Um disco indispensável: Unknown Pleasures - Joy Division (Factory, 1979)

No final dos anos 70, a Inglaterra começava uma nova batalha: contra as drogas e o desemprego no país e isso quase os levou à uma grande crise que poderia mudar o rumo da situação na Inglaterra, e no cargo de primeiro-ministro quem comandava era uma mulher. Sim, uma mulher e seu nome era Margaret Thatcher, conhecida também como A Dama de Ferro, que colocou ordem na casa ao longo dos anos como primeira-ministra do Reino Unido e na tentativa de sobreviverem, muitos jovens tentaram conseguir empregos e subirem na vida. Enquanto isso na cena musical britânica, bandas se estruturavam para conseguirem o sucesso ou evitá-lo, mantendo-se mais populares com o passar dos tempos e valorizadas por uma geração que descobre muito do que foi feito em outros tempos quando muitos fãs de hoje e uma destas bandas tão cultuadas pela geração mais recente é a banda de pós-punk Joy Division, surgida em 1976 nos arredores de Manchester e tendo como integrantes na primeira formação o vocalista e guitarrista Ian Curtis (1956-1980) mais o guitarrista e tecladista Bernard Sumner, o baixista Peter Hook e o baterista Steve Brotherdale e com o nome de Stiff Kittens, sugerido pelo empresário da banda The Buzzcocks, Richard Boon, mas não agradou a banda (e nunca usaram o nome nos shows) e então tentaram usar outro nome, baseado na canção Warszawa, de David Bowie e dali surgiu Warsaw, pelo qual a banda já fez alguns registros nesse nome, porém a banda punk Warsaw Pakt, de Londres lançou um disco em novembro de 1977 e através de um livro chamado The House Of Dolls, escrito pelo polonês Yehiel De-Nur em 1956 onde "Joy Division" era um prostíbulo cujo nome teve origem nos campos de concentração nazistas e acabaria sendo lá aonde as prisioneiras judias eram oferecidas sexualmente aos oficiais nazistas da II Guerra Mundial: através dessa história, é que surgiu o nome Joy Division, uma das bandas da cena pós-punk britânica e também a que marcaria a virada da década e durou dois discos, Unknown Pleasures (1979) e Closer (1980), lançado um mês depois que Ian Curtis se enforcou no dia 18 de maio de 1980, antes de o grupo partir em turnê nos Estados Unidos. Após a morte de Curtis, os três integrantes da banda, Peter Hook, Bernard Sumner e o baterista Stephen Morris se juntaram a namorada do baterista, a tecladista Gillian Gilbert e formaram o New Order aonde emplacariam vários sucessos ao longo dos anos 80 e representando bem a história do Joy Division com o passar dos anos.
Peter Hook, Ian Curtis (1956-1980), Stephen Morris e Bernard Sumner:
o quarteto de Manchester que mesmo com pouco tempo de sucesso,
dois EPs e dois discos, são cultuados hoje por
muita gente que valoriza o legado doJoy Division.
Com influências de Velvet Underground, The Doors, Sex Pistols, Kraftwerk, Iggy Pop e de David Bowie, o que leva isso a um excelente conjunto de influências que marcariam o som do Joy Division aonde a guitarra de Sumner complementava mais o principal ponto forte na sonoridade: o som forte do baixo de Peter Hook além da bateria de Stephen Morris que parecia circular dentro de uma cratera e a voz de Ian tinha um timbre vibrante, que lembrasse um pouco Jim Morrison - um dos ídolos de Ian Curtis e referência principal para a poesia nas canções do grupo, com palavras que representavam a dor, a solidão, angústia e muita melancolia é o essencial das canções do Joy Division e isso já é de se notar nas dez faixas, com batidas sincronizantes e fortes levadas de baixo, complementando os riffs de guitarra, sintetizadores, teclados e Ian cantando sobre solidão e melancolia. Gravado no Strawberry Studios em Stockport num período entre meados de 1978 e o comecinho de 1979, seguido das sessões do EP da banda, An Ideal For Living, lançado em 1978 e o primeiro com o nome Joy Division. Unknown Pleasures foi lançado no dia 15 de junho de 1979 com repercussão imensa, apesar de não saírem da 17ª posição nas listas de discos mais vendidos e com uma criatividade até na capa, uma ideia de Bernard Sumner e concebida também por toda a banda mais Peter Savile e Chris Mathan de colocar um gráfico no qual mostrava um sinal de rádio captado por um radiotelescópio do pulsar PSR B1919+21, que era a primeira estrela de nêutrons e a mesma figura da capa aparece nos rótulos do vinil. Na contracapa do LP, uma frase "This is not a concept, this is an enigma" e na ficha técnica, não constava qual lado era o A e o lado B do disco, mas depois, já com o formato de CD, se percebeu que a faixa Disorder era a primeira do disco, e falando na primeira música do disco, com uma base que nos remete um pouco ao que seria quase electropop, e já mostrando  uma pegada vibrante cheia de acordes de notas agudas do baixo de Hook; em Day of the Lords, a levada vai diminuindo e a voz de Curtis acaba dando um tom a mais e ainda pergunta "Where will it in the end?" (Onde isso vai parar?) como se estivesse duvidando de coisas que o deixam atormentado; em Candidate, a música começa quando sobe o tom aos 10 segundos e numa levada tipo balada, o bumbo numa sequência de 4x4 mais acelerada em algumas partes e falando sobre sangue nos dedos e tentar chegar a tal pessoa na canção; já em Insight, Ian começa uma filosofia nos versos "Guess the dream always end. They don't rise up, just descend." (Acho que os sonhos sempre acabam. Eles não crescem, apenas declinam) e numa levada que nos faz viajar completamente na música; já em New Dawn Fades, as mudanças que acontecem no mundo são retratadas no estilo Curtis de cantar e de escrever, o detalhe principal também fica para os acordes de baixo de Hook; o tema She's Lost Control conta com uma batida proto-eletrônica e um baixo bem sincronizante, além da voz de Ian Curtis, especialista também na sua dançinha epiléptica, que era o ponto forte dos shows da banda; em Shadowplay, além da sonoridade vibrante à la Kraftwerk e de uma linha de baixo indescritível, Ian fala sobre como é a vida nas ruas quando poucos dormem à noite, num estilo que lembra até um pouco a poesia  gótica de Lord Byron (cês devem ter faltado aulas de Literatura Brasileira pra saberem sobre o "mal do século" ou a "poesia byroniana" na época do século 19); já em Wilderness, nada que soe parecido com as outras faixas - exceto a levada suave e um riff de guitarra bem punk rock e a batida lenta estilo 4x4; enquanto em Interzone, o lance é mais acelerado e a letra também, apesar de parecer uma daquelas canções com mais de 120 batidas por minuto e num estilo punk mesmo; o final fica mesmo por conta de I Remember Nothing, a mais longa do disco, com quase 5:40 de duração, com versos profundos sobre sermos estranhos e estarmos por muito tempo distantes, e Ian cantando quase num tom lentíssimo, encerrando com a base Hook-Sumner-Morris fazendo um final apoteótico com estilo.
Após a morte de Ian Curtis, o grupo Joy Division conseguiu influenciar muita gente ao longo dos anos, e aqui no Brasil o seu maior representante foi Renato Russo, vocalista do grupo Legião Urbana e que teve influência constante de Curtis nas letras e na forma de fazer música. O resultado após a escuta desse disco é uma impressão diferente de tudo o que você já ouviu de gente falando a respeito de Joy Division e que também acabou sendo inspiração não só para o New Order, mas também acabou influenciando Thom Yorke (Radiohead), Trent Reznor (Nine Inch Nails) dentre outros músicos. E há quem acredite que Joy Division é só aquele papo careta de "Love will tear us apart again", ou traduzindo: que o amor vai nos separar novamente, mas aí já é outra história!
Set do disco:
1 - Disorder (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
2 - Day of the Lords (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
3 - Candidate (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
4 - Insight (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
5 - New Dawn Fades (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
6 - She's Lost Control (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
7 - Shadowplay (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
8 - Wilderness (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
9 - Interzone (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)
10 - I Remember Nothing (Ian Curtis/Peter Hook/Bernard Sumner/Stephen Morris)


Comentários

Mais vistos no blog