Um disco indispensável: Back to Black - Amy Winehouse (Island Records/Universal Music, 2006)

Sendo considerada uma das maiores vozes que surgiram neste século XXI, porém com uma breve passagem no mundo musical que poderia ter durado mais, se não tivesse falecida aos 27 anos no dia 23 de julho de 2011, vítima de intoxicação alcoólica e não de overdose de drogas como se dizia muito (tal laudo da verdadeira causa mortis só foi confirmada no dia 8 de janeirdo de 2013, dois anos e seis meses depois), Amy Jade Winehouse ou simplesmente Amy Winehouse aproveitou, construiu a sua carreira e causou furor por onde passava. Simples, ousada, com um forte presencial de palco e dona de um timbre carregado de influências de grandes cantoras negras, como Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e com os pés no soul, R&B, jazz, blues e nos conjuntos vocais como The Ronettes, The Shangri-Las e com uma afinidade no som do hip hop  90 das lendárias Salt N' Pepa e também na pegada das meninas do TLC, cuja a integrante Lisa "Left Eye" Lopes (morta em um acidente automobilístico nas Honduras em 2002) tem um pouco a ver com o estilo explosivo de Amy dentro e fora dos palcos. Desde criança, a menina Amy Jade sempre teve bons ouvidos, por influência de seu pai Mitch e sempre foi uma garota levada, e se mostrando com total vocação para ser artista e cursando teatro e em uma escola de arte, até que a televisão fosse um passo para o estrondoso sucesso que viria artisticamente, participando de um esquete de uma peça teatral infantil aos 14 anos fez que ela conquistasse a fama aos poucos. Brevemente, já cursando a Brit School, uma escola de artes já renomada, seguia a vida como integrante de um conjunto de jazz até que um empresário já de nome chamado Simon Fuller (o mesmo cara por trás das lendárias e que expandiram o lema "girl power" Spice Girls), que foi quem a descobriu e a colocou em sua agência e que começou a despertar o total interesse numa jovem cantora de voz potente e apostando de vez na futura diva do século XXI. No ano seguinte, ela lançava o seu primeiro álbum, intitulado Frank e pela gravadora Island, ainda não era lá grande coisa, mas já estava ganhando total reconhecimento num país aonde bandas já aclamadas mundialmente como Oasis já ganhavam vez nos ouvidos de milhões de pessoas e que também tinham poucas bandas se destacando fora do Velho Continente. O seu primeiro álbum ainda não era grande coisa, não se falava muito sobre os dramas e os ex-namorados e o prodtuor Salaam Remi, já esperava dela algo mais e esse algo mais ela só encontraria quando conseguisse fazer seu maior álbum de sucesso quando já estava a um passo do seu estrelato definitivo.
A cantora no ano de 2007, no melhor momento de sua carreira
Quando estava pensando em fazer o álbum, seria novamente com Remi, mas se não fosse um executivo da EMI Music ter apresentado ela a Mark Ronson, que segundo ela, o achava um simples velho tentando parecer jovem e descolado e não sabia o que fazia "Eu compunha as minhas próprias canções no início", declarou-a sobre seu processo de criação musical. E vendo que ambos tinham o mesmo gosto em comum por cantoras da década de 60, as mesmas girl groups da época e a apreciação pelos arranjos clássicos do R&B e do soul quando gravadoras como Stax e a verdadeira máquina de hits que era a Motown tinham seus ídolos se destacando nas dez mais das paradas, além da forte influência pelo trabalho de Phil Spector, o lendário produtor que colocou seu Wall of Sound pra botar os sucessos aos ouvidos de muita gente. A primeira faixa gravada do álbum foi ainda com Salaam Remi nos Estados Unidos, em Miami e depois foi que Ronson chegou e mostrou também o seu verdadeiro toque de Midas: assim começou o processo que originou o clássico Back to Black, lançado originalmente no dia 27 de outubro de 2006 mostrou que ela veio pra ficar. Listado entre os 100 melhores álbuns da década de 2000 pela Rolling Stone norte-americana ocupando o 20º lugar e entre os melhores de 2006 ficou em 40º lugar, o álbum carrega um forte potencial sonoro e trazendo de vez o jazz-soul para conquistar público e crítica, entrando entre os álbuns mais vendidos durante o período do final de outubro de 2006 a meados de 2008 e que voltou a ser um recorde de vendas quando após a sua morte, se tornou o álbum mais vendido na Inglaterra e no mundo, superando James Blunt e seu álbum Back to Bedlam (2005) e atualmente só está atrás de Adele, a maior vendedora destes primeiros anos de século XXI e da década de 2010 com seu álbum 21 (2010). Atualmente, a vendagem não ultrapassa dos mais de 20 milhões de cópias, sendo que no Brasil vendeu 500 mil cópias, nos Estados Unidos já são mais de 3 milhões de cópias, na sua Inglaterra são menos de 4 milhões de cópias e na Europa são 8 milhões de cópias ao todo. Ganhou cinco Grammys em fevereiro de 2008, porém foi impedida de vir aos Estados Unidos para receber os prêmios de Melhor Performance Vocal Pop Feminina, Canção do Ano, Gravação do Ano, Melhor Álbum Pop Vocal e de Artista Revelação, e outras tantas premiações.
O produtor Mark Ronson: um executivo apresentou-o a Amy Winehouse e este viria
a produzir o álbum "Back to Black", lançado em 2006
O álbum começa com Rehab, aonde um forte naipe de metais e coros típicos das canções de anos 60 mostram mesmo a verdadeira Amy que não quer ir para a clínica de reabilitação e que mede esforços para seguir dizendo "no, no, no"  e que acabou sendo uma história real quando ela foi 9 vezes se internar ou estar em tratamento contra a dependência química, que sempre foi o problema e que resultou na sua morte trágica; o tema que vem na sequência é You Know I'm No Good, aonde a cantora fala sobre a sua infidelidade e demonstrou que ela era a própria encrenca em pessoa; já na faixa Me & Mr. Jones, aqui a pegada de gospel na abertura e a levada de jazz e soul dos anos 40 e 50 se mostram muito onipresentes e aqui ela faz uma referência ao rapper norte-americano Nas; se algumas faixas podem nos levar ao soul e ao R&B, já Just Friends, aonde ela fala sobre ter relações apenas amigáveis com homens, pode nos levar ao som da Jamaica, em especial ao ska, ao rock steady e ao reggae antes de se expandir nos anos 70; já a faixa-título nos leva a um tom bem lamentável sobre voltar do luto - aí o motivo de se chamar Back to Black -, a perda do amante e com uma pegada sombria nos arranjos, um sino batendo forte, tal canção já teve sua sonoridade comparada com dois clássicos da era de ouro: Baby Love, das Supremes e também Jimmy Mack, das Vandellas e canções do grupo The Shangri-Las, já sendo boas referências musicais para o som de Amy; e em seguida nós temos Love Is A Losing Game, aonde os fracassos da cantora em seus relacionamentos amorosos são retratados nessa canção que carrega arranjos maravilhosos numa balada como esta; na sequência aparece a música Tears Dry On Their Own, também sobre o fim de um relacionamento, só que decidindo seguir a vida em frente, esta já com uma pegada de soul bem mais animada, totalmente pra cima e fazendo uma ótima combinação de uma letra bem pra baixo com uma pegada sonora mais alto-astral; a dor e as sequelas de um romance ainda se podem notar muito também em Wake Up Alone, com aquela pegada vintage de blues e soul da década de 1960, sendo bem recebida pela crítica; ainda há uma rápida canção que carrega a devoção da britânica pelo amado Blake Fieder-Civil, na canção Some Unholy War e que ainda carrega a pegada de ska e reggae jamaicano em mais de dois minutos de canção; uma pegada funk à la James Brown e uma boa dose do R&B contemporâneo fazem parte da mistura sonora que é a música He Can Hold Only Her, falando sobre um namoro muito complicado e que ainda dá pro gasto; enquanto a relação com as drogas pode ser retratada na letra de Addicted, ainda que sendo realista e autobiográfica aonde ela mostra-se ousada e desafiadora na hora de falar sobre seus vícios e que encerra o álbum definitivamente.
Set do disco:
1 - Rehab (Amy Winehouse)
2 - You Know I'm No Good (Amy Winehouse)
3 - Me & Mr. Jones (Amy Winehouse)
4 - Just Friends (Amy Winehouse)
5 - Back to Black (Amy Winehouse/Mark Ronson)
6 - Love Is A Losing Game (Amy Winehouse)
7 - Tears Dry On Their Own (Amy Winehouse/Nickolas Ashford/Valerie Simpson)
8 - Wake Up Alone (Amy Winehouse/Paul O'Duffy) 
9 - Some Unholy War (Amy Winehouse)
10 -He Can Hold Only Her (Amy Winehouse/Richard Poindexter/Robert Poindexter)
11 -Addicted (Amy Winehouse)

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