Um disco indispensável: Blood On The Tracks - Bob Dylan (Columbia Records, 1975)

Em janeiro de 1975, era lançado um dos maiores álbuns de Bob Dylan feito nos anos 70, juntando até então então New Morning (1970) e Pat Garrett & Billy The Kid (1973), e ele passava por um período em que poucos discos daquela época eram bem recebidos pela crítica, devido a várias mudanças musicais, pessoais e isso desde que sofreu um acidente motociclístico em 1966 e quase lhe custou a sua vida, o mantendo afastado dos palcos por quase dois anos, ao lado de sua esposa Sara Lownds e de seu filho Jesse, gravaria um disco com referências ao country em 1967, ao invés de entrar na onda da psicodelia e de todo o movimento hippie que estava "florescendo" na música e nos movimentos de contracultura que estavam se expandindo ao redor do mundo e também originando movimentos mundo afora, como foi o Tropicalismo no Brasil. Em 1969, voltaria definitivamente com um disco totalmente country, aonde dividiu o microfone com Johnny Cash, um de seus maiores ídolos e com uma turnê na qual contava com a The Band como banda de apoio e ainda gerou um retorno grandioso no Isle of Wight, que gerou um grande público por contar com bandas como o de The Who, The Pretty Things, Richie Haven, The Moody Blues e Joe Cocker no lineup principal do festival. Passado esse tempo, Dylan seguiu gravando discos, fazendo seus grandes shows, mas depois de um disco, intitulado Dylan, ele acabou passando por um tempo fora de sua gravadora aonde seguiu dez anos, a Columbia e teve uma passagem rápida pela Asylum Records com a The Band, aonde lançou em 1974 Planet Waves, e com a The Band lançou um álbum chamado Before The Flood, com registros feito ao vivo durante duas noites em Los Angeles e conta com uma faixa gravada ao vivo em New York, mostrando a potência em palco de Dylan e The Band juntos num mesmo palco naquela época e fazendo um som de qualidade, o que é bem notável no repertótrio. Porém, o contrato com a Asylum não rendeu mais nenhum fruto e Dylan retornou à sua antiga casa e de onde nunca mais sairia, a velha e grandiosa Columbia, de onde saíram discos como The Freewheelin' Bob Dylan (1963), The Times They Are-A Changin' (1964), Bring it All Back Home (1965), Highway 61 Revisted (1965), Blonde on Blonde (1966) dentre outros que poderia citar, inclusive os mais recentes Time Out of Mind (1997), Love and Theft (2001), Modern Times (2006) e Shadows in the Night (2015), e aonde segue sendo um dos artistas que vendeu mais discos pela companhia.
Dylan nos anos 70, uma década que deu a ele vários trabalhos
e apenas dois fora da Columbia. Voltou em 1975 com uma grande obra,
intitulada "Blood On The Tracks" e um clássico da música.
O disco Blood On The Tracks, lançado no dia 20 de janeiro de 1975, mostrando já  um pouco do Dylan íntimo, retratando em algumas canções sobre o fim de seu casamento de 12 anos com Sara Lownds, com quem teve dois filhos: Jesse e Jakob, e também uma espécie do amadurecimento já mais poético em algumas de suas canções e deixando de lado as visões políticas e mais lirismo nos versos, cheios de beleza e vitalidades na maioria dos versos das 10 faixas, gravadas durante dois meses, primeiro com músicos em New York e com músicos da banda de bluegrass Deliverance. Antes de entrar no estúdio, Dylan havia se gastado para escrever as faixas e fez algumas audições particulares para os amigos, dentre eles David Crosby e Graham Nash, e durante uma passagem pela casa de seu irmão David, no Minneapolis em dezembro, Dylan tocou o disco na íntegra antes de ser lançado e seu irmão sugeriu que regravasse algumas faixas com alguns músicos locais, um resultado impressionante pelo que se pode ver no disco: uma mistura das gravações lentas e suaves em New York com as gravações mais agitadas e eletrificantes em Minneapolis, na qual se mostrou um cantor mais frustrado em termo de poesias e de canções. 
Com Mick Jagger, "like a rolling stne" nos anos 70,
A faixa que abre o disco, Tangled Up In Blue, é um resultado de um casamento que não andava bem nos últimos anos e que havia sofrido um desgaste, além do belo arranjo concebido e dos solos de gaita, aqui também se pode notar muito o forte sotaque do country presente; em Simple Twist of Fate, o cantor já entrega de vez a solidão e o arrependimento, além de falar sobre o seu distanciamento da parceira entre os dois, narrados na terceira pessoa e como se ele estivesse vendo a casa vazia; na canção You're a Big Girl Now, o velho Zimmermann aqui já chega dizendo sobre uma grande menina que cresceu, num tom folk-baladista e suave; no tema Idiot Wind, uma das mais longas do disco (quase 8 minutos), é também uma das canções que recheiam o belíssimo repertório deste álbum, mantendo-se no ritmo até o final da canção, que não deixa muitos vestígios sobre o casal; já a sotisficada You're Gonna Make Lonesome When You Go, uma possível canção feita para sua então namorada, Ellen Bernstein, que trabalhava na gravadora Columbia Records e cujo relacionamento durou alguns anos e mostrava um pouco de sentimentalismo pelos versos; em Meet Me in The Morning, um blues bem elétrico, na qual o cantor marca um encontro com alguém e pergunta quando ela beijou os seus lábios, com referências ao estilo do som psicodélico de Jimi Hendrix; na sequência temos Lilly, Rosemary and the Jack of the Hearts tem uma levada bem western, mostrando uma história de uma noite de jogos de azar num cabaré, com mais de oito minutos de duração; a saudade se destaca nos versos de If You See Her, Say Hello aonde Dylan assume que ainda sente falta da ex-mulher e mostra-se um pouco sentimentalista e menos amargo como nas outras canções e também cheio de violões complementando a canção; em Shelter From The Storm, uma história que mostra um homem e seus sofrimentos comparados com os de Jesus Cristo e que tenha possíveis referências ao acidente de moto sofrido em 1966 e os problemas da década anterior, além de ser mais acústica, sem bateria e com gaita no final; o disco só acaba em Buckets of Rain, na qual o cantor diz ter visto gente bonita sumindo que nem fumaça e fala a um alguém sobre o sorriso e da ponta dos dedos, outra possível declaração de amor para Ellen ou sobre Sara, de quem só se separaria dois anos depois.
O disco acabou sendo um dos mais bem-sucedidos na década de 1970 e o colocando de novo nas paradas em dois anos, com seus sucessos principais Tangled Up In Blue, You're a Big Girl Now e If You See Her, Say Hello. Numa entrevista feita dez anos depois do lançamento, o cantor declarou que seu disco não teve inspiração no fim de seu casamento com Sara ou do começo do relacionamento, mas sim em textos de Chekov.  O fato é que tendo ou não inspiração no fim do casamento, este disco chegou no momento certo para que Dylan seguisse mostrando ainda um gênio e depois iniciou uma turnê como Rolling Thunder Revue, uma de suas mais ousadas fases dos anos 70 e ainda teve um encontro dos músicos de duas localidades durante um show em 2004 na qual o disco todo foi executado na íntegra. A capa, uma foto natural de Paul Till clicada numa Leica III com uma lente Canon 135 milímetros que o pai de um amigo de sua irmã o emprestou para as fotos no início de 1974 mostrava um Dylan em formato de uma pintura, típico do que se pode ver em efeitos de Photoshop que façam parecer uma pintura antiga (e parece mesmo), mas Till revelou que as fotos em preto e branco com alto contraste (uma mistura de duas técnicas chamada efeito Sabbatier e linhas Mackie) e que depois as coloria manualmente com uma tinta que era absorvida pelo papel fotográfico. Um disco que vai seguir sendo marcante para muitos dylanescos e dylanescas e fãs de música, além de estar na 16ª posição dos "500 Melhores Discos de Todos os Tempos" da Rolling Stone e também presente na lista dos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, na posição de 333, ou melhor dizendo, vale e muito a pena ouvir esta obra maravilhosa.
Set do disco:
1 - Tangled Up In Blue (Bob Dylan)
2 - Simple Twist of Fate (Bob Dylan)
3 - You're a Big Girl Now (Bob Dylan)
4 - Idiot Wind (Bob Dylan)
5 - You're Gonna Make Lonesome When You Go (Bob Dylan)
6 - Meet Me in The Morning (Bob Dylan)
7 - Lilly, Rosemary and the Jack of the Hearts (Bob Dylan)
8 - If You See Her, Say Hello  (Bob Dylan)
9 -  Shelter From The Storm (Bob Dylan)
10 - Buckets of Rain (Bob Dylan)

Referências principais:
Os 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos - Revista Rolling Stone
1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer (título original "1001 Albums You Must Hear Before You Die"; DIMERY, Robert; Universe Books, 2006)
http://www.bobdylan.com
http://en.wikipedia.org/wiki/Blood_On_The_Tracks
https://escutaessablog.wordpress.com/2015/02/05/bob-dylan-blood-on-the-tracks-1975-faz-40-anos/
http://movethatjukebox.com/os-40-anos-de-blood-tracks/

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