Um disco indispensável: Dia 16 - Odair José (Saravá Discos, 2015)

Nos últimos anos, o termo "brega" deixou de ser o rótulo maior para o goiano de Morrinhos que, na década de 1970, o deixou muito vinculado a artistas que eram ignorados pela crítica, como Waldick Soriano (1931-2007) e Reginaldo Rossi (1944-2013), mas que fez grandes discos na época, alguns com sucessos marcantes como Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula) (recebeu o veto da Censura por falar da pílula anticoncepcional e também um vínculo para o nome de Odair como "o cantor da pílula"), Eu Vou Tirar Você Deste Lugar, Deixa Essa Vergonha de Lado, Cadê Você? (que nos anos 1990 teve regravações de Leandro & Leonardo e de Roberta Miranda), Esta Noite Você Vai Ter Que Ser MinhaVocê Chegou Pra Me Fazer Sorrir, Eu Queria Ser John Lennon, Assim Sou Eu, Lembranças e outros tantos temas que fazem parte da carreira do compositor, que virou "o terror das empregadas", título dado por Rita Lee em sua canção Arrombou a Festa (1976) pela popularidade que tinha com as domésticas, que mais o ouviam naquela época. Passou a ser despercebido depois que lançou no ano de 1977 uma ópera-rock chamada O Filho de José e Maria, pela RCA Victor e ter sido rejeitado por boa parte da mídia, o que levou ele a ser excomungado pela Igreja Católica, que o obrigou a ir ao Vaticano pedir perdão para o Papa, ele veio a passar uma boa parte da sua carreira no ostracismo, mas que sempre era recordado em coletâneas até que em 1999 lançou um Ao Vivo e que o levou de volta a mais programas de auditório, e seu nome voltaria a ser ecoado pelo povo com o passar dos tempos, além de receber uma homenagem em forma de disco intitulada Eu Vou Tirar Você Deste Lugar - Tributo a Odair José em 2006 com artistas interpretando seus grandes sucessos, dentre eles o conjunto de rock Los Hermanos, Suzana Flag, Mundo Livre S.A., Zeca Baleiro, Jumbo Elektro, Pato Fu e o titã Paulo Miklos. De 2006 pra cá já houve muita coisa, apareceu cantando em comercial de cartão de crédito, presença nos mais variados programas de TV e não foi à toa que um de seus discos, o clássico O Filho de José e Maria (1977) acabou ganhando seu valor com o passar dos anos e o seu disco  foi revivido durante as gravações ao vivo no Theatro Municipal de São Paulo durante a Virada Cultural em 2013, um ano depois do lançamento de seu álbum de estúdio Praça Tiradentes e um ano antes desse registro virar um breve CD e DVD num projeto com o Canal Brasil e que agora é um dos álbuns mais cultuados da cena MPBística, apesar de ter sido controverso e emblemático na época de seu lançamento. Ou seja: hoje em dia, brega é um termo que não se precisa para definir um cara extremamente rock n' roll que segue agragando a todos no cenário musical brasileiro, e não só as empregadas, como se muito dizia nos anos 70, mas até mesmo quem faz rock, MPB, pop no País Tropical e que curte de verdade o grande mestre Odair.
Odair, em São Paulo no ano de 2013. Hoje em dia, mais pra "cult"
do que pra "brega", com disco novo mais rock n' roll e referências que
vão de AC/DC e Roy Orbison ao beatle Paul McCartney
(foto: Anna Mascarenhas)
O novo álbum, Dia 16 marca também o retorno de uma parceria entre Odair e o maranhense Zeca Baleiro, dono de sua própria gravadora, a Saravá Discos, por onde o próprio Odair havia lançado três anos antes o seu álbum Praça Tiradentes e também um dos que ajudou a colocar o lendário "cantor das empregadas" ou "cantor da pílula" de volta ao circuito, mas também para um público que já conhecia um pouco de seu trabalho, pois Odair segue firme e forte com o seu trabalho, fazendo boa música e sem deixar de lado o seu estilo, com referências mais originais que vão do rock ao country americano e até passando pelo folk, o que se pode ver nas doze faixas de seu novo álbum. A faixa-título, com um quê de rock tipo AC/DC ou bandas do tipo, mostra que o Dia 16 chegou e que é tempo de comemorar, além de destacar-se na capa pelos fatos que aconteceram, dentre eles, o nascimento do cantor, que foi no dia 16 de agosto de 1948 entre outos tantos; a faixa Encontro já se pode ter noção do que se pode esperar numa canção de Odair, além de belos arranjos, versos bem elaborados e alguns que soam como um tom de autoajuda; em Fera, o goiano ressucita uma faixa inédita de seu disco polêmico e controverso de 1977 e que conta com uma pegada sexual nas letras e que reaparece bem blueseira; já em A Moça e O Velho, algo bem polêmico e que se vê muito não só nas letras, mas no cotidiano e é a afinidade de uma pessoa acima da idade por uma moça jovem e o cantor vai bem direto no assunto; o velho estilo baladista e com letras sentimentais  é o destaque da canção Me Desculpe, que soa como qualquer baladinha que muita gente considere "brega" demais para os ouvidos de quem não sabe sofrer e ouvir um Odair José pra tentar esquecer aquela "dor-de-corno" ou um amor que se foi; em Sem Compromisso, aqui o compositor reverencia um de seus ídolos, o cantor Roy Orbison (1936-1988), tanto nas bases e cuja a introdução lembra a clássica Pretty Woman e com elementos de guitarra e órgão perfeitíssimos; já em Lembro, o caso aqui é nostalgia, saudades da infância e de sua mãe, de quem sempre teve carinhos quando mais jovem, num tom bem balada pop típica dos anos 70; em Começar do Zero, aqui as principais referências são os Beatles, mais principalmente um deles que é Paul McCartney e que mostra ser um rock bem perfeito pelo que se pode ouvir ao longo da música; em Morro do Vidigal, o cantor relembra de um amor vivido na comunidade do Rio de Janeiro por volta dos anos 70 e foi o lugar aonde ele passou por seis meses em um estúdio trabalhando no seu álbum "proibidão", bem perto da casa de Tim Maia; já em Deixa Rolar, o cantor se mostra como está vivendo num bem-viver e com uma levada bem country-rock e pedindo pra que mostrar o sorriso pro mundo e que viva o possível, uma canção bem pra cima pelo que se pode dizer; os acordes solitários de um violão em Sai de Mim mostra mais uma canção pedindo o afastamento de um amor sofrível
 e cuja base cresce antes dos últimos minutos; e o disco encerra de vez em Cores, uma canção mostrando que o amor agora está para ter vez num estilo mais suave, com algumas guitarras e mostrando que tudo pode ter um final feliz aos poucos.
Set do disco:
1 - Dia 16 (Odair José)
2 - Encontro (Odair José)
3 - Fera (Odair José)
4 - A Moça e o Velho (Odair José)
5 - Me Desculpe (Odair José)
6 - Sem Compromisso (Odair José)
7 - Lembro  (Odair José)
8 - Começar do Zero (Odair José)
9 - Morro do Vidigal (Odair José)
10 - Deixa Rolar (Odair José)
11 - Sai de Mim (Odair José)
12 - Cores (Odair José)

Referências principais:
http://www.blognotasmusicais.com.br/2015/03/disco-roqueiro-de-ineditas-dia-16-repoe.html
http://noisey.vice.com/pt_br/blog/o-odair-jose-contou-pra-gente-tudo-sobre-seu-disco-classico-e-proibido-o-filho-de-jose-e-maria
http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/odair-jose-exibe-vigor-em-album-que-tem-influencias-de-roy-orbison-e-acdc/?cHash=3ec2d946e5f9ad0e4db6244ae6a52c95

Comentários

Mais vistos no blog