Um disco indispensável: Chico Buarque de Hollanda - Chico Buarque (RGE Discos, 1966)

A história de um dos maiores compositores da nossa música popular brasileira e a sua discografia brilhante começa totalmente aqui, neste post sobre o primeiro disco, mas primeiro vamos voltar no tempo e conhecermos direito sobre o autor. O carioca  Francisco Buarque de Hollanda, vindo de uma família de sete irmãos, nascido no dia 19 de junho de 1944, viveu a infância entre Rio, São Paulo e Roma onde seu pai, o professor, historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda lecionou em uma faculdade. Voltou para o Brasil e ficou em uma escola de padres canadenses onde foi ingressado a um grupo radical chamado Ultramontanos e ficou num internato em Cataguases, nessa época já escrevia poemas e nessa época escreveu o seu primeiro, intitulado Canção dos Olhos, e aos 17 anos já estava fazendo algumas coisas que o custaram uma passagem policial, como furtar um carro, na qual também rendeu sua primeira aparição em um jornal, com tarja no rosto. Depois de um tempo, cursando Arquitetura na USP, ele já estava fazendo alguns trabalhos como o livro de poemas A Bordo do Rui Barbosa, que seria publicado anos depois quando já famoso. Chico disse em uma entrevista que era o pior aluno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e largou para fazer parte de um movimento estudantil e já fazia alguns concertos para conseguir seu ganha-pão, e sua vida só ia começando a mudar aos poucos. Chamado para fazer a música de um poema de João Cabral de Mello Neto que estava virando peça, Morte e Vida Severina e que lhes deu o passe para um de seus primeiros prêmios, como o do Festival Universitário de Teatro em Nancy na França. Nesse meio-tempo, ele assinava com a gravadora RGE Discos, por onde lançaria seus três primeiros LPs e gravado antes disto apenas dois compactos. O primeiro disco, que levava o nome Chico Buarque de Hollanda (o "de Hollanda" só seria retirado logo após o disco de 1970) com a produção de Manoel Barenbein e gravação de Júlio Nagib e apresentava um conjunto de 12 canções brilhantes do compositor carioca, além da mais icônica capa na qual ele faz as expressões de alegre e triste em cliques de Dirceu Corte-Real, autor das fotos que se tornaram virais da internet, ou também memes, feitas segundo o próprio cantor, depois de ter chupado limão e falando sobre a importância da fruta cítrica no texto da contracapa, quem quiser procura no acervo de imagens do Google e leia se quiser.
O álbum começa com uma marcha-rancho num tom alegre, um dos primeiros sucessos de sua carreira e que rendeu uma pole position no II Festival da Música Popular Brasileira exibido pela TV Record e dividindo o 1º lugar com outra música (outro clássico, logo Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros cantada por Jair Rodrigues no festival), esta era A Banda, de tons alegres, ao estilo banda de coreto, as famosas fanfarras, de poesia original, brilhante e que traz um astral próprio, já nasceu um clássico, pra falar a verdade; mas aqui tem seu lado sambista, e destes vários sambas aqui ele nos traz Tem Mais Samba, e seu refrão filosófico "Se todo mundo sambasse, seria tão fácil viver..." com a batida bem sincopada ao decorrer do refrão, que é onde a música literalmente morre; e como o compositor sempre teve personagens que protagonizaram canções, a primeira a dar as caras é A Rita, um amor que ilude o eu-lírico e leva as coisas e deixa o violão do compositor mudo, literalmente, vale destacar aqui o solo de trombone que faz parte da música; os amores e desamores retratados em suas canções sempre foram o forte de Chico e aqui em Ela e Sua Janela ele consegue ir na intimidade da personagem e mostrar uma melancolia da mais possível forma e traz aquele ar de fossa nos arranjos; em seguida temos Madalena Foi Pro Mar, a história de alguém que só ficou a ver navios e não deixa nenhum vestígio acaba sendo um samba de tom alegre mas com poesia mais profunda; em seguida temos outra pérola clássica deste álbum e uma das primeiras gravações de Chico que foi Pedro Pedreiro, que traz uma atmosfera poética que se repete mas muda as palavras, mais ou menos semelhante ao que seria em Construção (1971) uma de suas maiores canções, mas fica pra outro post sobre isso; já na canção seguinte, Amanhã Ninguém Sabe, o que podemos ter aqui é o pedido de trazer um violão e uma morena "antes que o amor acabe", e o arranjo aqui soa como um samba-jazz mais dançante, que chega a ser um raro tropeço neste disco, mas nada que soe péssimo ou ruim por aqui; em seguida nós temos Você Não Ouviu já é algo mais do mesmo, mas não deixa de ser outro tema de grande importância deste disco, aonde o autor se sente ignorado pela sua amada por ela não ter ouvido o samba e o refrão traz uma pegada cômica "as rosas vão murchando e o que era doce acabou-se" e traz uma pegada bem embalante por sinal; em seguida temos mais outra história com nome de protagonista: Juca, que foi preso por fazer serenata para uma moça chamada Maria e ao explicar para o delegado, este disse que era bamba na delegacia mas que nunca fez um samba em outro refrão de tom cômico, digamos assim; mas um tema aqui de grande destaque que merece completa atenção dos nossos ouvidos é Olê, Olá que tem uma pegada primorosa e traz um novo sentido e ganha mais peso a partir do refrão de uma forma impressionante; em seguida, com a faixa Meu Refrão, na qual os metais faz um som bem mais puxados pro soul americano, e declara que o seu violão é o seu melhor amigo e que dá pro gasto total; o disco encerra aqui com Sonho de Um Carnaval, um sambinha na qual o compositor na época fazia canções sempre protagonizadas durante os festejos de Momo e foi muito comparado a Noel Rosa (1910-1937) durante os primeiros anos e mostrando que Chico ainda tinha muita coisa pra cantar e ainda terá pra espalhar enquanto estiver entre nós aqui.
Set do disco:
1 - A Banda (Chico Buarque)
2 - Tem Mais Samba (Chico Buarque)
3 - A Rita (Chico Buarque)
4 - Ela e Sua Janela (Chico Buarque)
5 - Madalena Foi Pro Mar (Chico Buarque)
6 - Pedro Pedreiro (Chico Buarque)
7 - Amanhã Ninguém Sabe (Chico Buarque)
8 - Você Não Ouviu (Chico Buarque)
9 - Juca (Chico Buarque)
10 - Olê, Olá (Chico Buarque)
11 - Meu Refrão (Chico Buarque)
12 - Sonho de Um Carnaval (Chico Buarque)

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