Um disco indispensável: Lady Soul - Aretha Franklin (Atlantic Records, 1968)

soul acaba de perder sua majestade com a notícia divulgada na manhã do dia 16 de agosto de 2018, aos 76 anos, saía de cena a grandiosa Aretha Franklin - considerada disparada a rainha do soul, e eleita uma das maiores vozes de todos os tempos pela revista estadunidense Rolling Stone. 18 Grammys. Medalha da Liberdade concedida pelo presidente George W. Bush. Se tornou a primeira mulher a ser ingressada no Hall da Fama do Rock And Roll nos anos 80. Uma das artistas mais premiadas mundialmente. Nascida como Aretha Louise Franklin em Memphis, no Tennessee em 25 de março de 1942 filha de Barbara Siggers e de Clarence LaVaughn Franklin - um pregador itinerante da Igreja Batista, se mudou ainda com dois anos de idade para Buffalo (New York) e já aos quatro se muda para Detroit, no Michigan, onde seu pai abrw uma congregação da New Bethel Baptist Church, aonde ficou instalado de vez. Quando tinha 10 anos de idade, a pequena Aretha já fazia um sucesso em Detroit como cantora na igreja do pai e parecia que o destino já tinha programado tudo para ela - conquistando gente que visitava a pequena voz de um milhão de dólares, como era conhecida - desde nomes do gospel como James Cleverland, Mahalia Jackson e Dinah Washington, e também por cantores de soul como Sam Cooke e Jackie Wilson, que se tornaram fãs logo de cara. Em 1956 grava seu primeiro disco aind como uma artista gospel aos 14 anos intitulado Songs of Faith, um pequeno passo para um grande salto da maior cantora de todos os tempos, que teria passos maiores adiante. Com o incentivo de seu pai, ela migra para a música secular sem deixar as raízes gospel de lado, e muda-se para New York onde grava demos e entrega pelas gravadoras da cidade. Chama a atenção da gravadora de Detroit especializada em música negra com um elenco de peso, a Motown - fundada três anos antes por Berry Gordy Jr. a fim de dar espaço aos artistas afro-americanos, mas acaba assinando mesmo é com a Columbia Records, sob a tutela do produtor John Hammond Jr., e por lá grava 9 discos, dentre eles um tributo à Dinah Washington, falecida em 1963, e o mundo começou a notar aquela voz incrível. Passados seis anos na mesma gravadora de artistas como Bob Dylan, Miles Davis e Barbra Streisand, ela decide não renovar e troca logo a Columbia pela Atlantic Records, dos irmãos Ertegun - Ahmet e Nesuhi - e que também tinha um cast de não fazer feio. Grava em um dos mais populares estúdios de soul da época, o Fame Studios em Muscle Shoals no Alabama, e por lá grava o seu álbum que ajudou ainda mais a imortalizá-la na história do soul e da música em geral - I Never Loved a Man The Way I Love You, e com esse disco um grande tema que marcou a luta pelos direitos civis na América - Respect, de autoria do grande Otis Redding, que veio a falecer em um acidente aéreo meses depois.
5 meses depois de I Never Loved a Man The Way I Love You, ela grava um álbum que mantém a pose dela e incluiu dentre algumas composições suas, colocou também (I Can't Get No) Satisfaction dos Stones dentro do repertório de Aretha Arrives, editada em 4 de agosto de 1967, no momento do Verão do Amor e dentro de todo aquele boom do movimento hippie, ao mesmo tempo em que os Beatles lançavam sua grande magnum opus Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band e também Jimi Hendrix trazia seu workshop de guitarra alucinante em Are You Experienced, e em I Never Loved a Man... ela mostrava-se também uma cantora e compositora antenada, e durante anos na Atlantic, ela soube conceber ótimos álbuns com a produção de Jerry Wexler até o final dos anos 60. E seu próximo álbum mostraria que ela seguia voando alto como sempre, com faixas gravadas ainda nas sessões de I Never Loved A Man... em fevereiro, e com gravações realizadas em dezembro, e novamente com Wexler na produção. E em 22 de janeiro de 1968 é lançado Lady Soul - o seu décimo-quarto LP de sua carreira, mostrando-se afiada no repertório e na voz como sempre foi. Para abrir este disco, um grande sucesso de sua carreira que marcou na sua voz, Chain of Fools, com uma guitarra matadora e nos impressionando nessa versão, a letra sobre essa corrente que a mantém a pessoa presa a um(a) parceir@ possessivo, e mal vê a chance de se desprender dessa "corrente" que coloca a pessoa numa relação tóxica e um coral que ajuda a abrilhantar mais a música; na faixa que vem a seguir, um tema que fala sobre o dinheiro e vindo do lendário soulman James Brown - falo aqui sobre Money Won't Change You, e uma bela mistura de soul com rock and roll que funciona no repertório do disco; na sequência, um grande tema de destaque também do álbum, um clássico com fortea influências do ambiente gospel escrita por Curtis Mayfield, à época, como integrante dos Impressions, é sobre People Get Ready que não tem como não deixar de ouvir cada segundo daquele hino, que fala sobre fé - algo de que se falta ainda na humanidade atualmente; a seguir, um soulzaço de primeira que não dá tropeço de vez, falo de Niki Hoeky e - acreditem - a cada faixa, é um acerto na parte de canto e de arranjo - boa parte dos arranjos de metais são de Arif Mardin, um dos grandes nomes da época; e, para não perdermos o rumo do disco, ainda temos aqui outro grande clássico da cantora, (You Make Me Feel Like) A Natural Woman - escrita pelo então casal dos sucessos de ouro Gerry Goffin e Carole King e com a mão de Wexler, e fala sobre uma mulher onde se sente feliz com um homem que a ajuda se sentir como uma de verdade, talvez a letra que mais defina a felicidade de uma mulher bem comprometida na música em todo; abrindo já o lado B com um outro grande hit presente e que ajuda no tom feminino das canções, o tema Since You've Been Gone, que apresenta o subtítulo de Sweet Sweet Baby, sobre uma mulher que acaba deixando o marido pra bem longe, mas sente saudades e deseja em voltar mesmo assim com tudo o que o casal vive; na sequência um tema mais doce e suave com uma bela dose de fuzz de guitarra em Good To Me As I Am to You, uma canção belíssima de Franklin escrita com o seu então marido Ted White e que soa como um blues matador de primeira aqui; mais adiante, o álbum ainda desfila mais pérolas, a próxima é uma coisa mais dançante e suingada, no caso de Come Back Baby, nervoso e acelerante o ritmo são que nos fazem ir para uma pista de dança dos anos 60 até; em seguida, temos aqui uma levada mais relaxante de soul-rock que ajuda a abrilhantar mais a música Groovin' e que não faz perder a essência tanto no coro quanto na voz da nossa diva - apenas ouça e aprecie com moderação este momento; e para fechar este disco, ainda contamos também com Ain't No Way, uma canção feita originalmente pela irmã Carolyn Franklin, que carrega um pouco de jazz, de blues e de gospel nesse arranjo incrível e o naipe de metais regidos por Mardin só ajudam a completar com a beleza vocal da nossa Lady Soul, que, de somente um nome de álbum, virou um de seus apelidos que a define. O disco mostrou - realmente - que estava no mesmo pique que I Never Loved a Man The Way I Love You e de Aretha Arrives, acabou sendo uma prova do seu ápice e não errou em nenhum momento do disco, ajudou ela a conquistar as paradas, e figurando na 84a posição dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos, a lista organizada pela revista Rolling Stone, e também aparecendo na lista dos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, mostrando o papel grandioso de Aretha na música do século XX.
Set do disco:
1 - Chain of Fools (Don Covay)
2 - Money Won't Change You (James Brown/Nat Jones)
3 - People Get Ready (Curtis Mayfield)
4 - Niki Hoeky (Jim Ford/Lolly Vegas/Pat Vegas)
5 - (You Make Me Feel Like) A Natural Woman (Gerry Goffin/Carole King/Jerry Wexler)
6 - Since You've Been Gone (Sweet Sweet Baby) (Aretha Franklin/Ted White)
7 - Good To Me As I Am to You (Aretha Franklin/Ted White)
8 - Come Back Baby (Walter Davis)
9 - Groovin' (Felix Cavaliere/Eddie Brigati)
10 - Ain't No Way (Carolyn Franklin)

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