Um disco indispensável: Mamonas Assassinas - Mamonas Assassinas (EMI Music, 1995)

Há exatos 19 anos, no dia 2 de março de 1996, um avião após uma tentativa de arremetida caiu bem na região da Serra da Cantareira no estado de São Paulo e nele, cinco pessoas que fizeram em menos de um ano, o Brasil rir e cair nas graças deles: sim, os Mamonas Assassinas e mais os membros da equipe e os pilotos do avião tiveram um final trágico e marcante para os fãs do quinteto de Guarulhos sem ter que reclamar do conetúdo visto como explícito para o público naquela época de Plano Real e de tetracampeonato da Seleção Brasileira. O grupo surgiu originalmente  em março de 1989 e seus principais fundadores eram  o baterista Sérgio Reoli e o guitarrista Bento Hinoto, que se conheceram por meio de Maurício, irmão do guitarrista e colega de trabalho do baterista na Olivetti (aquelas lendárias máquinas de escrever) e começaram a ensaiar na casa da família Reoli, que era uma mistura dos sobrenomes Reis e Oliveira. Sérgio e Bento tentavam convidar Samuel, irmão de Sérgio a ensaiar com eles, mas preferiu ficar desenhando aviões, mas ao ver eles tocarem, se integrou ao grupo tocando baixo e decidiram formar de vez o trio Ponte Aérea (o fato deles morarem perto do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos), especialista em covers de bandas nacionais como Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho dentre outras bandas. Em um show de 1990, o Utopia estava fazendo um show numa boa, interpretando as tais covers quando do nada pedem a música Sweet Child O'Mine da banda americana Guns N' Roses e os três, sem saberem a letra, perguntaram se alguem sabia cantá-la e assim entra em ação um jovem espectador chamado Alecssander Alves, que viria a se chamar Dinho e ali encontraram um vocalista, de Ponte Aérea pra Utopia mudou muita coisa e dali viria o quinto integrante, o vocalista de apoio e tecladista Júlio Rasec e o quinteto se definiu e permaneceu até a tragédia que separou eles do resto do Brasil. Em 1991 tentaram gravar um LP como Utopia, que vendeu apenas menos de cem cópias, e isso tudo com a ajuda de Mirella Zacanini, namorada de Dinho que trabalhou na produção e filha de Savério Zacanini, que já apresentou o várias grupo em seu programa televisivo Sábado Show, na TV Record e ainda se decepcionaram com a tentativa fracassada de um show no estádio Pascoal Thomeo, o Thomeozão, na própria cidade deles e que abrigaria um show histórico pra banda e pra cidade de Guarulhos em janeiro de 1996 que emocionou muitos fãs quando Dinho relembra do dia em que o pessoal do Thomeozão disse 'não' a um grupo ainda desconhecido que tinha um futuro brilhante.
O quinteto de Guarulhos em uma de suas apresentações na Rede Globo, no
programa Domingão do Faustão em 1995: o ano era deles mesmo.
Em 1994, o grupo não desistiu e seguiu tentando batalhar pelo sucesso e é quando num comício, Dinho apresenta a música Robocop Gay em um showmício no interior paulista totalmente vestido de mulher, com uma peruca loira mais um vestido e pantufas de coelhinho e esse figurino marcaria os shows da banda toda vez que ele cantava a música e trabalharam em uma fita com esta primeira música citada, mais Pelados em Santos e Jumento Celestino, mandaram para 3 gravadoras e dentre elas, a EMI Music (hoje pertence à Universal Music) que havia rejeitado no início, mas Rafael Ramos, filho do então diretor artístico do selo, João Augusto e também baterista da banda Baba Cósmica.E após insistir tanto, João Augusto assina com os Mamonas e partem para as gravações em São Paulo com Rick Bonadio, produtor e o "sexto mamona" que foi apelidado por Dinho de Creuzebek e mixado nos Estados Unidos por Jerry Naspier, que já trabalhou com Ozzy Osbourne e o disco foi lançado oficialmente em 23 de junho de 1995, vendendo mais de 2 milhões de cópias até hoje, perdendo apenas em números de vendas para a rainha dos baixinhos Xuxa, os pagodeiros do Só Pra Contrariar, RPM e o Padre Marcelo Rossi. O resto da história todo mundo sabe: aparições nos programas televisivos de Faustão, Gugu Liberato, Xuxa, Jô Soares e um fato impressonante: por onde os Mamonas Assassinas passavam, a audiência sempre subia e isso aumentou mais ainda a popularidade do grupo na mídia e os clipes de Vira-Vira e Pelados em Santos eram exibidos sem parar na MTV brasileira e seguiram sendo até antes de virarem emissora de TV por assinatura.
Júlio Rasec, Samuel Reoli, Dinho, Sérgio Reoli e Bento Hinoto:
um quinteto que marcou a infância e adolescência de muita gente
no ano emblemático de 1995. Reprodução/EMI
A faixa que abre o disco, 1406, é uma brincadeira à parte com o rap-rock e também com o serviço de televendas do Grupo Imagem cujo o número era  011-1406 e os tantos produtos que eram exibidos como Amberdiet, Masterline e as facas Ginsu, reparem também na introdução estilo de chamada pré-transmissão esportiva da Globo "ao top de quatro Já Vai... Já, Já, Já, Já, Já Vai!" e a introdução de baixo de Samuel Reoli; a sátira feita em Vira-Vira é com a música portuguesa e com a canção Arrebita, do brasileiro de origem portuguesa Roberto Leal, poderia ter sido uma crítica pesada com os portugueses mas acabou sendo uma das melhores brincadeiras feitas com os nossos descendentes; em 1991, Dinho compou o que viria a ser o maior hit dos Mamonas Assassinas, Pelados em Santos, com solo de trompete estilo mariachi e uma batida pesada, além de uma letra supercriativa que acabou na boca do povão; e quem pensou que as citações musicais não param, estão errados: a faixa Chopis Centis traz o riff do clássico Should I Stay or Should I Go?, do grupo punk britânico The Clash; já em Jumento Celestino, a mistura de forró com rock que os Raimundos já faziam e no estilo mais mamona, com acordeon, triângulo, além de um final bem hard-rock; a vinheta Sabão Crá-Crá é um lendário cântico popularizado nas escolas e com um estilo de valsa, só que mais acústica e crua (sem base, só violão e as vozes dos Mamonas); a brincadeira com o nome do filme Uma Linda Mulher, Júlio Rasec fazendo uma imitação de Belchior e uma base que nos lembra Fake Plastic Trees e também Creep, ambas da banda Radiohead viraram Uma Arlinda Mulher com um final cômico: Bonadio usava o fade, que é o que baixa a música no final e começam a sacanear com o efeito; em Cabeça de Bagre II, Dinho vai numa sátira que mistura Cabeça Dinossauro dos Titãs e o guitarrista Bento usa alguns temas como Baby Elephant Walk (Passo do Elefantinho), do orquestrador Henry Mancini e a risada do personagem de desenho animado Pica-Pau; já em Mundo Animal, a parada da vez é irônica e o reino animal e seus representantes bagunçado por Dinho com direito a riffs no estilo heavy metal; o estilo sacana em Robocop Gay foi rejeitado pela comunidade gay no Brasil e já foi tachado de ridículo pela crítica especializada, mas na faixa Dinho usa como o nome, uma homenagem ao Capitão Gay, personagem de Jô Soares no humorístico Viva o Gordo e o personagem de ficção científica Robocop, além dos vocais terem a citação de Doce Doce Amor, de Jerry Adriani; e em Bois Don't Cry, o título sacaneia a canção Boys Don't Cry, do grupo The Cure e aqui a pegada brega reina, misturando Waldick Soriano com o sertanejo daqueles tempos, além da introdução de Tom Sawyer, da banda Rush mais a canção The Mirror, do Dream Theater e o final conta com uma citação do filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977) do diretor Steven Spielberg; o metal ganha sua sátira por aqui também, em Débil Metal, Dinho acaba misturando Phil Anselmo e o brasileiro Max Cavalera na voz e os acordes de guitarra soam como se fosse mesmo heavy metal com uma letra em inglês meio sem sentido; o momento desplugado reina de vez, só que agora com Sábado de Sol, feita pelos integrantes do Baba Cósmica, Pedro Knoedt, Felipe Knoblich e Rafael Ramos e que ajudou no sucesso da banda antes de assinar com a gravadora do pai; o pagode de Raça Negra e Negritude Junior aqui ganha vez também, pra encerrar o disco, a faixa Lá Vem o Alemão mostra Dinho imitando Luiz Carlos (Raça Negra) e Netinho de Paula (Negritude Junior), além de ter contado com músicos do Negritude Junior e Art Popular na música e assim encerra os 39 minutos de puro sarcasmo e ironia musical do quinteto de Guarulhos.
O disco marcou uma geração que viveu os anos 90, usava computadores que só funcionavam plugados em casa ou no escritório, ouviam CDs pelo discman, o primo mais moderno do walkman e assistia clipes muito inesquecíveis pela MTV, e apesar de quase 20 anos passados da morte, os Mamonas Assassinas seguem sendo redescobertos por jovens que nasceram sabendo do que foi o sucesso deles, os que nasceram antes do acidente testemunharam o verdadeiro boom que foi o sucesso deles e que não sai da cabeça de muita gente, mesmo depois de 20 anos de lançamento do único disco
Set do disco:
1 - 1406 (Dinho/Júlio Rasec)
2 - Vira-Vira (Dinho/Júlio Rasec)
3 - Pelados em Santos (Dinho)
4 - Chopis Centis (Dinho/Júlio Rasec)
5 - Jumento Celestino (Bento Hinoto)
6 - Sabão Crá-Crá (tradicional, adaptação de Dinho)
7 - Uma Arlinda Mulher (Dinho/Bento Hinoto)
8 - Cabeça de Bagre II (Dinho/Júlio Rasec/Samuel Reoli/Bento Hinoto/Sérgio Reoli)
9 - Mundo Animal (Dinho)
10 - Robocop Gay (Dinho/Júlio Rasec)
11 - Bois Don't Cry (Dinho)
12 - Débil Metal (Dinho/Júlio Rasec/Samuel Reoli/Bento Hinoto/Sérgio Reoli)
13 - Sábado de Sol (Pedro Knoedt/Felipe Knoblich/Rafael Ramos)
14 - Lá Vem o Alemão (Dinho/Júlio Rasec)



Comentários

Mais vistos no blog