Um disco indispensável: Donna Duo - Donna Duo (Gramofone Musical, 2015)

Parece bobagem, mas desde que se tenha conhecimento ou desde boa parte do século XX, existe uma lenda de que "tudo que vem do Sul é coisa boa", e parece que este fato é totalmente verídico e comprovado, pois o Sul não está resumido só ao Rio Grande do Sul de Elis Regina aos Engenheiros do Hawaii e de Teixeirinha a Renato Borghetti e Apanhador Só, isso em termos de música. Santa Catarina e Paraná também mostram apresentar seus exemplos, como Dazaranha, Gera Fornasa & Bandalheia, Aerocirco, Motel Overdose e do PR temos Sugar Kane, Relespública, Charme Chulo, Blindagem e Nevilton. Apesar de o Sul em geral ser rico em tradições ligadas às origens europeias, também conseguem se adaptar ao circuito alternativo centrado no eixo Rio-Sampa nos últimos quinze anos e para onde a maioria de artistas se mudam para este eixo e acabam se adaptando ou se mantendo mesmo em sua terra mesmo, na maioria das vezes tais cidades do eixo são pequenas demais para que algumas bandas sigam o rumo ao reconhecimento do público. Algumas tentam conquistar através de aparições em festivais ou tocando nos lugares mais acessíveis que puderem, outras tentam seguir arriscando participando de reality shows, como o SuperStar, da Rede Globo e que já contou com duas edições e campeões, e também o Breakout Brasil, do canal pago Sony TV e que só teve uma edição realizada no ano de 2014, tendo como vencedor o cantor gaúcho Jéf, que se deu bem levando o prêmio principal que é o contrato com a gravadoras Sony Music e que teve seu álbum lançado recentemente chamado Interior (nós já havíamos falado dele na resenha de agosto, clique aqui para ler) com a produção de Lucas Silveira, o vocalista e cérebro principal da banda Fresno e que também virou um super parceiro do músico de Três Coroas. Outras bandas também se destacaram, como o som neopsicodélico dos cariocas The Outs, o reggae do Moana, o trio Capela  e as meninas sulistas do Donna Duo, formada pela paranaense Dani Zan ou também Daniela Zandonai e a gaúcha Naíra Debértolis da Motta, com dois anos de estrada, o título de vice-campeãs no Breakout Brasil foi merecedor também. A origem do Donna Duo foi através de uma fã em comum que já tinha conhecimento dos trabalhos das duas na época, Naíra precisava de umas letras para o conjunto na qual esta tocava e as canções que Dani acabou agregando a tal projeto. Não demorou muito e o conjunto de Naíra anunciou o encerramento das atividades em 2013, porém, a amizade entre as duas acabou se convertendo em um projeto aonde elas acabariam indo além da música regionalista: primeiramente seria DebertoliZando, mas para que não se atrapalhassem ao falar, por livre e espontânea vontade colocaram o nome do tal projeto como Donna Duo, duas mulheres "já que Donna é mulher em italiano", disse Zandonai.
Naíra e Dani: do Sul brasileiro (Naíra é gaúcha e Dani é do Paraná)
para o Breakout Brasil e do programa para o seu álbum de estreia,
lançado na quinta-feira, dia 17 de setembro.
Após as eliminatórias do Breakout Brasil em dezembro de 2014, aonde elas levaram um belo 2º lugar, elas estavam com outro projeto além de conquistar o público pelo programa e este projeto seria um álbum - de estreia -, com direito a financiamento coletivo ou também crowdfunding pelo site Catarse.me, e o orçamento até que deu para que pudessem realizar o tão desejado CD, lançado na quinta-feira, dia 17 de setembro, ou seja, nove meses depois depois de iniciarem a campanha pelo Catarse, o resultado final é este que vocês estão ouvindo no momento: muitas referências do som regionalista, influência de Naíra com uma pegada que cruze o chamado "pop milongueiro" com samba, rock, MPB e o que mais vocês puderem imaginar, tendo a produção de Du Gomide, que acabou também sendo um colaborador tocando guitarra e violão de 7 cordas. A faixa que abre o disco é Acordei Te Amando, uma faixa de destaque e de refrão fácil de entoar, com uma pegada suave e animada ao mesmo tempo; a faixa que vem é Amor Gramatical, que é a mistura essencial do chamado pop milongueiro com MPB e samba em especial, uma letra bem elaborada e uma energia sem igual; uma canção que já era conhecida das performances do Breakout Brasil era Cafuné, também impressionante e com uma suavidade nos arranjos que impressiona a todos; uma pegada de anos 1950/60, dos famosos anos de ouro do rock and roll e já nos primeros tempos dos Beatles, a canção Clichê tem essa coisa de sonoridade retrô e ainda um momento bem engraçado quando soltam "Eu e ele é tudo o que eu sempre quis/Mão na mão, namoro no portão/Você sabe o que é isso?/Ah... amor clichê"; o nome da banda acaba sendo entoado no refrão de Dona da Tinta, com aquela pegada de samba e sem deixar a pegada pop que move a faixa e cheia de energia, boa por sinal; passamos já em Feitiço, velha conhecida de outros tempos, quando Naíra ainda fazia trabalho com uma banda regionalista, mas que também carrega uma levada rítmica latina ou que nos lembre mais ou menos lambada (será que isso foi influência do alagoano Figueroas!?); de cara, partimos para Isabella, com uma pegada mais de samba e também uma presença de metais que nos remetem mais àquela levada mais bem de samba mesmo; e depois temos uma boa overdose de poesia em Namora Comigo, já bem samba-axé e com uma letra estilo bubblegum, mas que nem por isso vai deixar de soar perfeito de verdade, mas também acaba sendo aquelas músicas que nasceram com cara de hit do momento; enquanto Não Chupe Limão já traz um clima mais leve na introdução e só cresce nos trinta segundos depois, já trazendo um ar mais rock and roll com coros à la anos 50 e muita poesia ; logo partimos para Previsível, também outra velha conhecida do Breakout Brasil e que também se mostra, assim como o restante do álbum, uma das melhores canções e com uma levada bem de milonga acrescentada de elementos pop e rock, algo que lembra bem alguma canção dos Engenheiros do Hawaii (sim!) lá nos anos 90; depois temos Só Vai, que conta com o produtor e guitarrista Du Gomide soltando uma rap nos versos e que também mostra ter uma boa linha melódica; o encerramento fica com Chover Gelado, que foi um tema que elas apresentaram muito na época do programa do Canal Sony e que aqui ganha ares retrô pop e mostra também que acertaram totalmente em cheio nas canções do seu mais novo álbum de estreia.
Set do disco:
1 - Acordei Te Amando (Dani Zan)
2 - Amor Gramatical (Dani Zan)
3 - Cafuné (Dani Zan)
4 - Clichê (Dani Zan)
5 - Dona da Tinta (Dani Zan)
6 - Feitiço (Naíra Debértolis da Motta)
7 - Isabella (Dani Zan)
8 - Namora Comigo (Dani Zan)
9 - Não Chupe Limão (Dani Zan)
10 - Previsível (Dani Zan)
11 - Só Vai (Dani Zan)
12 - Chover Gelado (Dani Zan)


Confira na íntegra o repertório do álbum completo!

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