Discografia Indispensável: Raul Seixas

Baiano de Salvador, o garoto Raul dos Santos Seixas nasceu no dia 28 de junho de 1945. Na época, a 2ª Guerra Mundial entrava no fim com a explosão da bomba atômica nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki já depois do nascimento e o suicídio de Adolf Hitler, o reinado soberano dos cantores Bing Crosby e Frank Sinatra, o sucesso mundial de Carmem Miranda, a “falsa baiana” que veio de Portugal e nem por isso deixou de ser a mais popular artista brasileira no mundo. Raul cresceu ouvindo música, ele declarou que ouvia muito no rádio tango, chachachá, Luiz Gonzaga, Yma Sumac, Trio Los Panchos e quando mais jovem, descobriu o rock pelos vizinhos do Consulado Americano e dali, ele buscou inspiração em discos de Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Bill Haley e assim veio o seu flerte com o estilo que mudaria a sua vida. Faltava aula para ouvir as novidades na loja Cantinho da Música, isso o levou a repetir muitas vezes de ano e formou um conjunto chamado Relâmpagos do Rock com mais alguns amigos, depois se chamaria The Panthers, que agitavam as festas por toda a Bahia. Era muito esquisito, muitas mães não deixavam que suas filhas se aproximassem demais dele pelo jeito bem mauzão, sempre fumando e com topete. Em 1964, deixa de vez os estudos e se dedica mais aos Panthers, que virou Os Panteras e com o movimento Jovem Guarda abrindo portas para o público em 1965, o grupo acaba sendo suporte na Bahia para Roberto Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani e este último citado, que os convidou para uma temporada no Rio de Janeiro em 1967. Na época, Raul havia largado um pouco de viver da música para se casar com Edith, filha de pastor protestante americano e cursar Filosofia, provando ao sogro que era um gênio mesmo. Nesse mesmo período, a Odeon assina um contrato com o grupo Raulzito e Seus Panteras e lançam no ano seguinte, o disco que leva o nome do grupo e contou com uma versão em português para “Lucy in the Sky With Diamonds” dos Beatles, chamada “Você Ainda Pode Sonhar”. Mal divulgado e mal-sucedido em vendas, o grupo decide se separar e assim encerra a banda e o contrato com a Odeon. Raul volta para a Bahia e lá segue estudando Filosofia, morando com a esposa até que Evandro Ribeiro, o chefão da gravadora CBS, convidou para ele ser produtor musical de artistas como Jerry Adriani, Tony e Frankye, Wanderléa, Renato & Seus Blue Caps dentre outros. No ano de 1971, aproveitando as férias da equipe da gravadora, o baiano convoca Sérgio Sampaio, amigo e compositor descoberto no Rio, a sambista Miriam Batucada e um baiano que trouxera o estilo glam para o Brasil, Edy Star: assim, formou-se a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, que lançaram o álbum “Sessão das 10” e nesse mesmo tempo, Raul e Edith tiveram a primogênita Simone Andrea Vannoy, com quem teve pouco contato com o pai enquanto vivo.
Raul em 1973, boina vermelha, camisa bege e com uma guitarra servindo
como arma: um visual que lembre Che Guevara, que incomodou
a ditadura militar com suas letras e suas
O resultado do disco após ser lançado não foi aprovado por Ribeiro e toda a cúpula da gravadora, originando a demissão de Raul da CBS “O Evandro dizia que eu não era cantor, mas compositor e produtor e aquilo não era pra mim”, disse o cantor, que tomava remédio para não se estressar demais com os artistas e as bandas e já em 1972, o baiano veio a participar do VI FIC com “Let Me Sing, Let Me Sing” e apresentou-se a Roberto Menescal, o produtor da gravadora Phonogram (dos selos Philips, Polydor, Fontana, Sinter, Polyfar) que apresentou ao presidente André Midani e ao produtor musical Marco Mazola, assinando de vez com a casa e lançando o compacto com “Let Me Sing, Let Me Sing” à época do festival e nesse tempo, trabalhava com um disco formado apenas por covers de clássicos do rock e com um disco próprio, lançados em 1973: o primeiro era “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock”, assinado como uma banda fictícia chamada Rock Generation e lançado pela gravadora Polyfar, evitando assim muitos problemas com a divulgação de seu álbum “Krig-ha, Bandolo!”, na qual contou com grandes sucessos como “Metamorfose Ambulante”, “Ouro de Tolo”, “Al Capone” e “Mosca Na Sopa” dentre outros. O disco foi um tremendo sucesso e isso também marcou a sua parceria com o futuro mago Paulo Coelho, que era editor de uma revista na época e que veio a apresentá-lo à magia negra e às drogas, uma viagem sem fim que originou a Sociedade Alternativa, baseada nos princípios da Lei de Thelema, do bruxo Aleister Crowley e que durante 1974, após divulgar a Sociedade em seus shows, foi obrigado a passar um bom tempo fora do Brasil após ter sido preso pelos militares. Ficou nos Estados Unidos ao lado de Edith e Paulo Coelho foi junto com sua namorada, ali Raul se encontrou com John Lennon, Jerry Lee Lewis, Bob Dylan e deixou um material já pronto, o LP “Gita”, do qual veio sucessos como a faixa-título, “Medo da Chuva”, “O Trem das 7”, “Sociedade Alternativa”, “Água Viva”, “Super Heróis” e “As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor”: quando o álbum vendeu mais de 600 mil cópias, o consulado brasileiro avisou que “Gita” era disco de ouro e que ele poderia voltar para o seu país. Assim, já separado de Edith e com outra mulher chamada Gloria Vaquer – irmã do guitarrista e amigo Jay Vaquer - , e seguiu fazendo shows e sempre contando com a polícia devido aos manifestos da Sociedade Alternativa. No dia 1º de fevereiro de 1975, encerrou as 4 noites do festival Hollywood Rock no campo do Botafogo, ao lado de Erasmo Carlos e Cely Campello e seguiu no estúdio trabalhando para um grande sucessor de “Gita”, intitulado “Novo Aeon”, mas este saiu mal divulgado e as faixas que se destacam muito são “Tente Outra Vez”, “A Maçã”, “É Fim de Mês”, “Rock do Diabo”, além da brega “Tu és o MDC da Minha Vida”, a rockabilly saudossista “A Verdade Sobre a Nostalgia” e a faixa-título, hoje o disco é muito mais cultuado do que na época de seu lançamento. Ano seguinte, nascia sua segunda filha Scarlet e também convidou Jay para trabalhar novamente, assinando a produção ao lado de Mazola de “Há 10 Mil Anos Atrás”, cuja a faixa “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás” mostrava a história de um sujeito que testemunhou de tudo nesse mundo e baseado numa canção clássica do folclore americano, além de “Meu Amigo Pedro” que era uma homenagem ao seu irmão Plínio, “Canto Para Minha Morte” um tango inspirado em “Balada Para Un Loco” de Astor Piazzolla, e uma música de Raul na qual ele disparava contra Belchior, Hermes de Aquino, Silvio Brito em “Eu Também Vou Reclamar” e encerra-se a parceria com Paulo Coelho, partindo assim para trabalhar ao lado de Cláudio Roberto, seu parceiro mais fiel. Seguido do lançamento do disco, ele lança pela Fontana “Raul Rock Seixas”, um punhado de covers estilo “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock” com direito a um medley de “Blue Moon of Kentucky” e “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e depois deixa a Phonogram para assinar com a WEA de André Midani, aonde lançou “O Dia Em Que a Terra Parou”, aonde apresentou seu maior clássico, “Maluco Beleza”, mas nem a faixa-título e muito menos o encontro entre ele e Gil em “Que Luz É Essa?” não rendeu muito e o seu casamento com Gloria já havia acabado de vez em meio a essa situação de vendas fracas, o que aconteceu também com “Mata Virgem” lançado no ano seguinte e sem todo o esforço para que “Judas”,“As Profecias”,“Planos de Papel” e até “Pagando Brabo” com Pepeu Gomes na guitarra, estourassem muito. Na época, Raul estava com Tânia Menna Barreto e os problemas com álcool e drogas já estavam começando a mostrar sintomas, dando assim a uma internação por causa de uma pancreatite, durante o lançamento de seu álbum “Por Quem Os Sinos Dobram”, com nenhum sucesso de verdade e uma efêmera parceria com o argentino Oscar Rasmussen, que não durou muito como também não durou muito a relação com Tânia e depois veio a conhecer Kika, sua mulher por cinco anos e que trabalhava na WEA antes dele assinar de novo com a CBS e lançar “Abre-te Sésamo”, aonde ele tratou sobre a relação de duas mulheres em “Rock Das ‘Aranha’” cuja faixa foi proibida a execução e a radiodifusão pela censura, além da crítica “Aluga-se” feita como uma das suas maiores canções de protesto e que tocou muito nas rádios apesar disso tudo.
No Canecão, 12 de agosto de 1989 com  Paulo Coelho após 11 anos da parceria
rompida: apesar de terem deixado de trabalharem em 1976,
só dois anos depois é que foi definitivo aonde o segundo (Coelho)
assinou cinco das dez letras do álbum "Mata Virgem".
Nessa foto, eles se reconciliaram e se viram pela última vez.
Em 1981, a gravadora sugeriu que ele fizesse um disco sobre Lady Di e ele recusou, fazendo com que ele pulasse fora de novo da gravadora e ficasse independente, só vivendo dos shows por alguns anos até que a Eldorado convidou-o para gravar um disco em 1983, na qual contava com a faixa “Carimbador Maluco”, feita para um especial da TV Globo chamado “Plunct Plact Zuum” e ainda contou com a participação de Wanderléa em “Quero Mais”: o disco vendeu muito, e ele seguiu fazendo estrada, embora estivessem surgindo novas bandas influenciadas pelo Maluco Beleza que faziam um som diferenciado do próprio. Em 1984, encerra seu contrato com a Eldorado, lançando um “Ao Vivo: Único e Exclusivo” gravado ao na sede do Palmeiras no ano anterior. Assina com a Som Livre e por lá lança “Metrô Linha 743”, aonde regravou “Eu Sou Egoísta” e “O Trem das 7” e ainda contou com “Mamãe Eu Não Queria”, que falava sobre o serviço militar obrigatório e que sofreu veto pela Censura, que o seguia incomodando, assim como o público em seus shows, a partir desse período que ele começou a mais faltar shows, seguia com a sua tradicional rotina de beber o tempo todo, o casamento com Kika (na qual trouxe a ele sua última filha, Vivi, hoje DJ e uma das representantes dos direitos autorais do pai) já acabado de vez e não restava nada pra ele conseguir se virar artisticamente. Em 1986, assinava com a Copacabana Discos (na época, atendia artistas sertanejos e alguns nomes regionais e do brega) e devido à uma internação, ele acabou esperando um pouco para lançar seu álbum “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum”, que contava com “Canceriano Sem Lar (Clínica Tobias Blues)”, uma versão em português para o tango “Cambalache” de Enrique Santos Discépolo, uma versão em inglês para “Gita” chamada “I Am”, “Cantar” e o maior sucesso deste álbum “Cowboy Fora da Lei”, que teve boa repercussão até, com muita execução nas rádios e um clipe no programa Fantástico. Mas o seu álbum seguinte não teve muitos dos frutos colhidos, “A Pedra do Gênesis” já mostrava os sinais de desgaste, tanto criativos quanto inspirativos de um cara que já falou sobre discos voadores, voltou com a Sociedade Alternativa na música “A Lei”, ainda trouxe “Fazendo o Que o Diabo Gosta” feito com Lena Coutinho, esposa até a época deste álbum, além da adaptação para “No No Song”, hit do ex-Beatle Ringo Starr e que virou “Não Quero Andar Mais na Contramão” e o disco não teve muita divulgação, após o lançamento, Raul havia se separado de Lena (estavam juntos desde 1986) e também acabava seu contrato com a Copacabana. Passando uns dias de descanso na casa de seus pais, na Bahia, ele já estava acabado, sem ter que se esforçar demais pra cantar, acaba sendo convidado para um show de Marcelo Nova, ex-Camisa De Vênus e agora em carreira solo, no Teatrro Castro Alves. O show trouxe a ele, uma possibilidade de voltar aos palcos, e Raul acabou aceitando o convite para participar ao lado de Marcelo Nova: o que era para ter sido apenas poucos shows, na faixa de cinco e seis, acabaram virando cinquenta shows, e através de um convite de André Midani, os dois baianos se juntam para gravar um disco, e esse disco seria “A Panela do Diabo”, na qual contou com “Século XXI”, “Pastor João & A Igreja Invisível” e “Carpinteiro do Universo”, porém, no dia 20 de agosto de 1989, dias depois do lançamento do disco em rede nacional, o Maluco Beleza voltaria para o seu apartamento em São Paulo e não acordaria mais na manhã seguinte. No dia 21 de agosto, a empregada Dalva foi tentar acordar o baiano e não conseguiu, morreu vítima de uma parada cardíaca causada pela pancreatite, deixou seu nome marcado para sempre na história do rock brasileiro e da MPB em geral, um dos que jamais serão esquecidos na história da música brasileira.

Raulzito & Os Panteras (Odeon, 1968)
A estreia do conjunto baiano e de Raulzito em disco só veio acontecer quatro anos depois que a banda surgiu, ainda como The Panthers e que na época Jovem Guarda faziam muito sucesso pela Bahia afora, acompanhando Roberto, Erasmo, Wanderléa e Jerry Adriani, este último citado, que convidou o grupo a vir para o Rio de Janeiro e fazendo teste para duas gravadoras: a CBS e a Odeon. Passaram nas duas, mas só na Odeon é que eles conseguiram um contrato e poderem fazer um disco, o único da banda e o primeiro de Raul Seixas, que levava o nome Raulzito & Os Panteras, lançado em 1968 mas datado como 1967. As faixas do disco que mais se destacam nesse álbum são “Por Quê? Pra Quê?”, “Me Deixe Dormir”, “Trem 103”, “Alice Maria”, “Um Minuto A Mais” e uma versão adaptada para o português de “Lucy in the Sky With Diamonds” dos Beatles que virou “Você Ainda Pode Sonhar”. Nada mal pra quem já sonhava em ser artista, escritor e também diretor de cinema, mas ainda demoraria alguns anos para acontecerem as mudanças que dariam um rumo diferente, artísticos e pessoais.


Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das 10 (CBS Discos, 1971)
A Columbia Broadcast System, ou simplesmente CBS (anos depois viria a se chamar somente Columbia), selo hoje pertencente à Sony Music, era dirigida no Brasil pelo todo-poderoso do selo, Evandro Ribeiro. Este, que convidou Raul para trabalhar como letrista e produtor da gravadora “É um papo estranho, bicho. O Evandro me chamou para trabalhar na gravadora, mas aí queria trabalhar num material só meu e aí ele disse que eu sou melhor como produtor e compositor do que como cantor e disse a ele que não era isso que eu queria”, disse o baiano a respeito da sua passagem pela gravadora, que durou dois anos, de 1969 até 1971, aonde neste último ano, ele seria demitido após ter feito um disco às escondidas, com Sérgio Sampaio (que Raul descobriu por acaso e que chegou a ter um disco seu produzido pela CBS, além de ter feito uma letra para Roberto Carlos e que o “Rei” nunca gravou), o pioneiro do glam/glitter rock Edy Star (conhecido como Edyth Cooper) e a sambista Miriam Batucada, os dois últimos homossexuais. O disco começa com uma vinheta cirquense, na sequência vem “Êta Vida”. Edy Star canta o bolero “Sessão das 10” e “Eu Não Quero Dizer Nada”, já Miriam não era a opção certa para o projeto, mas o primeiro nome em mente era Diana (então esposa do cantor Odair José), mas como Diana não acabou sendo escolhida,tentaram Lena Rios (estava iniciando na gravadora por indicação de Torquato Neto), mas Miriam acabou conquistando a equipe tanto é que deu voz à Chorinho Inconsequente e Soul Tabarôa, já Sampaio também mostra sua voz em “Êta Vida”, “Quero Ir”, “Eu Vou Botar Pra Ferver”, “Eu Acho Graça” e em “Todo Mundo Está Feliz”. O baiano só abre a voz em “Êta Vida”, “Eu Vou Botar Pra Ferver”, “Quero Ir”, “Dr. Paxeco” e no único samba feito por Raul “Aos Trancos e Barrancos”. O “Finale” com a levada cirquense e composta pelos quatro kavernistas, mostra que o encerramento é com chave de ouro. Após a sua reedição em LP nos anos 80, que não contou com o encarte, as fotos e a ficha técnica, a Rock Company fez o lançamento do CD em 1995 e a Sony só relançou oficialmente nos anos 2000, com poucos dados, sem o encarte original e uma remasterização de qualidade, que só veio a aparecer numa reedição definitiva em 2010, com os itens que faltavam nas reedições anteriores. Segundo Edy Star, o projeto teve o conhecimento da gravadora, mas que a reprovação foi total dos executivos da gravadora, tanto no Brasil quanto na matriz americana. Star é um dos únicos kavernistas vivos, já que Raul veio a falecer em 1989 e Sérgio e Miriam em 1994.


Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock (Polyfar/Phonogram, 1973)
Raul assina com a Philips, participa do FIC cantando “Let Me Sing, Let Me Sing” na qual leva o 3º lugar. Grava dois discos no mesmo período, um é o “Krig-Há, Bandolo!” do qual falaremos adiante, e o outro é o simples disco de clássicos do rock and roll “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock”. A gravadora disse que Raul não poderia usar seu nome na capa, daí o nome da banda fictícia “Rock Generation” creditada na capa, sendo também que seu nome só apareceu como diretor de produção, diretor de estúdio e como arranjador do álbum. O álbum começa com uma vinheta no estilo big-band de rock and roll, partindo direto para “Rock Around The Clock” de Bill Haley, “Blue Suede Shoes” de Carl Perkins e “Tutti Fruti” de Little Richard. O outro medley são com os brazucas “Rua Augusta” de Ronnie Cord e “O Bom” de Eduardo Araújo, depois vem “Poor Little Fool” e “Bernardine”, mais uma trinca brasileira com “Estúpido Cupido” mais “Banho de Lua” e “Lacinhos Cor de Rosa”. O clássico de Paul Anka “Diana” não pôde faltar nesse álbum, assim como “Little Darling”, “Oh! Carol” e “Runaway” mostrando que os clássicos dos 50 e dos 60 ainda tinham vez nos anos 70. O lado A encerra com “The Great Pretender” com um arranjo que nos lembra a versão de Elvis Presley, enquanto o lado B inicia com outra sequência brasileira de “Marcianita” do Sérgio Murillo, “É Proibido Fumar” de Roberto Carlos e “Pega Ladrão”, depois o último medley do disco é com as faixas que foram antecipando o rock and roll, como “Jambalaya” de Hank Williams, “Shake, Rattle & Roll” e “Bop-a-Lena”, por fim duas faixas únicas que são “Only You” e a versão hard para “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo” de Eduardo Araújo. O disco ficou esquecido nas lojas, sendo visto como objeto de colecionador e só em 1975, a Philips relançou como “20 Anos de Rock” creditando Raul, mas com aplausos nas músicas, parecendo um disco ao vivo e que se repetiu dez anos depois, reaparecendo como “30 Anos de Rock”.
Capa do álbum "20 Anos de Rock" de 1975, uma reedição do álbum
"Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock", lançado dois anos antes
e agora creditado ao nome de Raul Seixas.
 O formato original lançado na Polyfar teve suas masters trabalhadas numa nova edição em 2001, lançado pela gravadora MZA (gravadora de Marco Mazola) e tanto a versão original quanto as duas outras da Philips são fáceis de achar em lojas de disco Brasil afora.


Krig-ha, Bandolo! (Philips/Phonogram, 1973)
O disco que apresentou Raulzito ao Brasil e ao mundo todo têm como origem as gravações feitas em 1972 com as letras que ele tinha feito para um possível álbum seu na CBS, mas que por motivos já citados, acabou sendo demitido e isso o leva a se inscrever para o FIC ainda sem gravadora e com “Let Me Sing, Let Me Sing” pronta, assina com a Philips após ter entrado em contato com Roberto Menescal e por este, veio a falar com André Midani. Raul já acaba fazendo amizade com o futuro “mago” Paulo Coelho, que trabalhava em uma revista e que sabia também sobre discos voadores, acabam compondo juntos 5 letras que fariam parte do disco. A introdução é um registro de Raul aos 9 anos cantando “Good Rockin’ Tonight” de Roy Brown com menos de um minuto de duração, mas aí antecipa o que seria de verdade o disco, com uma levada umbandista em “Mosca Na Sopa”, aqui é que Raul mostra que sabe bem juntar ponto de macumba com rock numa mesma canção, na sequência aparece “Metamorfose Ambulante”, uma bela prova da filosofia raulseixista numa levada de balada soft-rock. A curta “Dentadura Postiça” com uma pegada de country/bluegrass americana cita Gilberto Gil “...o Expresso dois-dois”, depois vêm “As Minas do Rei Salomão” e “A Hora do Trem Passar”, que antecipam o clássico “Al Capone”, marco forte da parceria entre Raul e Paulo Coelho. Os temas seguintes ainda seguem o mesmo gás de sempre, “How Could I Know (Love Was To Go)” cantada em inglês, a irônica “Rockxixe” com metais à la soul americana, a balada acústica “Cachorro Urubu” e a soft-rock dylanesca “Ouro de Tolo”, na qual o baiano teve inspiração nos versos de “A Montanha, música de Roberto Carlos e hino multirreligioso. Após a faixa, alguns segundos de silêncio e Raul começa a dizer algumas coisas, que encerram de vez este disco, sendo que na primeira reedição em CD a tal faixa escondida não aparece. Só veio a aparecer em 2002 o formato original, com a faixa escondida e mais três faixas bônus: um tema feito para uma novela da TV Tupi, chamada “Caroço de Manga” mais a versão ao vivo de “Loteria da Babilônia” gravada durante o Phono 73 e uma versão alternativa de “Ouro de Tolo”, na qual ele fala “carrão 73” ao invés de “Corcel 73”, lançada antes em compacto para não complicar a divulgação do carro. Simplesmento o clássico e a obra-prima do mestre Raulzito.

Gita (Philips/Phonogram, 1974)
Raul estava no Brasil ainda quando o disco mal tinha sido terminado, quando ele e Paulo Coelho receberam uma ordem dos militares para deixar o Brasil devido às acusações feitas sobre a tal “Sociedade Alternativa”, baseada nos conceitos da lei de Thelema, do “bruxo” e “satanista” Aleister Crowley e partiram direto para os EUA. Mesmo assim, o disco “Gita” foi lançado e quando não se esperava nada demais sobre o disco, foi que vendeu 600 mil cópias, ele foi convidado a voltar ao país. O disco abre com a faixa “Super Heróis”, que traz uma levada blues-rock e na qual Raul e Paulo Coelho contam de aventuras com Mequinho (jogador de xadrez), Pelé e Silvio Santos, na balada “Medo da Chuva” ele dá um pouco de sentimentalismo. O baião “As Aventuras de Raul Seixas Na Cidade de Thor” leva um pouco às origens do músico e aos mestres Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, enquanto “Água Viva” fala sobre uma fonte com uma bela orquestração, já  em “Moleque Maravilhoso” ele solta seu lado de jazz e soul com uma pegada bem roots da música americana “quebrando vidraças do velho Ricardo”, e até no lado revival ele se superou trazendo de volta o bolero “Sessão das Dez” aqui na sua voz com um arranjo mirabolante. O lado B é impressionante quando ele começa a cantar “Sociedade Alternativa”, o hino da entidade e que segue sendo entoado por fãs Brasil afora até hoje e na qual ele declama o manifesto enquanto o refrão é entoado por um coro. Outro tema que se destaca é “O Trem das Sete”, na qual ele fala sobre o trem que leva as pessoas para um lugar, seja este o Paraíso ou o Inferno, com direito a cornetas. Já o tema “SOS”, o baiano aqui fala sobre o disco voador e pedindo para que o leve da Terra, seguido de uma faixa curta chamada “Prelúdio”, com apenas piano e orquestra de corda e dos versos “sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Entra uma versão de “Loteria da Babilônia” gravada no estúdio e com enxertos de aplausos soando como ao vivo, antecipando o encerramento definitivo que é a faixa-título, baseado no livro hinduísta Bhagvad-Gita e na qual ele fecha esse álbum declarando ser “o início, o fim e o meio”. Os bônus que aparecem na reedição de 2002 são faixas da trilha sonora da novela global “O Rebu”, do ano 1974: “Um Som Para Laio” e “Não Pare Na Pista”.


Novo Aeon (Philips/Phonogram, 1975)
O álbum que veio a ser o sucessor de “Krig-ha, Bandolo!” e “Gita” foi um dos melhores trabalhos, segundo o próprio músico, mas acontece que a divulgação foi mal-sucedida e as vendas baixas foram o que deixaram o álbum fraco na época, e hoje é o mais valorizado de sua discografia e que também tem lá grandes clássicos que fazem parte deste ábum, lançado em outubro de 1975 e que contou com parcerias não só de Paulo Coelho, mas como de Marcelo Motta (presidente da Argentum Astrum, entidade ligada à magia negra). Feito durante a lua-de-mel com sua mais nova esposa, a americana Gloria Vaquer (irmã do guitarrista e amigo de Raul, Jay Vaquer) e o período de alto consumo de drogas e de magia negra, o baiano aqui se superou mais ainda, como sempre nas 13 faixas do álbum. Começamdo com “Tente Outra Vez”, o único single do álbum e que traz na letra um clima motivacional, seguido de “Rock do Diabo” aonde Raulzito cita o próprio e mostra que existem dois dele, sendo que um parou na pista “um deles é o do toque e o outro é aquele d’O Exorcista”. A liberdade sexual aparece nos versos em “A Maçã”, uma das baladas mais bem-elaboradas por Raul, além de “Eu Sou Egoísta” uma espécie de crítica sobre Caetano Veloso e da filosófica “Caminhos”, uma sequência na qual a primeira se traz um rock e uma levada de capoeira, assim como o brega têm sua vez em “Tu És o MDC da Minha Vida”, aonde o próprio Raul fala de um amor que “...quebrou a minha coleção de Pink Floyd”, provando que Raul sabe bem fazer uma mistura bem bolada nas suas músicas e o lado A encerra com a rock-cinquenteira “A Verdade sobre a Nostalgia” aonde o próprio Maluco Beleza se mostra um saudossista recordando os anos 50 e revendo os conceitos dos anos 70 “é mãe com Beatles e um pai ‘falô’, logo então eu fiquei contra o que eu já sou”. Já no lado B, a canção “Para Nóia” já traz o estilo mais profundo e retratando um pouco de dogmas cristãos, psicanálise e infância. Já “Peixuxa (O Amigo dos Peixes)” na qual o tema é poluição dos mares e que veio só a agravar mais o meio-ambiente na virada dos anos 2000 com um piano à la “Ob-La Di, Ob-La-Da” dos Beatles, depois vêm a crítica sobre o sistema monetário e inclusive à economia do país “É Fim de Mês” com um pouco de forró e samba e a doce “Sunseed” na qual Raul e Gloria cantam juntos em inglês, além de “Caminhos II” aonde Raul apenas recita e por fim, “Novo Aeon” mostra sinais de um dia que ainda está por vir no futuro, com uma levada de folk-contry. A versão remixada de “A Maçã” com novo arranjo, feita em 1993 é a faixa bônus da reedição de 2002, soando um pouco mais moderna e mais atual para o público de hoje.


Há 10 Mil Anos Atrás (Philips/ Phonogram, 1976)
“Eu sei que, em determinada rua que eu já passei, não tornará a ouvir os meus passos. (...) Cada vez que me despeço dessa pessoa, pode ser que esta pessoa, esteja me vendo pela última vez. A morte, surda, caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar.” Assim inicia-se o disco, com um Raul pressentindo a morte no tango “Canto Para Minha Morte”, com influências de Astor Piazzola. Na sequência, a homenagem a seu irmão Plínio em “Meu Amigo Pedro” e a religiosa “Ave Maria da Rua” dão um tom bem diferente dos álbuns anteriores. A balada “Quando Você Crescer” e a alegre “O Dia da Saudade” não deixam de serem temas ótimos, apesar de certos tropeços. A canção “Eu Também Vou Reclamar” mostra um Raul com um senso crítico diferente, na qual ele ironiza os cantores que o “imitavam” como Silvio Brito (Pare o mundo que eu quero descer), Hermes Aquino (Nuvem passageira), Belchior (Apenas um rapaz latino-americano) e outros tantos. Nesse disco, ele recria de 1973 “As Minas do Rei Salomão” e apresenta a doce “O Homem” com coros e uma levada baladista, o forró aqui ganha vez em “Os Números” na qual Raul está acompanhado do conjunto de Jackson do Pandeiro, e a “Cantiga de Ninar” aonde um coro ao estilo spirituals e orquestração é a principal base sonora, e que vem a antecipar a faixa-título, que encerra o disco e que têm como a sua inspiração a canção do folclore americano “I Was Born About Tem Thousand Years Ago”. Seria o último disco de Raul com parcerias de Paulo Coelho e também o último pela gravadora Philips, na época em que o baiano estava sabendo que Midani acabava de trazer a Warner Music pro Brasil, ele aceitou a proposta, assim como Belchior e Gilberto Gil. Na reedição de CD feita em 2002 para o box “Maluco Beleza”, as faixas “Love is Magick” e “Maluco Beleza” entraram na faixa bônus, sendo até então raridades.


Raul Rock Seixas (Fontana/ Phonogram, 1977)
Foi um ano complicado para o baiano, separado de Gloria após o nascimento da segunda filha Scarlet que estava para sair da Philips, e acabou gravando mais um disco para cumprir à risca o contrato com a gravadora e chamou Jay Vaquer para esta missão de ajudar Raul a bolar um disco, para que pudesse trabalhar com seu produtor Marco Mazzola. O disco chega a soar como uma continuação de “Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock”, pois contêm  uma série medleys como “My Way/Trouble” com “The Diary” na sequência, “My Baby Left Me/Thirty Days/Rit It Up”, “All I Have to Do is Dream/Put Your Head on My Shoulder/Dear Someone” e uma pausa para só uma música “Do You Know What It Means to Miss New Orleans”. O lado B segue com “Lucille/Corrina Corrina”, “Ready Teddy/Hard Headed Woman/Baby I Don’t Care”, depois uma simples versão de Vaquer e Raul para “Just Because”, e com “Bye Bye Love/Be Bop a Lula/Love Letters in the Sand/Hello Mary Lou” o lado revival de clássicos só encerra mesmo com um medley de “Blue Moon of Kentucky/Asa Branca”, que inspirou Raul Seixas em 1972 a fazer “Let Me Sing, Let Me Sing”. Raul estava fazendo uma pequena turnê na Bahia, assim que não pôde acompanhar o processo final de mixagem, na qual Vaquer acabou fazendo toda a parte de mixar sozinho e como as várias inovações técnicas de estúdio que o produtor tinha para utilizar e que acabou deixando de lado, o trabalho de mixagem acabou sendo feito “às escuras” trazendo um resultado extremamente diferente.


O Dia em Que a Terra Parou (WEA/Warner Bros Music, 1977)
Aí sim começa os primeiros sinais de fraqueza, mais principalmente em termos de produção e de repercussão na mídia, foi quando ele não seguiu mais a mesma linha dos discos anteriores, pois já em outra gravadora, a Warner e contando com a parceria do mesmo Mazzola e Midani no comando da gravadora, acabou que o rumo dele neste disco acabou sendo outro. O disco “O Dia em que a Terra Parou” mostra um resultado de uma nova fase de Raul após o rompimento definitivo de sua parceria com Paulo Coelho e já com Cláudio Roberto (seu mais fiel parceiro até a morte), começando com uma incursão no funk com “Tapanacara” com a Banda Black Rio fazendo a base sonora, seguido do tema que acabou virando seu apelido “Maluco Beleza” aonde Raul fala sobre a loucura e na qual promoveu a música aonde aparece sem barba em um clipe do Fantástico e divulgando a música em outros programas de televisão. A faixa-título fala de um sonho que teve quando a Terra parou em um determinado momento. Na sequência, temos  temas “No Fundo do Quintal da Escola”, “Eu Quero Mesmo”, “Sapato 36”, “Você”, “Sim” e o encontro de dois baianos: Gilberto Gil faz uma canja em “Que Luz É Essa?” e a Black Rio volta com o funk em “De Cabeça Pra Baixo”. Depois de quatro anos com sucessos atrás de sucessos, o sucesso de Raul estaria de vez em altos e baixos, com mais picos baixos e menos picos altos.


Mata Virgem (WEA/Warner Bros Music, 1978)
Depois do rompimento de sua parceria com Paulo Coelho, Raul decidiu reconciliar e encerrar os trabalhos juntos neste décimo álbum de carreira, este disco mostraria a fraqueza sonora. Com Gastão Lamounier na produção, Raul ficou de vez sem seu maior produtor para poder ajudar na realização do álbum, que foi fraco por ter 24 minutos de duração e com dez músicas, algumas não passavam dos três minutos. A faixa “Judas” falava sobre o discípulo que traiu Jesus e entregou-o a Pôncio Pilatos e que aqui Paulo Coelho reaparece falando “Ei, quem é você? Vamos, me responda: quem é você?”. Depois surge “As Profecias”, na qual Raul fala sobre as profecias apocalípticas do fim do mundo ecita a mais conhecida, a de Nostradamus. Depois vem “Tá Na Hora” com uma parada bem sobre rotina e encontro e a regravação de “Planos de Papel” que fora gravada apenas por Alcione para a trilha de “O Rebu” (1974) e depois “Conserve Seu Medo” ainda mostra um pouco daquele verdadeiro Raul filósofo e crítico. O forró em “Negócio É” até que faz valer a pena, mas com o apoio do conjunto de Jackson do Pandeiro não foi desta vez, só a toada “Mata Virgem” aonde Raul canta suave é que o acerto foi em cheio, tema dele com Tânia Mena Barreto (esposa de Raul até 1979) feita quando o baiano tirou umas férias em sua terra depois de uma pancreatite, e que veio a ser regravado por Ney Matogrosso três anos depois. Já Pepeu Gomes se supera nos solos de guitarra em “Pagando Brabo”, um dos poucos temas que se salva no disco, diferente do poema “Magia de Amor” com um ambiente de filme de terror clássico e o último suspiro da parceria com o futuro Mago, e encerrando com “Todo Mundo Explica”, censurada em 1975 m e aparece com aquela pegada rocker cheia de metais, e uma brincadeira com “O Que É Que a Baiana Tem?” de Dorival Caymmi para encerrar de vez o disco. Com poucas vendas, o disco não rendeu e isso fez com que Raul entrasse mais ainda em uma crise, devido ao tratamento de cura da pancreatite e nem a crítica aprovou o álbum na época.


Por Quem Os Sinos Dobram (WEA/Warner Bros Music, 1979)
A década de 70 encerrou mal para o baiano: mais uma vez separado, os últimos discos sem muita repercussão entre público e crítica, começando a faltar shows e por fim, fazendo visitas ao hospital sempre a problemas devido a pancreatite aguda. O último disco dele na WEA foi a verdadeira gota d’água, pois foi também o primeiro com uma parceria muito fraca, dispensando Cláudio Roberto e dando lugar a um argentino chamado Oscar Rasmussen, que com ele compôs o reggae “Ide a Mim Dada” uma clara referência ao ex-ditador ugandês Idi Amin, na sequência “Diamante de Mendigo”, “A Ilha da Fantasia” e “Na Rodoviária” são temas que não mostram uma parceria que não andou muito, só a faixa-título, baseada no livro que leva o nome da música e do disco, escrita por Ernest Hemingway é que salvou de vez o disco. Depois, uma letra bem com pegada mística na letra “O Segredo do Universo” é que também se salvou, seguido de “Dá-lhe Que Dá” e a última cartada de Tânia com os dois em“Movido a Álcool” e por fim, “Réquiem Para Uma Flor” encerra este disco com uma pegada bem rock n’ roll. Raul, que estava bem na primeira metade da década, esperava que nos anos 80, as coisas iriam ser outras. Esperava, pois não sabia o futuro que lhes aguardaria.

Abre-te Sésamo (CBS Discos, 1980)
“É o disco da Abertura”, disse sobre o seu mais recente álbum, feito na mesma gravadora aonde dez anos atrás ele trabalhava como produtor e compositor de Jerry Adriani, Wanderléa, Tony & Frankye e de Renato & Seus Blue Caps, banda da qual fez parte o baixista dos vários discos de Raul, Paulo César, e referindo-se ao processo de abertura política na época da ditadura militar. E dez anos passados, com Ângela Affonso, mais conhecida como Kika e que veio a adotar o nome do amado, tornando-se Kika Seixas, que trabalhava na Warner e que veio a se casar com ele, estando juntos até 1984, dando ao casal a última filha do músico, a hoje DJ Vivian Seixas, ou simplesmente Vivi. O disco é um resultado impressionante de canções e voltando com a parceria dele com Cláudio Roberto e tendo Kika colaborando também, começando pela faixa-título, numa incursão sobre o processo de abertura em meio à citações do conto tradicional árabe das Mil e Uma Noites “Ali Babá e os 40 Ladrões”, já em “Aluga-se” o baiano convida o resto do mundo para alugar o país em meio à inflação e uma espécie de sugestão para salvar o Brasil da situação ao então Ministro da Fazenda, Delfim Netto. Em “Anos 80”, parceria com o capixaba Dedé Caiano, ele dá a sua visão sobre o que pode ser a década, cheia de “melancolia e promessas de amor”, seguido de “Ângela” feita para a sua esposa Kika e “Conversa Pra Boi Dormir” na qual ele critica o ex-chefão André Midani e troca a letra do sobrenome “André Sidani só faz confusão, sonhei com ele e mijei no colchão” e declara seguir “com o rei na barriga”, o pai do Maluco Beleza aqui cede a letra de “Minha Viola” para que ele converta em uma toada. O lado B começa com “Rock das ‘Aranha’” aonde ele fala sobre duas mulheres e cuja a execução na mídia foi proibida pela Censura, deixando Raulzito mal por isso, depois tem “O Conto do Sábio Chinês”, na qual ele se confunde se ele era um sábio chinês que sonhou que era uma borboleta ou vice-versa, sgeuido de “Só Pra Variar” e de uma homenagem à uma filha que faz 15 anos “Baby”. O pai de Raul é reverenciado em “Ê Meu Pai”, numa levada de baião e pra encerrar, a modinha “A Beira do Pantanal” traz uma forte ligação do baiano com a música sertaneja (na época chamada de “caipira”). Após o disco, a gravadora sugeriu no ano de 1981 que ele gravasse um disco temático sobre a Lady Di, então casada com o príncipe galês Charles, o que não era coisa para Raul, fazendo com que ele saísse da gravadora de novo.


Raul Seixas (Eldorado, 1983)
Afastado das grandes gravadoras, em principal das Cinco Irmãs, que são: PolyGram (antiga Phonogram), RCA Victor, Warner Bros. Music, EMI-Odeon e a CBS Discos, Raul acaba sendo convidado pela Eldorado, uma gravadora independente bancada pelo Grupo Estado de São Paulo e que têm um dos melhores estúdios de gravação, aonde lá Raul veio a gravar o seu primeiro disco de estúdio em três anos. Este disco foi bem trabalhado, é também conhecido como “Carimbador Maluco”, cuja as primeiras prensagens do LP ainda não havia a música. A música “DDI (Discagem Direta Interestelar)” foi feita como se Deus estivesse telefonando para Raul sobre a situação na Terra, na sequência têm a balada country “Coisas do Coração” e “Coração Noturno”, seguido da adaptação para o clássico do rock cinquentista “Slippin’ and Sliddin’” e que vira “Não Fosse o Cabral”, contando ainda com a mistura de reggae e forró “Quero Mais” aonde Raul faz um dueto com a eterna “Ternurinha” Wanderléa, passando pela modinha de raiz “Lua Cheia” e o pop infantil “Carimbador Maluco” feito para o especial global “Plunct Plact Zuuum”. O resto das canções não deixa de mostrar todo o seu estilo único e poético, como em “Segredo da Luz”, do verso “As nuvens vagueiam no espaço sem lar, nem raiz. O ódio não é o real, é a ausência do amor.”, seguido de “Aquela Coisa” e do chácháchá “Eu Sou Eu, Nicuri É O Diabo” feita pelo próprio Carimbador Maluco e defendida pelo grupo Os Lobos no FIC em 1972, além de “Capim Guiné” feita por outro baiano, de Piritiba como na música, Wilson Aragão. A adaptação para o português de outro clássico do rock cinquentista “Bop-A-Lena” e que aqui virou “Babalina” mostra um Raul mais inspirativo, como em “Abre-te Sésamo” (1980), o encerramento mesmo é por conta da versão ao vivo gravado na sede do Palmeiras de “So Glad You’re Mine” de Arthur “Big Boy Crudup” mostram um fechamento de chave de ouro num disco de Raul Seixas como não se via nos outros discos lançado no final dos anos 70.

Ao Vivo: Único e Exclusivo (Eldorado, 1984)
Lançado enquanto Raul saía da Eldorado e migrava para a Som Livre naquela época, aqui mostra o momento em que Raul revira o baú do rock n’ roll na sede do Palmeiras em São Paulo, no dia 28 de fevereiro de 1983 e segundo o baiano a respeito desse disco, teria atrapalhado as vendas de “Metrò Linha 743”. O show contou com apenas nove faixas, sendo que era para entrar mais quatro, estas até então inéditas e que entraram mais tarde no álbum “Raul Vivo”, lançado quase dez anos depois, com faixas gravadas no ginásio do Corinthians no mesmo ano de 1983, no dia 28 de maio e performances do seu cancioneiro como “Rock das ‘Aranha’”, “Maluco Beleza”, “Sociedade Alternativa”, “Rockxixe”, “Metamorfose Ambulante”, “O Trem Das 7”, “Prelúdio” e fechando com um medley com seus maiores clássicos “Gita”, seguidos de “Ouro de Tolo” e “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, sendo que nesta edição renovada, é “Rock do Diabo” abre o trabalho. Na primeira edição, ele começa com “My Baby Left Me”, seguido de “Ain’t She Sweet”, “So Glad You’re Mine” que já havia aparecido no álbum de 1983 como bônus para completar o material, “Do You Know What It Means to Miss New Orleans”, “Barefoot Ballad” e o  medley “Blue Moon of Kentucky” com “Asa Branca” e depois Chuck Berry é reverenciado em “Roll Over Beethoven”, Carl Perkins em “Blue Suede Shoes” e o encerramento fica por conta do clássico de Gene Vincent “Be Bop a Lula” botando a sede do Palmeiras teto abaixo com tantos clássicos dos primeiros anos do rock and roll e Raul mostrando que está curtindo sempre a nostalgia.

Metrô Linha 743 (Som Livre, 1984)
Lançado no período em que as grandes bandas estavam dominando com a nova cena do rock brasileiro, como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens (o segundo nome só foi eliminado dois anos depois), Magazine, Herva Doce dentre outras, e Raul parecia ser outro artista para a geração que respirava as bandas novas naquele momento. E com o apogeu do BRock, termo utilizado para este período, Raul fez um disco muito diferente, com menos guitarras e mais violões, quase um acústico e que se pode notar muito já na faixa que leva o nome do disco,“Metrô Linha 743”, com um canto falado. Produzido por Alexandre Agra, seria o primeiro disco sem Miguel Cidras nos arranjos e já em outra gravadora, a Som Livre, aonde por lá gravou somente este disco, aonde teve também “Messias Indeciso”, “Meu Piano”, “Quero Ser O Homem Que Eu Sou (Dizendo a Verdade)”, “Canção do Vento” e “Mamãe Eu Não Queria”, aonde Raul dá a sua posição sobre o serviço militar obrigatório e cuja faixa teve proibição pela Censura, além de “Mas I Love You (Pra Ser Feliz)” e as regravações de “Eu Sou Egoísta” e “O Trem das 7”, e pra terminar, o disco encerra com “Geração da Luz”, que teve clipe aonde Raul, com chapéu de bruxo e as vestimentas de Carimbador Maluco, aparece em meio de crianças, falando sobre uma geração para o especial global “Plunct Plact Zuuum 2”. Após esse disco, veio o fim do contrato com a gravadora, se separou de Kika, que compôs 5 das 10 músicas do álbum, fez alguns shows e em 1985, ele ficou afastado dos palcos, passando uma temporada na Bahia, com a família e aonde veio conhecer Lena Coutinho: sua última companheira, até um ano antes de sua morte.


Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (Copacabana, 1987)
Em 1986, a Copacabana convidou Raulzito para fazer parte do cast da gravadora, na qual o seu principal forte eram artistas do meio sertanejo, como Chitãozinho & Xororó, Teodoro & Sampaio, João Mineiro & Marciano dentre outros, e artistas do Norte e do Nordeste, que cruzvam entre ritmos como o brega, a lambada e o forró. Raul poderia parecer um estranho no ninho, mas era só ele ter assinado o contrato que veio mais uma temporada de internação, desta vez na Clínica Tobias, no Alto da Boa Vista e devido aos problemas de saúde, ele só pôde lançar o disco definitivamente em março de 1987 o disco “Wah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum”, produzido por Raul e pelo seu parceiro de vários trabalhos ao longo de sua carreira, o guitarrista Rick Ferreira. O disco, começa com uma vinheta na qual ele pronuncia o título, que já foi utilizado em “Let Me Sing, Let Me Sing” e junto, a faixa “Quando Acabar, O Maluco Sou Eu” na qual ele ainda se mostra o verdadeiro louco, mas que é feliz (teria ele buscado um pouco de isnpiração em “Balada do Louco” da banda Os Mutantes?”), seguido de “Cowboy Fora da Lei” com uma pegada country e que aqui mostra que, apesar de estar um pouco mal, ele ainda se mostrava em alta quando se refere à criatividade nas letras, depois tem “Paranóia II (Baby Baby)”, uma versão em inglês para “Gita” chamado “I Am”, a adaptação para o português do tango de Enrique Santos Discépolo “Cambalache”, fora já interpretado em 1969 por outro brasileiro: Caetano Veloso, que cantou em espanhol. Depois têm “Loba”, o blues-rock “Canceriano Sem Lar (Clínica Tobias Blues)”, “Gente” e por fim, “Cantar”, aonde Raul fala  sobre tudo o que ele já cantou ao longo de sua vida. Foi um grande sucesso, ainda que alguns de seus sucessos deste disco passaram despercebidos nas rádios.

A Pedra do Gênesis (Copacabana, 1988)
Este disco foi mostrando um Raul bem perto da morte, com um desgate total na voz e que não se manteve extremamente ativo, já há três anos fora do palco e que no meio do lançamento de seu disco, em setembro de 1988, ele acabou tendo o seu contrato rescindido, separado de Lena Coutinho e vivendo muito sozinho em São Paulo, aonde morava desde 1981. O disco veio a ser o último com arranjos de Miguel Cidras e também com Rick Ferreira trabalhando ao lado dele, mas mostrou ainda um pouco do místico que era nos anos 70 novamente, como em “A Pedra do Gênesis”, aonde fala de uma pedra descoberta há anos, a volta da Sociedade Alternativa em “A Lei” aonde o refrão da música de 1974 é entoado com um coro de fundo enquanto Raul volta com a entidade falando das leis. Os tratamentos médicos são vistos em “Check-up”, o romance com Lena em “Fazendo o Que o Diabo Gosta”, a morte prevista nos versos de  “Cavalos Calados”, sobre não estar mais afim de usar drogas em “Não Quero Mais Andar na Contramão”, versão para o sucesso de Ringo Starr “No No Song” e que ficou mais conhecida do que a original, uma de suas últimas performances em inglês “I Don’t Really Need Anymore”, a interpretação de “Lua Bonita” de Zé do Norte e mais um tema relacionado à morte “Senhora Dona Persona (Pesadelo Mitológico Nº 3)” e “Areia da Ampulheta”, na qual ele diz ser “cachaceiro mal-amado, o triste-alegre adestrado” se mostrando em um estado terminável, amorosamente e pessoalmente. O fim de sua carreira está muito bem retratado neste disco, percebendo pelas letras e pela voz desgastante.

A Panela do Diabo (WEA/Warner Music, 1989)

O seu último disco foi feito ao lado de Marcelo Nova, ex-Camisa de Vênus e que tinha uma vontade de trabalhar ao lado do eterno Maluco Beleza e isso veio a acontecer quando a antiga banda de Marcelo regravou “Ouro de Tolo” em 1986 e quando o próprio Raul participou do LP “Duplo Sentido” (1987) cantando “Muita Estrela, Pouca Constelação”, depois disso a banda se separou e Marcelo partiu para a carreira solo, tendo como sua banda de apoio Envergadura Moral. Em 1988, Marcelo convidou Raul para um show no Teatro Castro Alves, sabendo que estava de retiro na casa dos pais em Salvador, o ex-Camisa de Vênus chama o autor de “Ouro de Tolo” para fazer uma canja e depois deste show, eis que surge a grande chance de poder voltar triunfantemente, fazendo shows como nunca. André Midani e o próprio baiano se resolvem e a convite do próprio Midani, os dois gravam pela WEA um disco, intitulado “A Panela do Diabo”. O disco começa com os dois cantando “Be Bop a Lula” de Gene Vincent, seguido do tema “Rock N’ Roll”, uma das melhores canções do álbum, que é “Carpinteiro do Universo”, seguidos de “Quando eu Morri” e “Banquete de Lixo” baseado na temporada do exílio americano, aonde Raul conheceu um palhaço que comia lixo, além da sacada religiosa em “Pastor João e a Igreja Invisível”, as visões sobre o que será o “Século XXI”, uma música até então inédita chamada “Nuit” que seria lançado em um LP independente de 1981, cujo não foi lançado e que levaria o nome desta faixa. Por fim, os temas “Best Seller”, “Você Roubou Meu Videocassete” e “Câimbra no Pé” mostram os últimos suspiros em voz e poesia do Maluco Beleza, junto de seu último parceiro. Cumpriu com toda a agenda, inclusive divulgando as músicas nos programas de Jô Soares, então no SBT e no de Fausto Silva, na Rede Globo. Morreu após voltar de uma série de shows, no dia 21 de agosto de 1989, e rendeu disco de ouro póstumo, com 150 mil cópias vendidas, a placa das vendagens foi entregue a sua família e a Marcelo Nova.

Comentários

  1. Discografia oficial de Raul Seixas(1945-1989).Um dos maiores artistas que este país já teve com muito orgulho.Tenho todos em CDs.

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    1. Que sensacional, Alencar! Ter todos estes álbuns oficiais em CD é algo grandioso pra fã mesmo não acha?!

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  2. Gosto demais de Raul e não considero nenhum de seus discos fraco ou ruim apenas algumas canções(vera Verinha excessivamente açucarada Raul fez lindas canções de amor mais criativas! ,da lhe da lhe tem um instrumental ótimo mas uma letra pobre, pedra do genesis tem uma letra que não me cativa !enfim Raul foi e sempre sera mestre , afinal ate os gênios cometem alguns erros!

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    1. concordo com a sua opinião, Cláudia! o problema do Raul foi que certos discos da fase pós-Philips que não receberam uma ótima recepção dos críticos, todos eles são indispensáveis e têm letras maravilhosas porque é Raulzito, é o nosso rei do rock brasileiro

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  3. Meu primeiro disco do Raul foi Caminhos..coloquei na vitrola e ouvi muito. Ouvia Raul desde criança. .me lembro de ouvir maluco beleza, eu nasci há dez mil anos atrás e Gitá. E muitas outras que tocavam na rádio. Enfim Raul sempre Sera um artista único. Eu penso que todos os discos do Raul são bons. Evidente que os 4 primeiros se destacam mais. E as canções em inglês são ótimas de seus discos gravados.

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