Um disco indispensável: Sou/Nós - Marcelo Camelo (Zé Pereira/Sony BMG, 2008)

Ok, muita gente deve pensar que estou babando ovo demais quando falo que Los Hermanos é UMA das melhores bandas de rock nacional da atualidade, mas aí já é um papo que se repete pelas bocas de muita gente que acompanha eles desde os álbuns que foram lançados após o primeiro (1999) e foram fãs fiéis do grupo até a separação, anunciada em 2008. Nesse tempo o vocalista e (quase) guru do novo rock nacional nos anos de hoje, Marcelo Camelo, já preparava seu projeto solo desde 2007 quando a banda estava prestes a encerrar suas atividades (declararam entrar em hibernação para se dedicarem a seus projetos paralelos) e ainda comemorar o sucesso no show gravado na Fundição Progresso Lapa, no Rio de Janeiro e mais tarde, anunciado a pausa do grupo, sendo que ali foi o canto do cisne da banda. Para entender melhor Camelo, o seu disco de estreia Sou, também conhecido como Nós e que teve grande repercussão nacional, apesar de sempre o vincularem mais pelo fato de ter sido o autor da incansável e sempre lembrada Anna Julia - primeiro sucesso da banda -, embora tenha se superado pouco para fazer uma boa estreia solo e apresentar um pouco do seu lado "Bloco do Eu Sozinho", individual e sem tentar decepcionar um público sempre fiel ao seu trabalho e que viram o sucesso crescer repentinamente de 2001 até o momento da separação do grupo. Neste disco que marca sua estreia como solista, Camelo acabou trazendo nomes já bem conhecidos em áreas diferentes, como o lendário acordeonista Dominguinhos (1941-2013), a pianista Clara Sverner, o músico de vários projetos e velho conhecido do hermano, Domenico Lancellotti, o grupo paulista Hurtmold e a então novata e jovem Mallu Magalhães, que viria a ser sua companheira não só na música, e que com ela teve um projeto que viria a ser recentemente a Banda do Mar, que mal estreou em 2014 e já lançou um disco.
Ao lado de sua amada Mallu Magalhães; uma parceria que
foi além da música e depois virou um projeto recente, a
Banda do Mar, tal projeto tão aguardado pelos fãs desde 2009
Mas aqui o papo da vez é sobre Sou/Nós, cujo título é baseado em um poema visual de Rodrigo Linares, amigo do cantor e ainda foi lançado na internet através do site Sonora, portal de músicas do Terra e com uma página ainda toda especial para o disco, com direito a release publicada por seu irmão Thiago Camelo. O disco começa com uma atmosfera bem rock, na faixa Téo e a Gaivota, já demonstrando um pouco de suavidade também, algo bem bossa nova e com uma poesia impressionante; o mesmo se pode dizer de Tudo Passa, que ainda conta com citações de Fotografia "eu, você...", clássico da bossa nova composto por Tom Jobim e imortalizado pela frase "E até esse pra sempre, tudo passa..."; o violão de nylon (não muito usado antes na banda), que é muito onipresente para alguns artistas da MPB, em Passeando, Camelo faz belos acordes no violão e proclamando "e lá vai Deus sem sequer saber de nós, saibamos pois estamos sós" com aquela voz suave; enquanto Doce Solidão, o hermano ainda poetiza e proclama algo que lembre Tribalistas "posso estar só, mas sou de todo mundo" e com uma levada bem latina; o momento "duo amoroso" fica mesmo é para Janta, onde a então novata Mallu dá sua voz e ainda canta em inglês para combinar com a de Camelo, selando de vez o amor dos dois em forma de canção; uma pegada que nos remete a soft-rock com um tecladinho bem pop em Mais Tarde, com uma batida bem bolero, acrescentado de atmosfera mais pop e suavizante, que acabou tendo um ótimo resultado e sem deixar passar batido de vez; a levada de música afro com marchinha suingada em Menina Bordada, acaba dando um ar mais balançante que chega a lembrar um pouco o axé da Bahia tendo o grupo Hurtmold como base; o acordeom de Dominguinhos preenche um pouco da base voz-e-violão e completa Liberdade e com um arranjo maravilhoso, embora só Camelo e Dominguinhos estejam tocando na música; o piano em Saudade reina soberanamente como uma melodia clássica ou tema-ambiente de algum filme que combine com uma cena triste ou de despedida; um clima bem calmo e que combine com um ambiente chuvoso é o que forma a canção Santa Chuva, com uma belíssima orquestração completando a música; o bairro Copacabana ganha sua definição pelo hermano, com versos cinematográficos "o Shopping da Siqueira é um colosso e as gordinhas um alvoroço" numa levada clássica de marchinha carnavalesca; em Vida Doce, o compositor começa aos poucos concluindo o que fez ao longo do disco, com uma mistura de som do Caribe com bossa nova e rock mais leve (o de sempre) e com ruídos de ambiente de rua a partir de 3:28; para o final, um pouco de Clara Sverner, pianista de nome no Brasil, colaborar com Camelo nas versões de Saudade (já com letra) e Passeando, como bônus do disco e que encerra de vez este trabalho maravilhoso que marca o início da carreira solo de um dos mais brilhantes e importantes compositores do nosso rock nacional e da nova geração da MPB.
Set do disco:
1 - Téo e a Gaivota (Marcelo Camelo)
2 - Tudo Passa (Marcelo Camelo)
3 - Passeando (Marcelo Camelo)
4 - Doce Solidão (Marcelo Camelo)
5 - Janta (Marcelo Camelo) - com Mallu Magalhães
6 - Mais Tarde (Marcelo Camelo)
7 - Menina Bordada (Marcelo Camelo)
8 - Liberdade (Marcelo Camelo) - com Dominguinhos
9 - Santa Chuva (Marcelo Camelo)
10 - Saudade (Marcelo Camelo)
11 - Copacabana (Marcelo Camelo)
12 - Vida Doce (Marcelo Camelo)
13 - Saudade (com letra) (Marcelo Camelo) - com Clara Sverner
14 - Passeando (instrumental) (Marcelo Camelo) - com Clara Sverner

*nota final: a banda Hurtmold acompanha Camelo nas faixas 1, 2, 4, 6, 7 e 12























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