Um disco indispensável: Songs of Innocence - U2 (Island Records/Universal Music, 2014)

O que falar sobre uma banda que leva multidões a lotar estádios do mundo todo, sabe conquistar públicos de várias idades e ainda vende milhões de discos? Pois é, no caso do U2 que já estão há quase 4 décadas fazendo sucesso e estrada, nada é impossível para realizarem grandes projetos musicais, como foram as últimas cinco turnês Zoo TV (1992/1993), Pop Mart (1997/1998), Elevation (2000/2001), Vertigo (2004/2006) e 360º (2009/2011), esta última foi uma das mais assistidas da banda nos últimos anos, com uma megaestrutura que mantinha o título dos show do U2 como "o maior espetáculo da Terra" até hoje. E cinco anos após o último trabalho No Line On The Horizon (2009), o quarteto irlandês seguiu fazendo seus shows lotadíssimos, trabalhando em possíveis músicas para um próximo disco, e boatos de que estava sendo produzido por Danger Mouse, o mesmo sujeito que produziu os álbuns de Black Keys, Norah Jones, Damon Albarn e de Beck, e desta vez seria encarregado de ajudar uma das mais poderosas bandas de rock a fazer o verdadeiro disco de 2014, que acabou sendo um verdadeiro sucesso direto, mas desta vez acabou sendo lançado em um outro formato: o iTunes, na qual o cara baixa o álbum virtualmente, e ainda tem que pagar por cada música baixada. É claro, o U2 precisava seguir fazendo o seu som de sempre, sem deixar de manter suas origens do rock and roll, apesar do que foi No Line On The Horizon, a banda conseguiu fazer um disco que subestimasse de vez as expectativas de um álbum raro e inédito do U2 cheio de novidades e isso pode ter acontecido apenas no dia 9 de setembro desse ano (2014) quando a banda fez uma apresentação do álbum em um evento do iTunes nesse dia, quando os irlandeses apresentaram ao mesmo tempo, uma faixa nova deste material. O que se pode ouvir é um disco com temas que mostram um pouco as histórias da banda, o que podemos definir como um disco temático ou "meta-temático", já que a banda carrega muitas coisas vividas desde 1976, o ano em que a banda surgiu nos arredores da capital irlandesa Dublin e partindo da garagem do baterista Larry Mullen Jr. para os arredores do mundo e as estantes de discos de muita gente que acabou caindo de vez ao som do grupo, e ainda se mantêm ativos como nunca.
O título do disco é até uma brincadeira com a trajetória e a "inocência" que se perdeu com os tempos, e também uma conexão com o som que a banda fazia durante os anos 1980, tendo como momentos importantes o álbum de estreia Boy (1980), o religioso October (1981), o apoteótico campeão de vendas War (1983), que derrubou Thriller de Michael Jackson do topo das paradas,que marcaram de vez a carreira da banda e trouxeram um pouco da linguagem pós-punk que era utilizada por bandas como The Smiths, The Cure, Jesus and Mary Chain, Echo and The Bunnymen entre outras. Para compensar, até parece que esse álbum foi lançado por alguma banda jovem com influências do indie-rock atual, misturando um pouco do que o U2 fez na fase pop-eletrônica e europeia nos anos 1990, vide Achtung Baby (1991) e Pop (1997), na qual homens de meia-idade são os integrantes principais, um vocalista que é ativista social, ajuda crianças na África, ajuda o Greenpeace e colaborou com o Fome Zero aqui no Brasil doando uma guitarra, mas que ainda segue nas causas sociais. Mas, falando do disco em especial, tudo tem ares oitentistas com levadas de rock dos anos 2000 e 2010, ainda com um pouco de tudo que a banda fez nos últimos anos, e o tema que abre o disco, The Miracle (Of Joey Ramone) é uma história de quando um jovem chamado Paul Hewson, que viria a se chamar Bono, conta sobre  a sensação de quando escutou pela primeira vez a banda de punk rock americana chamada Ramones, com uma perfeita introdução de solo de guitarra de The Edge; já em Every Breaking Wave, de pegada mais rústica, com referências sobre o mar "Todo marinheiro sabe que o mar/É um amigo fazendo inimigo/E cada alma náufraga, sabe o que é/Viver sem intimidade/Eu pensei ter ouvido a voz do capitão/É difícil ouvir enquanto você prega/Como cada onda quebrada na costa/Isto é tanto quanto eu poderia chegar"; enquanto California (There Is No End to Love) a banda fala sobre o estado americano, com referências a lugares como Santa Barbara, Zuma e seguindo a base guitarra-baixo-bateria; a pegada mais soft-rock e baladista em Song for Someone não deixa o U2 passar batido de vez, ainda mais no momento mais sentimental das canções, com um pouco de piano; o pop rock mais dançante, bem mais pra cima e moderno até, aparece em Iris (Hold Me Close), onde Bono homenageia sua mãe mais uma vez, quando ela morreu aos 14 anos; o baixo de Adam Clayton soa como nunca em Volcano, onde o pop-retrô oitentista aparece aqui, como se "algo em você pode explodir"; o U2 história aparece mais uma vez em Raised By Wolves, onde falam sobre uma noite em que a cidade de Dublin testemunhou a explosão de vários carros-bombas dos anos 70, que deixou a cidade sangrenta; um quê de soft-rock e bucolismo na pegada de Cedarwood Road, uma rua onde o vocalista morou na infância e homanageia um amigo Guggi, irmão do garoto Peter Rowen que apareceu nas capas de Boy (1980), War (1983) e no ep U2 Three (1979) e na coletânea The Best of 1980-1990 (1998); uma rotina é retratada como uma canção em Sleep Like a Baby Tonight, na qual Edge detona como sempre nos solos de guitarra;  depois dos Ramones, o guitarrista Joe Strummer, do The Clash é relembrado pela banda em This Is Where You Can Reach Me Now, na qual o grito de um-dois-três-quatro vira refrão principal "1-2-3-4 foi o suficiente" e acaba em uma batida surpreendente; o final foi surpreendente mesmo, em The Troubles, a banda se superou de vez nos arranjos e na convidada especial da faixa, a sueca Lykke Li, que não fez feio ao cantar ao lado de Bono, o que não é raro alguém cantar com o U2, como sempre né. Enfim, mais uma volta com estilo e um pouco mais de ousadia, como o U2 sempre faz volta-e-meia.
A volta do grupo ao começo de tudo, lá pelo final dos anos 70 e início dos anos 80 não está só na sonoridade, nas letras e no conteúdo do disco. A capa, onde mostra um formato de uma capa de disco de vinil. O álbum também conta com o velho parceiro Flood, Ryan Tedder, músico, compositor e produtor do OneRepublic e Paul Epworth, que já trabalhou com Adele e Paul McCartney (já falamos do New por aqui lá em março). Uma volta com estilo, embora a banda ainda se agiganta com o passar dos últimos anos graças aos relançamentos e edições deluxe de The Joshua Tree e Achtung Baby e a turnê 360º, que passou por aqui no Brasil em abril de 2011.
Set do disco:
1) The Miracle (Of Joey Ramone) (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
2) Every Breaking Wave (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
3) California (There Is No End to Love) (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
4) Song for Someone (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
5) Iris (Hold Me Close) (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
6) Volcano (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
7) Raised By Wolves (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
8) Cedarwood Road (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
9) Sleep Like a Baby Tonight (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
10) This Is Where You Can Reach Me (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.)
11) The Troubles (Bono/The Edge/Adam Clayton/Larry Mullen Jr.) - dueto com Lykke Li



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