Um disco indispensável: Rogério - Supercombo (Elemess, 2016)

Talvez o efeito que tenha surtido os fãs da banda Supercombo através do terceiro e aclamado disco Amianto, lançado no início de 2014, ainda fique pairando em nossos ouvidos, corações e mentes até hoje pelo simples fato de ter: letras originais, arranjos que nos fazem se sentir num nível maior e também sendo um exemplo para bandas da nova geração do rock brasileiro que têm sido importantes para esse grande boom que aconteceu após Piloto Automático ter sido um dos vídeos mais assistidos do ano de 2014, a banda conseguiu sua grande consagração quando participaram do reality show da TV Globo, SuperStar em abril de 2015, chegando até ao top 7 mas mesmo assim, se mantiveram entre as bandas que se destacam total nesse cenário pop nacional do Oiapoque ao Chuí e fazendo a cabeça de milhões até hoje. Foi preciso que em meio ao auge da fase Amianto, a banda decidiu se trancafiar em estúdio e conceber o que viria a ser o próximo grande trabalho da banda, até agora: sendo considerado até mesmo um disco temático, uma ópera-rock, dá para se notar bem. Mas, a que ponto chegaria o vocalista/guitarrista/tecladista/engenheiro de som Leonardo Ramos a fazer deste disco algo que lembre Tommy e também Quadrophenia, dois exemplos de discos temáticos que o The Who concebeu em seu auge da carreira? Talvez não seja somente este, um principal exemplo para a banda usar, saibam que em 2015 a banda de pop rock gaúcha Bidê ou Balde concebera um disco intitulado Gilgongo!, ou A Última Transmissão da Rádio Ducher e que foi aclamado pela DIPO como um dos melhores álbuns do ano passado. Na dúvida, você poderia ter esperado pouca coisa de Rogério e o impressionante é que não é pouco o que se pode ouvir ao longo deste disco: pegaram como protagonista, alguém que já tenha vivido muito, aparentemente canastrão e sábio para poderem conceberem o personagem. Rogério é, nada mais do que uma visão mais profunda, o lado mais ruim de qualquer coisa - em especial das pessoas, e segundo Léo Ramos em entrevista ao Nação da Música à época do lançamento. Mantendo tudo em segredo sobre as gravações, a banda conseguiu reunir para esse projeto uma série de 19 canções e destas 19 faixas que foram concebidas para Rogério - nome que surgiu por meio de uma brincadeira da banda - 11 entraram para o disco, e uma ficou como uma espécie de faixa bônus, ser, mas soa como mais um tema que faz parte de todo esse conceito que habita em Rogério. Agora, falando também sobre a arte do disco, já nos impressiona também, com um conceito totalmente moderno, o 3D dá mais sentido para o disco, onde você vê com os tradicionais óculos imagens mais diferentes do que aquela em plano central: algo surrealista até, vai dando tons mais complexos e tridimensionais que para quem curte algo mais diferente no assunto encartes de discos.
A faixa que abre este trabalho brilhante chamado Rogério é a porta definitiva para os efeitos colaterais da sonoridade, e em Magaiver - com dois integrantes da banda que também descoberta no SuperStar (na primeira edição) Medulla, Keops e Raony dando canja com a banda, e o verso "dei uma mordida no pão que o Rogério amassou" já é de se impressionar com a grandeza poética e a levada carrega uma energia que parece surgir do nada e destaque também para a voz de Carol Navarro no refrão da música sendo um ingrediente poderoso a mais; já na próxima faixa, intitulada A Piscina e o Karma, a banda traz para o time de convidados a vocalista da banda Far From Alaska, Emmily Barreto e o peso das guitarras faz com que as bases e nossos ouvidos estremeçam diante de tanta agressividade sonora - e isso é bom por sinal; em seguida, temos Bonsai, com uma introdução sintetizante e faz parecer uma música ao estilo mais techno, mas sem deixar o primor rock n' roll de lado, o que é importante; mais adiante, a banda chama um velho conhecido de SuperStar: Gustavo Bertoni, da banda Scalene, participa de Grão de Areia e o refrão deixa uma visão negativista do protagonista desse disco; na sequência, a faixa Monstros soa como um passeio no imaginário surrealista, e com Mauro Henrique, da banda gospel Oficina G3 com um lamento "ser adulto não é fácil" e parece que aqui, estão falando uma verdade comprovada por muitos; logo em seguida, com Embrulho, o papo não deixa de fugir do padrão que comporta o disco e traz um ar de filosofia poética no verso "A jornada é o que nos faz viver, a jornada é o que nos faz crescer" e transforma aqui o exemplo de como dar mais cores para o ritmo de uma canção como essa; logo mais adiante, em Morar, com acordes mais suaves, chega a lembrar uma canção bem puxado para um alternativo mais melódico e com influências até de dream pop, bem aproveitável ao longo do repertório; e para a próxima faixa do disco, intitulada Bomba Relógio, quem dá as caras - ou melhor, a voz - é Lucas Silveira, da banda Fresno e, acredite: quando dois gênios do rock brasileiro contemporâneo se encontram, grandes coisas podem acontecer e deixar fãs de Supercombo e Fresno aprovarem a parceria como esta; as esperanças de um futuro brilhante podem ser muito notar nos versos de Jovem, onde o eu-lírico se diz totalmente jovem com "corpo de ancião, mentalidade de vovô" e mostra aquele espírito Forever Young entoado anos antes por Alphaville - uma possível influência desta letra; e agora a velha guarda do rock brasileiro é quem dá as cartas na faixa Eutanásia, que conta com o lendário Sérgio Britto, vocalista e tecladista da banda Titãs, e o encontro acaba se tornando um destaque à parte desse disco; logo mais em seguida, com a faixa Rogério, aqui o tom é outro, e Leo Ramos acaba se incorporando no personagem entoando "eu quero subir e já chegar chegando" como querendo fazer o tipo do que acaba com as festas, mostrando bem o lado hardcore do personagem da canção; por fim, temos uma espécie bônus do disco que é a faixa Lentes, e que aqui traz Negra Li, um tema que se destacou muito desde que foi anunciado e a faixa ter sido uma das primeiras a ser divulgada antes do lançamento em 22 de julho. Enfim, para um bom entendedor da música de Supercombo, nem precisamos de meias-palavras para definir o conceito de Rogério, pois o disco já fala por si próprio, com uma linguagem moderna e que não faça passar despercebido para os fãs.
Set do disco:
1 - Magaiver (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Keops e Raony
2 - A Piscina e o Karma (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Emmily Barreto
3 - Bonsai (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro)
4 - Grão de Areia (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Gustavo Bertoni
5 - Monstros (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Mauro Henrique
6 - Embrulho (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro)
7  - Morar (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro)
8 - Bomba Relógio (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Lucas Silveira
9 - Jovem (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro)
10 - Eutanásia (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Sérgio Britto
11 - Rogério (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro)
12 -  Lentes (Leonardo Ramos/Marcelo Klazco/Paulo Vaz/Pedro Ramos/Raul de Paula/Carol Navarro) - participação de Negra Li

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