Um disco indispensável: La Famiglia - Skowa e a Máfia (EMI-Odeon, 1989)

O ano era 1989 e a explosão do sertanejo e do axé estava fazendo o rock perder o espaço que tinha nas rádios FMs do Brasil há quase dez anos e os artistas do pop brasileiro (hoje, vistos como brega ou popular, o que dá no mesmo) estavam começando a sair de cena a partir dos anos seguintes, quando as multinacionais começaram mais a abrir as portas para os artistas do axé, do pagode e da onda countryneja. Alguns grupos como Heróis da Resistência, Picassos Falsos, Hojerizah, Egotrip, Replicantes e até mesmo Skowa & A Máfia, conseguiram sobreviver ao ostracismo, embora separados muitos anos depois, graças ao público que vêm os redescobrindo ao passar dos anos e os reaproximando canções que um dia já caíram na boca e nos ouvidos da galera. O grupo Skowa & A Máfia, de quem estaremos falando nesta postagem, era um grupo pop e com um pouco de black music, funk (o funk americano de James Brown e do pessoal da Motown, Stax...) e também caindo na onda do BRock dos anos 80, com letras bem engraçadas e mantendo o ritmo e o suingue; o grupo contava com uma formação inesquecível, formada pelo Skowa como cantor e líder, Chê Leal e Bukassa Kabengele nos vocais, Tonho Penhasco e Tuba nas guitarras, Kiki Vassimon no baixo, James Müller na bateria, Rogério Roschiltz nos teclados e um naipe de metais formado por Monica Doria no trompete, Liege Rava e Fernando Bastos nos saxofones. O grupo foi formado em 1987 com a intenção de reapresentar o som da Motown e de James Brown dentre outros ao público brasileiro, misturando com o suingue nacional de Tim Maia, Tony Tornado, Luiz Melodia, Jorge Ben, Wilson Simonal, Jair Rodrigues e dos vocais de Golden Boys e Trio Esperança, além de lembrar um pouco as músicas que rolavam nos bailes blacks do Rio de Janeiro e São Paulo por volta dos anos 1970 e dos grupos covers que haviam aqui no Brasil durante esta década. Skowa fez parte dos grupos Sossega Leão, na banda de Itamar Assumpção e apresentou programas de rádio como Caribe 38 e Rapazes da Banda (este último, era um talk-show), na rádio da USP. O grupo, formado no ano de 1987, já estava ficando popular na boca dos paulistas e dos rappers frequentadores da Estação São Bento (do metrô paulista) que ficavam sabendo das novidades do outro lado da América do Sul, eram muito falados pelas críticas e conhecidos pelos shows na cena noturna de Sampa, até que um dia, chegaram à conclusão de que um disco poderia levá-los ao sucesso máximo e foi quando assinaram um contrato com a EMI-Odeon (a partir de 1988 o nome Odeon era só creditado nos dados de fabricação que ficam no encarte do vinil) que Skowa & A Máfia ganhariam o público nacional, as rádios FMs e algumas indicações da revista Bizz dos melhores do ano de 1990.
O disco La Famiglia, tem um quê de swingue, de funk e de muito estilo, é um daqueles discos de black music nacional que você devia botar numa balada dedicada ao som black e no volume máximo para animar a galera nas boates e bares da vida, e conta com a produção de Tadeu Patolla, o cara que descobriu o Charlie Brown Jr., que assinava a produção com Skowa como Tadeu Eliezer. A música que dá início ao disco, Atropelamento e Fuga, é uma amostra do que é o som negro para uma galera de qualquer raça ou credo ouvir com uma letra bem fácil de cantar e um pouco tropeçante no refrão; já Atenção é uma música que passou batida quando se ouve na primeira vez, mas é um tanto engraçada, assim como a primeira e têm uma originalidade nos arranjos e na perfeição vocal de Skowa; Deus Me Faça Funky é um encontro entre Skowa e Ed Motta ainda jovem, quando ainda era apenas o menino gordinho que cantava "Manoel foi pro céu..." e "Vamos dançar lá na rua, vamos dançar pra valer..." com a Conexão Japeri, mas, falando sobre este encontro, é quase um duelo pra ver quem é o mais funky: se é Skowa em Sampa ou o então jovem Ed representando o Rio de Janeiro, cantando uma versão em português de uma música dos Headhunters; enquanto Assim Passam as Horas é uma música tratando de um desencontro onde o tempo nem é inimigo e até que não é ruim o naipe de sopros na música; Dance parece ter uma pegada suave na letra e na música, é uma daquelas músicas que no começo dos anos 90 muitos casais dançaram coladinho; Skowa apoiava muito o movimento do rap paulista, tanto que convidou para este disco Thaíde, MC Andy, MC Jack e Marron (não, não é a Alcione), que eram conhecidos no circuito nacional do rap paulista e frequentavam a homenageada Estação São Bento com direito a scratchs e samplers em homenagem ao pessoal que frequenta a estação de metrô para apresentar os seus talentos no funk e no rap; a música que faz mais o povo pular e balançar é Amigo do Amigo, que têm uma levada de suingue dançante pra cima e uma letra bem-humorada com expressões críticas "Cabeça de bagre/espírito de porco/vaca de presépio/bode expiatório" e com um naipe de sopros que até nos lembra um pouco de ska em algumas partes da música; Tudo Chato, Tudo Errado é uma composição de Arnaldo Antunes (na época, o letrista principal e vocalista dos Titãs) que até  fez uma letra falando do saco-cheio, da pessoa que um dia se mata depois de achar tudo chato na vida e não se sentir realizado, até que ficou ótimo a letra e a música por inteira; Balanço de Proa é um sinal de que já foi gasto muito suingue em boa parte do disco, até porque o gás do suingue foi muito gasto durante todo o disco, mas ainda tem um pouco de sobra para dançar e cair no suingue como as músicas anteriores do disco; para dar um gosto de que valeu a pena ouvir o disco, Skowa faz uma versão funk-rock-rap de África Brasil, de Jorge Ben e até que lembrou mesmo um rap bem sério, se perceber pelas batidas e pela forma de como Skowa declama os versos, até que não ficou ruim a versão.
Após o disco, a banda saiu pelo Brasil e lançou o disco de despedida chamado Contraste e Movimento, lançado no ano seguinte e se separaram em 1991. Skowa acabou se dando bem, foi fazer carreira solo e hoje tá com um trio solista e também no Trio Mocotó, substituindo Fritz "Escovão". James Müller, Bukassa Kabengele e Rogério Roschiltz mantêm-se ativos, inclusive o próprio Bukassa faz atuação em teatro e novelas. E La Famiglia vai continuar atravessando gerações com as histórias de atropelamento e fuga, do amigo do amigo do amigo do amigo do amigo, falando do balanço de proa dizendo que está tudo chato e tudo errado... enfim. Vida longa à Skowa! Vida longa à Máfia de Skowa! Vida longa à La Famiglia!
Set do disco:
1 - Atropelamento e Fuga (Akira S./Pedreira Antunes)
2 - Atenção (Skowa)
3 - Deus Me Faça Funky (God Made Me Funky) (Bernie Maupin/Bill Summers/Mark Clark/Blackbird Knight, versão em português de Skowa) - participação de Ed Motta
4 - Assim Passam As Horas (Skowa/Sérgio Basbaum)
5 - Dance (Tadeu Eliezer/Skowa)
6 - Estação São Bento (Skowa) - participação de Thaíde, MC Jack, MC Andy e Marron
7 - Amigo do Amigo (Skowa)
8 - Tudo Chato, Tudo Errado (Arnaldo Antunes)
9 - Balanço de Proa (Skowa/Eduardo Cabello/Ciro Pessoa)
10 - África Brasil (Jorge Ben)















Comentários

  1. Obrigado pelo carinho e respeito...De coração, Namastê!!!...

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    1. Obrigado, mano Skowa! Sempre falaremos bem de outros discos, assim como falamos bem do seu que é, para nós, uma peça da MBB (Música Black Brasileira) que vai durar por anos e você sabe bem disto! Muita gente não sabe quem é Skowa, mas quando ouvirem este disco descobrirão quem foi este grande mito da nossa música black no Brasil que fez o povo balançar em muitas festas nos anos 80 e 90. Aquele abraço pra ti, man!

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