiam sobre a faixa, que narra um lance apocalíptico, e de questionar se você viveria até não poder mais ou festejar como se fosse 1999, ela ainda não havia sido feita até antes de agosto? Eis que chegou um momento em que os diretores da Warner pediram a ele um tema que pudesse resumir por inteiro a temática do disco, então ele gravou nos últimos do 2º tempo, no dia 7 agosto, juntamente da faixa que a sucede no álbum, mantendo essa energia dançante e futurística que segue no decorrer deste trabalho; e falando na tal faixa seguinte, que começa relaxante e com uma atmosfera pop-zen, e vai crescendo rapidamente, você acaba tendo um clássico de cara, logo Little Red Corvette é o tema que não merece muitas palavras a descrever, e com a potência de um clássico desses, bicho: você sabe que existe uma energia dentro dessa música que é contagiosa ao decorrer desta; já na sequência, temos uma outra faixa que não engana nossos ouvidos, e estamos falando de Delirious, aonde o eu-lírico desta canção assume ter delírios quando está perto da pessoa que ama numa pegada rockabilly totalmente techno, com uma dosagem de blues sintetizado até, que vale a pena de verdade, não é totalmente ruim e com aqueles clichês da época, totalmente a cara do Prince - tudo feito com as suas mãos mesmo; por diante, temos a faixa a seguir, que nos primeiros segundos, uma simples levada de bateria repetida parece imitar uma marcha militar, mas entram os sintetizadores e - temos Let's Pretend We're Married, com uma boa letra, mas que ainda traz uma fusão não só do funk e do techno, mas com um pouco da disco e da new wave nos elementos sonoros, e os sintetizadores fazem um belo trabalho aqui regidos e concebidos pela mesma pessoa; e para fechar a primeira parte disco, temos uma baita pedrada de qualidade, que segue o bailado das canções anteriores, e eu estou falando de D.M.S.R., que signigica Dance Music Sex Romance, tudo o que há de mais surpreendente no universo poético-musical, e que tem uma levada de guitarra à la Nile Rodgers que dá um toque a mais, juntamente do baixo, um dos instrumentos mais ouvidos e totalmente cheio de grooves - o essencial desta música, fechando com tudo a primeira parte do disco.
E já no segundo disco (ou a segunda parte deste, como queiram), já vemos que o excesso de sintetizadores em Automatic, a mais longa faixa deste álbum, com nove minutos e meio, já nos traz uma viagem dentro da canção, e a pegada cai bem, não deixa a gente sem certezas, e prova ser um dos temas de grande destaque do álbum, sim, com os diversos efeitos sonoros made in the 80s, caros leitores e leitoras; já na próxima canção, o bailado segue essa qualidade proporcionada, e não é à toa que Something in the Water (Does Not Compute) consegue manter essa pegada, mais pesada e mais acelerada, com ares de tema de ficção científica, apenas o bom que ele sabe fazer; a faixa seguinte, traz um ambiente de rua, passos militares, carros, mas é sucedida por uma balada mais puxada pro melódico, e Free traz isso: um ar mais profundo, e menos agressivo na música, até que não soa ruim demais; em seguida, nós temos aqui a faixa Lady Cab Driver, com o mesmo ambiente urbano da cidade, eis que se ouve uma voz pedindo um táxi, junto de uma bateria programada, também traz essa referência mais voltada pra disco e pro funk, totalmente original, com direito a um rap no meio da música - com seus mais de 8 minutos, e uma série de solos no restante também mostra uma parte instrumental excelente, evitando perder a magia do som de vez; ainda temos mais outro tema que ganha um clima futurístico pela levada, com um título bem sacaneado, All the Critics Love U in New York, um tema que narra de forma clara sobre a forma como as pessoas como são, e também uma jornada pelo universo neoiorquino das tribos, com uma certa ironia dizendo "Take a bath, hippies" (Tomem um banho, hippies - tradução livre), que lembra um pouco a cidade na visão de cantores como Lou Reed também, depende da forma como observa a poesia da música; e o disco encerra de vez com International Lover, outra baladinha, com um toque mais sensual como em todas as suas canções, com todos os clichês de baladas oitentistas - mas clichês que sempre dão certo como sempre, o exagero nos falsetes, a mudança de tom vocal, fecha assim com chave de ouro a segunda e última parte com uma boa dose de romantismo e suavidade musical, bem agradável como sempre. Resumindo de vez: era o Prince sendo Prince, inovando, arquitetando, e fazendo o que mais sabe fazer de melhor sem perder o primor, até sua morte em abril de 2016.
O disco fez com que suas turnês se estendessem aos quatro cantos do mundo, shows lotados, conquistava ainda mais fãs não apenas do pop e da soul music, agora também do rock, uma vez que ele já estava fazendo algo que misturasse todas as suas influências, o cara tinha as manhas. Já estava preparado também para se despontar como um astro do cinema, protagonizando um dos mais marcantes filmes dos anos 80 com a trilha sonora eternizante que todos sabemos qual é: Purple Rain (leia a review aqui), mas aí já é uma outra história, leitores e leitoras deste blog querido. O disco conseguiu ser também um fenômeno best seller na década, perdendo o posto em seguida para o famoso Thriller, de quem mesmo? Além de ajudar a render diversos prêmios para sua estante, dentre ele, os primeiros Grammys que levara, pela Melhor Performance VocalR&B Masculina, o primeiro de muitos, do qual teria 7 vezes ganho e 33 vezes indicado (olha só). Mas estampando listas diversas dos melhores álbuns dos anos 80 (imagina se não estivesse estampando), e levando a melhor com a 49ª posição na lista dos 100 Maiores Álbuns de Todos os Tempos da emissora televisiva VH1, enquanto da revista norte-americana Rolling Stone figura na 16ª nos 100 maiores discos dos anos 80, e na famosa lista dos 500 aparece com o 163º lugar, provando que esse disco dançante e moderno marcou muito mesmo.
Set do disco:
1 - 1999 (Prince)
2 - Little Red Corvette (Prince)
3 - Delirious (Prince)
4 - Let's Pretend We're Married (Prince)
5 - D.M.S.R. (Dance Music Sex Romance) (Prince)
6 -  Automatic (Prince)
7 - Something in the Water (Does Not Compute) (Prince)
8 - Free (Prince)
9 - Lady Cab Driver (Prince)
10 - All the Critics Love U in New York (Prince)
11 - International Lover (Prince)

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