Temas Indispensáveis: Funk da Lama - Zeca Baleiro

Imagine-se num show de MPB onde o artista é um homenzarrão de 45 anos, e no final deste recital, ele juntamente de sua banda começam a se juntar no palco para uma performance, em que ele e a banda ficam de pé, sérios, como se estivessem dando um recado ao público. E aí este sujeito anuncia uma música inédita, com diversos tons de ironia e uma coreografia sacana: esse é um tema indispensável e seu autor é ninguém mais, ninguém menos que o genial compositor maranhense Zeca Baleiro, em seus quase 20 anos de estrada, tinha feito um trabalho  2012 intitulado "O Disco do Ano", e com esse trabalho, viajou Brasil e mundo afora com a tournée do álbum, e com isso, veio uma música inédita nas apresentações. Na época, o que estava em voga na música já não eram mais o visual colorido do Restart, muito menos bandas como Hori, Hevo 84, Stevens, Cine dentre outros. O momento agora era do sertanejo, sem perdão, onde você estivesse, iria haver sempre rádios e programas televisivos mostrando os novos homens do sertão: a imagem típica do bom moço da cidade, que só atola na lama em época de rodeio e vai pra fazenda apenas pra passar uns dias, sem ter pegado enxada - os jecas modernos. Surgiam duplas novas, que desta vez, não iam apenas se manter em um som mais acústico e melódico como os de César Menotti & Fabiano, Victor & Leo, Paula Fernandes dentre outros. O negócio é botar arrocha da Bahia, o funk do Rio de Janeiro, a música eletrônica, e fazer disto uma balada à moda caipira, algo que deixaria Tião Carreiro se revirar de desgosto no caixão. As bandas de rock já não eram tão presentes na geração, e se prestarmos melhor atenção, o pop com todo o seu vigor, estava lançando mais nomes do que nunca. O Brasil vivia uma questão de esperanças na política, pois Dilma Rousseff estava em seu 1º mandato, mas havia muitas questões mal-respondidas sobre o futuro com ela na administração, e o PT vivia com o medo de desesperanças com a volta do Mensalão no banco dos réus - era o julgamento do maior escândalo político até aquele momento, e Lula estava se recuperando de um câncer, protagonizou também uma das mais polêmicas cenas do ano, quando junto de Fernando Haddad, apareceu cumprimentando Paulo Maluf - um dos carrascos da política e da esquerda brasileira, mas ficou despercebido esse momento. E o mundo quase acabou no 21 de dezembro, porém, a previsão feita pelos ancestrais maias, não acertou em cheio, fazendo com que este mundo continue a rodar e a acontecer como sempre. E Zeca, mostrou aos fãs que o mundo estava, literalmente, na lama, nos sentidos culturais e políticos, tanto é que não foi à toa que o título da música se chama "Funk da Lama", talvez uma de suas melhores composições ao longo de sua carreira.
No show, ele brinca que, como o funk está totalmente na moda, e as músicas coreografadas idem - era de se esperar uma música um tanto mais engraçada, também uma mensagem dirigida a Michel Teló, paranaense criado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e que estourou instantaneamente na região Centro-Oeste com o grupo Tradição, e foi o grupo que o ajudou a crescer como artista até partir para a carreira solo em 2009, quando decidiu entrar na carreira solo, por onde lançou as canções "Ei, Psiu, Beijo, Me Liga", "Amanhã Sei Lá", "Fugidinha" e também "Ai Se Eu te Pego", tema que se tornou viral na 2ª metade de 2011 e seguiu o ano seguinte inteiro. E foi essa música, o viral mundial vindo de terras brasileiras, que deixou a MPB surpresa demais: uma letra simples, com uma coreografia que se repetia até nos jogos de futebol, que acabou se tornando uma simples e concreta resposta ao tipo de música que era considerada sucesso naquele momento. O contexto de crítica social faz parte do decorrer da música, e faz uma breve análise de não importar se é isso ou aquilo, se é um ou outro, e ainda coloca um semi-refrão "você vai ter que responder pelo que faz/você vai ter que responder pelo que diz", como se estivesse dando um aviso, sobre todo e qualquer absurdo publicado e/ou compartilhado nas redes sociais, ou também sobre as coisas que qualquer pessoa - famosa ou anônima - fala nas mídias, seria uma crítica aos comediantes do CQC e do Pânico também? Devido ao fato de perseguições aos artistas/celebridades? Não se sabe bem, mas ao decorrer da música, ele fala sério, e ainda traz o sentido cômico novamente nos versos "Bota a mão nas cadeiras, vai até o chão com graça/A moral do chão não passa/Bota a mão nas cadeiras, dança com malemolência/Bota a mão na consciência" - como se pedisse para o ouvinte refletir sobre o tipo de cultura que está seguindo. Ainda temos o verso que mais se identifica com os funks típicos - sejam eles os ousados ou os mais tradicionais "Vem, cachorra/Nem precisa de cama/O mundo tá atoladinho/O mundo tá atoladinho na lama", com referências a funks como "Atoladinha" do MC Bola de Fogo, sucesso em 2006, que também é meio que um tiro, mas não de misericórdia, aos versos de funk que entram de cabeça na nossa mente. Em suma, é aquele Zeca Baleiro que temos motivos para amar e amar, não sendo um chato, apenas vendo o Brasil de uma forma como poucos podem concordar, tanto faz se de tom crítico ou se de uma simples ironia, é o que ele mais sabe fazer de melhor.


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