Um disco indispensável: Tim Maia - Tim Maia (Polydor/Phonogram, 1971)

No ano de 1970, Tim Maia era o nome da vez: com sucessos de seu primeiro LP em 10 entre 10 rádios do Brasil, dentre eles Primavera (Vai Chuva), Coroné Antonio Bento, Você Fingiu, Eu Amo Você e Azul da Cor do Mar reinavam soberanamente nas rádios e o seu disco até desbancou nas paradas um certo Roberto Carlos, o maior vendedor de discos e rendendo um disco de ouro para ele, o primeiro de muitos que estamparia em sua futura sede da Seroma Produções, fundada anos depois e que depois virou Vitória Régia. O seu show no Teatro da Praia, com a presença do grupo Os Diagonais era o mais assistido e o público variava de crianças a idosos que caíram no embalo daquele sujeito gorducho com black power e tocando vários instrumentos, um verdadeiro multiinstrumentista talentoso autodidata que sabia bem o que queria para o seu som, daí o problema que viria a ser exigente em todos os seus materiais com o passar dos anos e os conflitos com músicos, técnicos de som e produtores musicais dentro dos estúdios, na qual chegava a rolar até arremessos de pedestais de microfones e partir pra porrada caso algum arranjador mude a proposta das canções, como aconteceu na época de seu álbum Tim Maia Disco Club (1978) e entre outras tantas vezes, mais tarde. Porém, era o ano de 1971 e o público esperava mais daquele suingue de Tim que ele trouxe dos Estados Unidos e que demorou  para divulgar o som de Otis Redding, Stevie Wonder, Marvin Gaye e James Brown até lançar o seu 1º LP, canções que seguissem no agrado do público e ele conseguiu fazer um sucessor impressionante mesmo: com um super time de músicos ouvindo as dicas do Síndico para que o som saia do jeito que ele gosta, os músicos mais jovens naquele time que participou das gravações eram Paulinho Guitarra, com apenas 16 anos e Hyldon, com 17 anos e fazendo guitarra base estava presenciando mais uma gravação histórica e que seriam influenciados por ele também: Paulinho viria a ser guitarrista da banda de Tim e parceiro do próprio, além de ter trabalhado mais tarde com Ed Motta, sobrinho de Tim e outro influenciado pelo trabalho do ex-Tião Marmita que viria a ser uma das maiores vozes da Música Popular Brasileira e o pioneiro na música negra por aqui no País Tropical.
O sorriso de Tim nos anos 90: cantou, fez muita gente cair no embalo
de suas canções e ainda é o maior nome da MPB, 17 anos
após a sua trágica morte e com um legado importante na black music.
Assim como no primeiro disco, a faixa de abertura é um soul-baião, falando sobre A Festa do Santo Reis, com direito a acordeon e uma mistura de James Brown com Luiz Gonzaga e anuncia que "eles vem tocando sanfona e violão, os pandeiros de fita carrego sempre na mão" e segue a festa; o tema festivo Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) carrega uma forma simples de levantar a moral e uma das mais conhecidas canções do tijucano, nunca faltou em seu repertório e seguiu cantando até morrer em 1998; o lado religioso e o culto dos nordestinos pelos santos acaba ganhando vez em Salve Nossa Senhora, de Carlos Imperial e Eduardo Araújo; se trabalhar no pesado é muito sofrível, assim como receber pouco pelo que plant e colhe, porém você pode seguir batalhando e dizer: Um Dia Eu Chego Lá, um soul bem pra cima; em 1969, Roberto gravou de Tim Maia uma música que Roberto pedia, cheia de funk e swing e essa era Não Vou Ficar, que na versão de Tim havia os mesmos arranjos, o mesmo balanço e que ainda ficou eternizada nas vozes de Paula Toller, pelo grupo Kid Abelha (1991) e com Ivete Sangalo em dueto com Samuel Rosa (2007); o lado intérprete  em inglês ainda segue em Broken Heart, mostrando ainda que ainda sobra um pouco das lições de música que aprendeu nos Estados Unidos enquanto morou por lá no comecinho dos anos 60; das canções que o Síndico já emprestou para outros emplacarem, Você, antes gravada por Eduardo Araújo em seu disco A Onda É Boogaloo (1968), o tijucano recupera esta pérola e acaba fazendo uma balada bem soul; em Preciso Aprender a Ser Só, um standard da bossa nova composta pelos irmãos Paulo Sérgio e Marcos Valle, apenas órgão e cordas deixam a música soar levíssima; em I Don't Know What to Do With Myself, as moças do coro cantam em português enquanto Tim segue berrando a todo volume em um fluente inglês numa canção feita em parceria com Hyldon; o romantismo de Tim ainda segue em É Por Você Que Eu Vivo, com uma suavidade que se converte em peso com as viradas de bateria; um jingle sobre a Indústria Brasileira de Cacau falando sobre chocolate e que no disco vira Meu País, uma letra que acaba dando um estilo mais nostálgico, como se ele estivesse lembrando dos Estados Unidos e com o que aprendeu por lá; e como no primeiro disco, ele encerra cantando em inglês, na faixa I Don't Care, que consegue fazer um final triunfante mesmo e provando que não se importava com o que falavam sobre cantar em inglês.
Set do disco:
1 - A Festa do Santo Reis (Márcio Leonardo)
2 - Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) (Tim Maia)
3 - Salve Nossa Senhora (Eduardo Araújo/Carlos Imperial)
4 - Um Dia Eu Chego Lá (Tim Maia)
5 - Não Vou Ficar (Tim Maia)
6 - Broken Heart (Tim Maia) 
7 - Você (Tim Maia)
8 - Preciso Aprender A Ser Só (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle)
9 - I Don't Know What to Do With Myself (Tim Maia/Hyldon)
10 - É Por Você Que Eu Vivo (Tim Maia/Rosa Maria)
11 - Meu País (Tim Maia)
12 - I Don't Care (Tim Maia)

Comentários

Mais vistos no blog