Um disco indispensável: The Beatles - The Beatles (Apple Records, 1968)

Em cinco anos estourados e aclamados mundialmente, os Beatles conseguiram muito mais do que se imaginava: diversos temas no topo das paradas, seus LPs conseguiam bater nomes como Louis Armstrong, Elvis Presley e Frank Sinatra, e encheram casas de espetáculo de Liverpool a Manilla (aonde tiveram uma de suas piores experiências de estrada no auge) e deram uma parada nos concertos para se dedicarem ao melhor que podiam fazer: discos. E a cada disco, uma inovação diferente, uma experimentação diferente, técnicas de gravação e usos de instrumentos totalmente ousadas fizeram de cada álbum uma magnum opus. Com o clássico Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, editado em junho de 1967, eles foram além, conseguiram fazer mais do que um disco, fizeram uma obra de arte - cheia de experimentações e mergulharam por estilos mais antigos até coisas do outro canto do planeta, como, a música indiana, presente desde Rubber Soul (1965) - e conseguiram mostrar do que eles eram realmente capazes de fazer sem terem de precisar ir aos palcos. Mas, como nem tudo são flores, a banda acaba sofrendo um baque, e o baque maior de todos naquele 1967 foi a morte do empresário e um dos possíveis "quinto Beatle" Brian Epstein, o homem que tornou eles um dos maiores produtos midiáticos da década de 1960, aos 34 anos. Foi forte para John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison, pois, era nas mãos dele que passavam os contratos, e depois de sua morte, tudo desmoronou de vez para os quatro - eles eram mais músicos, o negócio dos dois estava em fazer algo que agrade seus fãs, e não businessmen, e aí começam os problemas internos entre os 4: com Paul tentando querer manter o clima mais amigável e unido, ele sugeriu ao restante de fazer aquele que viria a ser o maior flop da carreira da banda - o filme Magical Mystery Tour, com menos de 55 minutos, parecia uma viagem de ácido que não caiu bem e mal-produzido, com um roteiro fraco, mas cheio de videoclipes incríveis (com os seis temas presentes na trilha) - embora tenha saído como um compacto duplo, a Capitol - gravadora da banda nos EUA - lançou em LP com onze músicas, na qual o lado A eram os temas do filme e o B eram os singles lançados ainda naquele ano. Passado o fracasso e a repercussão negativa do filme, que foi feito para exibição na televisão, eles foram para uma temporada de meditação com Maharishi Maheshi Yogi em Rishikesh, na Índia - ali, eles pretendiam buscar alívio e paz, mais o fato de tentarem equilibrar as coisas entre os quatro. Mesmo que eles já tinham ido a conhecer Maharishi em Bangor, no País de Gales, aquela temporada que iniciara-se em fevereiro de 1968 prometia ser longa ou nem tanto, George e Pattie, John e Cynthia Powell, Paul e Jane Asher mais sua irmã Jenny, Ringo e Maureen não estavam só, em Rishikesh estavam também a atriz Mia Farrow (saindo de um casamento com Frank Sinatra) mais o cantor folk inglês Donovan e Mike Love, dos Beach Boys, estavam no ashram, e a temporada foi marcada de altos e baixos (alguns altos e muitos baixos), a começar pela descoberta de uma leva de drogas ao local, e ali puderam compor diversas músicas que viriam a ser temas dos discos seguintes da banda. Mas, como tudo pode mudar nas jornadas espirituais, Starr não aguentou muito e, dez dias depois, voltou para a Inglaterra, e depois dele, Paul não aguentou mais duas semanas e deixou o ashram - e, conforme passava o período, George e John permaneceram até abril - e só depois se tocaram que o Maharishi pensava em dinheiro, e muitas pessoas que foram a meditar, acusaram o guru de assédio, dentre estas pessoas, Mia Farrow e sua irmã Prudence acabaram caindo de besta - mesmo com alguns afirmando de que ele não teria sido capaz de dar em cima, vai saber né.
E, depois de todo o alvoroço, decidiram abrir uma empreitada que acabou se tornando o selo da banda, e uma empresa responsável por tudo, uma vez que Brian havia criado a Beatles Corporation, John e Paul mudaram o nome para Apple Corps, e dali também foi um jeito de lançar outros artistas, dentre estes Doris Troy, Jackie Lomax, The Iveys, Badfinger e também Mary Hopkins e um futuro astro chamado James Taylor - parecia algo lucrativo até, mas eles nem imaginavam o prejuízo que iriam ter depoisCom um selo novo, a vontade de gravarem um disco novo, George, Paul e Ringo não esperavam que John acabasse fazendo uma mancada das braba: inicialmente, não se permitia trazer suas esposas ao ambiente de gravação, só quem participava mesmo eram Mal Evans, George Martin e alguns dos engenheiros de gravação como Geoff Emerick (falecido recentemente), e John, àquela altura do campeonato, saía de seu casamento com Cynthia e iniciado um romance com a artista plástica japonesa Yoko Ono, ativista e que faria com que o rumo da história da banda mudasse de vez. Do dia 14 de maio até 30 outubro daquele mesmo ano, depois de juntarem 40 músicas e gravarem demos na casa de Harrison em Esher, dali em diante o clima ficaria puramente tenso não somente pela presença de Yoko, mas pela criação da Apple, e a banda estava começando a deixar de serem quatro músicos para se converterem em empresários e donos de um negócio difícil de lidar. Nesse meio-tempo, a banda gravava temas novos, alguns entrariam no disco, outras buscariam seu espaço posteriormente através dos álbuns solos de seus autores. Inclusive, por pouco que não continuamos tendo o ritmo e as batidas frenéticas de Ringo Starr neste disco, pois ele não estava bem e um dia pediu pra pular fora por um tempo, e, semanas depois, foi convencido a voltar para dar continuidade às gravações do que se tornaria um dos melhores discos duplos já feitos na história. Como muitos devem saber, estava ficando muito comum, na moda, lançarem álbuns duplos: dois anos antes, Bob Dylan chegava com seu revolucionário e o último disco da chamada "fase elétrica" Blonde on Blonde, assim como um grupo vanguardista de rock experimental chamado The Mothers of Invention aparecia ao mundo com sua estreia alucinante e ousada em dois discos juntos em Freak Out!, mas depois vieram além do "álbum branco" outras obras de arte com dois discos num só, como Exile on Main Street, Goodbye Yellow Brick Road, The Wall, The River, Mellon Collie and the Infinite Sadness mais adiante, porém, foi com o álbum dos Beatles - com uma arte totalmente diferente, capa e contracapa totalmente branca, na capa estava o nome escrito dessa forma The BEATLES em relevo - uma ideia totalmente diferente, vindo do artista plástico Richard Hamilton, na parte interna do gatefold (capa dupla) vinham a lista de músicas e fotos individuais dos quatro, ainda apareciam também em tamanhos não tão menores do vinil, já coloridas, e um pôster com as letras e fotos da banda, algumas antigas e outras feitas mais de 67 em diante, algumas fotos de Paul recente apontavam para as teorias de que ele estivesse morrido e que um dos caras era seu sósia Billy Shears - embora todos saibamos que é apenas coisa de doido, mas algumas fotos mostram também a intimidade de John Lennon com sua nova parceira, de quem falamos inicialmente sobre  a presença dela nas sessões.
Vamos falando aqui do primeiro álbum, que já acaba surpreendendo a gente, e com ruídos de avião decolando e aterrissando, inicia-se Back in the U.S.S.R, que fazia uma referência ao título da música Back in the U.S.A., do grande Chuck Berry, e com uma levada sonora no estilo Beach Boys, uma influência muito forte nesta musica, além de ter sido uma das únicas canções que não contou com Ringo na bateria, na época em que se gravou, ele pulou fora e só voltou semanas depois, tanto nesta quanto na faixa seguinte foi Paul quem tocou, ainda teve a coragem de tocar guitarra, baixo, piano e percussão - também tocados por John e George, o primeiro ainda tocou piano e baixo de seis cordas aqui; os ruídos de aterrissagem dão a deixa para a música seguinte, que acaba por ser Dear Prudence, que soa como uma mensagem de consolo do próprio John para Prudence, irmã de Mia Farrow, supostamente assediada pelo guru à época da meditação, e novamente sem Ringo na bateria, uma vez que só toca nas faixas a seguir; em seguida, contamos com um rockão na manga de John, e que parece tratar sobre as muitas pistas por trás de algumas letras da banda, como se fosse uma ajuda para os fãs em Glass Onion, na qual as letras e aponta para mais uma teoria de que Macca esteja morto - opa! aí tem, mas nada que estrage o clima mais cru e diferentão, com cordas que engrossam o caldo sonoro; em seguida, um ska do bom que contribua com o repertório do disco - esta é Ob-La-Di, Ob-La-Da, que traz uma história do encontro entre Desmond e Molly Jones e o título surgiu de uma expressão no idioma yorubá ouvido de Paul por um amigo nigeriano chamado Jimmy Scott, e a música acabou se tornando hit em fins de 1968; mais adiante, uma canção que acaba por ser uma coisa mais caminhando entre a música country e indiana, pelo tom bucólico de Wild Honey Pie, que faz uma referência a outra música presente e entrou no disco através Pattie Boyd, que tinha gostado dos experimentos de Macca com outros instrumentos e vocais; mais adiante, a banda ainda desfila temas, já não muito aproximados da psicodelia, como nos discos anteriores, mas numa acidez poético-sonoro de arrepiar, como em The Continuing Story of Bungalow Bill, com uma entrada misteriosa, que não se sabe se o violão foi tocado por um Beatle ou foi sampleado de um dos arquivos da EMI, mas se sabe que Bungalow foi tirado de um local onde um dos participantes da meditação em Rishikesh falava de um bangalô (em inglês, bungalow) e Bill é por causa de um dos maiores nomes do Velho Oeste, o lendário soldado Buffalo Bill, e fala da indignação de Lennon com um cara que foi matar um tigre numa caçada, posou ao lado do animal morto e depois veio a meditar - há citação até a herois como Capitão Marvel, hoje Shazam, e tem Maureen e Yoko Ono nos vocais, além de Chris Thomas executando o mellotron, sintetizador popular entre os 60 e 70, muito em voga; na sequência, temos aqui, o que pode ser considerado o melhor tema do disco inteiro, inspirado numa das frases do livro I-Ching aonde diz que "tudo é relativo", George criou While My Guitar Gently Weeps e colocou um guitarrista diferente pra executar seu solo, este era Eric Clapton - o próprio, que, ao receber o convite do amigo, o então músico do Cream - power trio de blues-rock psicodélico em alta na época, perguntou se os outros 3 não se sentiriam incomodados com a presença de outro músico, e Harrison disse que não, pois a música era sua e não precisava do aval nem de John e nem de Paul, então Clapton foi lá e gravou - acabou se tornando um clássico logo de cara; continuando com a safra de música boa atrás de música boa neste primeiro disco, temos aqui, de John, inspirado em um artigo de revista, que originou Happiness is a Warm Gun - recheadíssima de toques sensuais na letra, como se falasse um desejo sexual para com Yoko Ono, e com uma divisão de tempos, uma construção métrica que varia: inicia em 4/4, depois em 3/4, seguido de 6/8, 3/4 e também 4/4, com uma bateria seca que lembra o som de uma arma, acaba fazendo sentido no final; com uma levada mais de anos 20/30, a próxima criação de Macca foi inspirada em uma ópera de Frederich Von Flotow, mas, feita também para sua cachorra de estimação Martha - logo Martha My Dear, uma declaração de amor canino teve orquestração de Martin com George no baixo e John na guitarra e um belo arranjo nostálgico; a seguir, um rock mais sofisticado, ora leve, ora agressivo em certos momentos, esta é I'm So Tired, composto pelo próprio John em uma noite de insônia, e se trata do cansaço causado pela meditação, e acaba sendo um contraponto ao título da canção I'm Only Sleeping, do álbum Revolver (1966) como pode notar; em seguida, temos mais bucolismo sonoro, um tema bem acústico, Paul traz Blackbird para ser o contraponto entre o peso dos temas anteriores, e fala sobre a luta dos direitos civis - uma breve curiosidade é que Luiz Gonzaga teria supostamente sua música Asa Branca gravada pelo quarteto de Liverpool, e isso virou notícia graças a Carlos Imperial, que, reza a lenda, foi para levantar a carreira do Rei do Baião - a versão não aconteceu, mas acabou sendo um dos melhores temas do disco; em seguida, uma outra canção de Harrison aparece com tons mais críticos - esta é Piggies, aonde ele faz um ataque à burguesia londrina, e os porcos têm seus grunhidos feitos por John, e, novamente, tendo Chris Thomas ajudando a banda, desta vez com o uso de harpa e cravo executados pelo próprio nas sessões; a próxima música Paul estava inspirado nas histórias contadas por Bob Dylan e por Johnny Cash, e fez de Rocky Raccoon uma daquelas músicas recheadas de elementos country/folk, mas com ambiente de saloon do Velho Oeste, com o piano executado por Martin, a narrativa sobre Rocky Raccon - um cara que vivia no alto de uma mina sombria em Dakota, e, que um dia, viu sua esposa Nancy fugir com um tal de Daniel e planeja vingança para Dan propondo um duelo e ainda cita a Biblia distribuída pelos Gideões dizendo que ajudará na sua recuperação, um belo tema que ainda traz a bateria de Ringo soando como um tiro de arma; e, por falar no próprio baterista, ele apresenta no disco, um tema aonde trata um pedido de desculpas e arrependimento - e Don't Pass Me By é um belo acerto em cheio do músico, e o resultado não decepciona de vez, nem a letra e nem sua interpretação, obviamente; o repertório da primeira parte deste álubm ainda temos uma música bem curtinha, não tanto quanto Wild Honey Pie de apenas 52 segundos - com 1 minuto e 42 segundos, a minimalista de apenas 2 frases, Why Don't We Do It On the Road? trazia uma pegada mais marcada no ritmo e totalmente roqueira, parece ser tocada ao vivo, embora só tenha Paul e Ringo participado das gravações desta; adiante, ainda podemos aqui ter mais coisas belas saídas da mente de Macca, e uma delas é a doce e bela I Will, com um toque mais acústico e que chega a lembrar bossa nova pela levada, esta foi uma de suas primeiras canções para sua esposa Linda Eastman, e só ele e Ringo mais Lennon participam aqui nesta música, que é divina de se ouvir; o encerramento desta primeira parte ainda apresenta uma bela homenagem familiar - sim, não tem como ouvir Julia e não pensar na própria mãe de John que morreu atropelada quando ele tinha 17 anos, e é totalmente intimista, só ele voz-e-violão ali, algumas frases foram tiradas do poema Sand and Foam (Areia e Espuma), do libanês Khalil Gibran, e ainda faz uma referência a Yoko Ono, que em japonês significa "filha do oceano" em um dos versos da canção, a melhor para sua mãe e sua então nova companheira encerrando a primeira parte do charmoso Álbum Branco aqui.
Para a segunda parte deste disco, nós ainda temos outras pérolas que ajudam a complementar essa série de canções incríveis, temos aqui uma das últimas composições feitas pela dupla Lennon & McCartney juntos que é Birthday, uma música alegre, festiva e boa para usar no aniversário, com uma pegada totalmente influenciada pelo rock e o estilo dos anos 50, talvez porque eles teriam assistido ao filme The Girl Can't Help It (1956) onde tinham musicais de nomes como Little Richard, Jerry Lee Lewis, Eddie Cochran, Fats Domino entre outros nomes presente - depois foram gravar a parte instrumental e os vocais foram feitos mais por diante, tendo a canja de Pattie e Yoko nos vocais desta, uma das raras participações das esposas dos músicos em alguma música; em seguida, temos mais uma boa pedrada garantida, esta é Yer Blues de Lennon onde ele fala sobre a angústia de ausência de Yoko - embora sem ter começado o relacionamento, lhe escrevia regularmente, aqui, numa levada matadora de blues executada pelos 4 aqui; a próxima música é totalmente carregada de ares folk na bucólica Mother Nature's Son, escrita na Índia inicialmente e inspirada em Nature Boy, canção popularizada por Nat King Cole e fala de um rapaz pobre filho da Mãe Natureza que passa a cantar para todo mundo e fala sobre montanhas, córregos e campos gramados - as belezas naturais para todo mundo ouvir e se deliciar; na sequência, um hard rock bem puxado e cru, com uma forte levada melódica na guitarra e a forte presença de sinos em Everybody's Got Something to Hide, Except for Me and My Monkey mostravam um tema mais suspeito, embora fosse parecer uma referência à Yoko, o tal "macaco" se tratava mais da heroína, segundo Lennon anos depois; ainda sendo mais outro tema do próprio John, essa também mostra polêmicas, já que Sexy Sadie traz uma crítica ao Maharishi, que, enquanto os quatro estiveram em Rishikesh, desconfiaram o fato de ele querer 10% da renda anual e da tentativa de flerte com Mia Farrow, termina com um solo de guitarra meio choroso; o verdadeiro momento de pura agressividade e que se destaca muito no repertório do álbum - Helter Skelter fala de um típico brinquedo de parque de diversões e totalmente massacrado o som, aqui parece que estamos diante de uma banda de heavy metal, bem antes de Sabbath e Zeppelin pintarem no cenário ao mundo todo, esta música também serviu como referência para Charles Mason (aquele doidão que já morreu) praticar algins crimes em 1969 e depois permanecer preso até sua morte em 2016 - apesar de já deixarem claro que não haviam relações algumas com os atos de criminalidade, e ainda soa como uma banda de rock garageira nos tempos dos 70 em diante, um proto-metal de respeito; e para a música seguinte, um contraponto ao exagero da agressividade sonora da faixa anterior, carrega suavidade na voz e na melodia: esta é Long, Long, Long de Harrison e fala de sua alegria em encontrar Deus e segundo o próprio, ele teria tirado alguns acordes de Sad Eyed Lady of the Lowlands, de Bob Dylan - tema que fecha Blonde On Blonde (1966) o disco que encerra a trilogia elétrica de sua carreira; aqui também temos a versão para o LP de Revolution, aqui nomeada como Revolution 1,e diferente da versão single que saiu como lado B de Hey Jude, nesta temos um blues mais arrastado (na versão single a pegada de blues era mais nervosa com guitarras gritantes) com mais violão, tendo 2 trompetes e 4 trombones - os metais são arranjos de Martin, e a letra se mantêm a mesma, inspirada  nos fatos que marcavam aquele ano, os protestos em Paris, as manifestações civis contra a Guerra do Vietnã, o assassinato de Martin Luther King Jr. e é uma letra totalmente politizada, como devemos notar; mantendo a linhagem de canções de arranjos saudosistas, o music hall ainda permanece presente no segundo disco com Honey Pie, aonde Paul fala sobre uma moça bonita que era operária na Inglaterra e depois se converte em estrela de cinema nos EUA e curioso é que as primeiras gravações foram no Trident Studios e encerradas no Abbey Road em outubro, e até foi regravada pela diva Barbra Streisand anos mais tarde; a seguir, temos um rockão de mostrar a boa essência pesada dos Beatles e esse rockão é de George, com a presença de 3 saxofones tenor mais 3 barítonos mais Chris Thomas mandando ver tocando piano elétrico e órgão, Savoy Truffle era uma homenagem doce e até um tanto que engraçada para Eric Clapton, que sempre foi viciado em chocolates, e alguns tipos destes foram inventados na canção pelo Beatle quieto; em seguida, ainda temos outra bela canção de Lennon, que dá bem uma noção do que se trata, logo Cry Baby Cry surgida também na Índia, ela veio de uma canção de ninar antiga e que se destaca por falar sobre reis, rainhas, duques e  duquesas tocando piano, pintando quadros e colhendo flores no jardim, com Martin tocando harmônio (o som lembra até acordeom), mostra uma conexão perfeita do instruental tocado pela banda - depois disso, vêm outra música, aqui curtinha, chamada Can You Take Me Back, gravada durante as sessões de I Will somente com Paul, John e Ringo tocando uma música que se desenvolvia na criação do álbum e poderia ter entrado no projeto seguinte Get Back até; ouvimos algumas falas, dentre estas a voz de Alistair Taylor se desculpando a Martin por não ter trazido uma garrafa de vinho para o estúdio e depois ouvimos uma sequência de "number nine, number nine, number nine" que já apresenta Revolution 9, uma coisa mais experimental - criada com trechos de canções extraídas de fitas, falas inventadas, dá para ouvirmos algumas partes de canções de Robert Schummann e do próprio Ludwig Van Beethoven, além de trechos instrumentais de A Day In The Life, While My Guitar Gently Weeps e tem a participação somente de Martin, Lennon, Harrison, Starr e Yoko, apesar de ter ligação com a música concreta e vanguardista propagada por Karlheinz Stockhausen, John Cage e Edgard Varèse, ela acaba sendo uma precursora do sample, que seria futuramente um jeito dos DJs do hip-hop usarem trechos de batidas e canções como base instrumental nos anos 80 e 90, Paul tentou convencer Lennon de não incluir no disco - porém, foi ignorado, mesmo assim, teve menos de 1 minuto cortado para entrar no LP e é a mais longa do álbum (8 minutos e 20 segundos) e considerada pelo próprio George Martin como a música do futuro, olhem só; e como a faixa anterior servia como um grand finale do espetáculo, a faixa que encerra o disco é um bis definitivo que encerra de vez, escrita para Ringo cantar, John fez Good Night como uma belíssima canção de ninar para seu filho Julian, e só conta com a voz do baterista e uma orquestra e um coral abrilhantando o canto do cisne deste disco, que soa cada vez mais novo como nunca, mesmo depois dos 50 anos de seu lançamento.
Naquele mesmo ano, também havia sido lançado o longa-metragem animado Yellow Submarine, que, ao contrário do filme anterior, foi bem recebido e elogiado pela crítica especializada, e cuja trilha sonora do filme só saiu em álbum em janeiro de 196o, com o lado A tendo 4 músicas inéditas mais Yellow Submarine e também All You Need is Love, já o lado B são os temas instrumentais orquestrados por George Martin. O sucesso do Álbum Branco mostrou que, mesmo com muitos conflitos e diferenças pessoais, a banda parecia soar cada vez bem afinada. Com o passar dos anos, se tornou uma referência como evolução sonora de uma banda e diversas canções ali se tornaram regravadas, e, no ano de 1997, a rádio Classic FM colocou o disco como o décimo melhor de todos os tempos, a Q Magazine colocou em 1998 no 17° lugar e em 2000 na sétima posição. No ano de 2003, foi divulgada a lista dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos, a famosa lista da revista estadunidense Rolling Stone, e o álbum aparece no 10° lugar, enquanto a VH1 divulgou em sua lista dos 100 Maiores Álbuns de Rock de Todos os Tempos e o Álbum Branco figura em 11° lá, sem esquecer que o disco aparece nos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer - e em diversas listas relacionadas aos melhores álbuns dos anos 60, e, como nos EUA já não se lançava mais os discos em mono,  este também foi o primeiro disco totalmente lançado em estéreo, além de ter vendido mais de 10 milhões de cópias, nada mal para eles.
SET DO DISCO 1:
1 -  Back in the U.S.S.R (John Lennon/Paul McCartney)
2 - Dear Prudence (John Lennon/Paul McCartney)
3 - Glass Onion (John Lennon/Paul McCartney)
4 - Ob-La-Di, Ob-La-Da (John Lennon/Paul McCartney)
5 - Wild Honey Pie (John Lennon/Paul McCartney) 
6 - The Continuing Story of Bungalow Bill (John Lennon/Paul McCartney)
7 - While My Guitar Gently Weeps (George Harrison)
8 - Happiness is a Warm Gun (John Lennon/Paul McCartney)
9 - Martha My Dear (John Lennon/Paul McCartney)
10 - I'm So Tired (John Lennon/Paul McCartney)
11 - Blackbird (John Lennon/Paul McCartney)
12 - Piggies (George Harrison)
13 - Rocky Raccon (John Lennon/Paul McCartney)
14 - Don't Pass Me By (Starkey)
15 - Why Don't We Do It On the Road? (John Lennon/Paul McCartney)
16 - I Will (John Lennon/Paul McCartney)
17 - Julia (John Lennon/Paul McCartney)

SET DO DISCO 2:
1 - Birthday (John Lennon/Paul McCartney)
2 - Yer Blues (John Lennon/Paul McCartney)
3 - Mother Nature's Son (John Lennon/Paul McCartney)
4 - Everybody's Got Something to Hide, Except for Me and My Monkey (John Lennon/Paul McCartney)
5 - Sexy Sadie (John Lennon/Paul McCartney)
6 - Helter Skelter (John Lennon/Paul McCartney)
7 - Long, Long, Long (George Harrison)
8 - Revolution 1 (John Lennon/Paul McCartney)
9 - Honey Pie (John Lennon/Paul McCartney)
10 - Savoy Truffle (George Harrison)
11 - Cry Baby Cry (John Lennon/Paul McCartney)
12 - Revolution 9 (John Lennon/Yoko Ono/George Harrison/Starkey/George Martin)
13 - Good Night (John Lennon/Paul McCartney)

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