Um disco indispensável: Abbey Road - The Beatles (Apple, 1969)

O ano de 1969 seria muito complicado para o quarteto de Liverpool, que após os fracassos dos projetos totalmente comandados por Paul McCartney, também seria o ano do início do fim da era psicodélica, com os festivais Isle Of Wight na Inglaterra e o histórico Woodstock, realizado em uma fazenda na cidade de Bethel, nos Estados Unidos, além de ser a queda definitiva de um grupo que marcou a década. Depois das gravações do Álbum Branco, o grupo decidiu tentar realizar um projeto em um estúdio de filmagem, o mesmo aonde foi gravado cenas de filmes como Help! (1965) e foram os primeiros esboços de um projeto chamado Get Back, que não deu certo no tal estúdio de filmagem e acabaram se migrando para a Savile Row, os estúdios da gravadora Apple em Londres e numa dessas ideias para o projeto, a esperança de acontecer o último concerto dos Beatles no topo do prédio da gravadora e depois disso, John Lennon disse estar cansado das ideias de Paul em uma das reuniões de Get Back e foi quando deram um basta em todo aquele caos que girava em torno do grupo. Paul ficou sem jeito, não imaginava essa reação do seu companheiro de música e estrada por longos 12 anos e aguentou aquilo calado, até George e Ringo estavam do lado de John quanto às opiniões do músico. Foi quando por um bom tempo, os quatro deixaram de se ver muito até que decidem voltar ao começo de tudo "Com o fracasso do (projeto) Get Back, acho que sentimos muito a falta do bom senso nos primeiros anos, o clima mais alegre", relembra Harrison. 

1969: a queda definitiva e suas últimas fotos. 

Eles decidiram resolver se reunirem e começarem do zero, reconciliaram com as origens e voltaram ao antigo estúdio que foi por onde a banda concebeu 90% de toda a sua obra, o Abbey Road "Eles conversaram comigo, sobre voltarem a trabalhar com toda a equipe e fazer tudo como antigamente" declarou um dos considerados "quinto Beatle", o produtor George Martin. E assim nasceu o álbum que leva também o nome do estúdio, com Martin produzindo, concebendo arranjos e orquestrações. O próprio Paul sugeriu trazer a ideia de voltarem a trabalhar com Martin, o engenheiro de som Geoff Emerick e tendo um integrante a mais na equipe: um jovem engenheiro chamado Alan Parsons, responsável pelo som que você ouve no álbum The Dark Side Of The Moon (1973) do Pink Floyd, mas aí já é outra história. Durante as sessões, Emerick sugeriu que o título do álbum fosse Everest devido a marca de cigarros que fumava e que seria o nome do disco, e até chegaram a decidir lançar o nome com esse disco, porém como estavam muito em cima da hora para ir clicar no topo da montanha, acabou que as fotos da capa foram feitas perto do estúdio e aí o nome Abbey Road. É um dos mais vendidos discos da banda até hoje, permanecendo no Top 200 de álbuns mais vendidos da Billboard e estando na famosinha lista dos "500 Maiores Álbuns de Todos Os Tempos" da revista Rolling Stone na 14ª posição.

7 anos depois, a mesma foto, porém mais amadurecidos

O álbum começa a partir de Come Together, onde John sussura um possível "chhhhuuunnnc", sendo que ele quis dizer shoot me (atire-me) e com um pouco de guitarras, aqui com uma forte presença do órgão Moog, em uma nota do álbum Love (2006), Martin declarou que é a sua música favorita; e é em Abbey Road que George mostra sim que ainda sabe fazer ótimas canções mesmo e deixa de ficar na sombra da dupla dinâmica à frente da banda e mostra Something para o mundo todo, que entrou nas paradas e surgiu através de ter ouvido Something In The Way She Moves, de um artista contratado da Apple chamado James Taylor, primeiro single de George ser lado A e que foi interpretada por Frank Sinatra mais tarde; em Maxwell Silver Hammer, a história de um serial killer com levada doowop não dá certo, Paul fez várias sessões da música "Aquilo foi quase o fim mesmo", relembra John Lennon sobre as gravações da música e foi considerada por todos uma das piores sessões de gravação dos Beatles e Ringo declarou isto em 2008; mas Paul soube dar a volta por cima e concebeu Oh! Darling, um blues de extremo peso e que aqui supera a expectativa de uma canção comum e traz ares até mais eufóricos; uma viagem do baterista à Sardenha o fez bem criativamente e concebeu Octopus' Garden, aonde ele canta e canta sobre os polvos numa letra bem infantil com pegada country, os mesmos ares lembravam até Yellow Submarine (1966) cujo próprio deu a voz; a música mais longa da banda aparece neste disco, I Want You (She's So Heavy), com quase oito minutos de duração, foi a última gravação dos quatro juntos em estúdio e o barulho que lembrava vento foi feito com o Moog, Lennon sugeriu que Emerick cortasse logo nos 7:44 para dar uma sensação de silêncio total encerrando o lado A; a faixa Here Comes The Sun, de levada acústica é mais uma cartada que saiu do baralho de Harrison, feita na casa de seu amigo Eric Clapton e daí surgiu esse clima mais alegre, embora seja uma das poucas canções que John não havia participado; uma música aonde se toca Sonata ao Luar de Beethoven ao contrário tocada em um Moog e com poesia meio infantil se torna Because, com todos os Beatles cantando em coro; na sequência, inicia-se uma sequência de canções inacabadas, começando por You Never Give Me Your Money, na qual Paul usa a música como uma crítica sobre ele ter se desfeito da sociedade quando os outros três apoiavam que quem cuidasse dos negócios da Apple seria Allen Klein e foi só Paul que acabou escolhendo seu sogro, aqui a música têm uma sequência início-meio-fim que agrada qualquer beatlemaníaco; a canção Sun King, antes chamada Here Comes The Sun King (mudaram pra não confundir com a música de George) traz uma mistura de espanhol, português e italiano (que surgiu como uma brincadeira), com uma levada bem viajante e calma, quase um proto-new age; John ataca com tudo em Mean Mr. Mustard, com uma pegada bem dos anos 50 até, composta na Índia durante a temporada de meditação, assim como Polythene Pam, já bem mais acelerada e com uma base mais pesada e baseadas em fatos reais; e ainda sobra pra Paul cantar She Came In Through The Bathroom Window, baseada em uma história contada por um membro da banda The Moody Blues envolvendo uma groupie e cujas gravações custaram dois dias e 39 takes para ficarem prontas tendo Paul na guitarra e George no baixo; e os suspiros finais seguem com Golden Slumbers, baseado em um poema de Thomas Dekker, com ares de ópera e bem épico, aonde Paul berrava forte durante a canção; seguido de Carry That Weight, na qual se destaca o verso "Boy, you're gonna carry that weight, carry that weight a long time..." (Garoto, você vai carregar este peso, carregar este peso por um longo tempo...) onde Sir Paul dispara todas em cima da banda e de Allen Klein, com citação a "You Never Give Me Your Money" e partindo para um final apoteótico com The End, o epitáfio final da banda, puxado por um solo de bateria de Ringo Starr, e passados 14 segundos, uma vinheta chamada Her Majesty" que Paul fizera enquanto foram concebidos como MBE em 1965 e foi gravada em 1969, com uma linha de dedilhado baseada em "They're Red Hot" de Robert Johnson (1911-1938), o lendário bluesman americano.
O disco trouxe além do último adeus, uma capa ousada, onde a banda atravessa a rua perto dos estúdios Abbey Road e trazendo mais suspeitas sobre a morte de Paul, onde este aparece descalço e com o cigarro na mão direita, sendo que Paul é canhoto: morto, John é o padre, Ringo é o responsável pelo funeral e George vestido de coveiro, além de mensagens nas placas de carro "28IF" (se Paul tivesse 28) e "LMW", significava "Linda McCartney Widow" (viúva) ou "Linda McCartney Weeps" (chora), e um carro preto ao estilo de funerária, onde estariam velando alguém perto de Abbey Road e um senhor que só percebeu mais tarde, que estava em uma capa de disco dos Beatles, e sobre o mito "Paul está morto", Paul afirmou que estava descalço porque estava muito calor e por isso dispensou os sapatos. Enfim, passarão os anos e qualquer disco dos Beatles seguirá agradando a todos aqueles seus fãs ao redor do mundo.

Set do disco:

1 - Come Together (John Lennon/Paul McCartney)

2 - Something (George Harrison)

3 - Maxwell's Silver Hammer (John Lennon/Paul McCartney)

4 - Oh! Darling (John Lennon/Paul McCartney) 

5 - Octopus's Garden (Ringo Starr)

6 - I Want You (She's So Heavy) (John Lennon/Paul McCartney)

7 - Here Comes The Sun (George Harrison)

8 - Because (John Lennon/Paul McCartney)

9 - You Never Give Me Your Money (John Lennon/Paul McCartney)

10 - Sun King (John Lennon/Paul McCartney)

11 - Mean Mr. Mustard (John Lennon/Paul McCartney)

12 - Polythene Pam (John Lennon/Paul McCartney)

13 - She Came In Through The Bathroom Window (John Lennon/Paul McCartney) 

14 - Golden Slumbers (John Lennon/Paul McCartney)

15 - Carry That Weight (John Lennon/Paul McCartney)

16 - The End (John Lennon/Paul McCartney)

17 - Her Majesty (John Lennon/Paul McCartney)