Discografia Indispensável: Mac DeMarco

Guitarras distorcedoras, voz meio anasalada, canções sobre seu amor por cigarros da marca Viceroy, declarações de amor, passar um tempo sozinho em uma câmera de reflexão: tudo isso gira em torno da mente maluca de um simples rapaz vindo do estado canadense da Colúmbia Britânica – mais precisamente da cidade de Duncan, chamado Vernor Winfiled McBriare Smith IV, nascido em 30 de abril de 1990, desde garoto sempre foi muito levado, muito encrenqueiro e irreverente. Quando criança, sua mãe Agnes se separou e teve que mudar o nome para McBriare Samuel Lanyon DeMarco, mas tanto um quanto o outro nome são muito fáceis de identificar o garoto que vivia aprontando e que hoje vive tocando em danceterias de rock and roll ao lado de sua namorada Kiera e com uma adolescência vivida de uma forma tensa e absolutamente inexplicável. DeMarco já iniciava seus primeiros passos na música há muito tempo. Primeiro foi começando em bandas como The Meat Cleavers e mais tarde estava já em The Sound of Love, e depois em Outdoor Miners. Muda-se para Vancouver em 2008 após concluir o colegial, brevemente, ele e mais alguns amigos formaram o conjunto/projeto Makeout Videotape, que gerou alguns trabalhos como o álbum Ying Yang (2009), seguindo uma pegada de hardcore mais leve com um pouco de lo-fi e partindo para um experimentalismo sonoro que viria a ser uma de suas marcas registradas, aonde bebia muito na fonte do rock dos anos 60 passando pelo pós-punk até chegar no grunge, entre outras referências que formam definitivamente a musicalidade de DeMarco. A partir do ano de 2011, o rapaz se muda de Vancouver para a metrópole canadense, Montreal, e foi nesta cidade aonde ele conseguiu achar conforto e concebeu a sua aclamada carreira solo que tão reconhecida mundialmente pelo público e cheia de sucessos.

Em 2012, grava e prepara totalmente sozinho o material que viria a consagrá-lo como artista solo e como um dos mais brilhantes músicos que apareceram no século XXI e desta vez o mundo conheceria o nome Mac DeMarco através do EP intitulado Rock and Roll Night Club, lançado em março e pelo selo Captured Tracks, de Nova York. Muitos foram pegos de surpresa pelo som do álbum, meio macabro com a voz de uma forma devagar e alterada nas primeiras faixas, as vinhetas simulando chamadas de rádio e letras como “Baby’s Wearing Blue Jeans”, “One More Tear to Cry”, “Moving Like Mike”, “I’m a Man” e “She’s Really All I Need” que acabam se destacando totalmente entre o público, recebendo críticas positivas e negativas, a respeito da sonoridade e do tipo que Mac parecia ser, mais um personagem querendo tentar ganhar o status de artista popular. Mas ele ignorou e não está muito para críticas até hoje, porém seguiu a trabalhar em mais um conjunto de canções que viriam a ser mais outro genial trabalho do músico de Edmonton, que só lançado em 16 de outubro sob o título de “2”: o disco soaria mais coeso, mais cru e sem as firulas do material anterior e que veio a consagrá-lo de vez. Os sucessos deste disco o consagrariam artisticamente, dentre eles “Ode to Viceroy” que fala sobre seu amor por cigarros, “Dreamin’”, “My Kind of Woman”, “Freaking out The Neighborhood “ formaram uma das melhores trilhas sonoras do ano de 2012 e de 2013, sendo um dos mais bem-recebidos discos por parte de crítica e público, o levando para uma grande turnê mundial promovendo seu mais recente disco e sendo bem recebido por onde passava, ganhando uma enorme legião de fãs ao redor do mundo. Mas, o músico se sentiu um pouquinho distante da sua amada Kiera McNally, sua namorada, sua “Robson Girl”, a quem podia chamar de“My Kind of Woman” e depois de um tempo conversando, os dois decidem se mudar para os EUA para que um ficasse mais perto do outro, uma vez que Kiera já começaria a acompanhá-lo nos shows ao redor do mundo.


O disco que seria lançado em seguida veio a ser um dos seus pontos fortes na sua carreira como músico e compositor, mas antes, uma apresentação que lançada somente em fita cassete com sete músicas mostrou um Mac mais intimista, somente ele e sua guitarra em “Live & Acoustic Vol. 1” lançado antes do Natal, antecipando uma de suas obras-primas consagradas no mundo da música, o subestimado e indescritível “Salad Days”, gravado em sua nova casa, o bairro do Brooklyn em New York, terras americanas. O disco foi gravado durante algumas pausas de sua turnê do álbum “2” ainda em 2013 e se mudando do país dos Maple Leafs, da Aurora Boreal e da Shania Twain. O primeiro single do álbum foi “Passing Out Pieces” lançado em janeiro e sendo um dos temas que se destacou no álbum que foi lançado no 1º de abril, logo no famoso Dia da Mentira, o álbum foi lançado e ganhou uma imensa repercussão, depois de uma breve passagem pelo Brasil em especial nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, levando o melhor de sua música para o nosso país e gerando uma nova onda de fãs antes e depois da turnê já com o “Salad Days” lançado. As faixas do álbum que mais se destacam, além da faixa-título e “Passing Out Pieces” são “Brother”, “Let Her Go”, a chapação sonora de “Chamber of Reflection” que nos traz um pouco ao vaporwave e ao nível máximo do experimentalismo sonoro de Mac, além de “Let My Baby Stay” feita para Kiera sobre o fato do casal querer estar mais junto em New York e o que originou a mudança dela para mais perto do seu amado e músico. O disco foi aclamado por vários críticos como um dos melhores álbuns de 2014 em listas como da Rolling Stone, NME, Pitchfork e foi um dos mais ouvidos do ano em serviços de streaming em especial, sendo também um dos mais cultuados de sua discografia que traz um belíssimo conteúdo sonoro. E vida que segue, a estrada o levou para mais outros lugares, mais fãs o desejavam ver em palco como sempre e a turnê seguiu de vento em popa, até que em março de 2015, ele se tranca em seu estúdio caseiro e em abril anuncia um material inédito para seu público, antecipado pelo single de “The Way You’d Love Her” e o nome do novo disco, que seria mais um mini-LP ou um EP sob o nome de “Another One”, lançado no dia 7 de agosto de 2015 para todas as plataformas de streaming e mesmo sendo um álbum com menos de dez faixas, traz grandes sucessos e entre eles “A Heart Like Hers”, “I’ve Been Waiting For Her”, “Without Me”, “Just to Put Me Down” e trazendo uma forte influência de pop melódico da década de 1970 e 1980, por isto, o tom triste e mais baladista em determinadas canções deste álbum. Falem bem ou mal, podemos chegar a uma conclusão, a de que Mac DeMarco consegue fazer um trabalho simples deixando seu público dividido até que consigam entender qual é a onda dele a cada disco que lança, e por mais que soe um pouco diferente do que se considere comercial para um público que curte música indie/alternativa, rótulo muito comum para artistas e bandas de hoje.


Rock and Roll Night Club (Captured Tracks, 2012) 
Depois de quarto anos com o projeto Makeout Videotape, o rapaz canadense estrearia de vez em carreira solo com este EP que traz dez faixas e uma capa irreverente, na qual aparece ele colocando batom na boca com um olhar que seduz, mostrando-se um artista completamente diferente e com outra proposta que artistas e bandas do circuito alternativo/indie ofereciam ao público: com uma linguagem sonora própria que ele chama de “jizz jazz” ou de “jangle pop” para definir melhor. Lançado em março de 2012, o EP traz um lado A com faixas meio profundas e obscuras pelo som, já que a voz de Mac não é a que conhecemos (vai entendendo o porquê) além do som estar muito diferente, é porque ele usou um efeito de execução de forma lenta (slowed down) e a faixa-título inicia a aventura do jovem Mac pelo seu próprio universo, seguido de uma vinheta simulando uma chamada de rádio “96.7 The Pipe” e segue o bailado com “Baby’s Wearing Blue Jeans”, “One More Tears to Cry”, “European Vegas” com a mesma pegada de “slowed down” e depois mais outra vinheta que simulava uma rádio chamada “106.2 Breeze FM” anunciando a próxima música, “She’s Really All I Need” mostrando o verdadeiro Mac, sem nenhuma firula e nenhum efeito que altere sua voz, mas na sequência adiante voltamos ao jeito diferentão da voz, como em “Moving Like Mike”, “Me and John Hanging On” e “I’m a Man” que encerram o primeiro e grandioso trabalho solo do canadense Mac, que virou mania mundial. Nas edições em CD e download digital foram lançadas como faixas bônus “Only You” e “Me & Mine”, duas músicas que ainda dão pro gasto e complementam o formato do EP original. Passa meio batido para os iniciantes da música de Mac DeMarco, mas vale dar uma escutada básica e entender aos poucos o som dele, sendo um dos poucos discos que não ganharam notoriedade no ano, fazendo isso com o próximo trabalho lançado meses depois.


2 (Captured Tracks, 2012)
Aí que nós chegamos no desenvolvimento sonoro, poético e na construção definitiva do legado musical de Mac, sendo o primeiro álbum de grande sucesso do canadense de Edmonton, trazendo uma série de “greatest hits” que são conhecidos pelo seu público e recebendo elogios e nomeações como Artista Revelação de 2012 e em lista de melhores álbuns do ano, dividindo espaço com Tame Impala, Kendrick Lamar, Frank Ocean, Grimes, alt-J, Lana Del Rey, Jack White dentre outros artistas. Lançado oito meses após o EP “Rock and Roll Night Club”, o álbum “2” com produção e instrumento todos executados pelo próprio DeMarco, é o verdadeiro cartão de visitas para a obra musical, e a prova está nas faixas que se destacam neste disco, como “Dreamin’”, a saga de sua paixão pelos cigarros em “Ode to Viceroy”, a declaração de amor para sua amada em “My Kind of Woman”, a sua vontade de fazer festa em “Freaking Out the Neighborhood” com um quê de Beach Boys, rock sessentista e para nós lembra um pouco os rocks animados da Jovem Guarda, além da balada acústica “Still Together” com Mac atracando no falsete durante o refrão que encerra o disco. Além de “Cooking Up Something Good” que abre o disco, a balada chapante “Dreamin’”, a retrô-sessentista e poética “The Stars Keep on Calling My Name”, “Annie” e sua vibe de outra dimensão, “Robson Girl” e também “Sherrill” e a instrumental “Boe Zaah” com uma pegada folk-balada que nos impressiona pela forma como toca violão. É um disco excelente de verdade, sem soar chato ou muito cansativo demais, com uma energia surpreendente e que nos traz o verdadeiro estilo do canadense, que teve sua grande aclamação pelo público em 2012 graças a este disco. Foi também o disco que o levou a turnê mundial, tocando boa parte do material de seu disco nas apresentações além de divulgar alguns temas inéditos que ficaram de fora.


Live & Acoustic Vol. 1 (Captured Tracks, 2013)
O registro é totalmente curto, não está disponível no formato CD e somente em fita cassete e download digital é que se pode conseguir este incrível material que mostra um Mac DeMarco mais íntimo e solto no palco, acompanhado somente de sua guitarra e tocando apenas sete músicas em 25 minutos, quase soando como um luau ou uma apresentação em um bar qualquer em “Live & Acoustic Vol. 1” lançado no final de 2013, durante a turnê que promovia seu clássico e grandioso “2” (2012). Nesse tempo que você tem para ouvir esta performance clássica e lendária, você acaba encontrando três pérolas do álbum “2” tocadas apenas na guitarra, “Cooking Up Something Good”, “Annie” e “Still Together” aparecem aqui com uma pegada mais brisante porém sem toda a base complementada, além de “Only You” faixa bônus de “Rock And Roll Night Club” que segue com a mesma pegada, além de dois temas inéditos que passam batidos “Marilyn and Me” e “Eating Like a Kid” que não nos trazem muito de momentos grandiosos, além de “Let My Baby Stay” que foi feita para o próximo álbum intitulado “Salad Days”, lançado meses depois deste EP ao vivo. Não há muitas novidades, embora este EP traga um pouco mais o músico canadense tocando boa parte de seus sucessos, sem toda aquela apoteose que rola em seus shows com mais peso e presença de banda, mas dá pro gasto mesmo assim


Salad Days (Captured Tracks, 2014)
Pode ser que depois de “2”, a atenção do público para Mac ficou maior do que nunca, já que ele havia conseguido todo o reconhecimento com o passar do tempo, e isso soa interessante demais mesmo, para aqueles que curtem o som dele, vão notando que a partir deste disco a sonoridade se evolui mais ainda, já no quarto material solo e o terceiro de estúdio, trouxe o músico para New York deixando Montreal durante o intervalo de shows que promovia o álbum “2” no meio do ano de 2013. Tendo iniciado o processo de criação, o álbum seguinte seria mais grandioso que o aclamado e elogiado “2” e faria de “Salad Days” o maior tiro certeiro de sua carreira e ele aconteceu num Dia da Mentira do ano de 2014, para surpresa do público. Não é à toa que Mac sempre com seu jeito brincalhão decidiu lançar o disco de verdade deixando fãs e críticos mais divididos do que nunca: afinal, estaria Mac se aprofundando em novas experiências sonoras? Sim, o músico canadense se aprofundou em tais experiências sonoras inéditas e decidiu colocá-las em seu novo disco, totalmente chapante ao extremo e com aquelas letras de tom um pouco sarcástico, um pouco romântico e alguns desabafos até pelo que se nota. A faixa-título reflete um pouco sobre seu amadurecimento como pessoa, enquanto “Chamber of Reflection” e sua sonoridade que nos remete um pouco ao vaporwave, fala sobre a solidão e sobre como é passar o tempo sozinho. Faixas como “Brother”, “Let Her Go”, “Treat Her Better” e “Go Easy” ganham uma potência a mais pela sequência de acordes e pela alquimia sonora comandada pelo próprio DeMarco. A balada acústica “Let My Baby Stay” feita para sua namorada Kiera McNally na qual pedia para ela ficar com o amado no Brooklyn e desde então os dois seguem mais inseparáveis do que nunca. A grande surpresa do disco é a delirante “Passing Out Pieces”, com uma forte presença de sintetizadores, que veio a antecipar o disco sendo o single principal lançado em janeiro de 2014. O encerramento fica por conta de “Jonny’s Oddesey” uma instrumental que nos faz delirar e a dose final do disco, com Mac agradecendo aos fãs. É, vamos dispensar comentários para um álbum tão completo e cheio de alquimias sonoras, né pessoal?! Já é uma obra-prima por inteira, oferecendo uma boa dose de lisergia sonora indispensável do começo ao fim.


Another One (Captured Tracks, 2015) 

Nos três anos de carreira solo do canadense, o músico se sagrou rapidamente como um dos mais fortes exemplos de músico, compositor e ícone da nova geração que surgiu, com dois discos aclamados por crítica e público, Mac DeMarco conseguiu desta vez ir mais leve e menos agitadão como sempre neste álbum que pode ser um EP, o segundo e o quinto trabalho de carreira intitulado “Another One” lançado em 8 de agosto de 2015 nas plataformas de streaming e no formato LP, cassete e CD. O álbum consegue ser um pouco mais romântico e não tão pra cima, com um tom que nos remete ao AOR (Adult Oriented Rock – leia-se as baladinhas dos anos 70 e 80 que rolam na Antena 1 e Alpha FM), um pouco melódico pela sonoridade mas que dá pro gasto de vez. A faixa “The Way You’d Love Her” já nos mostra essa forma mais romântica e singela do canadense, enquanto “Another One” nos faz viajar aos anos 70 pelo tom baladista e suave, já em “No Other Heart” a voz melódica e meio aveludada nos remete a um Mac prestes a desabafar total, já em “Just to Put Me Down” e “A Heart Like Hers” a sequência nos traz momentos de um clima mais suave e romântico em certos versos, enquanto “A Heart Like Hers” e sua guitarra retrô com base no surf-rock trazem ares mais vibrantes, assim como “Without Me” que ainda faz acender a chama neopsicodélica do material e com um encerramento profundo e também concreto a instrumental “My House By The Water” no qual é executado uma suíte no teclado e Mac deixa um endereço do que parece ser sua casa em Nova York. A capa do disco traz um Mac indiscreto, de cócoras num rio com o céu azul cuja foto foi clicada por Kiera McNally, sua namorada. O álbum recebeu elogios de crítica e público, quase passando batido porque alguns achavam que este trabalho mostrava um Mac muito mais diferente do que conhecemos, mas nós sabemos o que ele está fazendo, é claro.

Comentários

Mais vistos no blog