Um disco indispensável: Zé Ramalho - Zé Ramalho (Epic Records, 1978)

Vindo da Paraíba, em busca de seu lugar merecido e de reconhecimento, José Ramalho Neto, nascido em Brejo do Cruz no dia 4 de outubro de 1949, foi criado em Campina Grande ao lado de seu avô, onde conheceu  e influenciado pelos cantadores, repentistas, violeiros do Nordeste, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Bob Dylan, The Beatles e até pela Jovem Guarda, já estava trilhando o seu rumo certo na carreira musical. Vindo de João Pessoa, aonde estava servindo o Exército e fugindo de cursar medicina, Zé acaba rumando ao seu desejo de cantar suas coisas pelo Brasil afora e acaba indo para Recife, junto de sua prima Elba aonde conhece Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Antes disso, já escrevia versos de cordel e na década de 1960 teve uma banda chamada Elis & Os Demônios, ainda na Paraíba, que depois viria a se chamar Os Quatro Loucos e que faziam covers da Jovem Guarda e de Beatles e Dylan, e brevemente, de Recife para o Rio de Janeiro em 1976. Participou de um filme sobre trovadores rodando pelo Nordeste afora, com a diretora Tânia Quaresma e que lhe serviu como uma verdadeira lição de manter o legado dos trovadores e repentistas de sua região e em 1975, gravou ao lado de um músico chamado Lula Cortês um disco chamado Paêbirú, que após uma cheia que acabou com as outras cópias que ainda tinham sobrado e cuja apenas as originais custam uma grana, mas foi no mesmo ano que também acabou fazendo parte da banda de Alceu Valença ao lado de Lula e Paulo Raphael, mais o guitarrista Ivinho, ex-Ave Sangria e sob o nome de Zé Ramalho da Paraíba, acaba participando do Festival Abertura, da Rede Globo, aonde interpretaram Vou Danado Pra Catende, com uma letra em cima de uma releitura do poema de Ascenso Ferreira chamado O Trem das Alagoas e acabaram levando a melhor na categoria Pesquisa (o vídeo dessa performance ainda está no YouTube e até foi reexibido recentemente em alguma edição do Vídeo Show). Já no RJ, o próprio Ramalho seguia buscando mostrar seu próprio trabalho ainda que estivesse com Valença se apresentando, até que em 1977 se encontrou com o produtor Carlos Alberto Sion, a quem mostrou algumas músicas, como Chão de Giz e Avôhai e o levou para gravar uma demo nos estúdios da Phonogram (hoje Universal Music) e os executivos desta não aceitaram o cantor. Os dois ainda foram atrás de chances na RCA Victor, Som Livre e EMI Odeon, de onde ouviu executivos afirmarem que não estavam interessados de trabalhar com músicas dele na época. Foi quando um dos diretores de TV da Rede Globo, Augusto César Vannucci (este dirigia o núcleo de shows) ficou fã da música Avôhai e que lhes sugeriu à sua mulher, a cantora Vanusa, que gravasse tal música e com Zé no violão.
Zé Ramalho nos anos de hoje: sucesso por meio de seu primeiro disco (1978)
ainda faz ele acrescentar canções deste no repertório de seus shows
Em 1977, Zé conseguiu um contrato da CBS Discos por meio de um amigo e também nordestino, o cearense já aclmado Raimundo Fagner e este que fazendo o diretor Jairo Pires se encantasse com os versos da canção Avôhai. Em novembro de 1977, Ramalho mais Carlos Alberto Sion na produção entram em estúdio para gravarem o primeiro disco de estreia e tirando o "da Paraíba" para se tornar somente Zé Ramalho, que também leva o nome do disco recheado de belíssimas canções, breves referências sonoras que cruzem o údigrúdi com as influências musicais do paraibano criado na Serra da Borborema. A faixa Avôhai abre o disco e soa autobiográfica, pois Zé perdeu seu pai quando pequeno e seu avô teve a missão de criá-lo como um filho, a canção ainda ganha um toque luxuoso do ex-tecladista do Yes, Patrick Moraz (egípcio radicado na Suíça), misturando progressivo e psicodelia com a tradicional música do Nordeste e mais a cultura dos repentistas; na sequência temos Vila do Sossego, no que se parece falar sobre uma traição perdoada, é uma canção rica em termos de versos e de arranjos, tendo a prima Elba Ramalho nos vocais; outro tema que se destaca é Chão de Giz, também rica em versos e arranjos e uma das mais indispensáveis nos shows de Zé até hoje, tendo nesta versão Lula com seu tricórdio e Paulinho Machado no piano; já o forró A Noite Preta, feita em parceria com Geraldo e com Alceu, já carrega um clima bem mais acelerado no ritmo e com o acordeom de Dominguinhos dando aquele toque mágico; agora, se quiseres viajar total, ouça A Dança das Borboletas, de autoria do próprio Zé Ramalho em parceria com Alceu Valença, que já havia interpretado no álbum Espelho Cristalino (1977) e que na versão do paraibano, torna-se uma alucinação sonora contando com o guitarrista Sérgio Dias, do conjunto Os Mutantes; uma paradinha para a voz de Zé e dando assim esse tempo necessário para uma instrumental chamada Bicho de Sete Cabeças que conta com Geraldo Azevedo no violão e Arnaldo Brandão em um violão 7 cordas mais Bezerra da Silva (o próprio sambista) na percussão; já em Adeus Segunda-Feira Cinzenta, Zé recria um clássico do folclore alagoano em forma de chorinho, e também reutilizada anteriormente por Alceu no disco de 1977; já Meninas de Albarã é uma canção mais simples e com algumas sutis referências sobre maconha, com o sax de Paulo Moura e Paulo Raphael na guitarra; o encerramento fica por conta de Voa Voa, com uma pegada de forró e trazendo um pouco mais de gingado, um fechamento mais que merecido.
Sendo um de seus mais cultuados álbuns até hoje e também sido um marco na sua carreira, Ramalho segue a fazer shows interpretando o repertório do álbum de 1978 na íntegra, sempre sendo aplaudido Brasil afora com estas e outras canções. Em 2003 foi lançada uma reedição especial com versões novas e acústicas para os clássicos Avôhai, Chão de Giz, Bicho de Sete Cabeças, Vila do Sossego e Rato do Porto, uma faixa que ficou de fora na época das gravações e somente em 2003 foi apresentada. Da Serra da Borborema até o Rio de Janeiro, a sua música ainda segue até hoje marcada nos ouvidos de todo os brasileiros e esse disco é uma prova.
Set do disco:
1 - Avôhai (Zé Ramalho)
2 - Vila do Sossego (Zé Ramalho)
3 - Chão de Giz (Zé Ramalho)
4 - A Noite Preta (Zé Ramalho/Geraldo Azevedo/Alceu Valença)
5 - A Dança das Borboletas (Zé Ramalho/Alceu Valença)
6 - Bicho de Sete Cabeças (Zé Ramalho)
7 - Adeus Segunda-Feira Cinzenta (folclore alagoano, adaptado por Zé Ramalho)
8 - Meninas de Albarã (Zé Ramalho)
9 - Voa, Voa (Zé Ramalho)


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