Um disco indispensável: Giros - Fito Páez (EMI Music, 1985)

30 anos, em julho de 1985, era lançado o segundo disco de carreira de um jovem tecladista de 22 anos nascido na cidade argentina de Rosario chamado Fito Páez e que veio a ser o primeiro grande sucesso de sua carreira após uma estreia quase despercebida no ano anterior com Del 63, com produção dele mesmo já se mostrando um gênio, ainda que estava participando como membro e colaborador nos arranjos da banda de Charly García, quem ajudou muito na projeção e que via no simples rapaz de cabelos largos, óculos de armação e sempre citando como suas principais referências música clássica, por influência de sua mãe que morreu quando o pequeno Rodolfo Páez Ávalos tinha apenas oito meses de vida, jazz, a música folclórica, tango, soul music e música brasileira, em geral Chico Buarque, Antonio Carlos Jobim e Caetano Veloso, que veio a ser um de seus amigos brasileiros ao longo da carreira "Fito é sensacional", é uma das frases que o baiano sempre diz toda vez que pedem a opinião do músico de Rosario, "Poético e único", "letras que nos fazem se apaixonar pela genialidade" são várias críticas e vários elogios dado ao cantor, compositor, pianista, escritor e diretor de cinema (sim, ele já tem 3 filmes no currículo) e segue com todo o pique até hoje. Encerrando as atividades na banda de Charly em 1984 para se dedicar mais ao projeto solo, Fito vivia com sua então namorada e cantora Fabiana Cantilo em uma casa na região entre Estomba e La Pampa, do bairro Belgrano e Fito militava ao lado de Ricardo "El Negro" Sepúlveda, então marido da cantora Liliana Herrero, além de se juntar para preparar o álbum Giros, lançado na época que foi dita nas primeiras linhas desse texto. Consagrando-se de vez fora da Argentina e sendo pouco conhecido no Brasil ainda, aonde só veio a alcançar a popularidade somente no início dos anos 90. O mesmo disco que também trouxe uma sequência de cinco das nove faixas do LP que tiveram forte execução nas rádios e conseguiram popularizar este talentoso e genial músico que segue a nos compartilhar grandes sons e muita poesia, coisas que ele sabe fazer e muito bem com o passar dos anos.
Outono de 1985 nas gravações do álbum "Giros" nos estúdios Moebio,
em Buenos Aires. Fito também assumiu a produção total do álbum
que foi um marco importante na sua carreira e deu reconhecimento total a ele.
O álbum Giros é um trabalho excelente de produção, arranjos e de colaborações que fizeram e muito render o trabalho que só deu alegrias a este cantor e compositor rosarino, que contou com ótimos músicos que já faziam parte de sua banda: Tweety González nos teclados, Fabián Gallardo na guitarra, Paul Dourge no baixo e Daniel "Tuerto" Wirtz na bateria, além de Fabiana Cantilo nos vocais e Aznar nos sintetizadores MIDI e guitarra "As demos foram feitas na casa dos pais de Tweety em Versalles, perto do campo de Vélez e na casa de Tweety havia um estúdio caseiro, aonde gravamos em fita aberta numa máquina Tascam se me falha a memória, na qual gravamos as demos", relembra o baixista Dourge em depoimento feito para a release especial dos 30 anos do álbum (confiram essa release aqui). "A gravadora aprovou as músicas e eu não sei qual mês, nós já estávamos nos estúdios Moebio gravando", disse o baixista a respeito das sessões iniciadas após a EMI Music aprovar as demos das músicas do álbum, que tiveram seus trabalhos já iniciados há muito tempo. A faixa Giros traz uma visão do fim da "sixties doradas" e "fotografías de distintos lugares" e com um sintetizador imitando um bandoneon de tango, uma mistura que acabou agradando público e crítica; já na punk-pop Taquicardia, Fito contou muito com bateria eletrônica e uma forte influência do trabalho de Charly nos arranjos, cujo este veio a tocar um riff semelhante em Chicas Muertas, tema de Terapia Intensiva; em Alguna Vez Voy a Ser Libre, a linha melódica transborda pela suavidade na forma de tocar guitarra e com os sintetizadores imitando sopro e cordas, contando com Osvaldo Fattoruso na percussão e Fito dizendo que tem "un pasaporte en el bolsillo para irme de acá"; a balada soft-rock 11 y 6, feita durante uma noite em San Justo e uma passagem pela Provincia de Santa Fe com Juan Carlos Baglietto, acabou se transformando no maior sucesso do argentino, com a presença do ex-Serú Giran, Pedro Aznar tocando guitarra e sintetizadores MIDI; a levada de chacarrera em Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón mostra-se um Fito que jamais imaginava escrever coisas como esta música e aos 22 anos, foi também esta música que veio a popularizar o Fito compositor, sendo interpretado por Mercedes Sosa no mesmo ano (que ao ouvir a música, pediu por Fabiana que gravasse) e pelo cubano Pablo Milanés em 2008, num dueto com Páez para o DVD No Sé Si Es Baires o Madrid; já os ares pops que soam em Narciso Y Quasimodo, trazem influências de Luis Alberto Spinetta solo daquela época, que se cruzava entre o álbum Mondo Di Cromo (1983) e algumas referências de pop oitentista da época, com uma base bem rocker, diga-se de passagem; uma espécie de Ao Mestre Com Carinho do rock argentino, Cable a Tierra foi feita especialmente para Charly, sem bateria e sem guitarra e baixo, mostra-se um tema de ares new-age pelos sintetizadores, contando com outro músico: Mono Fontana; seguida de Decisiones Apresuradas, feita às pressas e que segundo o próprio Páez "soavam muito corretas, todas as ideias naquele momento sobre a causa da Guerra das Malvinas" e com uma pegada bem profunda nas bases sonoras; já em D.L.G. (Día de Los Grones), uma levada baguala com influências fortes de folclore (o mesmo tipo de música regionalista feita no estado do Rio Grande do Sul) contou com levadas eletrônicas pela bateria, composta durante o verão na Villa Gessell e pelo aproximamento do rosarino com Liliana Herrero e Raúl Sepúlveda, que o mostraram um pouco do folclore vanguardista e que encerra apenas com um baixo e a bateria eletrônica dando os últimos suspiros como se uma festa acabasse de vez.
Não demorou muito para que ele conquistasse de vez fãs através deste disco, fazendo mais sucesso do que antes, caindo de vez na estrada lotando casas de espetáculo como o Teatro Gran Rex, o Luna Park, ambos em Buenos Aires e tocando por Chile e Uruguai, levando a aparecer em programas televisivos e o colocando no mesmo patamar de Charly García e Luis Alberto Spinetta, seus ídolos: o último citado, com quem veio a gravar La La La (1986) e partir para uma breve turnê. Giros estava em 2007 como o 82º na lista dos 100 Melhores Álbuns do Rock Argentino, mas em 2013 foi para 85º lugar, porém segue sendo influente para uma geração, influenciando brasileiros como Thedy Corrêa (Nenhum De Nós) e Rodrigo Tavares (Fresno, Esteban), que têm este álbum como o seu favorito do músico argentino. Um disco que também que fala por si só.
Set do disco:
1 - Giros (Fito Páez)
2 - Taquicardia (Fito Páez)
3 - Alguna Vez Voy A Ser Libre (Fito Páez)
4 - 11 y 6 (Fito Páez)
5 - Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón (Fito Páez)
6 - Narciso y Quasimodo (Fito Páez)
7 - Cable a Tierra (Fito Páez)
8 - Decisiones Apresuradas (Fito Páez)
9 - D.L.G (Día de Los Grones) (Fito Páez)


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