Um disco indispensável: War - U2 (Island Records, 1983)

O ano de 1983 estava sendo o verdadeiro ano do pop rock daquela época. Já não bastava Michael Jackson ter feito algo grandioso como Thriller (leia a resenha), e David Bowie ter convidado o público para se embalar ao som de Let's Dance e bandas como o Police terem feito um grande álbum, que é o Synchronicity, os Rolling Stones com Undercover, New Order estourarem de vez com Power, Corruption & Lies, o ZZ Top terem voltado com tudo em Eliminator, o Yes ter apelado para um som mais pop em 90125 e até o Pink Floyd se mostrar em decadência total com The Final Cut (que foi declarado como um álbum quase solo de Roger Waters)  e bandas naquela época estarem surgindo, como Bon Jovi e Pantera nos Estados Unidos e os Smiths na Inglaterra, acabou mostrando que o rock estava com tudo para agradar fãs e críticos de música. E uma banda que se destacou muito foi a irlandesa U2, surgida no final dos anos 70 e com dois discos na praça, o de estreia já não tão bem repercurtido (Boy, 1980) e o segundo com temas mais religiosos e que acabou sendo o patinho feio de sua discografia (October, 1981), a banda acabou voltando aos estúdios para conceberem o que viria a ser o primeiro grande álbum "de verdade" da banda, para alguns críticos e até mesmo quem descobriu a banda através deste álbum naquele 1983 grandioso para a música pop, para o rock n' roll em especial. O terceiro disco, intitulado War, teve a mão do mesmo produtor dos 2 primeiros álbuns, Steve Lillywhite, e acabou tendo um período de pausa nas gravações por causa de Bono ter aproveitado para comemorar a lua-de-mel na Jamaica ao lado de sua esposa Ali Hewson naquele momento, e durante a lua-de-mel, Bono voltaria para Dublin cheio de ideias e compartilhar com The Edge (guitarras), Adam Clayton (baixo) e Larry Mullen Jr. (bateria) mais Lillywhite nos estúdios Windmill Lane, na capital irlandesa e prepararem um álbum diferente dos dois primeiros, com temáticas bem mais políticas e rompendo barreiras comuns até então.
Da esq. para a dir.: Bono, Adam Clayton, The Edge e Larry Mullen Jr.
(Foto: Anton Corbijn/Island Records)
A faixa que abre o disco, bem, você deve saber que é Sunday Bloody Sunday, que têm origens na rebelião de 1972 em Londonderry, na Irlanda do Norte numa batalha entre grupos católicos de um lado e protestantes de outro, aqui mostra um tema potente em termos de melodia, com uma introdução aonde Larry Mullen Jr. imita uma caixa militar, soando como um tambor de batalha e Bono cantando a plenos pulmões, com direito a um violino Steve Wickham, que antes de gravar a música, se encontrou com The Edge num ônibus, perguntando se não precisavam de um violino para certas músicas, e por volta do meio-dia, ele entra no estúdio e contribui fazendo a sua parte instrumental nessa música; já em Seconds, aonde o guitarrista e melhor amigo de Bono (em poucas vezes se pode ouvir a voz de The Edge), canta as duas primeiras estrofes, mostra-se potência na base sonora da banda e fazendo referências sobre a proliferação nuclear e as possibilidades de um Armagedom ocorrer por causa de um acidente em uma usina, contando com trechos do documentário Soldier Girls, de 1982; e seguido de New Year's Day, que originalmente seria uma canção de amor feita por Bono especialmente para sua Ali, acabou sendo uma homenagem ao movimento polonês Solidariedade, liderado por Lech Walesa, e com um tremendo solo de The Edge na guitarra, mostra-se uma das mais onipresentes canções nos shows ao lado de Sunday Bloody Sunday; enquanto em Like A Song..., aqui a banda trata sobre o fato de serem mais digna, mais sincera e não tão punk o suficiente, já que começaram fazendo algumas coisas de punk rock até, porém é o direito de resposta da banda sobre a atitude punk na música; seguido de Drowning Man, uma canção suave e simples, na qual Bono estava influenciado pelos Comsat Angels, banda britânica de Sheffield dos anos 80 e que conta com os melhores acordes tocados por The Edge; logo em The Refugee, a história de uma das tantas pessoas que deixam a Europa em busca de oportunidades melhores na América, sendo uma refugiada da guerra e aqui Bono como uma história em forma de canção; e o lado mais romântico também tem a sua vez em meio a canções sobre as guerras e caos nucleares, o caso de Two Hearts Beat As One, uma das melhores love songs da banda; voltando aos assuntos temáticos em músicas, a prostituição é retratada em Red Light, que também contou com um instrumento a mais na cozinha, desta vez um trompete executado por Kenny Fradley e que acabou dando um bom resultado;  uma dose de romance numa cidade iluminada e também em chamas e a história de uma mãe de família são a base principal de Surrender, que conta com os vocais das Coconuts de Kid Creole, que faziam muito sucesso na época com sucessos pop influenciados da música caribenha que é a salada ideal do conjunto que teve as backing vocals participando, que estavam de turnê na Irlanda, e a convite de Lillywhite e da banda, paticiparam desta, de Like a Song... e de Red Light; o álbum encerra de vez em "40" (sim, entre aspas), uma canção que foi feita enquanto Adam não estava no estúdio e na qual The Edge teve que correr para gravar a guitarra e o baixo porque não haviam uma música boa para completar o repertório do álbum e o título é devido ao Salmo 40 da Bíblia Sagrada.
O disco acabou sendo o primeiro a dar uma forte impressão do sucesso que a banda viria a fazer brevemente, desbancando Michael Jackson das paradas rapidamente, tanto é que os quatro singles da banda alcançaram o topo das paradas e o disco veio também a ser um grande sucesso no Brasil, aonde Sunday Bloody Sunday, que não paravam de tocar, era a música que apresentou de vez a banda aos novos fãs no país, estando na 223ª posição da lista dos 500 Melhores Álbuns de Todos Os Tempos da Rolling Stone e eleito em 1989 pela mesma revista na 40ª posição dos 100 Melhores Álbuns dos Anos 80. E uma espécie de "antes e depois" da banda, da banda de pós-punk antes rejeitada pela RSO (gravadora dos Bee Gees e de Eric Clapton na época) ao conjunto irlandês de popularidade máxima que levou seu som para as arenas do mundo todo e que tem faixas do disco sendo entoadas nas apresentações até hoje. A capa mostra o mesmo garoto que apareceu na capa de Boy (1980) chamado Peter Rowen, mais conhecido Guggi e também irmão de um amigo de Bono, este mesmo Guggi que também aparece na capa dos primeiros singles da banda, além do EP Three (1979), em Early Demos (1978) e na capa da coletânea The Best of 1980-1990 (1998) e que virou notícia quando já mais velho, fotografou shows da banda em Paris, capital francesa. A banda aparece no encarte interno em um lugar extremamente frio e nevoso, sob o clique de Anton Corbijn, que viria a ser o fotógrafo da banda depois dos cliques de War e também fotografar para fotos promocionais da banda e de shows até.
Set do disco:
1 - Sunday Bloody Sunday (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
2 - Seconds (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
3 - New Year's Day (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
4 - Like A Song... (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
5 - Drowning Man (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
6 - The Refugee (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
7 - Two Hearts Beat As One (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
8 - Red Light (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
9 - Surrender (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
10 - "40" (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)


Comentários

  1. Guggi Rowan é irmão mais velho de Peter Rowan. Não são a mesma pessoa.

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    1. ah sim, eu fiquei confuso no começo porque estava querendo concluir o texto

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