Um disco indispensável: Meu Pop é Black Power - Sergio Pi (Lab344 Records, 2015)

Você, por acaso, já ouviu falar em Sergio Pi? Alguma música dele você já deve ter ouvido em alguma rádio na vida? Pois então, se você não conhece esse tal de Sergio Pi, você precisa conhecê-lo agora e depois compartilhar com toda uma galera o talento desse cara, que além de cantor, compositor, produtor e tecladista é o dono do selo Lab344 vindo do Rio de Janeiro: sim, a nossa querida e amada Cidade Maravilhosa abriga uma parte da história do nosso pop nacional e do BRock oitentista, é o principal ponto de encontro de toda essa cena nacional, junto de São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre entre outras cidades. Sergio pode não fazer algo que soe como o funk que ultrapassou as periferias e os paredões de som da Furacão 2000 e agora invade até as manhãs de segunda a sexta no programa da Ana Maria Braga ou os raps que figuram entre eventos sociais e manifestações artísticas por esse país afora. Diferente dessa ala mais comercial, Pi decidiu investir no mesmo que o pessoal do Daft Punk há uns exatos três anos atrás com o disco Random Access Memories, onde juntaram a velha guarda da disco music como Giorgio Moroder e o próprio Nile Rodgers e acabou sendo um dos grandes lançamentos da música nesta década de 2010. Pois bem, desde 2005 que ele mantêm o selo ativo, lançando bandas, ele já fazia músicas desde pequeno e isso veio a desenvolver algumas coisas que podemos notar aqui em seu álbum de estreia, que fazia Pi a sair dos bastidores e mostrar sua cara e voz ao público. Dez anos depois de ter abrido "o selo mais indie do Brasil", agora ele se lançava como cantor de vez e não decepcionando os mais saudosistas da época dourada, com Meu Pop é Black Power, ele consegue acertar em cheio não somente no repertório, mas também na equipe que ajudaria a conceber o trabalho dele, lançado no dia 31 de janeiro de 2015: além de Bombom, ex-parceiro do cantor e compositor Ed Motta, também rolou nessa união de parceiros o tecladista Hiroshi Mizutani, da banda de Lulu Santos, mais Carlos Cesar na bateria, Hide Tanaka nos sintetizadores e também Flávio Mendes na guitarra, além da presença especial de Paul Pesco na guitarra e baixo, que já trabalhou com muita gente do pop, como Madonna, Céline Dion, Al Green dentre outros e agora fazendo uma canja ao lado do nosso brasileiro Sergio Pi, que traz todo o astral dos anos 70/80 num clima bem retrô e agradável que este trabalho nos apresenta. O disco teve mixagem também feita por gente de outro nível, logo estamos falando de Jason Schweitzer (Eminem, John Legend) e a masterização ficou por conta de Chris Gehringer (Jay-Z, Madonna) que mantiveram o primor do álbum desde a primeira até a última faixa, sonzeira garantida de verdade.
Sergio Pi já garante: o pop dele é black power e de qualidade.
(Divulgação/Lab344)
Quando falamos que o disco capta toda a era de ouro promovida por Moroder, Rodgers, Robson Jorge & Lincoln Olivetti, a gente não está mentindo não e o passeio pelo pop black power de Pi começa em 11:11, que também nos traz um pouco a levada das músicas africanas deixando a gente indo devagar nessa onda bem alto-astral, e já é um cartão de visita para a sua música e entoa o título do álbum de cara e tem uma onda bem soul moderno, R&B e convida a gente linda do nosso Brasil para fazer a festa junto e a gente já vai indo nessa pegada com intimidade; logo em seguida nós temos No Tempo de Um Abraço, que até lembra um pouco o popzinho mais bubblegum dos anos 80 mas dá totalmente pro gasto e deixa o corpo balançando ao decorrer da música, e que lembra um pouco o estilo tecnopop até; e a próxima faixa é um dos temas de destaque desse disco, Desesperadamente, com uma intro que lembra a levada de Nile Rodgers e também a música Makes Me Wonder da banda Maroon 5 e um refrão bem fácil de entoar "Tentei achar a razão, mas naveguei com meu coração" e arrastando todo mundo facinho para uma pista de dança da vida logo de cara; mais adiante, com a faixa Precisa Não, o desfile de sintetizadores ao longo da música faz a gente se sentir em uma sala de som cheia de Arbons, Polysix e Moogs mas com toques modernos, mantendo assim o primor pop de Pi ao longo da música; e em Pelo Mundo o papo é bem viajante mesmo, o conceito é bem inspirativo de verdade e o refrão faz alusões a duas figuras mpbísticas "O meu amor é meio Rita Lee, o seu era Caetano demais" citando da nossa diva do pop rock a canção Coisas da Vida e aqui também com metais desfilando nessa música; o momento de trazer canções de ídolos da geração 80 e dar uma roupagem muito moderna é livre, e aqui nós temos uma adaptação de Girassóis da Noite, clássico de Lobão do seu álbum Vida Bandida (1987) carrega aqui uma levada de samba-soul com ares bem pop que nos impressionam a levada; deixando um pouco o astral pra cima nos arranjos em Ilusão Lunar, aqui é algo mais soft, uma baladinha bem gostosa de curtir e que não nos decepciona muito, é boa demais essa canção; e por diante, temos uma sequência intitulada Submerso/Universo Elegante, e deixa um gosto bem mais delicado aos nossos ouvidos e apesar do melodismo na canção, serve como um grande destaque para esse álbum; já a faixa Estação do Olhar, composta por Paz Helena, o disco mantêm as cores e os tons que carregam e não passa despercebido por nós nesse doowop cinquentista apaixonante; as levadas orquestrais que abrem Oito Minutos nos introduzem a uma batida bem alegre e temos uma ideia rápida de onde Pi deve ter se inspirado para criar essa canção: basta encontrar canções dos anos 60 produzidas por Phil Spector e seu esquema Wall of Sound, que construiu uma linguagem para o pop moderno impressionante; e logo de cara em Integrando o Amor, sentimos um pouco nostalgia do dance dos anos 70/80 e um pouco da fase dos anos 90 de Lulu Santos só reconhecendo de ouvido o batidão discothèque e faz a gente se jogar de vez na pista; o disco encerra-se com uma cover da faixa Barriga da Mamãe, lançada em 1982 por Rita Lee - influência principal de Pi, carrega o groove que lembra até a versão original e deixando um gostinho muito doce de "quero mais" desse pop black power de Sergio Pi; mas também há uma parte 2 da música Desesperadamente, que é a faixa bônus disponível em formato digital e que soa como uma espécie de "bis" para esse trabalho e para aqueles amantes do popzinho mais old school que sempre irá chamar a atenção de uma geração nova interessada em trazer o analógico para a juventude novamente.
Set do disco:
1 - 11:11 (Sergio Pi)
2 - No Tempo de Um Abraço (Sergio Pi)
3 - Desesperadamente (Sergio Pi)
4 - Precisa Não (Sergio Pi)
5 - Pelo Mundo (Sergio Pi)
6 - Girassóis da Noite (Lobão)
7 - Ilusão Lunar (Sergio Pi)
8 - Submerso/Universo Elegante (Sergio Pi)
9 - Estação do Olhar (Paz Helena)
10 - Oito Minutos (Sergio Pi)
11 - Integrando o Amor (Sergio Pi)
12 - Barriga da Mamãe (Rita Lee/Roberto de Carvalho)
13 - Desesperadamente - Parte II (Sergio Pi)

Comentários

Mais vistos no blog