Capas de Discos Indispensáveis: Nheengatu - Titãs (2014)

Ok, quando se pensa nos discos dos Titãs e nas suas capas, a gente lembra dos rostos de Leonardo da Vinci no clássico Cabeça Dinossauro (1986), ou as ilustrações extraídas das lendárias Enciclopédias Barsa presentes no encarte de Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991) e até no preto e branco soberano de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001), as propostas de capas de discos sempre definem a estética de um material discográfico de uma banda. Desta vez, a banda voltou atrás, nos anos em que os discos tinham muito peso, muita agressividade nas letras e também no contexto social e realista, ainda mais em pleno século 21, onde o foco são os movimentos de protesto e o caos ocorrido ao redor do mundo e também por desentendimentos critetriosos, sejam eles políticos, religiosos ou étnicos, o título Nheengatu vem do tupi "língua-geral".
"O Massacre dos Inocentes", imagem da contracapa do álbum
recente dos Titãs
E a capa do disco, concebida por Sérgio Britto (o tecladista da banda) e André Rola, amostra uma imagem clássica do pintor holandês Pieter Brugel, ou conhecido também como O Velho (1525-1569), o mito bíblico da Torre de Babel, a famosa torre em que os homens tentaram construí-la para que tentassem conseguirem alcançar o céu e verem Deus, mas que Deus, ao saber do desejo dos homens, um dia mudou tudo e deu a cada tipo um sotaque, uma forma de falar diferente e dali causaria um desentendimento geral entre os homens. 
"Peixes Grandes Comendo Peixes Pequenos", imagem do encarte interno do álbum
No Facebook da banda, quando foi postada a capa do disco, explicaram bem "Na tentativa de fazer uma foto instantânea do Brasil atual, as duas ideias se contrapõem bem: uma palavra (e uma linguagem) de entendimento para tentar explicar um mundo de desentendimento." e além da pintura da Torre de Babel na capa, a contracapa mostra a pintura "O Massacre dos Inocentes" do mesmo Brugel, mostrando uma visão do caos, das revoltas. Mas, diferente do que se diz, ali está sim retratada a realidade, nas manifestações, nas revoltas e nos movimentos neopacifistas recentes do século XXI.
"Os Aduladores", imagem do rótulo do CD
Um dos outros desenhos do encarte, que faz parte é "Peixes Grandes Comem Peixes Pequenos", num tom irônico, até como uma definição de como se o povo estivesse engolindo opiniões, críticas e até mesmo as palavras ditas por gente que não compreende a liberdade de expressão e ainda abusam demais dela pelas redes sociais como o Twitter e o Facebook, além de também dar uma visão mais crítica da sociedade nos dias atuais. Além da etiqueta do disco contar com uma imagem chamada "Os Aduladores", vinculando a imagem com a corrupção no país, o dinheiro que o povo paga e acaba parando em mãos erradas, como se fosse mesmo um desperdício e o homem de camisa vermelha e gorro deve significar o governo, o sistema político principal do país. Além de uma imagem para completar esse encarte, que é "A Luta entre o Carnaval e a Quaresma", representando os conflitos religiosos que tem mudado de uns anos pra cá, conflitos nos quais não é a Igreja Católica que acaba tendo que sofrer críticas, porém são grupos não-religiosos, os Direitos Humanos e inclusive as classes conservadoras contra movimentos pacifistas, movimentos políticos de esquerda e também ativistas sociais. Enfim, imagens de Bruegel que traduzem o desentendimento geral no país e o caos do século 21.
pintura de "A Luta Entre o Carnaval e a Quaresma", parte da pintura está presente no encarte do livreto do álbum


Capa: André Rola e Sérgio Brito sobre imagens de Pieter Bruegel, o velho (1525-1569)

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