Um disco indispensável: Folks - Folks (Toca Discos, 2015)

A cena musical independente do estado do Rio de Janeiro nunca esteve tão viva quanto nos últimos anos, pois sabemos que o RJ não se resume somente à Cidade Maravilhosa, ao samba e ao carnaval de lá (além das maravilhosas praias) que muitos pensam. Tal a mesma cena independente também nos remete a bandas boas vindas do estado, como a niteroiense Facção Caipira que se destacou em 2015 com o álbum Homem Bom e figura entre os nossos 20 melhores álbuns nacionais do ano passado (confira a lista aqui) mas também temos Drenna, Canto Cego, The Outs, Fuzzcas, Pessoal da Nasa, NoveZeroNove, Stereophant, Medulla e também os já aclamados nacionalmente FOLKS, que concebem um excelente som e acabam agradando os ouvidos à primeira escuta e com referências principais do que há de mais puro e extremo rock and roll, bandas como Led Zeppelin, AC/DC, The Kooks, Rolling Stones e bandas nacionais como Titãs, Mutantes, o grande Erasmo Carlos, e a semiobscura De Falla, banda gaúcha que surgiu nos anos 1980 e depois de anos ressucitam na virada do milênio com uma pegada miami bass que consagrara o funk nacional de vez na época. Fundada em 2011, uma vez que antes já se conheciam na estrada enquanto estavam com outros artistas e bandas, a FOLKS conquistaram um monte de fãs e agora estão com um álbum que os fazem ir a um patamar maior. Bandas que participam do cenário carioca, em especial do movimento #ACenaVive, por meio de um projeto de juntar várias destas bandas da cena no lendário estúdio Toca do Bandido, gerou vários destes encontros de bandas idealizados por Constança Scotfield, viúva do ex-produtor e diretor artístico da Warner Music, Tom Capone (1967-2004) hoje diretora do selo Toca Discos e isso só aumentou a popularidade de várias bandas cariocas ao longo dos anos. A FOLKS, formada por Kauan Calazans nos vocais, Luca Neroni (antes, na época do lançamento do álbum era Serginho Sessim) e Paulinho Barros nas guitarras solo e base, Vitor Carvalho no baixo e Ygor Helbourn na bateria, traz um som excelente por sinal, e isso pode ser muito bem escutado ao longo do álbum, a verdadeira essência do rock and roll toda unida em 14 canções produzidas por Felipe Rodarte e gravadas na Toca do Bandido, na capital fluminense. Um belíssimo resultado que, por sinal, não decepciona a gente mesmo, com toda aquela potência que nos remete a um rock não totalmente comercial, feito pras "massas" como se vê muito ultimamente, mas que ainda consegue respirar sem depender de aparelhos e se mostra mais vivo, forte e ativo como nunca e trazendo um pouco dos anos 70 de volta na sonoridade, o que é bom por sinal.
FOLKS, o mais novo fenômeno do rock brasileiro com um álbum grandioso,
lançado em 2015, marca de vez sua estreia discográfica. (Divulgação)
O disco começa com a faixa Muito Som, que carrega um pouquinho de reggae mas aonde soa 100% rock and roll de verdade, com um solo de guitarra nostálgico e com Kauan declarando "Eu faço som, muito som pra celebrar o que a gente não consegue falar" como se todo som fosse feito para celebrar (fato verídico) e que traz uma energia sem igual durante a canção; na sequência temos a faixa Sei, com aquela pegada meio hard rock dos anos 70 e um quê de pop rock oitentista, é prova de que aqui não tem frescurinha não, é rock mesmo nos trazendo um tom mais original e primoroso na canção; já em Carol, a coisa soa meio realística nos versos, uma pegada que é de destruir as estruturas e que vai nos ensurdecendo os ouvidos mesmo com um quê de pop até; um tom mais baladista e leve vai dominando o repertório do disco em A Casa dos Lugares, uma canção mais destruidora nos versos e que traz um pouco de melodismo até, despertando um interesse total pra quem ouve uma vez e deixa entrar nos ouvidos pra sempre; enquanto isso, Kauan Calazans pede na canção O Trago que "por favor, não me levem a mal", nos remetendo aos poucos aos anos 70, numa ponte sonora que une Led Zeppelin aos Doobie Brothers - o que soaria bizarro, mas entendido por quem manja de rock mesmo; já em Até O Mundo Cair, o peso e o forte excesso de acidez nos acordes de guitarras seguem desfilando solto com um astral mais renovador na canção e que não faz feio por aqui; já na faixa a seguir, intitulada Delírio, de toques meio nostálgicos, não temos muita coisa de nova por aqui na canção, a não ser os versos que carregam uma originalidade poética "A gente acha que nada sai do lugar" e com um solo de guitarra que vai morrendo com a música junto; enquanto isso, a banda dá um gás total com a regravação de Não Me Mande Flores, da banda gaúcha De Falla, com peso e muita energia na música e com Kauan deixando a música mais vibrante cantando os versos de um dos sucessos da banda gaúcha dos anos 80 e 90, e claro, sem deixar o primor e a originalidade que segue no disco; outra regravação aqui é Para Um Grande Amor, da banda Trêmula na qual contava com Peu (1977-2013), ex-guitarrista da banda de Pitty, e já mais suave a canção e os arranjos, ainda sobra um quê do peso nessa perfeita versão; uma breve homenagem a um dos maiores grupos de rock da história carrega o título da canção: Led, fala sobre a amada que começa a brigar o namorado e joga fora um disco do próprio Led Zeppelin e tendo uma grande referência o som da banda britânica na música, deixando a música mais notável ainda quando se ouve; o som segue a rolar com Maquiagem, uma canção que faz bonito até quando se nota muito a forte pegada de hard setentona deixando um gosto totalmente marcante mesmo da primeira frase da música até na última sequência de acordes pesados, soando épico total; enquanto em Rascunho, a canção ganha tons extremamenete ácidos, começando pelo riff da guitarra e depois pelo resto da base sonora provando que "A solução nem sempre é o que convêm" deixando que a canção esteja soando filosófica por si própria; enquanto isso, nota-se que em Outra Vez parecia estar deixando se desgastar aos poucos mas é a própria música que vai carregando um ar mais tranquilo no começo, mas que vai crescendo mais somente antes do refrão, tendo um final digno de uma canção da FOLKS sem soar chato ou desgastante pra você que curte um som típico; o final mesmo fica com Paralelas Imperfeitas, sendo o que há de gás pra manter a energia vibrante que carrega este disco e ainda com um verso falado "Me falaram que era proibido mais do que uma visão de um cego ou ato de um bandido" e a músca ganha um toque mais poderoso e gigantesco já nos últimos segundos da música, soando totalmente modesto, simples e único para a banda.
Set do disco:
1 - Muito Som (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
2 - Sei (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
3 - Carol (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
4 - A Casa dos Lugares(Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
5 - O Trago  (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
6 - Até O Mundo Cair (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Thiago Niemeyer/Vitor Almeida)
7 - Delírio (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
8 - Não Me Mande Flores (Castor Daudt/Flávio Santos/Luciane Adami)
9 - Para Um Grande Amor (Peu Souza)
10 - Led (Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
11 - Maquiagem (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
12 - Rascunho (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
13 - Outra Vez (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)
14 - Paralelas Imperfeitas (Kauan Calazans/Paulinho Barros/Vitor Carvalho)

Comentários

Mais vistos no blog