Um disco indispensável: Weezer - Weezer (DGC Records, 1994)

Estamos no ano de 1994. A tecnologia ia evoluindo cada vez mais, a rede mundial de computadores iniciava sua dominação do mundo de forma cybernética conectando todos através da Internet, mas ainda pouco acessível para todos. Fora a tragédia que tirou a vida de Ayrton Senna precocemente, a alegria do brasileiro foi maior com o tetracampeonato meses depois. O rock perdia um ícone tragicamente aos 27 anos: Kurt Cobain, vocalista e guitarrista do conjunto musical Nirvana suicidou-se, morrendo também o grunge - com apenas poucas bandas fazendo sucesso, em especial o Pearl Jam e o Alice in Chains. Mas, ao mesmo tempo surgiam diversos grupos novos no cenário, o tímido salto do britpop inicialmente com o Blur através do clássico Parklife, e a estreia do Oasis em Definitely Maybe apresentando de vez os irmãos Gallagher ao mundo. No hip-hop, ainda tivemos o grande salto de Nas através do seu álbum de estreia Illmatic e os Beastie Boys mandavam ver em sua Ill Communication, um dos maiores lançamentos daquele ano. O rock industrial e sombrio dos Nine Inch Nails apavorava, mas mandava ver através de The Downward Spiral, que apresentou o hit Closer e seu videoclipe insano. O punk reaparecia de forma pop e adolescente com o Green Day com um disco que ficou conhecido como a magnum opus Dookie, dos sucessos Basket Case, When I Come Around e Longview com seus épicos clipes exibidos com frequência na MTV, quando a emissora ainda fornecia conteúdo puramente musical para os jovens mundo afora. Um gigante lançava uma nova série de discos e provava estar mais vivo, reaproximando-se de um público jovem - este era Johnny Cash, que tinha iniciado a saga American Recordings, com regravações de algumas canções de bandas como U2, Eagles, Soundgarden, Beck, o próprio Nine Inch Nails e até Beatles - ao todo foram 6 volumes. Tinha também uma banda nova surgindo no pedaço, com um nome que soava esttanho e fazia um som que cruzava entre o power pop e inclusive o rock alternativão - a banda em questão se chamava Weezer, surgida em fevereiro de 1992 pelo cabeça principal - o vocalista e guitarrista Rivers Cuomo, o baixista Matt Sharp mais o guitarrista Jason Cropper e o baterista Patrick Wilson, a sua primeira atuação foi durante um show de uma banda chamada Dogstar liderada por - quem diria hein!? - o grande ator Keanu Reeves - a reação foi impressionante, para uma banda recém-surgida no cenário, mas ainda demorou um pouco, embora o que a galera queria mesmo era o grunge - predominante ainda graças a bandas como Pearl Jam, Alice in Chains e o queridinho da juventude mundo afora: o Nirvana, que tinha lançado o clássico Nevermind e vendendo feito água o disco, catapultando o trio de Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl ao estrelismo definitivo. Já com uma demo gravada, a banda ainda seguia buscando um lugar ao sol até que, ainda em 1992, eles gravam a segunda fita demo chamada The Kitchen Tapes como uma tentativa de criar um burburinho no cenário de Los Angeles, mas conquistou alguns diretores de núcleo Artista & Repertório (A&R) de editoras discográficas importantes sedentas por bandas de rock alternativo, enquanto o Weezer atuava com a banda that dog - e, sorte grande foi o conjunto ter assinado com a DGC Records, um selo subsidiário da Geffen - que contava além do Nirvana em seu cast, os Guns N' Roses, o Sonic Youth e o renascido Aerosmith, em junho de 1993. Para produzirem seu primeiro trabalho discográfico, tiveram de escolher 15 canções para trabalharem durante um bom período de gravação no lendário Electric Lady Studios em New York, com a produção de Ric Ocasek - vocalista e guitarrista do The Cars - que foi escolhido pela banda pois a Geffen pressionou a banda para ter um produtor à frente deste serviço, e Ocasek sugeriu que a banda mudassem os captadores desde o pescoço até a ponte. Ainda nas gravações, Cropper deixou a banda e em seu lugar entrou um cara de 25 anos chamado Brian Bell que tinha passagem pela banda Carnival Art, e viram em Bell um talento para guitarrista e vocalista, enquanto Cuomo acabou regravando algumas guitarras de Cropper ainda.

Escolhidas as dez faixas das quinze, álbum pronto, agora era o momento de lançar e sair na estrada - o disco de estreia do Weezer foi lançado em 10 de maio de 1994 pela DGC Records e inicialmente sem nenhuma faixa para ser trabalhada. A capa traz os quatro integrantes em um fundo azul, e houve-se o uso do Photoshop (sim!!) pois Matt Sharp não ficou contente com a forma da cabeça ficou: o diretor de arte da Geffen trocou a cabeça com uma de outra fotografia e pronto. Para começarmos a falar do Blue Album do Weezer - ou também Álbum Azul, como ficou conhecido por muitos de nós, vamos pro faixa-a-faixa logo e temos de cara My Name is Jonas, marcado pela introdução com um violãozinho bonito e logo com uma barulheira da boa pra mostrar o estilo deles, a canção é sobre o irmão do vocalista, Leaves Cuomo e um acidente de carro no qual se envolveu, a companhia de seguros tentou estragar com tudo, e já tendo aqui um bom resultado da sonoridade, com direito a solo de gaita perto do final da canção; em seguida, Cuomo e sua turma ainda apresentam um punkzinho dos bons em No One Else, que traz um tom satírico do ponto de vista de um personagem superprotetor e ciumento com sua namorada, e é basicamente a primeira parte da faixa seguinte, notem o power chord da guitarra como ele faz uma diferença na sonoridade; na sequência, a banda faz uma continuação da história contada na música anterior em The World Has Turned And Left Me Here, agora, o personagem sexista e arrogante foi abandonado, e ele fica pensando nessa eterna paixão e refletindo sobre si mesmo em 4 minutos carregados de melodias que soam puramente a cara daqueles anos 90 obviamente; a próxima música é um dos grandes destaques da carreira do conjunto, estamos falando sobre Buddy Holly - na qual o eu-lírico da música vê um monte de rapazes entre a garota com quem ele está namorando e Rivers ainda faz o uso anacrônico de alguns termos do rap àquela época - destaco também o pré-refrão, onde Matt Sharp faz falsetes em partes como "woohoo" e no refrão fala sobre o eu-lírico parecer com o lendário ícone do rock 'n' roll dos anos 50 Buddy Holly (1936-1959) e a sua amada parecer com a atriz Mary Tyler Moore (1936-2017) e a levada faz parecer com um hit comercial de rock e que deu certo, com direito a um clipe realizado no Arnold Drive-in original da série televisiva Happy Days (1972-74) que contou com um dos atores, Al Molinaro - e com a direção de Spike Jonze, um dos parceiros audiovisuais da banda; ainda podemos ter adiante outro grande sucesso que ajudou o Weezer a ficar conhecido mundo afora - Undone (The Sweater Song) que inicia com diálogos e depois com simples frases, foi uma das primeiras criações de Rivers para a banda, e inicialmente a intenção era fazer uma canção no estilo Velvet Underground, mas surgiu isto, e o suéter citado na música é uma metáfora e que ele só está se desfazendo - não é sobre um relacionamento em todo, como se pode entender, mas é divertida a letra; a música seguinte trazem mais de 3 minutos de agressividade sonora, e carrega uma energia punk hardcore ao ouvirmos Surf Wax America, que fala sobre um surfista ou em um sentido mais metamórfico, ele está no topo, sem medo das ondas e dos ventos, com uma energia pesada presente na faixa; agora vamos para uma coisa mais calma presente aqui, mas com momentos pesados, no caso de Say It Ain't So - que foi sobre a primeira experiência de Rivers Cuomo com o álcool ao pegar uma cerveja na geladeira quando jovem e explicou que compôs lembrando que seu pai começou a beber quando abandonou a mãe dele - um foco aqui é na parte mais suave da melodia, a forma como ela é executada e a mudança pra parte pesada mantendo a linha melódica com guitarras mais gritantes ajudaram na construção musical desta; sem perder o rumo, a banda ainda se supera em canções como esta - In The Garage fala necessariamente de um eu-lírico solitário que se sente mais seguro em sua garagem cheia de cartazes e figurinos dos seus jogos de RPG favoritos, bandas, revistas de quadrinhos - o conforto para ele está ali, e um destaque enorme vai para a introdução da música, com ares de folk com um vioção e uma gaita, interrompidos pelo peso sonoro que segue a melodia e fecha de forma apoteótica pra valer; continuando aqui, sobra tempo para reverenciar grandes bandas - no caso da música Holiday, temos o primeiro verso que cita o nome de uma canção dos Beach Boys chamada Let's Go Away For Awhile, uma peça instrumental do clássico Pet Sounds de 1966 (e que você pode conferir aqui) e faz uma breve referência sonora ao grupo dos irmãos Wilson obviamente com a vontade de tirar férias despreocupadas e não planejadas - recebendo um bom adiantamento, e ajuda muito a explicar esse sonho acordado de Rivers e sua turma; o encerramento desta obra-prima do rock noventista traz como principal destaque sonoro o baixo executado por Sharp e uma levada mais calma no começo de Only in Dreams que nos dá vontade de relaxar, mas somos logo interrompido por uma parte mais hard da canção, fala sobre um cara que não fica com uma garota e isso soa como um realismo poético, e no refrão tem a certeza de que terás a sua amada apenas em sonhos, e isso ajuda a deixar o eu-lírico a se sentir contentado com tê-la apenas nas suas visões enquanto dorme, o final traz uma parte instrumental que vai com aquela pegada soft e depois cresce até as guitarras soarem mais enérgicas até retomar de onde começou - do som do baixo terminando nos seus 8 minutos.
A banda demorou 7 meses para receber seu Disco de Ouro, mas depois acabou se convertendo em Platina Triplo dentro dos EUA, enquanto no Canadá acabou sendo Disco de Platina Duplo - a prova de que muita gente gostou do álbum de estreia desse pessoal que chegou com uma capa simples demais. Seguiram na estrada até dezembro de 94, quando decidiram descansar um pouco e nisso Cuomo volta para Connecticut - estado onde cresceu - e ali começa o processo de criação para seu próximo álbum da banda, que inicialmente se chamaria Songs From The Black Hole, mas devido a um tratamento para aumentar uma das duas pernas, isto o manteve um período em tratamento e o álbum acabou se convertendo em Pinkerton, mas aí já é outra história. O álbum pode ser notado em diversas listas, em especial na dos melhores discos dos anos 90, enquanto a Rolling Stone a colocou em 297º lugar na célebre e onipresente lista dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos, e o Weezer segue aí na ativa pra valer sempre com irreverência nos seus álbuns.
Set do disco:
1 - My Name is Jonas (Rivers Cuomo/Jason Cropper/Patrick Wilson)
2 - No One Else (Rivers Cuomo)
3 - The World Has Turned And Left Me Here (Rivers Cuomo/Patrick Wilson)
4 - Buddy Holly (Rivers Cuomo)
5 - Undone (The Sweater Song) (Rivers Cuomo)
6 - Surf Wax America (Rivers Cuomo/Patrick Wilson)
7 - Say It Ain't So (Rivers Cuomo)
8 - In The Garage (Rivers Cuomo)
9 - Holiday (Rivers Cuomo)
10 - Only in Dreams (Rivers Cuomo)