Um disco indispensável: III - Maglore (Deckdisc, 2015)
A cena do rock baiano sempre teve grandes representantes que colocaram mais ainda o nome da
Bahia com bandas e ícones que levaram o som das terras de Caymmi, João,
Caetano, Gil, Gal e Bethânia para o resto do nosso País Tropical. Como não
podemos esquecer dos Novos
Baianos, que misturaram nos anos 70 o samba, ritmos do nordeste e até mesmo trio elétrico com o rock pesado de guitarras hendrixianas,
antecipando brevemente a axé
music e as grandes micaretas de hoje? E como não esquecermos da
existência de Raul Seixas,
o baiano que confundiu até os militares com suas letras inteligentes e um verdadeiro ecletismo sonoro, juntando em
uma mesma canção as influências de Elvis Presley e Luiz Gonzaga? Ou do Camisa de Vênus, nos anos 80,
que trouxe um pouco de seu punk
rock carregado de
influências do rock
cinquentista e de Raul Seixas, com quem o
ex-líder Marcelo Nova veio trabalhar antes de morrer? E
da semiobscura Penélope,
liderada pela linda da Érika
Martins, dona de uma voz doce e que na virada dos 90 para os 2000 marcou
uma geração com canções pop animadas? E chegamos aos 2000
definitivamente com Pitty,
a mulher que consegue até hoje representar a sua terra por cada lugar do mundo
por onde passa. Também existem várias
outras bandas que
complementam esse circuito baiano do rock, como Canto dos Malditos Na Terra do
Nunca, Vivendo Do Ócio, Tangerina Jones, Calafrio, Cascadura, Falsos Modernos, Os Jonsóns e também Maglore, surgida em 2009
na cidade de Salvador, com Teago Oliveira como vocalista e guitarrista, mais
Nery Leal no baixo, Léo Brandão na guitarra e teclados e o baterista Felipe Dieder. Em 2011 lançam o álbum Veroz, que apresenta de
vez a banda para o resto do Brasil, com músicas como A Sete Chaves, Demodê, Pai Mundo e Amaria
Sonhos Coloridos. Já em 2013, o público tendo conhecimento da banda e também com mais um
álbum que acabou se mostrando agradável para o público e este álbum se chama Vamos Pra Rua, que foi também
um ótimo trabalho da banda e também cheio de canções
impressionantes logo na primeira escuta, além de ter sido o último álbum com Nery, que veio a sair da banda
após o lançamento e dando lugar ao letrista e vocalista Rodrigo Damati, que entra logo
para que inicie os trabalhos do álbum que foi lançado em junho recente,
intitulado III.
Rodrigo, Teago e Felipe: o trio Maglore (Foto: Divulgação) |
Com a produção do excelente Rafael
Ramos, que tem no currículo Matanza, Los Hermanos, Pitty, Ultraje A Rigor,
Vivendo do Ócio e recentemente Titãs, o álbum III contou com gravações de janeiro a maio deste ano no Rio de
Janeiro, mais principalmente nos estúdios Tambor em janeiro até maio, todas as
faixas gravadas em fita de rolo e ao
vivo, aonde o trio consegue unir uma
sonoridade setentista com algumas coisas mais atuais, trazendo um bom resultado. A começar pela canção
O Sol Chegou, com uma forte
influência de soft-rock e com versos carregados de lirismos anunciando a chegada do Astro-Rei; já em Se Você Fosse Minha, aqui o grupo quase
tropeça em algumas partes da música, embora a levada de samba na guitarra, uns momentos de diversão em “Floripa”; a
suavidade tipo balada setentista e a
guitarra estilo surf-rock em Invejosa
mostram um Maglore bem romântico e
até sutil nos versos, mostrando-se assim surpreendente
como sempre; enquanto na música Mantra,
a levada baladista e que só a batida segue e traz um dos melhores momentos do
álbum e cuja faixa surgiu por meio de uma promoção da 89 FM, antes do álbum todo ser gravado; uma balançada e um pouco de
suingue em Ai Ai já começam a dar um
rumo diferente do som e já traz um astral
bem pra cima no refrão; o sotaque
latino ganha vez na música Serena
Noche, única faixa cantada em espanhol
e com muita suavidade na música e
soando de forma lenta cada verso
cantado; a coisa fica muito boa em Dança
Diferente, outra das melhores faixas deste álbum e com um refrão sensacional, algo não
tão semelhante a um Los Hermanos ou a um Fresno; já em Aconteceu, o trio consegue mostrar uma letra caprichosa, porém só tentou soar mal em uma parte da música,
se saindo mais ou menos até; já na canção Tudo
De Novo, o piano executado é a cereja ideal para um certo bolo (na
música, é claro) e ganha um destaque
na base, além do pedido de “dorme coração”, como um desejo de boa-noite para a
pessoa amada; já em Café Com Pão,
aqui a cozinha da banda não deixa passar batido e o trecho “todo mundo sabe,
todo mundo disfarça e ninguém vê” carrega a
realidade da vida nas cidades; o final é com O Vampiro da Rua XV, já com um pouco de referências ao folk
e com uma pegada bem acústica
mostram como os baianos conseguem misturar uma simples canção sobre um vampiro meio moderno com uma base
bem retrô de folk, fechando com chave de ouro este trabalho.
Set do disco:
1 - O Sol Chegou (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
2 - Se Você Fosse Minha (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
3 - Invejosa (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
4 - Mantra (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
5 - Ai Ai (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
6 - Serena Noche (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
7 - Dança Diferente (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
8 - Aconteceu (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
9 - Tudo De Novo (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
10 - Café Com Pão (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
11 - O Vampiro da Rua XV (Teago Oliveira/Felipe Dieder/Rodrigo Damati)
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