Um disco indispensável: Lia Paris - Lia Paris (Independente, 2015)

As cantoras brasileiras sempre tiveram um ótimo espaço no universo das rádios e da TV, porém, até os anos 90, era raro algumas mulheres receberem imenso destaque no cenário e tudo foi mudando até o final do milênio: com um espaço mais livre no mercado e o circuito independente querendo procurar mais cantoras para competirem nas paradas, hoje são elas as que ganham mais repercussão na mídia, e olha que não é só eu que digo isso. Recentemente, uma conhecida do circuito da moda de São Paulo têm se destacado pela sua voz e pelo seu estilo próprio e o seu nome é Lia Paris. Nascida na grande metrópole nos anos 1980, começou no mundo artístico aos 3 anos como trapezista de circo e foi também por lá que começou a mostrar seu dom para cantar, é formada em Moda e em Música, ou seja, é cantora, compositora, engolidra de fogo, trapezista, modelo e estilista: muitas atividades em uma só mulher, a tornaram uma mulher cheia de especialidades na área do circo, da moda e da música. Caindo de vez no lado mais cantora, há dez anos ela mostra sua vez e voz, com projetos bem conhecidos no circuito como o Paris Le Rock, na qual contou com o guitarrista Alec Haiat, da banda Metrô "coração ligado, beat acelerado...." e que gerou um álbum que levava o nome do grupo, talvez seja por isso uma de suas maiores referências como cantora seja a lendária Edith Piaf, que sabe bem interpretar o repertório dela.
Da chanson française ao indie-rock e do samba de raiz ao pop, Lia Paris consegue interpretar várias canções e também mostrar-se uma letrista de mão cheia e após anos com o Paris Le Rock, em fins de 2013 partiu para a sua carreira solo, fazendo apresentações no Lower East Side de New York, mais principalmente no bar Leftfield. Após a temporada americana, Lia começou a esboçar aos poucos a sua carreira solo e já trabalhando num repertório totalmente autoral, embora siga fazendo covers (esse lado intérprete da Lia vocês podem ver também no programa Na Voz Delas, que passa no Canal Bis). Em 2014, após participar do álbum Velocia, da banda Skank cantando uma synthpop intitulada Aniversário e não demorou muito para que Lia viesse a preparar um álbum solo, e isso só aconteceu pois ela colocou uma campanha para arrecadar uma verba, o famoso serviço de financiamento coletivo, também conhecido como crowdfunding no site Benfeitoria e a campanha, já encerrada em dezembro de 2014, agora era só soltar a voz e fazer o álbum acontecer. Com a produção de Carlos Eduardo Miranda, ex-cabeça do selo Banguela Records em 1994 e 1995 e também jurado de programas de talentos do canal SBT, o álbum também teve um toque de amigos já conhecidos como o produtor Kassin, o ex-CSS Adriano Cintra e Pupillo, baterista da Nação Zumbi, além de um lançamento realizado em maio, com show no Tom Jazz (logo em SP) no dia 7 tendo a presença de Samuel Rosa.
O álbum mostra um pop diferente do chamado pop comercial feito aqui no Brasil, nada que lembre a pegada do funk vinda do Rio de Janeiro e mesmo assim é algo que agrade a todos, e sem errar feio demais no repertório, já mais com as suas próprias influências mesmo, mas tem sim uma pegada que apele pro radiofônico, e vamos dizer a verdade que Lia foi e muito certeira nas parcerias que ela teve ao longo desse período de criação do seu álbum solo, agora o papo mesmo é deixar a música totalmente rolar. Começa a ouvir a faixa A Estrada, de parceria com o aclamado músico e compositor Marcelo Jeneci e tire suas conclusões quando perceber qual é a onda dela neste álbum; já o frontman do Skank aparece colaborando na canção Foguete, com um piano de levada bem alegre e também recheada de belos versos; na sequência temos a belíssima Três Vulcões, com uma levada bem de balada que lembre um pouco anos 50 e/ou 60, mas de belas harmonias também; já partindo para a canção Anzol, com uma levada pop oitentista, que não faz feio mas também se mostra um pouco nostálgica e nos faz voltar a boa época do pop quando se ouve os sintetizadores; depois temos Subentendido, de parceria com Jeneci, uma canção que se mostra soar de forma maravilhosa e totalemnte pop rock e que mostra o ponto forte em termos de letra e música; já em Calma, nada de brisa calmante na música não, "formas e desejos" e um "sonho em latim" definem toda a música, mas também traz uma referência forte no som que traz lembrança do pop alternativo; logo temos Seu Jardim, outra canção que nos faça voltar aos anos 80 só ouvindo a base sonora que traz os velhos sintetizadores e a batida e deixa você "viciado" mesmo; outra canção que também nos pega de cara é Dissonantes, também trazendo aquele astral de sempre, aonde ela se mostra um pouco "tão perto e tão longe do fim"; em Tempo, as coisas parecem ter ainda muito bom senso em termos de letra e de arranjos, carregando um astral totalmente ótimo por sinal; depois vem Azul E Flores, já outro tema com um belo arranjo, não passa batido de vez, não, embora mostre também um pouco de sutileza e trazendo um pouco de realidade nos versos "cada trapézio que voei me faz chegar até aqui" como se estivesse voltando aos anos de circo; logo em Por do Sol, ainda têm um pouco de referências a sonoridade do Oriente Médio, com direito a tabla (instrumento de percussão) e bandolim, com uma letra maravilhosa; na sequência temos o tema principal deste álbum que é Wild Boy, lançada anteriormente em 2014 com um clipe feito em New York e mais uma das canções feitas com Jeneci e que mostra ter cara de um sucesso de fácil assimilação popular; o disco encerra-se com Sua Constelação, feita em parceria com Fredo Ortiz - músico americano e ex-integrante dos Beastie Boys - e com Edgard Scandurra, com uma pegada que cruze elementos de hip hop e reggae, boa pra encerrar álbuns maravilhosos como este.
Indo com temas bem autobiográficos e sendo reconhecida ultimamente no cenário nacional, Lia Paris é uma especialista em moda e música que agora deixou um pouco seu trabalho na primeira opção e que agora está mostrando sua voz e sua vez mesmo é na música, mas sempre mostrando estar bem vestida quando se trata de moda. Com um belíssimo repertório autoral, bem acompanhada com músicos que colaboram muito no seu trabalho e sempre indo fundo nas suas influências musicais, embora ela já tenha feito muito em outros projetos e agora com uma belíssima carreira solo. Agora é só ouvir e curtir com moderação o trabalho de uma grande cantora paulista que agradará a todos os ouvidos, independente de estilo e com um excelente álbum. Vale muito a pena.
Set do disco:
1 - A Estrada (Lia Paris/Marcelo Jeneci)
2 - Foguete (Lia Paris/Samuel Rosa)
3 - Três Vulcões (Lia Paris)
4 - Anzol (Lia Paris)
5 - Subentendido (Lia Paris/Marcelo Jeneci)
6 - Calma (Lia Paris)
7 - Seu Jardim (Lia Paris)
8 - Dissonantes (Lia Paris)
9 - Tempo (Lia Paris)
10 - Azul E Flores (Lia Paris)
11 - Por do Sol (Lia Paris)
12 - Wild Boy (Lia Paris/Marcelo Jeneci)
13 - Sua Constelação (Lia Paris/Edgard Scandurra/Fredo Ortiz)









Comentários

  1. Estupenda em tudo o que faz. Amo Lia Paris. A melhor novidade da música brasileira.

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    1. Sem dúvidas, Jorge! Ela é excelente e têm muito talento pra mostrar, ainda.

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