Um disco indispensável: Nashville Skyline - Bob Dylan (Columbia Records, 1969)

Em 1969, o cantor e compositor Bob Dylan acabou retornando de vez aos palcos, depois de um tempo recluso devido ao acidente sofrido em 1966 e que o manteve por quase um ano afastado dos palcos e do estúdio, voltando em dezembro de 1967 com John Wesley Harding: um disco com nomes religiosos e uma pegada mais diferente daquele folk eletrizante e cheio de guitarras que havia sido escutado em Bring It All Back Home (1965), Highway 61 Revisted (1965) e Blonde On Blonde (1966). Este retorno aos palcos não foi no lendário festival de Woodstock, o ápice da era psicodélica e do movimento hippie e que seguia o lema "sexo, drogas e rock and roll" aonde teve Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who, Richie Haven, Joe Cocker e muitos shows durante 3 dias alucinantes e ousados, o show de retorno mesmo foi no festival Isle of Wight no dia 31 de agosto de 1969, na qual este foi assistido pelos Beatles (exceção de Paul McCartney, que não estava num bom momento de relações com os outros três integrantes) e foi considerado um dos melhores shows daquele festival, que no ano seguinte teria a última performance de Jimi Hendrix e sua mais nova banda, a Band of Gypsys (o guitarrista morreu dias depois do show, sufocado pelo próprio vômito em sua casa em Londres) e o festival só voltaria a ser realizado 40 anos depois. Antes do show no festival inglês, Dylan havia passado um tempo se recuperando, trabalhando em canções e apostando num estilo mais country, mais de raiz e esse estilo seria marca principal do seu nono álbum de carreira e também pela gravadora Columbia, intitulado Nashville Skyline e que contou de novo com Bob Johnston na produção, além de músicos como Fred Carter Jr. na guitarra, Charlie Daniels na guitarra e baixo, Kenneth A. Burtley na bateria e também com uma presença mais do que especial: o cantor e compositor Johnny Cash para dar uma canja especial neste disco. O disco teve pouco tempo de gravação, apenas 9 dias em fevereiro de 1969 e em menos de dois meses, já era lançado o disco, que mostrava ele com um sotaque bem "caipira" do americano e mostrava também uma conexão muito forte com o famoso "som de Nashville", que mostrava um pouco desse lado mais rústico e sem muitos mistérios, segundo uma crítica da revista Rolling Stone na época do lanámento, na qual "continua o romance de redescoberta do Dylan com música rural (completa aqui com uma voz mais adequada, sutil e "country"). O novo LP representa uma progressão natural, tanto historicamente como emocionalmente,desde as paisagens de música folclórica de John Wesley Harding nos mundos mais modernos country-and-western de Hank Williams, Elvis Presley, Johnny Cash, Buddy Holly,os Everly Brothers e Jerry Lee Lewis.", ou seja, um pouco mais diferente de todo aquele enigma histórico que perambulava nas grandes canções do velho Zimmerman (na época, um jovem) e com um pouco mais de sutileza nos versos.
Encontro de fã e ídolo (da esq. para a dir.): Bob Dylan ao lado de Johnny Cash
 em 1969, divulgando o seu álbum "Nashville Skyline" na época, no programa de
Johnny Cash. Este último, que participou do álbum na faixa que abre o disco.
O disco começa com uma regravação (sim!) de um tema já conhecido, chamado Girl From The North Country, que aqui ganha um ar mais roots e com a voz de Johnny Cash para complementar os elementos do tema que apareceu antes em The Freewheelin' Bob Dylan, sete anos antes e o encontro dos dois viria a fazer Dylan promover seu álbum no programa do Homem de Preto (Cash) depois de lançado; já Nashville Skyline Rag é uma instrumental servindo como um cartão de visitas aos músicos que o acompanham neste disco com um clima típico de música animada de salloon; o álbum só "começa" mesmo na belíssima To Be Alone With You, uma simples canção na qual Dylan fala sobre estar só ao lado de alguém e no final, deixa uma simples pergunta em off "is it rolling, Bob?", (Está filmando, Bob?) uma clara pergunta ao produtor Bob Johnston se estava filmando as gravações; o banho de romantismo só começa em I Threw It All Away, canção de muito perfeccionismo nos versos e que também nos faz se impressionar ainda mais com a poesia de Dylan; na sequência tem Peggy Day, que nos versos tem Peggy Night e se especula ou o amor da mulher, seja de dia ou de noite, ou também o amor por duas mulheres, algo bem estranho até numa canção de Dylan; a mais romântica de todas as canções do álbum é, sem dúvida, Lay, Lady Lay e que conta com um belo arranjo de base e a voz "country" de Dylan soando com perfeição a cada palavra, além de não decepcionar numa canção como esta; já a singela One More Night já deixa a impressão de que o bailado segue outro, apesar de manter a linguagem country and western nos arranjos; a canção Tell Me That It Isn't True também mostra um pouco do melodismo tradicional dos countrys melódicos, e não deixa de parecer algo típico de um simples Glenn Campbell, famoso cantor popular de baladas country dos anos 60; na sequência, um tema que mostrava um Dylan que segue a reverenciar a música country americana em Country Pie, com um pouco da levada de rock nos acordes de guitarra e um piano estilo bebop; o final fica por conta de Tonight I'll Be Staying Here With You, uma simples canção de amor aqui que serve como o bis dessa aventura bem rústica do cantor e que deixa uma prova de que Dylan pode se aventurar nos mais variados estilos americanos, além do seu folk poético.
Set do disco:
1 - Girl From The North Country (Bob Dylan) - participação especial de Johnny Cash
2 - Nashville Skyline Rag (Bob Dylan) - instrumental
3 - To Be Alone With You (Bob Dylan)
4 - I Threw It All Away (Bob Dylan)
5 - Peggy Day (Bob Dylan)
6 - Lay, Lady Lay (Bob Dylan)
7 - One More Night (Bob Dylan)
8 - Tell Me That It Isn't True (Bob Dylan)
9 - Country Pie (Bob Dylan)
10 - Tonight I'll Be Staying Here With You (Bob Dylan)

Fontes de referência
http://en.wikipedia.org/wiki/Nashville_Skyline
www.rollingstone.com/music/albumreviews/nashville-skyline-19690531

Comentários

  1. Gosto desse álbum porque nos mostra um Dylan relaxado, sem se preocupar em ser revolucionário ou coisas do tipo. É só um artista que fez canções gostosas, nesse caso country. O dueto com o Cash é fora de série, além de pérolas como "I Threw It All Away", "Lay Lady Lay" e "Tonight I'll Be Staying Here With You". Em suma, um grande disco.

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    1. Verdade, ele mostra a recriação de uma forma country, tentando imitar o estilo do Cash, aquela forma de cantar.

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