Um disco indispensável: 1943 - Bike (Honey Bomb Records, 2015)

Sobre o revival psicodélico que acontece no Brasil vai a seguinte frase: para um bom entendedor, apenas meia palavra basta de verdade. Sim, não precisamos dizer muito a respeito do que têm acontecido nesse ciclo que forma os fatos e acontecimentos do ano, como a forte expansão musical da neopsicodelia movido a tantos lançamentos bons. Como não esquecermos dos Boogarins, a banda goiana que despontou no início de 2013 com o disco As Plantas Que Curam e agora foram se inspirando ao extremo, com o álbum Manual lançado em fins de outubro? É, muito se pode falar sobre a neopsicodelia de forma curta. Já dito antes, tudo aconteceu mesmo em 2007 com o MGMT e que só foi acontecendo e acontecendo aos poucos quando de repente, eis que surge a banda Tame Impala em 2010, com seu disco de estreia Innerspeaker e dois anos depois, as coisas vieram a se expandir mais graças a Lonerism, o disco que acabou fazendo o mundo cair de vez na vibe que está ultimamente acontecendo e daí veio a aparição de outras bandas também querendo colocar todo esse astral, como a POND (também vinda da Austrália), Unknown Mortal Orchestra, Cloud Nothings e o canadense Mac DeMarco. No Brasil, a cena neopsicodélica não se resume apenas em Boogarins e também O Terno, sendo que existe uma quantidade de bandas por aí que também seguem esse exemplo de redescobrir o astral psicodélico, como os paulistas Molodoys, Abacates Valvulados, os cariocas da The Outs e também a banda Bike. Mas, você aí, caro leitor deste blog, vai me perguntar "por quê uma banda brasileira se chama Bike sendo que há tantas por aí mundão afora com o mesmo nome?" Eu não sei você, mas quando se faz uma pergunta dessas, quem poderá te responder mesmo é o líder da banda, Julito Cavalcante, o baixista da banda Macaco Bong e também o cabeça por trás dessa banda sensacional, que nada mais é um projeto paralelo fora de seu conjunto principal e aqui ele segue como vocalista e guitarrista, acompanhado de Diego Xavier na guitarra, Hafa Bulletto no baixo e Gustavo Amaral na bateria formam essa banda responsável pela viagem sonora que você vai acabar degustando agora. O nome do disco lançado recentemente se chama 1943, coincidência que 1943 e o nome da banda Bike fazem uma impressionante ligação? Sim, em um período longo da gente atualmente, em 1943 (muito antes dos computadores invadirem de vez os cérebros e as casas do mundo), um cientista suíço chamado Albert Hofmann passeou de bicicleta após ter deixado o seu laboratório e ter degustado uma dose de LSD (ácido lisérgico dietilamida) em meio à sua criação e esta droga só ganhou mais poder nos anos 60, quando acabou sendo muito distribuída entre a segunda metade da década, ganhando expansão no Verão do Amor de 1967 na cidade norte-americana de São Francisco e espalhando-se mais pelo mundo. Até hoje, o LSD têm sido consumido muito, fazendo as pessoas caírem de vez na onda lisérgica e foi nessas experiências com ácidos que Julito (o nome soa espanhol, não acham?) buscou sua inspiração para o disco 1943, lançado em fins de outubro, seguido de Manual, o novo trabalho dos goianos Boogarins que só têm recebido ótimos elogios da parte da crítica.
1943 conta com a produção de Julito e gravado em São Paulo no estúdio MonoMono e contando com a mixagem realizada por Taian Cavalca, do conjunto Cabana Café e ainda teve a mixagem de Rob Grant, o mesmo cara responsável pelas mixagens dos álbuns das bandas Tame Impala, POND, Death Cab for Cutie e Melody's Echo Chamber em seu estúdio Poons Head Studio na cidade australiana de Perth. O disco começa a partir da faixa 1943, uma verdadeira acid trip sensacional da qual não se arrependerá logo na primeira escuta e poder deixar de lado o papo de que neopsicodelia é chato, sentindo-se como Hoffmann no passeio de bicicleta que fez após testar o LSD em seu laboratório, apenas isso; já em O Enigma do Dente Falso, não se deixe enganar, há muito de Grateful Dead e até mesmo de Tame Impala sem ignorar de vez as influências de Carl Sagan e a sua teoria cosmológica estão onipresente nesta e nas outras canções do álbum; e quando você acha que acabou, está muito enganado, a acid trip sonora ainda segue em Stardust, que soa como pegar carona em uma estrela de vez observando a Terra lá do alto, e só sentindo a vibe mesmo a cada acorde de guitarra entoado na música; a viagem sonora de Julito e companhia vai chegando ao extremo mesmo quando rola Alucinações e Viagens Astrais, parecendo o encontro da sonoridade de Pink Floyd na fase Syd Barrett com a de Grateful Dead com direito a solo de guitarra apoteótico, soando como o objetivo alcançado que é deixar o ouvinte pirando ouvindo este trabalho e prevendo que "amanhã será um novo dia" de vez; já em Isso/Daquilo a vibe segue a mesma, tudo segue como antes, sem deixar passar batido, e que se dissolve um pouco, até voltar e encerrar de vez a canção num tom bem Jefferson Airplane até; a próxima música pode te impressionar de vez, Filha do Sol é totalmente movida por uma história na qual a estrela quer ver o Sol dançar e vice-versa, fazendo muito sentido, aqui com uma pitada mais ácida na base sonora; na sequência temos um título que nos soe estranho, mas que ouvindo melhor a letra, você vai entender melhor que A Vida É Uma Raposa, servindo como uma espécie de mantra até mesmo pelos versos "Sigam as luzes do infinito, eleve a energia do espírito" como um conselho, movido por muita psicodelia ao extremo e que destrói (no bom sentido, óbvio) mais nossos ouvidos; o final fica por conta de Luz, Som e Dimensão com uma voz sintetizada aonde o verso "faça uma viagem para o centro da sua mente" quer que te leve além das ideias simples da vida, te colocando num nível máximo da lisergia sonora, e cuja esta encerra com chave de ouro o álbum.
Set do disco:
1 - 1943 (Julito Cavalcante)
2 - O Enigma do Dente Falso (Julito Cavalcante)
3 - Stardust (Julito Cavalcante)
4 - Alucinações e Viagens Astrais (Julito Cavalcante)
5 - Isso/Daquilo (Julito Cavalcante)
6 - Filha do Sol (Julito Cavalcante)
7 - A Vida É Uma Raposa (Julito Cavalcante)
8 - Luz, Som e Dimensão (Julito Cavalcante)



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