Um disco indispensável: Blackstar ★ - David Bowie (ISO Records/Columbia, 2016)

Após três anos no aguardo, o Camaleão decide mais uma vez lançar um disco inédito e mais uma vez ele não precisou ter que medir esforços para poder sair de seu lar e dizer que está retornando com estilo. Bowie não fez isso pois já havia deixado claro que não estava mais afim de voltar aos palcos, que o momento era mais de aproveitar a sua própria vida sem holofotes e paparazzi por perto, foi assim em The Next Day (2013) e mais uma vez em seu novo trabalho, intitulado Blackstar, que também pode ser escrito desta forma ★ e tendo a produção de Tony Visconti, o disco surpreenderia mais uma vez pelo estilo irreverente, ousado e que mostraria mais uma vez que ele ainda têm autoridade no mundo da música, um fato totalmente comprovado. No dia 31 de dezembro de 2015, ou seja, 8 dias antes do lançamento e do aniversário de Bowie, o disco foi vazado na internet e a ansiedade foi dando lugar a um alívio para quem preferiu baixar ao invés de amargar até o lançamento, houve quem escolheu esperar. 
Capa do novo disco de David Bowie "Blackstar ★" no formato vinil
A "volta" de Bowie mais discograficamente traz as mesmas estratégias de sempre, mas em Blackstar ★ ele decidiu ousar-se mais uma vez em termos de material definitivo, juntando músicos de jazz mas também buscando voltar aos anos áureos de sua carreira, aonde foi do psicodélico ao glam passando pelo soul até a sonoridade experimental da sua clássica "trilogia de Berlim". Bowie, não têm feito grandes aparições em público na mídia desde seu último show em 2006, após ter feito um tratamento cardíaco dois anos, resultado de anos do abuso de álcool e drogas durante a sua carreira longeva. Mas, o que dizer mesmo de mister David Robert Jones, que de Brixton para o mundo, segue a ser autoridade da música pop mesmo sem precisar se expor diante dos paparazzi? Pra tudo têm uma fórmula ideal, a sua alquimia sonora têm uma tradução única, própria e definitiva, isso se nota muito nos clássicos Space Oddity (1969), Ziggy Stardust (1972) e isso virou mania para que a cada álbum lançado, Bowie nos trouxesse um ponto de vista muito diferente, aonde mostra ser um homem de várias transformações e identidades sejam elas as visuais e as sonoras. O disco traz uma capa totalmente misteriosa por sinal, além de uma estrela preta (pois o nome já diz tudo), partes pequenas da estrela abaixo formando uma palavra, na edição do vinil a capa é totalmente preta e as estrelas estão em cinza, enquanto na edição digital, o disco conta além do clipe da faixa que leva o nome do álbum, um encarte digital totalmente disponível a partir do dia 8 de janeiro, que é no dia de seu aniversário (ele está fazendo 69 anos) e lançamento oficial do álbum.
Habemus discum novum! Assim, o grande David Bowie saiu de sua
respectiva casinha nas gringa para divulgar o seu novo disco.
Partindo para um jazz mais experimental que se aproxima da alquimia sonora do qual Bowie e Visconti conseguiram durante os anos de 2014 e 2015 trabalharem em algo que soe tão apoteótico e tão grandioso, e  Blackstar ★ pode ser a opção certa para provar que ainda existe vida inteligente nesse universo musical que hoje constitui-se de ídolos teen que podem durar ao longo dos tempos ou não, com músicas que ficam nas paradas por poucas semanas ou até meses e estando a dividir as paradas com uma nova geração, é provável que esse monstro sagrado do pop rock seguirá a ser o centro das atenções mesmo que não aparecendo em programas de TV ou premiações como o Grammy e o Video Music Awards (VMA), mas sabe. A faixa-título abre o disco traz um ar profundo e sombrio pelos arranjos, mas também carrega o espírito vibrante e que nos remete mais um pouco aos anos áureos de Berlim, com dez minutos de duração e soando épico, o cantor já declara que é uma estrela negra e não uma estrela pop ou estrela do cinema, o videoclipe traz um ar de mundo pós-apocalipse e ficção científica, servindo como prova de que ele ainda é O CARA mesmo; já na faixa a seguir, nós temos aqui 'Tis a Pity She Was Whore, lançada em 2015 e aonde aqui o cantor se solta mais e consegue demonstrar-se tão transparente, tão leve e tão equilibrado em certos momentos, sem deixar o primor de sempre, o que é bom por sinal; na sequência temos a grandiosa Lazarus, com duração de mais de seis minutos aonde mostra como Bowie ainda se mostra disposto a fazer, numa letra aonde o cantor anuncia que está em perigo e lembrando que vivia como um rei quando estava em Nova York, com uma base instrumental totalmente caprichosa; já em Sue (or In A Season Of Crime), além da breve referência dos anos de Berlim nos arranjos, os sintetizadores e também algo da fase mais eletrônica, como o álbum Earthling (1997), além de uma das melhores letras do álbum; em seguida, já em Girl Loves Me, a pegada de jazz com eletrônico segue a ganhar mais visceralidade e destaque, com um baixo bem vibrante e sintetizadores que remetem ao retrô, seguindo nessa aventura de experimentos sonoros desse álbum; em seguida, com Dollar Days, o papo ainda não deixa de ser o mesmo no assunto "arranjo" e "sonoridade" de Blackstar ★, com uma suavidade devido a presença do violão e proclamando que não é nada pra ele e no final diz estar morrendo de vontade, tendo a presença de Donny McCaslin no saxofone, ajudando a encerrar a faixa com uma base instrumental perfeita; no final temos I Can't Give Everything Away, algo mais aproximado do que vinha fazendo nos últimos tempos e mostrando uma mensagem que ele sempre quis enviar sabendo que algo estava errado, complementando assim o repertório principal de Blackstar ★, seu vigésimo quinto álbum de carreira lançado de cara no dia em que faz 69 anos de vida e música, melhor presente que ele pôde dar aos seus fãs.
Set do disco:
1 - Blackstar ★ (David Bowie)
2 - Tis a Pity She Was Whore (David Bowie)
3 - Lazarus (David Bowie)
4 - Sue (or In A Season Of Crime) (David Bowie/Maria Schneider/Paul Bateman/Bob Bharma)
5 - Girl Loves Me (David Bowie)
6 - Dollar Days (David Bowie) 
7 - I Can't Give Everything Away (David Bowie)

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