Um disco indispensável: Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa... - Emicida (Laboratório Fantasma/Sony Music, 2015)

E aí, desanima não. O nosso rap brasileiro segue firme e forte, me'rmão! Podes crer! E o nome Emicida, já aclamado por crítica e público depois de mixtapes ao longo de sua carreira, e do aclamado álbum O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui (2013) cujo sucesso foi imenso logo de cara na época se seu lançamento e cheio de convidados especiais que iam de Pitty a MC Guimê e de Wilson das Neves a Rael, o rapper decidiu voltar às suas origens e ir mais a fundo em referências sonoras e durante uma viagem feita em terras africanas durante 2014, nos países afrolusófonos como Angola e Cabo Verde, no qual relatou em um "diário de bordo" o que viu por lá e decidiu voltar mais inspirativo e com vontde de colocar em seus versos o que acabou descobrindo, se tornaram versos inspiradores para as 14 faixas de seu mais recente álbum, que originalmente se chamaria Ubuntu. Tendo Evandro Fióti como produtor e seu mais fiel parceiro desde sempre, o novo álbum desta vez a distribuição da multinacional Sony Music, aqui a coisa já é bem mais ampla, com a mesma pegada pop do anterior, disparando uma metralhadora de versos e rimas, tendo assim um belo conjunto de versos da filosofia suburbana moderna. Quem somos nós pra concordar ou discordar de Emicida quando nós pensamos da nossa própria forma sobre seus versos e as suas próprias opiniões? Então prepare os seus ouvidos e entre de vez e caia de vez no som de Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa..., a mais nova obra-prima de Leandro Roque de Oliveira, que a gente conhece mais é por Emicida. Lançado em agosto desse ano, o disco pode ser considerado algo mais pretensioso e complexo de sua carreira e sem deixar as suas origens de lado, indo não só na realidade vivida nas periferias e acabando dissertando temas como desigualdade social e racial e sendo, sendo também muito elogiado pela crítica especializada e também agradou seus novos e velhos fãs como sempre.
A faixa que abre o disco se chama Mãe, uma homenagem do rapper paulista à sua Dona Jacira, que faz uma canja no final da faixa, assim como foi em Crisântemo, dois anos atrás e que esta conta em versos sobre como foi que Emicida perdeu um pai mesmo antes de nascer; já na sequência temos 8, a linha segue a mesma, sem correr atrás do prejuízo e botando em prática o seu papel como versejador e filósofo contemporâneo do hip-hop; enquanto em Casa o papo segue o mesmo, aonde o paulista não perdoa e segue colocando no papel e dando voz a tudo aquilo que ele expressa e mantêm as críticas sociais sobre "uma moradia de afeto vazia" e tendo um belo coro infantil acompanhando ele num refrão que lembra as leis herméticas; na sequência temos a vinheta Amoras onde fala com orgulho sobre a sua filha e sobre a sabedoria infantil dela em menos de um minuto; na sequência temos Mufete, que tem um quê de África na letra e nas batidas nos teletransportando de vez através da música como em várias de suas canções com direito a citação de Djavan "a terra cantaria ao tocar meus pés"; uma das canjas esperadas deste disco é a de Caetano Veloso, em Baiana, aonde os dois colocam as suas vibrações em um caldeirão sonoro-poético dando um excelente resultado desta mistura da conexão Sampa-Salvador; a presença de Vanessa da Mata na maravilhosa Passarinhos mostra um dos pontos mais altos deste álbum, com uma pegada bem de reggae que soe um pouco mais pop e moderno, mas sem deixar de ser ótimo; já na sequência temos Sodade, com aquela forte influência da África e do linguajado de Angola e Cabo Verde, entoado em forma de oração aonde uma moça cita uma canção já intepretada pela saudosa Cesária Évora com um minuto e quinze segundos; enquanto em Chapa, o rapper ainda aproveita muito pra falar a saudade de um parceiro que refere como no nome da canção e ainda carrega muito do do samba na levada, contando também a presença das Batucaderas dos Terreiros do Órgão; já na sequência surge um dos melhores temas do álbum, que é Boa Esperança, aonde o rapper segue a sua velha cartilha de sempre, indo fundo nos versos e ainda com a presença de J. Ghetto pra engrossar mais ainda o caldo;  o discurso de Getúlio Vargas aparecer em um título de um rap pode soar estranho, mas nada a ver sobre a proposta de Trabalhadores do Brasil, aonde Marcelino Freire usa um discurso moderno em menos de 1:25min; enquanto a viagem na África tenha trazido muitos frutos para colher e expor em seu disco, a presença de Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e  Raphão Alafin em Mandume traz ainda uma leva de duras críticas realistas, aonde Emicida mais 4 rappers nacionais e um alagoano (Amiri) põe suas opiniões em mais de oito minutos de versos e palavrões e o sampler de um menino dizendo "nunca deu nada pra nóiz, caralho/nunca se lembrou de nóiz, caralho" é um dos pontos fortes da música e do álbum; em Madagascar, somos pegos logo de cara com uma suavidade e a pegada pop seguido de um refrão meio bubblegum, mas que dá pro gosto como sempre; o final do álbum é digno de um trabalho como o de Emicida, a faixa Salve Black (Estilo Livre), uma homenagem aos direitos dos negros conquistados ao longo dos anos em uma levada de samba. Um encerramento com chave de ouro, por sinal.
Set do disco:
1 - Mãe (Emicida) - participação de Dona Jacira e Anna Tréa
2 -(Emicida)
3 - Casa (Emicida)
4 - Amoras (Emicida)
5 - Mufete (Emicida)
6 - Baiana (Emicida) - participação de Caetano Veloso
7 - Passarinhos (Emicida) - participação de Vanessa da Mata
8 - Sodade (Emicida)
9 - Chapa (Emicida) - participação das Batucaderas do Terreiro dos Órgãos
10 - Boa Esperança (Emicida) - participação de J. Ghetto
11 - Trabalhadores do Brasil (Emicida) - participação de Marcelino Freire
12 - Mandume (Emicida) - participação de Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e  Raphão Alafin
13 - Madagascar (Emicida)
14 - Save Black (Estilo Livre) (Emicida)












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