Um disco indispensável: Setevidas - Pitty (Deckdisc, 2014)

A carreira de Pitty já carrega doze anos, três discos de estúdio, dois ao vivo, quatro DVDs e milhões de fãs ao redor do Brasil desde que conquistou o país com o álbum de estreia, Admirável Chip Novo (2003), que ficou até o início de 2005 no topo das paradas, ganhando os prêmios Multishow, Meus Prêmios Nick, VMB em apenas um ano (2004), conseguiu ser uma nova representante feminina da cena roqueira nacional, colocando sucesso atrás de sucesso a cada disco (isso já é um fato para uma cantora de nome como ela) e mantendo-se a principal musa do rock nacional desde que apareceu na mídia em 2003. Mas, em 2011 ela deu uma pausa na sua banda e ao lado do guitarrista Martim Mendonça, que está na banda desde 2005, formaram um duo folk chamado Agridoce que durou dois anos, um CD, um DVD e um LP e alguns shows lotados, embora alguns não tenham ido muito na onda quando surgiram, mas acabou fazendo sucesso rapidamente, e conquistando os fãs da cantora de vez, na qual viram o lado instrumentista dela. Mas em 2013, não seria o mesmo ano para a cantora: primeiro, o ex-baixista da banda Joe move um processo contra a sua antiga parceira, o guitarrista dos primeiros anos, Peu Souza se suicida dez anos depois de começarem a trajetória de sucesso juntos e ainda acaba internada na UTI por uma disfunção hormonal, mas o ano de 2013 acabaria bem, pois Pitty começou a trabalhar em letras novas com Duda Machado, ex-namorado e baterista, o guitarrista Martin e o novo baixista Guilherme Almeida, que entrou dois anos depois que Joe pulou fora da banda. E só faltava reunir outro companheiro de sempre: o produtor Rafael Ramos (Matanza, Los Hermanos, Titãs, Ultraje a Rigor) e de cara, reunir o material inédito composto entre as dores de 2013 e o fim da era Agridoce, que foi mais outro sucesso de sempre. O álbum teve além da produção do parceiro onipresente Rafael Ramos, uma mixagem de peso feita pelo americano Tim Palmer, especialista em bandas como Pearl Jam, U2, Ozzy Osbourne e até David Bowie, que colocou alguns segredos adicionais para este disco, que foi trabalhado bem antes do ano de 2014 começar, logo quando os estúdios estavam começando a se ocuparem no verão e quando as turnês já começariam a rolar pelo Brasil afora, mantendo de vez o sucesso e o reconhecimento de público e crítica como sempre. E desta vez, Pitty retornaria com paulada extrema, mais melancólico, indo profundamente nos temas e com ares mais melancólicos e sombrios, o que já se percebe muito disso também no disco Chiaroscuro (2009), que já era outro rumo dos dois primeiros álbuns, porém sem mudar as influências musicais, é claro, mas foi gravado de um jeito mais familiar e bem ao vivo, com a banda fazendo tudo ao mesmo todo o trabalho, cujas letras ficaram prontas bem a tempo de começarem a gravar o disco, depois de uma bem-sucedida pré-produção foi quando ela fechou as letras e entrou em estúdio para gravar com um jeito bem garageiro, algo que lembra um pouco The Mars Volta, The Queens Of The Stone Age e The Hellacopters, e isso se nota pelo disco todo o peso extremo de guitarras do Martim e as batidas pesadas de Duda, além da estreia de Guilherme no baixo, substituindo o ex-companheiro de estrada Joe após sair da banda e ter processado a cantora.
O que se pode ouvir direto, quando começa a faixa Pouco é como um aviso de que Pitty está mais viva e mais ativa do que nunca, com uma abertura em alta rotação, nas ênfases da guitarra; enquanto Deixa Ela Entrar já é como se estivesse falando sobre a sorte, e os desafios que estariam vindo mais adiante, e também deixa ares duvidosos com possíveis referências sobre os acontecimentos da vida da cantora em 2013; já em Pequena Morte, carrega ares de uma canção de filmes de terror, falando de orgasmos, e com versos bem carregado de dramas e de desilusões; as guitarras cruas e os vocais rascantes em Um Leão ainda nos trazem um pouco das canções melódicas de hard rock, com um pouco de percussão e ecos à toda potência e com apenas uma frase, servindo como o refrão "Um leão sem domador" como se falasse de um amor sem dono; enquanto Lado de Lá já traz um pouco o retrato da morte até de um jeito mais delicado, com uma sonoridade experimental que têm como base o Agridoce e também é uma homenagem ao amigo Peu e ao ídolo Lou Reed; o peso de guitarras melancólicas em Olho Calmo já é mais melódica, assim como várias canções do disco e começa com um verso dizendo sobre algo que esperava tanto que acontecesse "Nem pensava que essa hora ia chegar, saber não insistir nessa hora de se gastar"; na sequência vem Boca Aberta, trazendo uma forma mais reflexiva, em uma veia mais crítica e madura, que já tinha se evoluído depois dos dois primeiros álbuns; A Massa pode nos lembrar um pouco a sonoridade de Marilyn Manson nos anos 90 e o hardcore dos anos 80 sem deixar o seu velho estilo de fazer músicas de lado; a ressureição em Setevidas já é provável nos primeiros versos "Só nos últimos cinco meses, eu já morri umas quatro vezes/Ainda me restam três vidas pra gastar" e isso pelo fato de ter gastado todas as suas forças no ano passado pelas perdas, pelo sofrimento, movido a muito solo de guitarra e o saxofone de Carlos Malta; a música Serpente, de levada folk bem elétrica, coros ao estilo 30 Seconds To Mars, e provando que o amanhã virá, mesmo com tantos altos e baixos pra viver.
O disco, além de ter o mesmo Rafael Ramos na produção, mais letras feitas com Martim Mendonça e com Duda Machado e Guilherme Almeida, a mixagem do famoso Tim Palmer, a forma ousada de criar suas próprias fotos para o disco, na qual está com a sua gata de estimação chamada Nêga, que morreu dias depois da sessão de fotos. Mas o disco acabou superando as expectativas, uma Pitty mais amadurecida, sendo jovem para aqueles que cresceram ouvindo Admirável Chip Novo, Anacrônico, Equalize, Me Adora, Teto De Vidro, Máscara, Memórias e entre outros, ainda é aquela mesma baiana cheia de rock e muita vitalidade como sempre, sem ousar em certos padrões, sejam em influências musicais e poéticas. O disco que mereceu ter sido feito, não há palavras para definir o que foi o trabalho desta musa do nosso rock nacional.
Set do disco:
1) Pouco (Pitty)
2) Deixa Ela Entrar (Pitty/Martim Mendonça)
3) Pequena Morte (Pitty/Martim Mendonça)
4) Um Leão (Pitty)
5) Lado de Lá (Pitty)
6) Olho Calmo (Pitty/Duda Machado/Guilherme Almeida/Martim Mendonça)
7) Boca Aberta (Pitty/Martim Mendonça)
8) A Massa (Pitty)
9) Setevidas (Pitty)
10) Serpente (Pitty)






Comentários

Mais vistos no blog