Um disco indispensável: Molhado de Suor - Alceu Valença (Som Livre, 1974)
Em 1972, no palco do ginásio do Maracanãzinho, na época, recebia a sétima e derradeira edição do Festival Internacional da Canção, o clássico FIC, que teve momentos épicos e importantes. O sábado do dia 16 de setembro recebeu entre as concorrentes do festival, uma música com mistura de coco, embolada e rock intitulada Papagaio do Futuro, escrita por um pernambucano estudante de Direito chamado Alceu Valença e interpretado por este mais um outro pernambucano, vindo de Petrolina, chamado Geraldo Azevedo e pelo lendário percussionista e ícone sagrado do forró, já consolidado desde muitos anos e ídolo de muitos nomes da MPB, o paraibano Jackson do Pandeiro - o Rio foi ao delírio com aquela música, e de cara Alceu e Geraldo lançam um disco em conjunto chamado Quadrafônico, com os arranjos de Rogério Duprat o maestro tropicalista, mas sem a grande repercussão que se imagina. Nada mal para o pernambucano de São Bento do Una nascido em 1° de julho de 1946 , descobriu ali na sua terra de origem as raízes da cultura nordestina ajudando na sua formação artístico-intelectual, se mudou primeiro para Garanhuns e depois para a agitada Recife, onde cresceu ouvindo nos alto-falantes músicas de Capiba, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Gordurinha e concorreu em um festival aos 9 anos com uma música chamada É Frevo, Meu Bem e já se mostrava um compositor precoce desde pequenininho. E em 1965 ele ingressa para o curso de Direito na capital pernambucana, depois vindo a fazer um curso de três meses em Harvard sem saber um tanto de inglês, elaborou uma redação comparando o marxismo com a Igreja e ali se impressionou com o movimento flower power, aquele astral de paz e amor propagada pelos hippies e também com os Panteras Negras durante 3 meses. Além do curso de Direito em uma das maiores faculdades da área neste país, ele ainda trabalhou como jornalista na sucursal recifense do Jornal do Brasil ainda antes do caos propagado pelo AI-5, e foi para o Rio de Janeiro concorrer ao FIC em 1968 depois de ter colocado Acalanto Para Isabela e também Desafio Linda, sendo que a primeira não conseguiu ir longe nas classificatórias regionais do Rio, mas só dois anos depois se instala nas terras cariocas e chega a desistir da música para tentar a sorte no desenho industrial, até se encontrar com Geraldo Azevedo, uma parceria e amizade que abriu porteiras na música nordestina moderna. Em 1970 decide lançar mais uma vez a sorte em um festival, na segunda edição do Festival Universitário da Música Popular Brasileira com a canção Flor de Clorofila e novamente tenta o FIC com Desafio Linda, mas também tenta incluir Fiat Lux Baby e Erosão - mais uma vez sem sucesso.
Ainda que, os festivais tivessem aclamado nomes como Edu, Jair Rodrigues, Gil, Caetano, Chico, Elis, Mutantes entre outros, ele ainda estava brigando nesses espaços por um lugar ao sol. Em 1971 participa do IV Festival Universitário da Música Popular Brasileira, com três músicas, a primeira é 78 Rotações, mais Água Clara e o destaque do festival que foi Planetário, mas, mesmo assim quem venceu foi Na Hora do Almoço interpretada por uma galera nordestina também, mas do Ceará - o poeta de Sobral estudante de Medicina chamado Antonio Carlos Belchior ao lado de Jorginho Telles e Jorge Neri, ali conhecíamos Belchior definitivamente. Em 1972 consegue, junto de Geraldo, convidar Jackson a participar ao lado do seu Conjunto Borborema no FIC interpretando Papagaio do Futuro - que apesar da desclassificação, acabou despertando um interesse naquela juventude que vivia o desbunde e iniciando uma além de Geraldo, os cearenses Belchior e Raimundo Fagner, o paraibano Zé Ramalho além dos Novos Baianos e de Raul Seixas estavam começando a explorar as misturas de rock e folk com elementos nordestinos e também samba entre outros ritmos. E em 1972, com Quadrafônico lançado pela gravadora Copacabana, o talento de Valença chama a atenção de um compositor chamado Sérgio Ricardo, que o chama para sua empreitada cinematográfica, um filme que mistura um pouco dos contos nordestinos, algo que soasse com cordel em A Noite do Espantalho, em que o pernambucano fazia um espantalho humano que contava a história e dançava e cantava numa atuação impressionante. O filme, que também teve a trilha sonora assinada por Sérgio, foi filmado em Nova Jerusalém, onde há a cidade cenográfica da Paixão de Cristo, ali Valença conheceu um compositor e instrumentista chamado Lula Côrtes, dono de um instrumento chamado tricórdio - algo parecido com uma cítara. Após o filme, foi preciso que Valença fosse reconhecido pelo filme para conseguir um algo mais que impulsionasse sua carreira - durante um show que estava fazendo, um diretor da Rede Globo chamado Wilson Emanoel gostou e o convidou para gravar na Som Livre - e já não seria algo fraco não. Para seu disco, agora solo, que levaria o nome de Molhado de Suor, a produção ficou a cargo de Eustáquio Sena, que trabalhava na produção artística da gravadora, e os estúdios Somil em Botafogo, no Rio de Janeiro, abrigariam as gravações deste disco, que conta com arranjos de cordas de Waltel Blanco - a quem Alceu botou a confiança e passou as ideias dos arranjos, chegando a comporem em quartos de hotéis. Mas, um grande baque chega a impedir a conclusão do disco: Eustáquio ficou doente e voltou para Minas Gerais, mas Alceu decide participar do processo de mixagem com Célio Martins, algo gratificante, uma vez que quase todos os artistas não curtem muito participar da mixagem ou da masterização, algo que dá trabalho demais. A capa, com fotomontagem de Kátia Mesel, artista pernambucana e amiga de Alceu que conhecia na época de Noite do Espantalho e namorava Lula, que participou do álbum tocando seu tricórdio.
O álbum inicia logo de vez com a faixa Borboleta, que, além de trazer uma linda melodia, recheada de beleza poética, teve sua letra retirada de domínio público, dos pastoris, e incluiu um ar medieval que combinou com o estilo valenciano de música; a faixa seguinte já ajuda também a abrilhantar ainda mais o repertório, com uma pegada de martelo agalopado, Punhal de Prata é parte do repertório clássico do pernambucano até hoje e aqui no disco, além de contar com um riquíssimo arranjo de cordas de Waltel Blanco, traz também um solo de tricórdio executado por Côrtes, e segundo o próprio Alceu, um solo bonito; em seguida, surge outra música que também é um clássico da sua carreira e é quase onipresente no repertório dos shows, Dia Branco, que soa como uma coisa mais de música caipira, o sertanejo raiz, e também com um quê do Nordeste que ele tanto ouviu, mostra algo brilhante nos versos, uma espécie de crônica sobre o Carnaval de Olinda e também sobre o pessoal que saía fantasiado nos Quatro Cantos, a esquina mais famosa dos festejos carnavalescos de Momo na cidade, já não errando feio aqui de vez e sendo um destaque do disco; na sequência ainda contamos com um tema que não dá pra não entender o contexto sem antes ouvir, Cabelos Longos, inspirado em um momento que a ditadura militar estava tentando corrigir o país e já na época do declínio do que se chamava milagre econômico, Alceu escreveu a música se referindo aos agentes do SNI que se infiltravam entre os hippies com perucas bem cabeludas e barbas falsas - daí os versos "eu desconfio dos cabelos longos, da sua cabeça que você deixou crescer de um ano pra cá" - uma boa referência sobre esses agentes "pseudo-hippies" pelo que se pode notar; na sequência, fechando o lado A, um tema que chega a passar batido, mas não deixa de ser um tema excelente e que nos agrade, falamos aqui de Chutando Pedras, com aquela pegada bem Nordeste enraizada nos arranjos, e aqui com Côrtes solando em seu tricórdio - a faixa acabou ficando de fora em uma edição posterior e substituída por um outro tema que adiante a gente fala; abrindo o lado B deste disco temos aqui logo a faixa que leva o nome deste, Molhado de Suor, na qual ele conta as histórias de um cara apaixonado pela cidade, pela sua gata e pelo tempo - um pouco inspirado na sua passagem pelo Rio enquanto não sabia se voltaria para Recife na época, e que quando voltou redescobrindo sua cidade e a vendo de outra maneira - e o nome da música também veio como uma explicação o fato de que ficamos Molhado de Suor na hora de fazer amor - melhor lógica possível; na sequência, o disco ainda apresenta também um tema que acaba fazendo bonito aqui, que é Mensageira dos Anjos, mostrando poeticamente uma Olinda mística, o ambiente da velha cidade, com uma pegada bem acercada do chote e uma atmosfera profunda que acaba deixando parecer com um clima de terror até; mais em diante é que temos aqui uma regravação do tema que o lançou ainda nos últimos suspiros da era dos festivais, falo aqui sobre Papagaio do Futuro, com uma versão de 2 minutos e sem Geraldo e Jackson, um pouco também ligado ao coco e ao martelo agalopado, sem perder o brilho e a cara do Nordeste no arranjo; na próxima música, o que realmente nos impressiona em Dente de Ocidente é o assunto do qual ele trata, a ecologia - uma vez que era pouco tratado o assunto através das músicas, Marvin Gaye já havia antecedido esse debate em What's Going On (1971), o pernambucano também decidiu tocar no assunto, ainda mais sobre a poluição que prejudica o planeta em várias proporções como prova de que já não é de hoje a preocupação com o meio-ambiente e que já vem de outros tempos; e fechando este trabalho maravilhoso, temos uma peça sonora que une a cultura medieval com o Nordeste, os repentistas, cantadores de feira e trovadores lusitanos em Pedras de Sal, que, por mais que tenha um arranjo lindo e rico, tenha apenas 1 minuto e 18 segundos, mas não deixa de ser uma linda canção; e, como falamos antes, o disco tem uma espécie de faixa-bônus meio que não-oficial, pois apesar de ter substituído Chutando Pedras no repertório, a faixa Vou Danado Pra Catende - tema de Valença com base no poema O Trem das Alagoas, de Ascenso Ferreira, é pura psicodelia nordestina que disputou o Festival Abertura em 1975 levando na categoria de Melhor Trabalho de Pesquisa, e aqui conta com o auxílio de Lula no tricórdio mais uma rapaziada do Ave Sangria - o flautista Zé da Flauta mais o baterista Israel Semente Proibida, a dupla Agrício Noya e Rafles na percussão, o jovem Paulo Rafael - seu futuro parceiro de música e estrada - no baixo, além de Ivinho na guitarra, e ao lado de Alceu e Lula um jovem paraibano de 25 anos chamado Zé Ramalho na viola mandando ver uma viagem sonora que mistura frevo e psicodelia nos seus quase 6 minutos que marcarão os seus ouvidos. Carregado pela onda de folk elétrico com a música nordestina, o disco se transformou em uma masterpiece não somente da música do Nordeste, mas do rock brasileiro e por que não da MPB e da música latina? Passados 42 anos, o jornalista Bento Araújo, da revista musical Poeira Zine adicionou este álbum em Lindo Sonho Delirante - 100 Discos Psicodélicos do Brasil junto de outros discos, mostrando um lado viajandão da nossa música brasileira que poucos conheciam até o momento.
Set do disco:
1 - Borboleta (Alceu Valença)
2 - Punhal de Prata (Alceu Valença)
3 - Dia Branco (Alceu Valença)
4 - Cabelos Longos (Alceu Valença)
5 - Chutando Pedras (Alceu Valença)
6 - Molhado de Suor (Alceu Valença)
7 - Mensageira dos Anjos (Alceu Valença)
8 - Papagaio do Futuro (Alceu Valença/Geraldo Azevedo)
9 - Dente de Ocidente (Alceu Valença)
10 - Pedras de Sal (Alceu Valença)
11 - Vou Danado Pra Catende (Alceu Valença/adaptação do poema "O Trem das Alagoas" de Ascenso Ferreira)
Ainda que, os festivais tivessem aclamado nomes como Edu, Jair Rodrigues, Gil, Caetano, Chico, Elis, Mutantes entre outros, ele ainda estava brigando nesses espaços por um lugar ao sol. Em 1971 participa do IV Festival Universitário da Música Popular Brasileira, com três músicas, a primeira é 78 Rotações, mais Água Clara e o destaque do festival que foi Planetário, mas, mesmo assim quem venceu foi Na Hora do Almoço interpretada por uma galera nordestina também, mas do Ceará - o poeta de Sobral estudante de Medicina chamado Antonio Carlos Belchior ao lado de Jorginho Telles e Jorge Neri, ali conhecíamos Belchior definitivamente. Em 1972 consegue, junto de Geraldo, convidar Jackson a participar ao lado do seu Conjunto Borborema no FIC interpretando Papagaio do Futuro - que apesar da desclassificação, acabou despertando um interesse naquela juventude que vivia o desbunde e iniciando uma além de Geraldo, os cearenses Belchior e Raimundo Fagner, o paraibano Zé Ramalho além dos Novos Baianos e de Raul Seixas estavam começando a explorar as misturas de rock e folk com elementos nordestinos e também samba entre outros ritmos. E em 1972, com Quadrafônico lançado pela gravadora Copacabana, o talento de Valença chama a atenção de um compositor chamado Sérgio Ricardo, que o chama para sua empreitada cinematográfica, um filme que mistura um pouco dos contos nordestinos, algo que soasse com cordel em A Noite do Espantalho, em que o pernambucano fazia um espantalho humano que contava a história e dançava e cantava numa atuação impressionante. O filme, que também teve a trilha sonora assinada por Sérgio, foi filmado em Nova Jerusalém, onde há a cidade cenográfica da Paixão de Cristo, ali Valença conheceu um compositor e instrumentista chamado Lula Côrtes, dono de um instrumento chamado tricórdio - algo parecido com uma cítara. Após o filme, foi preciso que Valença fosse reconhecido pelo filme para conseguir um algo mais que impulsionasse sua carreira - durante um show que estava fazendo, um diretor da Rede Globo chamado Wilson Emanoel gostou e o convidou para gravar na Som Livre - e já não seria algo fraco não. Para seu disco, agora solo, que levaria o nome de Molhado de Suor, a produção ficou a cargo de Eustáquio Sena, que trabalhava na produção artística da gravadora, e os estúdios Somil em Botafogo, no Rio de Janeiro, abrigariam as gravações deste disco, que conta com arranjos de cordas de Waltel Blanco - a quem Alceu botou a confiança e passou as ideias dos arranjos, chegando a comporem em quartos de hotéis. Mas, um grande baque chega a impedir a conclusão do disco: Eustáquio ficou doente e voltou para Minas Gerais, mas Alceu decide participar do processo de mixagem com Célio Martins, algo gratificante, uma vez que quase todos os artistas não curtem muito participar da mixagem ou da masterização, algo que dá trabalho demais. A capa, com fotomontagem de Kátia Mesel, artista pernambucana e amiga de Alceu que conhecia na época de Noite do Espantalho e namorava Lula, que participou do álbum tocando seu tricórdio.
O álbum inicia logo de vez com a faixa Borboleta, que, além de trazer uma linda melodia, recheada de beleza poética, teve sua letra retirada de domínio público, dos pastoris, e incluiu um ar medieval que combinou com o estilo valenciano de música; a faixa seguinte já ajuda também a abrilhantar ainda mais o repertório, com uma pegada de martelo agalopado, Punhal de Prata é parte do repertório clássico do pernambucano até hoje e aqui no disco, além de contar com um riquíssimo arranjo de cordas de Waltel Blanco, traz também um solo de tricórdio executado por Côrtes, e segundo o próprio Alceu, um solo bonito; em seguida, surge outra música que também é um clássico da sua carreira e é quase onipresente no repertório dos shows, Dia Branco, que soa como uma coisa mais de música caipira, o sertanejo raiz, e também com um quê do Nordeste que ele tanto ouviu, mostra algo brilhante nos versos, uma espécie de crônica sobre o Carnaval de Olinda e também sobre o pessoal que saía fantasiado nos Quatro Cantos, a esquina mais famosa dos festejos carnavalescos de Momo na cidade, já não errando feio aqui de vez e sendo um destaque do disco; na sequência ainda contamos com um tema que não dá pra não entender o contexto sem antes ouvir, Cabelos Longos, inspirado em um momento que a ditadura militar estava tentando corrigir o país e já na época do declínio do que se chamava milagre econômico, Alceu escreveu a música se referindo aos agentes do SNI que se infiltravam entre os hippies com perucas bem cabeludas e barbas falsas - daí os versos "eu desconfio dos cabelos longos, da sua cabeça que você deixou crescer de um ano pra cá" - uma boa referência sobre esses agentes "pseudo-hippies" pelo que se pode notar; na sequência, fechando o lado A, um tema que chega a passar batido, mas não deixa de ser um tema excelente e que nos agrade, falamos aqui de Chutando Pedras, com aquela pegada bem Nordeste enraizada nos arranjos, e aqui com Côrtes solando em seu tricórdio - a faixa acabou ficando de fora em uma edição posterior e substituída por um outro tema que adiante a gente fala; abrindo o lado B deste disco temos aqui logo a faixa que leva o nome deste, Molhado de Suor, na qual ele conta as histórias de um cara apaixonado pela cidade, pela sua gata e pelo tempo - um pouco inspirado na sua passagem pelo Rio enquanto não sabia se voltaria para Recife na época, e que quando voltou redescobrindo sua cidade e a vendo de outra maneira - e o nome da música também veio como uma explicação o fato de que ficamos Molhado de Suor na hora de fazer amor - melhor lógica possível; na sequência, o disco ainda apresenta também um tema que acaba fazendo bonito aqui, que é Mensageira dos Anjos, mostrando poeticamente uma Olinda mística, o ambiente da velha cidade, com uma pegada bem acercada do chote e uma atmosfera profunda que acaba deixando parecer com um clima de terror até; mais em diante é que temos aqui uma regravação do tema que o lançou ainda nos últimos suspiros da era dos festivais, falo aqui sobre Papagaio do Futuro, com uma versão de 2 minutos e sem Geraldo e Jackson, um pouco também ligado ao coco e ao martelo agalopado, sem perder o brilho e a cara do Nordeste no arranjo; na próxima música, o que realmente nos impressiona em Dente de Ocidente é o assunto do qual ele trata, a ecologia - uma vez que era pouco tratado o assunto através das músicas, Marvin Gaye já havia antecedido esse debate em What's Going On (1971), o pernambucano também decidiu tocar no assunto, ainda mais sobre a poluição que prejudica o planeta em várias proporções como prova de que já não é de hoje a preocupação com o meio-ambiente e que já vem de outros tempos; e fechando este trabalho maravilhoso, temos uma peça sonora que une a cultura medieval com o Nordeste, os repentistas, cantadores de feira e trovadores lusitanos em Pedras de Sal, que, por mais que tenha um arranjo lindo e rico, tenha apenas 1 minuto e 18 segundos, mas não deixa de ser uma linda canção; e, como falamos antes, o disco tem uma espécie de faixa-bônus meio que não-oficial, pois apesar de ter substituído Chutando Pedras no repertório, a faixa Vou Danado Pra Catende - tema de Valença com base no poema O Trem das Alagoas, de Ascenso Ferreira, é pura psicodelia nordestina que disputou o Festival Abertura em 1975 levando na categoria de Melhor Trabalho de Pesquisa, e aqui conta com o auxílio de Lula no tricórdio mais uma rapaziada do Ave Sangria - o flautista Zé da Flauta mais o baterista Israel Semente Proibida, a dupla Agrício Noya e Rafles na percussão, o jovem Paulo Rafael - seu futuro parceiro de música e estrada - no baixo, além de Ivinho na guitarra, e ao lado de Alceu e Lula um jovem paraibano de 25 anos chamado Zé Ramalho na viola mandando ver uma viagem sonora que mistura frevo e psicodelia nos seus quase 6 minutos que marcarão os seus ouvidos. Carregado pela onda de folk elétrico com a música nordestina, o disco se transformou em uma masterpiece não somente da música do Nordeste, mas do rock brasileiro e por que não da MPB e da música latina? Passados 42 anos, o jornalista Bento Araújo, da revista musical Poeira Zine adicionou este álbum em Lindo Sonho Delirante - 100 Discos Psicodélicos do Brasil junto de outros discos, mostrando um lado viajandão da nossa música brasileira que poucos conheciam até o momento.
Set do disco:
1 - Borboleta (Alceu Valença)
2 - Punhal de Prata (Alceu Valença)
3 - Dia Branco (Alceu Valença)
4 - Cabelos Longos (Alceu Valença)
5 - Chutando Pedras (Alceu Valença)
6 - Molhado de Suor (Alceu Valença)
7 - Mensageira dos Anjos (Alceu Valença)
8 - Papagaio do Futuro (Alceu Valença/Geraldo Azevedo)
9 - Dente de Ocidente (Alceu Valença)
10 - Pedras de Sal (Alceu Valença)
11 - Vou Danado Pra Catende (Alceu Valença/adaptação do poema "O Trem das Alagoas" de Ascenso Ferreira)
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