Um disco indispensável: Melhor do Que Parece - O Terno (Tratore, 2016)

Passados dois anos desde que o trio paulista formado por Tim Bernardes, Victor Chaves - que saiu da banda para dar lugar a Gabriel Basille recentemente - e Guilherme D'Almeida lançaram o disco que trouxe um lado mais tropicalista e mais viajante do que nunca: o disco homônimo da banda O Terno, conseguiu ir além das expectativas que se circulavam pelas bocas quando estavam planejando este trabalho por meio de um serviço de financiamento coletivo, também conhecido como crowdfunding, transformou o trabalho em uma obra-prima da banda e do rock brasileiro. A banda, que já havia ido além do que a estreia em 66, lançada há quatro anos antes, descobriu como evitar os clichês e romperem padrões tradicionais das bandas do underground brasileiro e isso Tim, como letrista e músico, consegue isso de uma forma única. De palcos populares do Auditóro Ibirapuera e casas de espetáculo em São Paulo para os palcos do mundo inteiro, a banda cortou estrada e seguiu divulgando o seu segundo álbum até metade do primeiro semestre deste ano, quando a banda decidira voltar aos estúdios e gravar seu novo disco, que teve momentos divulgados pelo Snapchat da banda. Afinal, será que a banda progrediu na sua evolução ou decidiu regredir? Será que a banda decidiu ir a fundo nas influências sonoras deste disco? Tudo isso têm explicações que são ditas, desde o começo das sessões até o lançamento, realizado no dia 26 de agosto, com direito a apresentação do novo material no Auditório Ibirapuera nos dias 9 e 10 de setembro. O disco teve seu processo realizado em terras paulistas (óbvio) nos estúdios Canoa, tendo Gui Jesus Toledo na coprodução e as sessões foram realizadas a partir de janeiro e fevereiro deste ano, ainda teve o período de abril a junho para que a banda pudesse mixar e masterizar o material. Com influências que vão de Fleet Foxes a Mutantes e de Alabama Shakes ao Clube da Esquina e inclusive a fase áurea dos Festivais da Canção (1965-1972), o pop neotropicalista da banda aqui ganha tons mais ácidos e viajantes do que nunca, sem que deixe de lado todo o primor que a banda sempre teve. Se antes o disco de 2014 era mais cinza e mais pra baixo, aqui as músicas e os versos ganham cores, ou definindo bem: o tom do disco é mais multicolorido como era 66, lógico, ganhando assim os ouvidos dos fãs fieis da banda logo de cara. Desde que foi lançado o disco homônimo da banda há dois anos antes, já se via assim um amadurecimento precoce grandioso, tornando-se um belo exemplo de como evoluir sem precisar perder todo o primor de sempre, o que é essencial para qualquer artista. Agora, neste novo trabalho, já se pode dizer pelo título, Melhor do Que Parece, não deixa a gente ficar em dúvidas sobre as canções que marcam o repertório, elas trazem um astral totalmente diferente de verdade, mas deixam nossos ouvidos completamente chapados após a primeira escuta.
A banda O Terno, com Gabriel Basilel (da direita para a direita) em
foto atual para o novo álbum "Melhor do Que Parece" (Divulgação)
A faixa que abre o disco, intitulada Culpa, é uma reflexão sobre as coisas que fazemos com a mesma acidez sonora que nos remete a um popzinho completamente viciante, com o verso mais brilhante "Desculpa qualquer coisa, minha culpa, culpa minha, culpa minha de pedir perdão" sem precisar soar redundante demais o tom entoado nos versos; ainda temos em diante, que além de ser poesia para nossos ouvidos, é que pode ser considerado uma peça ideal para o quebra-cabeça deste disco e os órgãos soam de forma alucinante nesta canção; a música seguinte, chamada Não Espero Mais, é um exemplo de como a criatividade da banda flui plenamente e isso se nota nos acordes instrumentais da canção, sem precisar querer tropeçar na música; logo na faixa Depois Que a Dor Passar, temos um grande efeito de lisergia sonora que surta em nossos ouvidos que demora a passar, soa muito delirante de vez; mais adiante, temos Lua Cheia que também se destaca pelos seus versos de linhagem contemporânea e que tem um momento mezzo tropicalista e também mezzo Blues Pills nos arranjos da música, algo bem original; mais adiante nós ainda podemos contar com preciosidades maravilhosas neste disco como O Orgulho e O Perdão, onde Tim consegue se superar ainda mais nos versos criativos, como "Meu coração é até grande demais mas o que você me fez, não se faz" mostra alguém que não consegue perdoar pelo excesso de orgulho, que não consegue aceitar o perdão da pessoa amada às vezes, e isso nos remete um pouco ao brega, a poesia de Odair José, Reginaldo Rossi entre outros e nem pelo clichê mais fora do contexto não faz a canção perder todo o seu primor que tem; na faixa seguinte intitulada Volta, não temos do que reclamar sobre o contexto da música, mas agradecer mais pela existência de Tim e sua genialidade que nos presenteiam canções como esta; e se você ainda achou pouco, temos também Minas Gerais que é outra canção que merece seu enorme destaque aqui pelo seu conceito poético-musical, o desejo do eu-lírico de quando for avô, se mudar para as montanhas mineiras e a vontade de avistar do alto a cidade de Diamantina, sendo poesia em prato cheio total; podemos contar ainda com Deixa Fugir, mostra as lembranças de um romance antigo e com um conselho "O que passou ficou marcado e ninguém vai apagar..." mostrando que alguns amores, após o fim, soam eternos para muita gente que se identifica com a música; mais adiante, com Vamos Assumir, o clima na canção é bem mais diferente, a letra carrega uma filosofia de vida no verso "A gente tem tempo mas o pensamento viaja mais rápido que a nossa ação" que deixa o equilíbrio entre som e poesia mais normal até aqui; em seguida, a faixa mais curta do disco intitulada A História Mais Velha do Mundo, com um pianinho mais caixinha de música, traz um estilo mais jazzístico nos arranjos, mas que não decepciona a gente aqui; a faixa-título é que encerra o título, e como as expectativas são Melhor do Que Parece, aqui temos ares tropicalistas, muitas influências de Mutantes e também do disco Pet Sounds, dos Beach Boys, acrescentando também uma pegada de rock orquestrado dos anos 60, mantendo essa tonalidade que a banda concebe não somente em suas canções, mas em um disco todo.
Set do disco:
1 - Culpa (Tim Bernardes)
2 -  (Tim Bernardes)
3 - Não Espero Mais (Tim Bernardes)
4 - Depois Que a Dor Passar (Tim Bernardes)
5 - Lua Cheia (Tim Bernardes)
6 - O Orgulho e o Perdão (Tim Bernardes)
7 - Volta (Tim Bernardes)
8 - Minas Gerais (Tim Bernardes)
9 - Deixa Fugir (Tim Bernardes)
10 - Vamos Assumir (Tim Bernardes)
11 - A História Mais Velha do Mundo (Tim Bernardes)
12 - Melhor do Que Parece (Tim Bernardes)

Comentários

Mais vistos no blog