Um disco indispensável: O Papa É Pop - Engenheiros do Hawaii (RCA/BMG Ariola, 1990)

Passados os cinco anos do primeiro show do conjunto de rock gaúcho, de nome estranho chamado Engenheiros do Hawaii, em que o vocalista e guitarrista era um jovem loiro de 22 anos, estudante de Arquitetura e torcedor do Grêmio, o show feito bem no primeiro dia do megafestival Rock in Rio, e aí quando sai de Porto Alegre junto de dois amigos, partem para gravar um disco em São Paulo pela RCA Victor e acabam fazendo sucesso desde o primeiro disco, lançando dois discos seguintes com o mesmo formato de capa e desde o segundo disco, esse jovem loiro troca a guitarra pelo baixo, vira um dos melhores letristas dos anos 80 e 90, e com sua banda, partem para uma temporada de shows na União Soviética, com shows somente em Moscou, e os shows cancelados em Leningrado sem motivos, voltam da Rússia mais populares ainda, lançam um disco ao vivo depois dos três discos de estúdios anteriores, foram os principais destaques nacionais do segundo Hollywood Rock e meses depois, partiriam para o estúdio e dali, começarem a criar uma das grandes obras-primas do rock nacional e do rock gaúcho dos anos 90? O fato do disco O Papa É Pop ser um dos melhores discos da banda, e um dos melhores discos feitos pelo trio que permanecia o mesmo desde 1987, o citado jovem loiro Humberto Gessinger no baixo, nos teclados e voz, o guitarrista e tecladista Augusto Licks e o baterista Carlos Maltz entraram em estúdio em junho de 1990, durante o inverno e começaram a ter ideias para um dos mais ousados discos da banda, com algumas músicas de longa duração, brincadeiras que acabaram virando parte de algumas músicas, coisas sobre o Papa, o mundo pop, trottoir (calçada, em francês; também é expressão para o caminhar que as prostitutas fazem à espera de clientes), jogo do Grêmio, coisas que são moderna e coisas que são eternas, canções que surgiam a cada momento. O disco é uma atmosfera pop e com influências de rock progressivo (nota-se o excesso de teclados e de MIDI Pedalboard, teclado que se toca com os pés), que sempre permaneceram durante os discos da banda feitos entre 1988 e 1992, contando com algumas músicas longas e temas que acabaram caindo no gosto de muita gente, além de ter sido o primeiro de três discos seguidos que a banda produziria sozinha, Gessinger disse que às vezes os produtores queriam que eles fizessem algo mais pop, deixando assim que os três produziriam juntos o melhor disco. As três primeiras músicas, dão prova de que o rock dos Engenheiros pode nos remeter ao de bandas gringas que lotam arenas, como as duas partes de O Exército de Um Homem Só, feita por Humberto Gessinger e Augusto Licks retirado de um título de um livro de Moacyr Scilar, na segunda parte, além de ser um pouco curta e com barulho de militares marchando, conta com Humberto gritando feito um general "Sentido! Sim Senhor! Sentido! Tanto Faz! Sentido! Sim Senhor..." e com dedicatórias, na primeira parte "dedicado a Mathias Rust e seu maluco ataque aéreo soviético", enquanto a segunda foi para o mesmo Mathias Rust e "ao seu maluco ataque a uma enfermeira na prisão"; no meio desses dois exércitos havia uma regravação de um tema da Jovem Guarda, Era Um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones, que virou a maior regravação da banda, e a tornou mais conhecida versão do que a original feita pelo grupo Os Incríveis em 1967, além de ser o maior sucesso daquele ano, com direito à riff do Hino da Independência e os gritos de "Brasil! Brasil! Brasil! Brasil!". Após os exércitos e a regravação de um sucesso da Jovem Guarda, a sequência de letras de Licks e Gessinger, a simples Nunca Mais Poder, com um riff marcante de guitarra, onde diziam que todo mundo era eterno e moderno, e a romântica Pra Ser Sincero, onde Humberto canta "somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos" ao piano Rhodes, com apenas bateria antes do final da música, acabou virando a música favorita de muito casal que curte Engenheiros, por fim, Gessinger reina soberanamente nas composições, em especial Olhos Iguais Aos Seus, uma levada mais suave, com um piano mais melódico, que nos lembra as rock ballads feitas naquela década, e Gessinger ficava perguntando "O que fazem as pessoas parecerem tão iguais?" no refrão; partindo para o tema O Papa É Pop, que acabou contando com os Golden Boys no coro da música, foi o tema que acabou não só dando nome ao disco, mas a definição da capa: a banda entre um sofá vermelho, e no meio da parede branca, a foto do Papa João Paulo II tomando chimarrão em Porto Alegre, a foto foi cedida pelo Leonel Brizola e pelo fotógrafo Carlos Contursi, a foto do Papa aparece também no encarte, toda digitalizada e colorida, em meio a uma engrenagem, mas falando da música mesmo, acabou sendo um tema que misturava muita coisa sobre o chamado mundo pop, este mesmo mundo pop em que celebridades pintam e bordam quando quiserem, com direito a uma pergunta "Afinal, o que é rock n' roll? Os óculos do John ou o olhar do Paul?", que até hoje poucos responderiam; as duas músicas mais longas do disco, ganharam popularidade entre os fãs, dentre eles, A Violência Travestida Faz Seu Trottoir, onde Humberto, Augusto e Carlos tocam como se fossem uma banda de hard rock e de rock progessivo dos anos 70, onde nos quatro minutos e treze segundos, a letra fica mais lenta e conta com a ex-Trem da Alegria, Patricia Marx cantando junto, e a mesma encerra cantando o nome da música nos últimos vinte segundos; seguida da mais longuérrima música, chamada Anoiteceu em Porto Alegre, uma letra mais crônica, cinematográfica, contando uma história, de um sujeito no meio da noite e a cada verso, era citado a hora, além de samplers do programa de rádio A Voz do Brasil de jogos em que o Grêmio foi campeão da Libertadores e seguido campeão mundial, ambos em 1983, e com sonoridade bem original de uma banda de rock progressivo dos anos 70; a música Ilusão de Ótica, acabou sendo um mal-entendido, com os versos, depois dos primeiros versos, começa a ouvir coisas da voz de Gessinger que parecem ser em russo, mas ouvindo a música ao contrário no vinil, ele perguntava "Por quê que cê tá ouvindo isso ao contrário? O quê que 'cê tá procurando? Hein?" e aí, mais adiante, volta ao normal, quando o final da música é marcado por mais coisas da "linguagem alienígena" do vocalista, encerrando a música, os versos ao contrário eram "mal entendido,bem intencionado/mal informado, bem aventurado/Jesus salva, salve as baleias,leia livros/safe sex, relax/o papa é pop, o país é pobre, o PIB é pouco/meu pipi no seu popô, seu popô no meu pipi/poesia é um porre/o futebol brasileiro são várias camisetas com a mesma propaganda de refrigerantes/a juventude brasileira.../sem bandeiras, sem fronteiras pra defender", encerrando o disco (LP) com uma brincadeira de Gessinger com o idioma russo, onde disse que ele achava que russo era tudo ao contrário e passam a dizer que haviam mensagens subliminares que eram ouvidas ao contrário, enquanto o encerramento no CD, há uma faixa chamada Perfeita Simetria, que não entrou no LP, este tema conta com uma melodia semelhante ao de O Papa É Pop, com algumas mudanças numa letra diferente na melodia, com uma harmonia mais simples ao piano.
O disco, é um belo trabalho feito naquela década, algo ousado, diferente, trazendo um pouco do rock progressivo de volta ao público, graças à sonoridade presente no disco, uma coisa impressionante. A capa, assim como o riff do Hino da Independência em Era Um Garoto, foi baseada num compacto dos Incríveis, com o Hino Nacional e o Hino da Independência lançado em 1971, com base nisso, foi o motivo de Gessinger ter pensado nesta imagem e se inspirado muito numa das grandes bandas de jovem guarda dos anos 60, para conceber a capa e o riff. Um disco pop, mas não tão pop como o Papa tomando chimarrão na capa de um disco.
Set do disco:
1 - O Exército de Um Homem Só - Parte I (Humberto Gessinger/Augusto Licks)
2 - Era Um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones (Era Un Ragazzo Che Come Me Amava i Beatles i Rolling Stones) (Franco Migliacci/Bruno Luisini, versão em português de Brancato Júnior)
3 - O Exército de Um Homem Só - Parte II (Humberto Gessinger/Augusto Licks)
4 - Nunca Mais Poder (Humberto Gessinger/Augusto Licks)
5 - Pra Ser Sincero (Humberto Gessinger/Augusto Licks)
6 - Olhos Iguais aos Seus (Humberto Gessinger)
7 - O Papa É Pop (Humberto Gessinger)
8 - A Violência Travestida Faz Seu Trottoir (Humberto Gessinger)
9 - Anoiteceu em Porto Alegre (Humberto Gessinger)
10 - Ilusão de Ótica (Humberto Gessinger)
11 - Perfeita Simetria (Humberto Gessinger)
Aqui a capa do compacto com os Hinos Nacional e da Independência, interpretados pelo grupo Os Incríveis, bancado pela marca de sabonetes Rinso em 1971 e lançado pela RCA. O Hino da Independência é citado em um solo de guitarra em "Era Um Garoto" e a capa serviu de inspiração para conceberem a capa do disco dos Engenheiros.

Comentários

  1. OI AMIGO ! EU VIM AQUI PRA LHE DIZER QUE VOCÊ SE ENGANOU EM RELAÇÃO AO COMPACTO DOS INCRÍVEIS : ELE NÃO FOI BANCADO POR UMA FIRMA DE CAFÉ E SIM POR UMA DE SABÃO EM PÓ , MARCA "RINSO". OK ? E CONTINUE A LUTA ! VALEU !

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