Um disco indispensável: Brothers in Arms - Dire Straits (Vertigo/Warner Bros. Records, 1985)

Naqueles dourados e brilhantes anos 80, não havia ninguém que ousasse ignorar o barato total que era o pop rock e curtir numa boa o novo som da juventude, que tinha muito peso, sintetizadores, uma potência instrumental bem maior... enfim, tão contagiante feito vírus, era fácil se identificar com os temas e a estética que ofereciam, mas variavam as cartilhas: às vezes era um pop que cruzasse entre o new wave e o punk, ou também entre o funk eletrônico (não esse feito aqui no Brasil atualmente, pra lembrar) e uma pegada mais hard, foi uma das décadas mais ousadas e também criativas como as outras anteriores, mas também teve seu ápice com os avanços tecnológicos que ajudaram também o mercado fonográfico, sim. Como estava muito comum as gravadoras buscarem pelo novo, novos artistas, novas fórmulas de sucesso e produção, e o vinil ainda parecia estar em alta, embora a crise do petróleo quase deixa uma falta quase excessiva das matérias-primas, a nova aposta era mesmo o CD, conhecido também como compact-disc, um disco ótico menor que o tradicional LP, tinha como intenção, manter 80 minutos e 700 megabytes compartilhados, e o som tinha uma qualidade totalmente digital, essa ideia surgida na metade dos anos 70 só ganhou peso e força mesmo no início da década seguinte, no início eram apenas audiófilos e colecionadores que tinham acesso, mas começou a investida das gravadoras nesse novo formato de material, embora o vinil nunca tenha perdido a coroa nos últimos anos, e até hoje não perdeu sua majestade entre os fãs da música. Nomes da época como Michael Jackson, ABBA, Eurythmics, Van Halen, Prince, Billy Joel entre outros estavam com seus álbuns sendo comercializados, embora o que mais se lançava também neste pequeno disco que não tocava nos dois lados, mas um só apenas, eram os de música clássica, os mais conhecidos da época e os mais consumidos. Porém, quase todos os discos que estavam sendo lançados, do pop ao rock, estavam ganhando este formato também, e o conceito de grandes vendagens só veio a acontecer mesmo com um grupo de escoceses e ingleses, o Dire Straits, que estava lançado um trabalho cuja gravação era toda em digital, e inovador em todo os sentidos de qualidade sonora, e a banda de Mark Knopfler (vocalista, guitarrista e compositor), um músico de renome e que tinha em seu currículo produções de álbuns como Infidels (1983), de Bob Dylan - nada mal mesmo, hein? Porém, embora o grupo já estava com sua consolidação definitiva, havia pegado um tempo de pausa para que o principal cabeça do grupo estivesse se dedicando a outros projetos, embora tenham deixado o duplo ao vivo Alchemy na praça, e mais adiante, foi juntando algumas composições que havia sido feitas, e juntando para um próximo material, que iniciaria suas gravações em novembro de 1984, nos estúdios AIR em Montserrat, uma ilha caribenha vista como um territorio ultramarino inglês, e teve além de Mark como produtor, o neoiorquino Neil Dorfsman, que já havia trabalhado como engenheiro junto de artistas como Kiss, Bob Marley & The Wailers, Diana Ross, Sting dentre outros, e também já havia trabalhado bem antes com a banda Dire Straits em Love Over Gold (1982), o antecessor deste próximo material de estúdio, que nasceria com cara de greatest hits, e com uma vitalidade extremamente pop e mais vibrante, que acabou se tornando inclusive uma das grandes trilhas sonoras da geração 80, pra completar.
Já estava na vontade do próprio Knopfler de inovar com seus discos, e desta vez ele e Dorfsman não foram bestas, eles decidiram usar nas sessões em Montserrat uma máquina de fitas digital de 24 canais Sony, podendo assim melhorar e muito o som que se ouve seja no vinil ou no disco laser compacto (leia-se: CD), e vindo desse interesse pela tecnologia como forma de aperfeiçoá-la, que, segundo o produtor, Mark sempre estava disposto a gastar com equipamentos de alta qualidade, e o investimento era totalmente pesado mesmo. Pois bem, após as sessões terminadas em março de 1985 nos lendários estúdios de Montserrat (hoje abandonados após a tragédia do furacão Hugo em 1989), o grupo já tinha um disco todo pronto e inovador, este era Brothers in Arms, lançado em 13 de maio daquele 1985, e como dito, o disco se tornou pioneiro por ter sido gravado todo no sistema digital, ou seja, era pra fazer o vizinho chegar aos seus pais e reclamar pelo forte peso sonoro oferecido no sexto trabalho. Além disto, o grupo ganha mais corpo no estúdio e no palco, sendo que além de Mark como cantor, compositor e guitarrista, permanecia ali o baixista John Ilsey, mas com alguns membros que saíram nesse intervalo, houve ali músicos como Terry Williams na bateria, Alan Clark nos pianos e sintetizadores e se somando também nos teclados Guy Fletcher, e também teve Omar Hakim tocando bateria em parte das músicas do álbum, embora Williams fosse o principal ocupante desse cargo. A começar a falar sobre este disco, se prepare, pois Brothers in Arms é realmente um disco de peso sonoro que agrada mesmo. A começar pela abertura deste tesouro, com So Far Away, com uma pegada pop romântica e sua guitarra estridente, aonde se mistura nessa tristeza poética, romance e esperança, não nos deixa enganar e acaba nos agradando logo de cara; a próxima música que vêm a seguir, surgiu de quando Mark ouviu de dois carregadores de uma loja de aparelhos reclamando dele ao aparecer tocando guitarra em plena MTV, e é esse ambiente que resume-se Money For Nothing, a única que conta com um parceiro: Sting, que também divide os vocais, e a música rendeu um clipe animado em computação gráfica 3D, pioneiros nisso, e ainda teve repercussão na emissora, a pegada hard rocker e com um peso na guitarra se tornou um grande sucesso também não só nas rádios mas na MTV, onde seu clipe se tornou um clássico da emissora, claro; na sequência, a gente já é recebido por um solo de órgão que é fácil de reconhecer, é a introdução de Walk Of Life, uma ode à celebração da vida, de pegada que nos remete a country e com citações a músicas dos anos 50, como Be-Bop-A-Lula de Gene Vincent, What'd I Say de Ray Charles entre outros, com um clipe que traz essa celebração à vida por meio de cenas de esporte, um tema precioso aqui no repertório do disco; adiante, temos aqui um solo de trompete que soa triste, carregada de peso melódico e uma guitarra que parece chorar, e depois ganha um ar bem soft, é Your Latest Trick, trazendo nos versos um quê de boemia e da vida noturna, mostra que, com toda essa suavidade, não perdem o rumo de jeito nenhum; e logo na próxima música, temos mais suavidade que habita em todos os seus 5 minutos (LP simples) e a mais longa do disco, na versão LP duplo e em CD, com seus 8 minutos e 35 segundos, é incrível como Why Worry nos pega e nos conquista, e nos oferece um pouco de solidariedade em seus versos mágicos e imortalizantes no decorrer da faixa; as próximas músicas carregam um tom anti-militarismo, o que soa também como temas de protesto pacifista, a começar por Ride Across the River, que trazem essa questão do soldado e da guerra e de não se importarem com a razão do combate, pois para eles segue a ser a mesma coisa - matar ou morrer, e a guitarra lembra em certos momentos Carlos Santana, e não vacila aqui conosco; e ainda mantendo essa temática, agora o soldado retorna ao seu lar e não consegue se adaptar direito, sendo visto como um criminoso aos olhos da sociedade em The Man's Too Strong, que começa com uma vibe mais desplugada e depois a banda chega pra complementar, botando tudo pra quebrar e compreender com tonalidades sonoras country/folk - soando atual como nunca nos dias de hoje, para ser preciso; ainda que o disco siga a contar com boas pérolas, temos aqui no repertório, uma das músicas mais curtas deste álbum, logo nos referimos à One World, a história de um homem que não encontra nada para combinar e admite que é assim que a história se passa, não perde a essência, carrega um pouco do funk pelo baixo de Illsey e mostra uma banda bem conectada musicalmente, arrasando de vez aqui; e, para terminar, o momento em que o disco têm seu crepúsculo carrega uma das letras mais emocionantes e que surgiu no meio da Guerra das Malvinas em 1982, estamos falando de Brothers in Arms, sendo um hino anti-belicista, e com os melhores momentos de guitarra no decorrer dos seus sete minutos que arrepiam até a alma, pra fechar a conta total.
Bom, não demorou muito para que: o disco começasse a estourar de vez e também dominar as paradas, dando assim mais status de gigantes, e os levando a uma turnê que rendeu apresentações como no lendário Live Aid em 13 de julho de 1985, no estádio de Wembley em Londres, e depois no mesmo estádio fizeram um dos melhores shows daquele ano. Tendo uma forte repercussão, foi preciso que saísse em CD para que o público começasse a comprar o álbum no novo formato, com um som totalmente digital (DDD) e mais longo do que o LP original simples, tendo 55 minutos, e com as faixas longas o vinil ganhou uma edição dupla, acrescentando aqui, resultou-se no primeiro CD comercializado a vender mais de um milhão de cópias vendidas - ao todo são mais de 35 milhões juntando as várias edições. Se tornou um do discos mais marcantes da geração 80, tão marcante mesmo que entrou em diversas listas, como a dos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer - dando provas de máximo respeito, claro, a revista Q Magazine aclamou como o 51º dos 100 Melhores Álbuns Britânicos, e em 2003, pra não ficar esquecido aqui também, a Rolling Stone colocou nos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos com a 351ª posição, sem reclamar demais. É, mesmo que Mark não queira voltar tão cedo com o grupo, há quem sinta as saudades de quando uma banda dessas era de fazer a coisa acontecer mesmo em tempos de vacas gordas.
Set do disco:
1 - So Far Away (Mark Knopfler)
2 - Money For Nothing (Mark Knopfler/Sting) - participação especial de Sting
3 - Walk Of Life (Mark Knopfler)
4 - Your Latest Trick (Mark Knopfler)
5 - Why Worry (Mark Knopfler)
6 - Ride Across the River (Mark Knopfler)
7 - The Man's Too Strong (Mark Knopfler)
8 - One World (Mark Knopfler)
9 - Brothers in Arms (Mark Knopfler)

Comentários

Mais vistos no blog