Um disco indispensável: Amianto - Supercombo (Elemess, 2014)

Em 2014, o rock brasileiro começou com um pouco de novidades para a alegria de fãs: os Titãs lançariam um disco novo bem entre abril e maio, Pitty estava trabalhando em um suposto material inédito, o Fresno lançaria um EP independente. Mas, e o novo cenário do rock nacional? Tem conseguido um espaço, com o passar dos anos, embora bandas como Black Drawling Chalks, Boogarins, Nevilton, Holger e O Terno conseguiram um espaço imenso por onde passam, graças ao público e aos meios de divulgação pela internet. E uma dessas bandas que apareceram recentemente nessa sequência foi o conjunto paulista Supercombo, que surgiu na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo em 2007, embora a banda tenha se fixado mesmo na maior metrópole do Brasil (Sampa, óbvio), e só recentemente conseguiram estourar de vez graças ao hit Piloto Automático, do mais recente álbum Amianto, lançado em janeiro de 2014, embora a música tenha sido apresentada mesmo em outubro de 2013, dois anos depois de terem lançado Sal Grosso, o álbum de estreia lançado em 2011. O grupo, já diz o nome, é uma mistura de tudo o que fazem, pois há compositores, produtores e engenheiros de som e ainda por cima, multi-instrumentistas, dentre eles o vocalista, guitarrista, tecladista, compositor, produtor e engenheiro musical Leonardo Ramos, que nasceu na Suíca e aos 10 anos veio morar no Brasil e, viria a ser campeão do reality show do SBT, Astros com o projeto 2ois "Muita gente ficou sabendo que fui um dos campeões do Astros e depois o reconhecimento pela internet se expandiria a mil", relembrou mais tarde, o vocalista que atende pelo apelido de Castor. O 2ois se converteria no Supercombo de novo, depois que entraria a baixista Carol Navarro, que fez parte da banda Lipstick, o tecladista Paulo Vaz (o mais novo da banda, tem 20 anos), o guitarrista Pedro Ramos, que já foi da banda Tópaz por mais de 5 anos e o baterista Rafael de Paula. Essa formação só estaria disposta para atrair o público no final de 2013, já que nos primeiros anos, Léo contou com Marcelo Braga na bateria, o guitarrista Jean Diaz e o baixista Jackson Pinheiro e a partir de 2012, Carol Navarro sai do Lipstick e substitui Jackson Pinheiro, seguido da saída de Marcelo Braga, que foi o primeiro da formação original a sair, o último foi o guitarrista Jean Díaz em meados de 2013. Assim, a banda conseguiu a formação definitiva para conceber um dos melhores lançamentos nacionais do ano, Amianto, lançado pela Elemess no final de janeiro deste ano.
O álbum começa com Matagal, com apenas mais de dois minutos e uma porrada que já dá pra perceber que o Supercombo não é uma banda que vira moda e depois deixa de ser um sucesso nacional, com uma levada de hardcore na guitarra e versos que superam as bandas "melódicas" e efeitos de teclados muito pop, sem fugir do padrão rock, com vocais mais modernos, como muitas bandas tem feito ultimamente; enquanto Campo de Força já não deixa rastros muito clichês, na qual o punk rock de 1977 e a linha pop-rock mais moderna, que nos remete a bandas como Muse, Imagine Dragons e 30 Seconds to Mars, com versos sutis e uma linha poética que não tem nada a ver com as últimas bandas que já passaram de 2006 a 2010 fazendo um som mais melódico, que era rotulado de "emocore", "emo" e "colorido", mas muito melhor do que isso; a faixa Piloto Automático apareceu no final de 2013, como um tema que não parecia estar preparada para fazer sucesso, mas com a popularidade do vídeoclipe no Youtube e o refrão, acabou sendo ecoado pelas bocas do Oiapoque ao Chuí "Eu devia sorrir mais, abraçar meus pais, viajar o mundo e me socializar/Nunca reclamar, só agradecer, tudo o que vier eu fiz por merecer/Eu devia sorrir mais, abraçar meus pais, viajar o mundo e me socializar/Nunca reclamar, só agradecer, fácil de falar, difícil fazer", uma power ballad, que depois acaba sendo usada em casamentos e até em formaturas, como uma mensagem de reflexão que acaba virando uma volta por cima, depois que ouve e se surpreende com os versos; já em Menino, uma mistura de canção de ninar, pela forma do piano, e marcha-rancho e um tom mais urbano e realista, na letra, cheio de muito peso em uma marcha bem rock and roll e com vocais mais suaves, sem fugir do ritmo; os tons alegres e pra cima em Sol da Manhã mostram que em uma letra bem ousada, com ritmos bem desacelerantes e pra baixo, além de frases de fundo que soam (aquelas que dão uma despercebida no meio das músicas e aparecem no encarte); a linha mais pop aparece mesmo em O Peso da Cruz, uma letra que fala sobre as críticas e a inveja, julgando pessoas sem ter conhecimento, e ainda dando uma pegada mais hardcore do que pop e punk, mostrando uma visão mais realista sobre como o povo vive julgando a si mesmo; e o caso de Ela, uma música não tão cheia de seus perfeccionismos, ainda segue trazendo aquela linguagem mais moderna e ousada de fazer rock, embora os versos carregam uma ironia profunda e cheia de volatilidade; em Fundo do Mar, bem melancólico e com muitos vocais bem caprichados, inclusive, até a baixista Carol Navarro arriscou um "sem fazer nada" no refrão, e mostram de cara que "Somos um eco do que imaginamos ser" logo no final da música, dando uma prova de que o Supercombo é tudo o que se espera de quem nunca ouviu eles antes; uma volta ao tempo de infância em Soldadinho, parece ser brincadeira, com introdução de teclado oitentista, e ainda mostra um aviso "o lance é inventar e fazer teu próprio amanhã", para quem sempre buscou visionar muito, nas ideias; logo ao começar Memorial, quando já cresce a música, o que permanece é a base pop-punk, com referências ao rock alternativo, embora as desilusões da vida ainda soem mais modernas, ainda que Léo Ramos não deixa passar batido a sua parte na música; logo em seguida, Autonomia segue dando uma lição sobre como tentar ter total autonomia sobre a pessoa e tornar-se independente dos outros; o final fica mesmo com Amianto, uma simples canção melódica, sem deixar de ser moderna, ainda que num tom mais leve e sem muito peso, proclama que "Mas tudo bem, nem sempre estamos na melhor", com vocais bem pra baixo em certas partes, e Carol encerra a música dizendo "Moço, ninguém é de ferro, somos programados para cair", sendo assim, encerrado mais um disco de rock nacional, diferente de tantos outros.
O disco Amianto já recebeu uma saraivada de críticas boas, recebeu elogios da Rolling Stone brasileira, chegando a comparar com os Smashing Pumpkins na era dourada, embora o público e a crítica tentem vincular mais o trabalho deles com o de grupos já conhecidos, como Fresno e Tópaz. Apesar de tudo isto, eles sabem que não é fácil conquistar o sucesso nas rádios em meio a um pessoal mais apegado em fazer sucesso rapidamente que não são do mesmo estilo que eles, embora tenham que se acostumar a dividir algumas posições com gente do funk, pagode e sertanejo. Foi produzido inteiramente pela banda e masterizado pelo americano Ted Jensen (Norah Jones, Metallica, Paul McCartney, Arcade Fire, dentre outros) e ainda contou com QR Code para você tirar a foto e ter o acesso a conteúdo exclusivo pelo site da banda, pelo canal no YouTube e no Facebook da banda. Já tem tudo pra ser considerado pelo público como um dos surpreendentes lançamentos do rock nacional de 2014, sem sombra de dúvidas. Sucesso e reconhecimento, tanto nacional quanto internacional é o que não faltará, esperamos, para o quinteto Supercombo.
Set do disco:
1 - Matagal (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
2 - Campo de Força (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
3 - Piloto Automático (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
4 - Menino (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
5 - Sol da Manhã (Leonardo Ramos/Marcelo Klaczko/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
6 - O Peso da Cruz (Leonardo Ramos/Marcelo Klaczko/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
7 - Ela (Leonardo Ramos/Marcelo Klaczko/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
8 - Fundo do Mar (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
9 - Soldadinho (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
10 - Memorial (Leonardo Ramos/Marcelo Klaczko/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
11 - Autonomia (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)
12 - Amianto (Leonardo Ramos/Pedro Ramos/Carol Navarro/Raul de Paula/Paulo Vaz)





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