Um disco indispensável: Ventura - Los Hermanos (Ariola/BMG Music, 2003)
A década de 2000 seria um grande impacto marcante no novo cenário do rock, apesar das grandes gravadoras terem deixado mais de lado o gênero, fazendo com que as bandas se mantivessem no undergroud e se convertendo em ídolos para uma nova geração do cenário musical brasileiro, fazendo bandas se despontarem de vez neste cenário. Um exemplo disto é a Los Hermanos, que "endeusada" por milhões de fãs até hoje, ganhou projeção nacional em 1999 graças ao sucesso Anna Julia, do álbum de estreia que leva o nome da banda e se tornou o hit bubblegum e a pedra no caminho durante toda a trajetória dos cariocas estudantes da PUC surgida bem dois anos antes de tudo acontecer, acabaria dando um rumo maior na virada do milênio com a tal "pedra no caminho" do qual a banda acabou ficando deixando de lado para não acabarem carregando tal pedra durante a vida toda e com a saída de Patrick Laplan em 2001, Marcelo Camelo (voz, guitarras e letrista principal), Rodrigo Amarante (voz, guitarras, percussão e baixo) mais Bruno Medina (teclados) e Rodrigo Barba (bateria) decidiram inverter todos os papeis e assumir sua verdadeira identidade sonora, o que fica claro mesmo em Bloco do Eu Sozinho (2001), que foi muito aclamado por crítica e público, porém, acabou ignorado pela sua própria gravadora, a Abril Music, gerando um atrito entre a banda e o selo durante esse período. Mas, em meio a essa tempestade feita em um copinho de água, a banda acabou pegando estrada e divulgando seu trabalho intensamente até que precisaram retornar aos estúdios no final do ano de 2002, direto para o Sítio Remanso, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro e dali sairia o que viria a ser de verdade um dos melhores trabalhos da banda, tendo o mesmo Kassin que colabora desde o primeiro álbum na produção dos trabalhos da banda, antes chamado pela banda de Bonança, mas que após um dos registros de pré-produção ter sido vazado direto na internet e chegaram a uma conclusão de que o álbum deveria ter outro nome, para sorte da banda e que acabou trazendo uma enxurrada de grandes sucessos, seguidos de uma boa dose de originalidade, de primoridade nas canções, e este veio a se chamar Ventura, do qual estaremos falando aqui neste post. Mas, com a falência da Abril Music e o fechamento do selo, que acabou gerando a leva de boa parte do acervo sendo transferida para a Deckdisc, do antigo executivo João Augusto e outra parte ia para a BMG Music, selo que acabou com outra boa parte do acervo e foi por este selo que a banda acabou partindo após receber uma proposta da própria quando já estavam para deixar a recém-falida, e acabaram quase indo para a Trama ou para a Deckdisc, que ofereceram propostas boas para a banda lançar seu material.
Diferente do álbum homônimo de estreia (1999) e de Bloco do Eu Sozinho, este trabalho mostra-se uma banda que deseja seguir o risco, daí um sinônimo para explicar o nome do álbum Ventura, com uma capa bem elaborada por Michel Le Page, com um pássaro voando debaixo de um barco, que você só vê-lo completo ao abrir o encarte do CD. A faixa que abre este trabalho se chama Samba A Dois, já numa vertente bem de suingue, com uma pegada mais sotisficada e com a voz de Camelo dando aquele recheio com sua voz e seus versos, já numa onda mais moderna; o tema que surge em seguida é O Vencedor, com aquele pique mais rock and roll pra não passar batido e um arranjo de metais que soa bem aos anos dourados de R&B logo de cara, meio que com originalidade nos arranjos; em seguida temos Tá Bom, já algo mais bem baladinha e lenta por sinal, com um Marcelo Camelo mais suave pela voz; e passando a peteca para Rodrigo Amarante, que dá voz a Último Romance, grande destaque desse álbum e também por ser já uma espécie de love song que o público mais curte e já numa vibe bem equilibrada (para quem curte mesmo a banda); já em Do Sétimo Andar, ainda com Amarante sendo o vocalista principal, as coisas seguem a mesma, com um ritmo que nos lembra galopes de cavalo e uma conclusão no verso "Deus sabe, o que eu quis foi te proteger" como uma espécie de reflexão; na sequência temos A Outra, aonde o vocalista salienta durante a canção que quer paz e uma levada bem sotisficada no início com os sintetizadores e uma referência clara à sonoridade das músicas havaianas e não é somente pela levada de guitarra não; a faixa Cara Estranho já nos dá uma guia para o que acontece durante a música, com uma poesia bem cinematográfica, algo não tão comum nas canções dos cariocas; já na lenta O Velho e O Moço, com uma pegada bem tranquila, Amarante segue a se mostrar um ótimo letrista e também um ótimo cantor, assumindo de vez que gosta é do estrago nessa belíssima canção; enquanto isso, a poesia original de Além do Que Se Vê mostra um Marcelo Camelo tão inspirado e tão genial como nunca quando se trata de letras e essa nos mostra que é preciso sim, força pra sonhar e perceber, sem deixar de lado um pouco do estilo mais solto e com metais de levada cirquense bem antes de encerrar a música; já na sequência temos O Pouco Que Sobrou, já mais dando um gás básico na canção e também aproximando Camelo ao que consideramos algo mais morno do punk rock, trazendo claras referências ao rock alternativo e à música lo-fi nos arranjos; um pianinho aqui, um ritmo suave e muita gente cantando no meio da música, essa é a canção Conversa de Botas Batidas, já dando um tom de desabafo de Camelo aonde ele diz que "Deus parece às vezes se esquecer" como se a autoridade celestial se esquecesse das pessoas que vivem no mundo, com uma letra cheia de diálogos e num clima festivo durante o meio da canção; enquanto isso, Amarante acaba pegando carona na onda do country em Deixa o Verão, já bem diferenciado do resto das canções, chegando a soar mais dos countrys de salloon nos arranjos e um pouco de referências mais das canções antigas; na canção a seguir, Do Lado de Dentro, a pegada vai um pouco mais pro que nos remete aos ritmos de batucada quase passando despercebido, mas que segue a linha sem perder o rumo; já aqui em Um Par, o que vemos é o mesmo de sempre nas canções de Amarante, mas desta vez não passa batido também, aqui ainda carrega o que ainda há de energia no álbum e com um riff que até dá pro gasto; o final mostra mesmo que todas as energias se acabaram e o que sobrou é De Onde Vem A Calma, com uma suavidade incomparável e Marcelo Camelo esbravejando que o mal vai ter fim "...e no final assim calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim" sendo um belo jeito de encerrar o álbum e sem deixar nenhum erro à mostra, para quem é fã, vai entender bem o que eu estou falando aqui.
Set do disco:
1 - Samba a Dois (Marcelo Camelo)
2 - O Vencedor (Marcelo Camelo)
3 - Tá Bom (Marcelo Camelo)
4 - Último Romance (Rodrigo Amarante)
5 - Do Sétimo Andar (Rodrigo Amarante)
6 - A Outra (Marcelo Camelo)
7 - Cara Estranho (Marcelo Camelo)
8 - O Velho e o Moço (Rodrigo Amarante)
9 - Além do Que Se Vê (Marcelo Camelo)
10 - O Pouco Que Sobrou (Marcelo Camelo)
11 - Conversa de Botas Batidas (Marcelo Camelo)
12 - Deixa O Verão (Rodrigo Amarante)
13 - Do Lado de Dentro (Marcelo Camelo)
14 - Um Par (Rodrigo Amarante)
15 - De Onde Vem a Calma (Marcelo Camelo)
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