Um disco indispensável: Aeroblus - Aeroblus (Philips/Phonogram, 1977)

O ano de 1976 foi difícil para a Argentina, com a queda de Isabelita Perón, no dia 24 de março, o período em que a partir do outono, a política argentina seria marcada por conflitos entre adolescentes e militares, em busca da liberdade de expressão, ideais modernos daquela época e isso, somente com o rock and roll, muitos jovens conseguiriam botar a sua palavra para que muitos pudessem ouvir o que eles sugeriam aos jovens daquela geração, enquanto a ditadura militar iniciava seu . Pappo já estava precisando de seguir um rumo diferente com a sua banda Pappo's Blues, que dera uma pausa após seis discos e doze músicos terem passado pela banda, Pappo forma com Alejandro Medina, ex-baixista da banda de Pappo e de Manal, uma das bandas que foram pioneiras na expansão do rock argentino durante o final dos anos 1960, a criação de um megagrupo, que só duraria um disco e em um ano e meio, mas que fizera um enorme sucesso naquela época: Aeroblus, uma banda de hard rock argentina, que antecipara o heavy metal de outro projeto de Pappo, a banda Riff, que acabou marcando o rock argentino dos anos 80, com suas letras e acordes pesados. A banda, que não só contava com Pappo e Medina, também tinha um brasileiro, o baterista Rolando Castello Jr., do grupo Patrulha do Espaço, que tinha sido a segunda opção, a primeira seria Gonzalo Farugia, e então, se foram para o Brasil e começariam a ensaiar nos próximos meses de 1976, e em 1977, a Philips da Argentina contrata a banda para gravar um disco, de produção autoral, mais de Pappo, que se responsabilizou pela coordenação de produção e pelo conceito do álbum. O tema Vamos A Buscar La Luz, é um dos tantos que antecipara o que seria o heavy metal, com uma introdução de guitarra bem pesada ao estilo Pappo, um riff bem "matador", podemos dizer até, a letra contava com dois versos "Aeroblus/Vamos a buscar la luz", o que soa estranho em uma megabanda latina; Completamiente Nervioso é um tema com um pouco do punk rock, estilo que estava dominando casas de espetáculos, ou melhor, bares e clubes em Londres, com os Sex Pistols, The Clash e de The Damned e nos Estados Unidos com os Ramones e Dead Kennedys, mas também com ares de Motörhead e Judas Priest, bandas do metal britânico que surgiam naquela época; Tema de Solísimo, uma música muito rápida, mas também fala um pouco de solidão "Estou muito só, eu não sei aonde ir (...) Depois de pensar um pouco, não gosto de estar assim.", com um solo curto; Árboles Difusores, um tema instrumental de Pappo e de Medina, com uma introdução de bateria de Castello, pesada e que nos lembra um pouco Moby Dick, de Led Zeppelin e as viradas de bateria de Neil Peart, do Rush, o solo de Pappo acaba dando mais um gás no peso do tema, além de se ouvir o baixo de Ale Medina, considerado um dos melhores baixistas argentinos da história; o poema em Vendríamos a Buscar, acaba sendo mistério, como uma história de amor esquisita "Se te aproximastes, é porque estivestes com uma adivinha e ela diria que hoje veríamos a te buscar", com um pouco de blues-rock ao estilo ZZ Top, com uma linha baixo-guitarra impressionante; Aire En El Movimiento, já traz uma fusão de temas do rock argentino como "Post-Crucifixión", do Pescado Rabioso com um pouco de temas do Pappo's Blues, com uma mistura de riffs, e Castello arrebentando na bateria, seguida dos solos de Pappo, dando um aviso ou uma explicação "Agora não é o momento, o ar está no movimento, sente como o vento e destroça a tua missão", algo meio psicodélico numa canção pesada como esta; o solo de Vine Cruzando El Mar, já mostra um clima mais pesado, nada muda, a não ser uma levada proto-hardcore, seguido, além de um riff estilo punk, e um groove fodástico do baixo de Medina, além do verso estilo viking "Vou caminhando, vou/Muito contente, estou aonde estou"; o tema Nada Estoy Sabiendo, conta com uma mistura de blues-rock, metal e punk, um tema perfeito na voz de Pappo, um riff cru e original, e versos cheios de dúvidas e proclama que "só sei que nada estou sabendo", mostrando desinteresse total em coisas da vida; o instrumental Sotisficuatro, com viradas de bateria imperdíveis e a ousada Buen Tiempo dão um ar de que Aeroblus fez sua parte em apenas um só disco, com levadas pesadas de guitarras e tudo aquilo que uma banda de blues-rock, possivelmente, surgida de 2005 pra cá poderia estar fazendo neste momento, temas que poderiam estar sendo compartilhado por metaleiros e alternativos, caindo no gosto do público, mas diferente do Aeroblus, fizeram apenas um álbum (o que estamos falando), poucos shows e meses depois, Pappo retornaria com a sua velha banda, com Medina no baixo e Darío Fernández na bateria, enquanto Castello retornara do Brasil, e o álbum acabou sendo um dos melhores do rock argentino, embora a gravação seja um pouco tosca, uma produção bem barata, mas nada que pudesse prejudicar o grande peso do Aeroblus, exceto o design da capa, que mostrava o nome da banda e a silhueta de uma águia, que estaria com a cor vermelha, mas por problemas de impressão, o problema ficou pior, quando o nome Aeroblus e a águia ficaram em cor magenta, o que o vermelho original, só seria resolvido em 1994, na primeira reedição em CD pela PolyGram. Em 1978, Pappo deixava a Argentina e partia para a Inglaterra, por onde passaria um bom tempo, descobrindo um pouco o heavy metal britânico de Iron Maiden, Motörhead, Judas Priest e voltaria dois anos depois, com novidades. Quais seriam estas? Isto, já é outra história.
Set do disco:
1 - Vamos A Buscar La Luz (Pappo/Alejandro Medina)
2 - Completamiente Nervioso (Pappo)
3 - Tema de Solísimo (Pappo/Alejandro Medina)
4 - Árboles Difusores (Pappo/Alejandro Medina) - instrumental
5 - Vendríamos a Buscar (Pappo/Alejandro Medina)
6 - Aire En El Movimiento (Pappo)
7 - Vine Cruzando el Mar (Pappo)
8 - Nada Estoy Sabendo (Pappo/Rolando Castello Jr.)
9 - Sotisficuatro (Pappo/Alejandro Medina/Rolando Castello Jr.) - instrumental
10 - Buen Tiempo (Pappo)