Um disco indispensável: Legião Urbana - Legião Urbana (EMI-Odeon, 1985)

Herbert Vianna, no palco do primeiro Rock in Rio, mandou um salve para as bandas que não estiveram no festival "Essa próxima música vai para as bandas que não puderam participar do festival, como Magazine, Ultraje a Rigor, Lobão e os Ronaldos, Titãs, Ultraje a Rigor, Legião Urbana..." e a banda Legião Urbana começou a ser lembrada por muitos como uma das tantas bandas que passaram pelo palco do lendário Circo Voador no Rio de Janeiro, mas que teve uma longa batalha para chegar até o lugar tão merecido que é na estante de CDs, LPs e nas playlists de muitos fãs do Brasil e mundo afora. Mas, quem já viu o filme Somos Tão Jovens (2013) sabe bem como foi o começo da banda Legião Urbana, quer um resuminho rápido para a gente não perder tempo demais? No ano de 1978, um jovem chamado Renato Manfredini Jr, conhecido pelos fãs como Renato Russo descobriu por meio de uma prima, uma fita k7 com bandas como Sex Pistols, MC5 e Ramones e dali surgiu a vontade de berrar na cara da ditadura militar por mais liberdade de expressão e todos aqueles dramas da adolescência, foi quando ele formou a banda Aborto Elétrico com André Pretorius, um sul-africano que foi servir na Alemanha bem no comecinho dos anos 80 - morreu oito anos depois - e Felipe "Fê Lemos", que hoje assume as baquetas do Capital Inicial, perambulavam pela cena brasiliense e causavam na Capital Federal (também conhecida como Brasília). Pretórius segue para a carreira militar em terras germânicas e Lemos briga com Russo, embora a banda tivesse o irmão de Fê, Flávio substituindo André. A banda acaba se desfazendo de novo e Renato se converte como Trovador Solitário, uma espécie de Dylan mais deprê e punk. Porém, em 1981, Renato acaba fundando uma banda nova, com as mesmas propostas do Aborto Elétrico, e desta vez com uma linguagem que revolucionaria o cenário roqueiro no Brasil, com vaivéns de integrantes, a formação definitiva só aconteceu em 1982 quando entra Dado Villa-Lobos na guitarra e Marcelo Bonfá na bateria, aí é que Legião Urbana começa a surgir aos poucos, fazendo shows e após o irmão de Herbert, Hermano Vianna fazer uma reportagem com a banda para uma revista muito conhecida do RJ, chamada Pipoca Moderna (depois virou Mixtura Moderna) e dali iriam tomar um rumo para a Cidade Maravilhosa, lar de bandas como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens e cantores como Leo Jaime, Celso Blues Boy e Eduardo Dusek (não tão rock and roll e bem mais carnavalesco e com referências aos anos 30 e 40) e conseguirem um lugar ao sol assim como eles.
O trio (já sem Negrete) à época do álbum "O Descobrimento do Brasil",
de 1993. Renato Rocha saiu da banda em 1989 por algumas desavenças.
Chegando no Rio de Janeiro em fins de 1983 para 1984, Renato, Dado e Bonfá acabam começando a marcar território para que pudessem seguir a epopeia legionária, agora com um baixista cujo o nome era Renato Rocha, também conhecido com Negrete e Billy (hoje o cara vive como morador de rua, sabia?!) e depois de muita estrada a percorrer, assinam um contrato com a gravadora EMI e começam a gravar seu primeiro LP em meados de 1984 e lançado bem no início do ano seguinte com grandes sucessos e passados 30 anos, esse disco segue marcando fãs de Legião Urbana e do estilo poético de Renato Russo, que ainda é um dos mais inesquecíveis do rock brasileiro. A faixa Será, que abre o disco, mostrava uma voz estranha que chegava a ser parecida com a de Jerry Adriani e já se tinha noção do que se tratava: uma canção sobre desamores e num estilo bem a cara dos anos 80; já em A Dança, Dado tenta não passar batido na guitarra e faz um solo incrível, e também mostra uma posição mais séria do sexismo dos homens em relação às mulheres; a juventude e seus problemas seriam o tema principal a abordar em Petróleo do Futuro, na qual Renato proclamava que "sou brasileiro errado/vivendo em separado/contando os vencidos/de todos os lados" num tom pra baixo e com aquele vozeirão estilo cantor de ópera melódico; o amor e seus encontros ou desen da vida acontecem em Ainda É Cedo, com uma introdução que lembre um pouco o rock melódico da época e pra baixo que se fazia na cena inglesa daqueles tempos (Jesus and Mary Chain, Smiths, Echo and The Bunnymen...) e que acabou sendo um dos melhores temas deste disco, sem o perfeccionismo muito ousado e redundante do colorido new-wave; em Perdidos no Espaço, o grupo vai num momento delicado sobre a confusão das drogas e também vai na onda da ficção científica "...e era como se jogassem Space Invaders"; já em Geração Coca-Cola, o grupo vai com tudo sobre os 20 anos de ditadura militar (foi composta ainda no Aborto Elétrico) e se revolta com todos os anos de silêncio e a falta de total liberdade de expressão e uma das melhores canções de protesto feitas no rock nacional; o estilo que leva o nome da faixa da faixa O Reggae, com uma levada jamaicana tem um quê de ska, e fala sobre a decadência do sistema escolar; em Baader-Meinhof Blues, nome extraído de uma organização terrorista alemã dos anos 70 (Baader-Meinhof) e com uma levada punk setentista com uma riff bem cru e apoteótico; com um tema bem mais polêmico e pouco abortado até então, Soldados mostrava um lado mais gay pela sensibilidade da letra e com um ritmo bem gothic rock daquela época com uma mistura de power-ballads do pop daquela época; em Teorema, o músico tenta ser mais amoroso e sincero, mas tenta fazer com que tal amor não o deixe e conta com um verso que voltaria a aparecer, com algumas mudanças no disco As Quatro Estações (1989) "parece energia, mas é só distorção" ganharia cara nova em Há Tempos; a faixa Por Enquanto encerra o disco com um ar mais melódico e com versos que nos tocam de vez, tanto nessa versão quase-balada do grupo, quanto na versão acústica de Cássia Eller (2001) que trouxe popularidade a música. O disco, nem preciso descrevê-lo, mas como disse Renato Russo, "esse disco é como um livro completo, simplesmente um clássico!". E haja alguém que discorde de Renato sobre parecer como um livro completo.
Set do disco:
1 - Será (Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá)
2 - A Dança (Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá/Renato Rocha)
3 - Petróleo do Futuro (Renato Russo/Dado Villa-Lobos)
4 - Ainda É Cedo (Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá/Ico Ouro Preto)
5 - Perdidos no Espaço (Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá)
6 - Geração Coca-Cola (Renato Russo)
7 - O Reggae (Renato Russo/Marcelo Bonfá)
8 - Baader-Meinhof Blues (Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá)
9 - Soldados (Renato Russo/Dado Villa-Lobos/Marcelo Bonfá)
10 - Teorema (Renato Russo/Marcelo Bonfá)
11 - Por Enquanto (Renato Russo)



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