Um disco indispensável: Circle of Love - The Steve Miller Band (Mercury Records/Capitol Records, 1981)
Para entender bem o sucesso da Steve Miller Band como se deve, vamos nos aprofundar em partes sobre o sucesso deles: eles são de um período onde o rock tinha consolidado um sem-número de bandas e feito com que diversos artistas lançassem obras-primas do gênero. Desde o rock progressivo, até o reggae e o AOR, várias bandas conseguiram alcançar um patamar de clássico - a SMB foi uma delas, e graças ao talento virtuoso de Steve Miller, um cara vindo de Milwalkee no estado norte-americano de Wisconsin, e mais tarde, enquanto cursava a Wisconsin-Madson University, formou a banda The Ardells e conhecia o futuro ícone do soft-rock Boz Scaggs e este juntou-se a Miller no conjunto, e logo em 1966, desta vez na efervescente São Francisco, paraíso hippie e da liberdade do mundo careta e um tanto "quadrado", basicamente a capital do flower power, e foi ali que nascia de vez The Steve Miller Band, que, após um ano de surgimento, participou de um álbum como banda de apoio de Chuck Berry gravado ao vivo no lendário Fillmore. E em seguida, eles editam um álbum de estreia intitulado Children of Future gravado no lendário estúdio Olympic em Londres com a produção de Glyn Johns tendo na primeira formação Scaggs na guitarra e vocais, Lonnie Turner no baixo, Jim Peterman no órgão elétrico e Tim Davis na bateria. Em seguida vieram outros discos, como o Sailor meses depois em outubro de 1968 e o último com Scaggs na formação - que foi lançar-se como artista solo, e sempre consolidado num molde de blues elétrico bem ácido, viajandão - como a cartilha seguia de acordo com nomes como Cream, The Moody Blues, Fleetwood Mac em princípios ainda com Peter Green dentre os integrantes principais. Miller só conseguiu encontrar uma nova identidade sonora, mais pop e que os aproximassem das rádios a partir de The Joker em 1973, cujo sucesso foi aproveitado por dois anos - o disco saiu num momento bom, diga-se de passagem. Com o reggae de Bob Marley invadindo o Primeiro Mundo, o sucesso gigantesco do Pink Floyd em The Dark Side of The Moon convertido em um best-seller do rock, o glam atingia seu auge com David Bowie e seu alter-ego Aladdin Sane, Elton John se consolidava como um fenômeno gigante em Goodbye Yellow Brick Road o seu clássico impactante. Três anos depois, Miller conseguiu emplacar de vez mais outro disco de sucesso, o segundo grande sucesso comercial, Fly Like an Eagle - muito mais do que apenas outro trabalho da banda, é um hit discográfico não somente de Miller, mas do rock daqueles anos, graças a canções como Rock N' Me - o maior hit do disco e da banda, juntamente de The Joker (do LP homônimo anterior), até o momento, ajudou a consolidar como um dos nomes que consagrou a música em 1976 - e no ano seguinte, emplacaram Book of Dreams - que manteve o primor de um guitarrista regendo pelas melodias e sua voz uma sonoridade única, concreta, e influenciada de elementos que vão do blues ao pop 70, e que ainda atrai gente com o passar dos tempos.
Vamos para 1981. John Lennon havia sido assassinado, marcando o fim dos anos 70, o punk rock era quem ditava as cartas, enquanto a música discothèque havia sido saturada de vez com a explosão da new wave que trazia Blondie, DEVO, B-52's, uma nova forma de propagar música aparecia para revolucionar - e esta revolução seria televisionada pela Music TeleVision, ou melhor, a MTV - e ali iniciava-se uma soberania de promover músicas por vídeos inovadores. E, com isso, a SMB reaparecia em mais outro LP quatro anos depois de Book of Dreams, embora saíra uma compilação dos grandes sucessos da banda de 1973 a 77 sem nenhuma faixa inédita em 1978. Mesmo assim, o encarte mostrava uma imagem do conjunto e uma vista de um show em um estádio: multidão lotada, como sempre foi até mesmo antes de lançarem Circle of Love, em 23 de outubro de 1981. Com a produção de Miller, o bem-sucedido Circle Of Love não demonstra errar na proposta de sempre trazer um som autêntico e plural - que soasse como o pop ainda vigente dos anos 1970, mas com o astral dos 1980 em seu desenvolver. Com a produção sob as mãos de Miller, aqui ele conta com o auxílio luxuoso de Byron Allred nos sintetizadores, Gary Mallaber na bateria e Gerald Johnson no baixo e o restante da banda nos vocais, o disco foi gravado em Seattle no Kaye-Smith Studios em 1981. Já na capa do disco temos Miller como um Deus controlando coisas como corpos em movimento, cometa, flamingo, bolhas e o pégaso (cavalo alado, com asas) - símbolo da banda desde 1977 presente no palco, nas camisetas e por aí, num astral psicodélico. O álbum começa com uma pedrada de ouro - Heart Like a Wheel, com cara de rock dos 60 rejuvenescido em pleno 1981 com ares neowavísticos e com uma guitarra matadora sem perder o primor que esta já carece; na sequência, temos outra faixa cujo título soa cada vez mais atual do que nunca devido a pandemia e aos cuidados que nós temos: Get on Home, já trazendo uma sonzeira mais ligado ao rock progressivo e à new wave, soa perfeitamente também como roots rock sem deixar de ser jovial contando a história de um cara apaixonado sugerindo no refrão que fosse melhor estar em casa e concluindo que irá casar-se com ela algum dia - o pop 80 soa muito forte pela bateria e o sintetizador; com uma pegada bem no estilo soft-rock no começo e os vocais bem harmonizados, Baby Wanna Dance soa como um belo convite para uma garota além de uma noite de dança - baixo e bateria mandando ver nos dois minutos enquanto a guitarra encorpa mais na base musicalmente (quase invisível) mas dando pro gasto; a faixa seguinte tem uma guitarra mais desplugadona e mais leve, Circle of Love deixa soar aqui um ar mais bucólico e vocais à la Beach Boys falando de um casal que se apaixonou dentro de um cinema drive-in, e ainda emendando um solo de guitarra chegando a durar mais de três minutos sem tirar o primor, mas dando a Miller o seu momento guitar hero durante esta faixa de 6 minutos; o disco fecha com uma espécie de suíte progressiva oitenteira chamada Macho City com seus 16 minutos onde fala de uma cidade soberanamente masculina, soando até machista nos versos, seria como falar sobre o paraíso somente de homens e uma viagem sonora instrumental que se procede ao longo do restante da faixa. Este disco não tornou-se bem um grande sucesso, mesmo com duas faixas lançadas como single, teve sim uma repercussão, e foi o ensaio para o grande sucessor à altura como o décimo-segundo LP intitulado Abracadabra, de 1982, mas aí já é uma outra história!
Set do disco:
1 - Heart Like a Wheel (Steve Miller)
2 - Get on Home (Steve Miller)
3 - Baby Wanna Dance (Steve Miller)
4 - Circle of Love (Steve Miller)
5 - Macho City (Steve Miller)
Comentários
Postar um comentário
Por favor, defenda seu ponto de vista com educação e não use termos ofensivos. Comentários com palavras de baixo calão serão devidamente retirados.