Um disco indispensável: Completely Well - B.B. King (BluesWay/ABC Records, 1969)

Manhã de sexta-feira, 15 de maio de 2015. O mundo da música perdia um grande nome da música, um dos mais importantes guitarristas, cantores e ícones vivos do blues até aquele momento: B.B. King, nascido em Itta Benna, no Mississippi como Riley Ben King no dia 16 de setembro de 1925, crescido entre os algodoais sozinho e trabalhando desde garoto, que depois acabou ganhando um violão e com ele, tocava em quatro cidades diferentes nos sábados à noite e que aos 21 anos partiu para Memphis em busca de sorte na carreira musical e ali foi radialista, conhecido primeiro como Beale Street Blues Boy King, depois Blues Boy King e em breve, o Blues Boy se abreviaria para B.B. King, um dos monstros sagrados do blues (e não é à toa que carregou durante toda a sua vida o título de Rei do Blues), da soul music, do rock n' roll e da música negra em geral.
A partir de 1949, gravou compactos, teve canções já interpretadas futuramente por gente como Big Mama Thorton, Jeff Beck, Otis Rush, Eric Clapton dentre outros e acabaria conquistando legiões de guitarristas, como George Harrison (Beatles), Otis Rush, Jeff Beck, o próprio Clapton, John Mayer e com sucessos que iam desde Three O'Clock Blues, Bad Luck, Every Day I Have The Blues, Help The Poor, Sweet Little Angel e com discos que eram uma verdadeira aula de guitarra, pois King era sempre bem acompanhado de sua Gibson ES-355 que ficou apelidada como Lucille e que por trás do nome, em um show realizado num salão de twist em uma cidade do estado americano Arkansas no inverno de 1949, um barril meio cheio de querosene, um velho para esquentar os salões, acabou pegando fogo e começou-se uma briga entre dois homens em volta do barril e que acabou soltando chamas para todos os lados do salão, King percebeu que no meio daquela confusão, já o local sendo evacuado, sua guitarra ficou dentro do estabelecimento e o próprio foi salvar a guitarra: após a polêmica na qual morreu os dois homens, o músico soube que haviam brigado por uma mulher chamada Lucille. Já nos anos 60, a Gibson fez uma guitarra especialmente para o próprio músico, com um modelo similar ao da ES-345 e que seguiu sendo a sua única companheira de estrada e de palco até o fim.
B.B. King, sempre acompanhado de sua Gibson ES-355, a Lucille,
anos antes de sua morte, em 15 de maio recente.
Nos anos 60, King estava sendo reverenciado pelo público jovem, muitos guitarristas acabavam pegando um pouco dele referências para tocar blues, embora já haviam outros grandes guitarristas como Robert Johnson (1911-1938), Muddy Waters (1913-1983), Blind Lemon Jeferson (1883-1929), dentre outros. Os Rolling Stones, os Yadbirds, Grateful Dead, Jimi Hendrix, todos estes sofreram influências de grandes nomes do blues, inclusive de King, guitarrista que tocava por amor ao que fazia. Nos anos 60, King lançou grandes discos na época, como King Of The Blues (1960), Blues For Me (1961), Live At Regal (1964), Confessin' the Blues (1966), Blues On Top (1968), Lucille (1968), Live and Well (1969) e encerrou os anos 60 já com tudo em seu álbum Completely Well. O disco teve um grande fator para que a carreira de B. B. King tivesse ótimos resultados e assim como foi com o público, o álbum é um impressionante resultado de 50 minutos recheados de muitos acordes, canções sensacionais e a voz do eterno Rei do Blues, que mesmo depois de sua morte, seguirá sendo redescoberto por uma geração que precisa muito aprender a fazer um blues e de ótima qualidade. O álbum ainda foi lançado enquanto ele fazia turnê com os Rolling Stones, enquanto estes estavam de passagem pelos EUA.
A faixa que abre o álbum, So Excited se mostra um tema impressionante logo nos primeiros acordes de guitarra e com uma levada bem de soul, pelo que se pode notar nos arranjos, algo que já se fazia muito naquela época pela explosão do funk americano e seus representantes como Sly and the Family Stone, James Brown, Funkadelic dentre outros; em seguida aparece No Good, já levando ao tradicional jeito de tocar um blues e um riff que nos encanta só por soar perfeito, e a voz de B. B. King rascante servindo como uma prova de como cantar blues com o coração; na sequência já é You're Losin' Me que mostra também que colocar o groove da  época com o blues poderia fazer todo o sentido, e contando com um naipe de metais já abrilhantando mais ainda a música; enquanto em What Happened, um tema perfeitíssimo por sinal e que aqui mostra o estilo tradicional de blues de sempre, além de uma história movida a desamores ao saber que a pessoa amada não está mais afim de seu companheiro; já na arrasadora Confessin' the Blues, o guitarrista ainda solta seus acordes, porém também contando com uma das melhores canções do gênero sendo interpretada, aqui também traz um pouco mais de peso pelo que se pode notar nos arranjos; em Key to My Kingdom, outro clássico aqui revistado por King, a canção traz também um pouco de suavidade em certos momentos, mas que também não passa batido com os metais dando um toque a mais; na sequência temos Cryin' Wont Help You Now, aonde na letra ele fala sobre uma mulher que trata mal o seu marido e ele diz que o choro dela não ajudará em nada; os 10 minutos de You're Mean não são únicos, mas também se mostra uma excelente linha melódica, uma cozinha guitarra-base-baixo-bateria sensacional fazendo a sua parte necessária e quase toda a música é instrumental; o disco só encerra mesmo com The Thrill Is Gone, seu maior clássico e que na sua versão foi apresentada através deste disco (embora Roy Hawkins, o autor e intérprete tenha lançado ela 18 anos antes) e que acabou levando um Grammy no ano seguinte por Melhor Performance Vocal Masculina de R&B e que seguiu cantando até os seus últimos shows, nesse ano. Não há palavras suficientes para descrever este disco maravilhoso, e quando se fala na excelente obra de B.B. King, nossa, é muita coisa, muito do que ele fez jamais será esquecido na história da música, do rock and roll e do blues em geral.
Set do disco:
1 - So Excited (B.B. King/Gerald Jemmott)
2 - No Good (Ferdinand Washington/B.B. King)
3 - You're Losin' Me (Ferdinand Washington/B.B. King)
4 - What Happened (B.B. King)
5 - Confessin' The Blues (Jay McShann/Walter Brown)
6 - Key to My Kingdom (Maxwell Davis/Joe Josea/Claude Baum)
7 - Cryin' Wont Help You Now (Sam Ling/Jules Taub)
8 - You're Mean (B.B King/Gerald Jemmott/Hugh McKracken/Paul Harris/Herb Lovelle)
9 - The Thrill Is Gone (Rick Darnell/Roy Hawkins)

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