Um disco indispensável: Volume 5 - Estrada da Vida - Milionário e José Rico (Chantecler, 1977)

A tarde de terça-feira, dia 3 de março de 2015 poderia ser uma tarde comum, se não tivesse acontecido a morte de um dos maiores nomes vivos da música sertaneja: José Alves dos Santos, ou melhor, José Rico, da dupla Milionário & José Rico e que tinham como nomeação de As Gargantas de Ouro do Brasil, nos deixou na tarde de terça-feira após sofrer um infarto e uma parada cardíaca, deixando o sertanejo em estado de luto em pouco tempo. José Rico nasceu em São José do Belmonte, no Pernambuco em 20 de junho de 1946, porém se mudou para o Paraná na cidade de Terra Rica (e daí que veio o apelido José Rico) aos dois anos de idade, aonde cresceu ouvindo além do sertanejo e canções de rádio, ouviu música latina vinda do México, Paraguai e da Argentina e chegou a construir uma carreira promissora jogando futebol mas se não fosse uma lesão que o afastou por um bom tempo do futebol, ainda aprendeu música de ouvido e sem ter frequentado nenhuma escola, mostrando que José Rico é um gênio autodidata da música sertaneja mesmo, assim como outros tantos. Já o Milionário nasceu como Romeu Januário de Matos no dia 9 de janeiro de 1940, na cidade mineira de Monte Santo e já trabalhava muito como pedreiro, garçom e pintor de paredes e buscou em sua mãe cantando como inspiração para música e formou várias duplas antes de se encontrar com o seu maior parceiro no ano de 1968, que seria pra toda a vida e responsáveis por grandes sucessos nos anos 70 e 80, com uma breve pausa em 1991 e retornando três anos mais tarde, para a alegria dos fãs sertanejos e seguindo essa trajetória pela longa Estrada da Vida, que recentemente terminou de um jeito emocionante e triste para os amantes do bom e velho sertanejo de raiz.
Atravessando gerações; uma dupla que rompeu as barreiras do preconceito
graças ao seu maior sucesso, "Estrada da Vida" em 1977 e vendendo mais
de dois milhões de cópias vendidas, um número que poucos artistas
tiveram o prazer de conseguir no cast da Chantecler
O primeiro LP deles, em 1969, chamado De Longe Também Se Ama é marcado pelas rancheiras mexicanas, guarânias e canções mais leves, sem deixar de lado os corridos, boleros e toadas que são o forte da música sertaneja, antigamente chamada de música caipira e só 3 anos depois que houve a estreia definitiva em disco pela Chantecler, no núcleo Sertanejo e depois de mais 4 discos, foi lançado o que seria considerado o maior disco da dupla, em matéria de vendagens e de sucesso nacional e cuja a faixa principal do LP têm uma história muito impactante, tanto na história da dupla quanto na do disco que viria a dar origem ao maior sucesso da dupla, e também num filme dirigido por Nelson Pereira dos Santo e o hino indispensável das rodas de viola da música sertaneja. A dupla seria também um dos tantos artistas que mais vendeu discos na gravadora, assim como o gaúcho Teixeirinha, o casal Cascatinha & Inhana, Duduca & Dalvan, Amado Batista, os lendários Tonico & Tinoco e mais tarde, João Paulo & Daniel, Leandro & Leonardo, Teodoro & Sampaio e Rick & Renner nos últimos 30 anos recentes após o boom definitivo do sertanejo nas rádios brasileiras e com mais presença na mídia.
Com os anos, Milionário & José Rico se mantiveram fiéis
ao seu trabalho e aos fãs até a morte de José Rico em 3
de março recente, porém seu legado na música sertaneja
e também na MPB jamais será esquecido por fãs.
A faixa-título que abre o disco, Estrada da Vida é pura poesia sertaneja de raiz para ouvir e apreciar com os arranjos de sopros no estilo ranchera mariachi e uma história bem contada pelo próprio autor José Rico, "Nós fizemos ela (Estrada da Vida) em 1976 enquanto a gente voltava de uma campanha eleitoral na cidade perto de Rio Preto, Olímpia e isso me marcou muito naquela época sempre ficávamos em Rio Preto", e o motivo que também levou a criarem a fazer a música foi uma turnê que iria até Goiás "Lembro que comprei uma Brasília verde num estacionamento de Rio Preto e saímos em turnê, de Mineiros a Itumbiara, em Goiás e já na volta pra São Paulo que surgiu a música"; já o bolero Bebida Não Cura Paixão traz um lamento que é realista e que se identifica muito com a vida de quem vive nas bebedeiras da vida pelos bares afora e sofre com um amor; logo em Meu Sofrimento, no ronco da sanfona em estilo de guarânia, nada como ouvir histórias sobre um amor que se foi embora e tomar umas ouvindo os Gargantas; mais uma rancheira mexicana completa o caldo e Destino Cruel conta uma daquelas histórias que marcam fortemente quem ouve um modão sertanejo daqueles du bão memu; a canção Sentimento Sertanejo, uma polca  clássica que conta com histórias típicas sobre a saudade de uma paixão que um dia pretende voltar, a letra foi composta pelo saudoso radialista José Béttio, pai de José Homero Béttio (empresário da dupla Chitãozinho & Xororó dos anos 80 até 1998) e por José Fortuna (1923-1983), grande compositor da música sertaneja; em Adeus, as últimas palavras de quem deixa o coração aos prantos ou faz sofrer é um bom motivo para entender o que é mesmo a tal "sofrência" que sempre passa na vida (não é só Pablo, ouviu gente?!); em Migalhas de Amor, a dupla segue com suas tradicionais rancheiras falando sobre amores e desamores, ao estilo de Pedro Bento & Zé da Estrada, que trouxeram as rancheiras mexicanas para o sertanejo; o piano e e a levada de bolero em Doce Ilusão, ainda deixa um vestígio de querer dançar coladinho e ouvir o som dos Gargantas de Ouro numa boa tomando aquela pinga na mesa de bar esperando o dia passar; a dupla segue com seu desfile de belas canções em Conselhos, na qual a dupla evita não querer se apaixonar para não sofrer com um grande amor no futuro e depois se arrepender; uma coisa engraçada que se pode perceber em Ciumento é a base instrumental, um tipo de sintetizador do tipo rock progressivo no meio da música acaba fazendo parte da música numa levada bem country, fora a letra que traz um pouco de ira de quem não quer ver sua amada com outro; já em Solidão, a bateria ganha seu espaço para uma balada e isso acaba nos lembrando até as famosas baladinhas bregas da época ou as canções estilo soft-rock, mas aí é outra história e ainda com uma tradicional recitado nas canções "Amor, eu gostaria de saber se foi mesmo você que mandou me avisar porque se for verdade..." e o refrão segue sendo entoado até acabar a música; e logo o final é com Esquecido, outra polca, que carrega uma das tantas histórias de amor que falam sobre uma carta que escrevem sem dar motivos e acaba se confundindo com o que estava escrito.
Passados os 38 anos do lançamento do disco, ainda se pode perceber que muito do sertanejo caipira que ouvimos no rádio AM (ainda existe) e nas rádios FMs em pleno amanhecer de domingo merecem e muito ser valorizados por quem cresceu ouvindo, como os nossos pais e nossos avós e compreender que ainda têm um pouco de sertanejo du bão para apreciar e curtir. E sobre os Gargantas de Ouro, podem ficar tranquilos que o que eles fizeram na música sertaneja, a voz e o estilo de José Rico, jamais haverá algo semelhante porque depois de mais de 45 anos dedicados ao sertanejo enquanto José Rico esteve vivo, ainda há um pouco de importância e do legado deles na nossa música sertaneja e na música popular brasileira que vai ficar imortalizado pra sempre na história.
Set do disco:
1 - Estrada da Vida (José Rico)
2 - Bebida Não Cura Paixão (José Rico/Christovam Rei)
3 - Meu Sofrimento (José Rico)
4 - Destino Cruel (José Rico/Sargento Juarez Miranda)
5 - Sentimento Sertanejo (José Béttio/José Fortuna)
6 - Adeus (José Rico/Christovam Rei)
7 - Migalhas de Amor (José Rico/Diná)
8 - Doce Ilusão (José Rico)
9 - Conselho (José Rico/Cancioneiro)
10 - Ciumento  (José Rico/Sargento Juarez Miranda)
11 - Solidão (José Rico/Christovam Rei)
12 - Esquecido (José Rico/Praense)



Comentários

Mais vistos no blog