Um disco indispensável: Banda do Mar - Banda do Mar (Agência de Música/Sony Music, 2014)

Desde 2008, o casal Marcelo Camelo e Mallu Magalhães têm pintado e bordado musicalmente, e também amorosamente, pois de uma parceria do ex-Los Hermanos com a então prodígio do folk nacional no disco solo do primeiro, intitulado Sou (2008), na qual os dois cantavam juntos a música Janta, que acabou sendo um sucesso e marcando o amor eterno da dupla Camelo & Mallu, que se resultaria no segundo álbum de homônimo Mallu (2009) e também em Toque Dela (2011), segundo disco solo de Camelo e em Pitanga, o terceiro disco solo de sua companheira, e também ajudando os amigos de sempre, como Wado. Entre trocas de ideias e de influências, o casal acaba passando uma temporada em 2013 em Portugal para que, longe de todo o caos (econômico, político e algo mais) que se passa no Brasil, pudessem se aperfeiçoar musicalmente e conseguirem as portas do sucesso que pouco são abertas para a cena alternativa da MPB que têm aparecido dos anos 90 pra cá (Chico Science & Nação Zumbi, Planet Hemp, Pato Fu, Pedro Luís e A Parede, Little Quail And The Mad Birds, Acabou La Tequila são exemplos) e que após 2005 ganhou peso após os apoios que têm recebido de artistas da velha cena MPBística, mas também de veteranos dos anos 90 e de músicos internacionais, e foi o caso das carreiras solos de Camelo e Mallu, que tiveram apoio até dos portugueses, que sempre deram mão amiga para os nossos trabalhos. Acontece que, em 2013, já num "exílio artístico" na terra de Camões, Fernando Pessoa, Amália Rodrigues e dos Xutos & Pontapés, Camelo e Mallu acabam se cruzando com músicos de nome, dentre eles Fred Ferreira, músico, compositor e baterista dos grupos Orelha Negra, Buraka Som Sistema e 5-30 e que já tinha conhecimento dos trabalhos musicais de ambos. E assim, enquanto o casal trabalhava com Wado, alagoano e um dos favoritos de Camelo, se encontraram com o produtor português e dali selaram uma grande amizade que teria alguns encontros futuros adiante, mas ainda não se pensava em uma banda. E é quando no começo de abril de 2014, a convite de Camelo para que surgisse mais um elemento para dar um rumo ao que era apenas um duo de casal, como Johnny Cash e June Carter, Sonny Bono e Cher, Ike e Tina Turner e Rita Lee e Roberto de Carvalho, Fred se junta a Camelo e Mallu e assim nasce a Banda do Mar, que recentemente lançou um álbum em agosto com doze faixas e já têm quatro singles disponíveis.
Falando no álbum, vale a pena cair de vez no trabalho da banda que foi gravado todo em Lisboa durante o período de 12 de maio a 9 de junho deste ano e com a produção de um nome bem conhecido da cena ska e reggae, Victor Rice, que já produziu The Adjusters, Firebug e The Easy All-Stars. O disco é uma mistura de todas as influências musicais dos três, com uma ligação ao som alternativo dos anos 90 e um pouco da sonoridade retrô dos anos 60, em especial da Jovem Guarda (ou iê-iê-iê), movimento que durou de 1965 a 1969 e que teve nome de um programa musical na TV Record. A música que abre o disco, Cidade Nova, na voz de Marcelo Camelo, nos lembra até um pouco os anos de Los Hermanos (1999-2007), e até que não foi um exagero demais, até no refrão ele se superou "Eu não deixo o tempo parar"; a dançante Mais Ninguém, mostra muito mais do que uma canção da Banda do Mar ou a suavidade vocal de Mallu Magalhães, mostra perfeição e até inovação nas referências sonoras e no vídeoclipe, na qual os integrantes arriscam o Passinho do Romano, hit da internet; Marcelo ainda segue ousado em Hey Nana, um tema que carrega aqueles mesmos ares poéticos de sempre; já Muitos Chocolates faz até uma volta ao mundo "Por um beijinho de esquimó eu moro no Alasca, mas se quiser mudar pra China eu aprendo mandarim", dando um quê de poesia comum, porém perfeito na voz de Mallu; Pode Ser acaba dando um quê de romantismo, numa levada de baladinha romântica dos anos 60, com a voz de Camelo dando um quê de perfeição que só ele consegue colocar nas suas músicas; já em Mia é uma canção na qual se trata sobre uma gata de estimação, uma das tantas paixões (felinas) de Mallu, num tom bem pra cima com levadas de rock de 1964 e 1965 com uma guitarra à la surf music; o tema Dia Clarear, com uma levada bem de bossa nova e canção romântica, pode se notar muito isso na música e na forma de Marcelo Camelo cantar, isso nos lembra até as love songs dos anos 50 e 60, mas com ares de uma música acústica; já em Me Sinto Ótima, o folk e as levadas acústicas com muita guitarra, e com um refrão, e uma letra perfeita; enquanto Faz Tempo carrega um ar bucólico, tanto na base musical quanto nas letras, falando de querer descansar e de viver conforme o que vier; Mallu mostra um lado bem mais sutil e romântico tanto na letra quanto na música de Seja Como For, já é mais delicada e com um refrão que pode ser referências ao amado barbudo "Meu bem, você pra mim é privilégio/Sorte grande de uma vez na vida/Minha chance de ter alegria/Não importa quando, como, onde/Somos o nosso próprio rei" e já é mais do que perfeição em versos e música; a letra de Solar parece ser antiga, feita em tempos de Los Hermanos, pelo fato da originalidade e pela poesia, embora isso seja mesmo Camelo fazendo seu som com a pessoa que mais ama e seu amigo português; já a faixa Vamo Embora é um anúncio de despedida, claro, que o disco encerra por aqui, mas despedindo com uma forma mais delicada e simples como só Camelo sabe fazer em suas canções, e a última frase dá um tom de que continuará "O tempo é o que eu tenho para voar" provando que a Banda do Mar é muito mais do que Camelo e Mallu juntos.
Set do disco:
1) Cidade Nova (Marcelo Camelo)
2) Mais Ninguém (Mallu Magalhães)
3) Hey Nana (Marcelo Camelo)
4) Muitos Chocolates (Mallu Magalhães)
5) Pode Ser (Marcelo Camelo)
6) Mia (Mallu Magalhães)
7) Dia Clarear (Marcelo Camelo)
8) Me Sinto Ótima (Mallu Magalhães)
9) Faz Tempo (Marcelo Camelo)
10) Seja Como For (Mallu Magalhães)
11) Solar (Marcelo Camelo)
12) Vamo Embora (Marcelo Camelo)


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