Temas Indispensáveis: De Frente Pro Crime - João Bosco (1975)

Um simples toque de violão, e eis que surge uma voz suave cantando "Tá lá o corpo estendido no chão. Em vez de rosto, uma foto de um gol. Em vez de reza, uma praga de alguém e um silêncio servindo de 'amém'." e depois parte para uma levada de samba, recheado de gingado e de batuque. Assim é como eu consigo ouvir uma das mais belas músicas feitas pelo cantor e compositor mineiro João Bosco, que no ano de 1975 se destacava como um dos maiores compositores que estava surgido na nova cena da MPB e graças ao seu segundo LP "Caça À Raposa" pela RCA Victor e recheado de grandes sucessos, como "Kid Cavaquinho", "O Mestre-Sala dos Mares", "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" que antes foram gravados por Elis Regina no álbum "Elis" (1974), "Jardins da Infância", "Bodas De Prata" e dentre outras tantas, o tema de qual nós estaremos falando neste post "De Frente Pro Crime", uma de suas tantas músicas feitas em parceria com Aldir Blanc e que marcou pra sempre a história da MPB com essa canção e outras tantas. 
A letra, mais do que apenas simples versos que não sejam comparativos a Chico Buarque ou a Caetano Veloso, aqui Bosco conta em cada verso uma história de um estilo mais analisador, como o camelô que anunciava vender anel, cordão e perfume barato e a baiana que faz pastel e churrasco de gato, tudo isso num ritmo de samba e com o piano de César Camargo Mariano, além de Dino no violão de sete cordas, Chico Batera e Everaldo Ferrreira na percussão fazendo batucadas impressionantes, Gilberto D'Ávila no surdo, Doutor no surdo de repique, Luizão no baixo, Neco no cavaquinho e Toninho Horta na guitarra, além de Bosco cantando e tocando violão fazendo um samba de verdade. E fechando a sua janela "de frente pro crime", Bosco canta o refrão e depois volta para os versos que iniciam e que encerram a música "Tá lá o corpo estendido no chão...". Uma mistura de crônica com fatos cotidianos retratados de um jeito bem realista, é o que se pode ver em muitas das canções de Bosco, inclusive nas que foram feitas em parceria com Aldir Blanc, que mais tarde tiveram a parceria rompida por 20 anos, mas que em 2002 voltaram a compor e ainda estão criando letras para materiais novos. Uma das tantas duplas de compositores que acertaram em cheios com grandes canções na MPB, e que seguiu influenciando grandes compositores desse cenário da Música Popular Brasileira e Bosco segue sendo reverenciado até fora do Brasil pelas suas canções que o tornaram popular no cenário musical do brasil.
O tema acabou sendo popular mais tarde, nas vozes de Simone, até os Paralamas do Sucesso citaram a música de Bosco na versão ao vivo de "Alagados" no Festival de Jazz de Montreux, registro presente no álbum "D" (1987) como uma forma de redescoberta da música para quem achava isso uma raridade, além de também ter sido interpretada por gente do naipe como MPB4, Roberta Sá, Claudia Telles, Tunai e Wagner Tiso, Joyce e que com o passar dos anos, ainda é um dos seus mais importantes temas em sua carreira e que ele nunca deixou de cantar em seus shows, embora seja comum a ausência deste tema em seus álbuns ao vivo, não vai deixar de ser uma canção perdida, assim como outros tantos temas de sua carreira.
Ah, Bosco, quatro décadas que passam e "De Frente Pro Crime" ainda soa moderno nos ouvidos de muita gente que curte o seu trabalho...



Versão recente para o projeto "Cidade do Samba" com participação de Daniela Mercury


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