Um disco indispensável: Aja - Steely Dan (ABC Records, 1977)

Corria o ano de 1977 e em meio ao apogeu do punk rock, do começo de uma fase mais porra-louca, mas também, foi o apogeu do pop melódico que se ecoava nas rádios AM do mundo todo, os chamados AOR (Album-Oriented Rock), com influências do jazz-rock, do fusion e também com uma levada de rock progressivo e do funk (não é o funk brasileiro, ainda bem), e deixando de lado o peso necessário de guitarras, com pianos e orquestrações sotisficadas, mantendo assim, popularidade comercial e que acabavam liderando paradas da Billboard, sempre por um mês ou até por seis meses, no Top 40. O caso do duo Steely Dan, de Donald Fagen e Walter Becker, que fizeram altos sons e ganhando notoriedade em meio ao sucesos internacionais do rock e eram vaiados por apreciadores de Sex Pistols, Ramones, The Clash, Ian Dury e do pessoal do heavy metal, que estava se expandindo na Inglaterra após a aparição das bandas Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, The Who e outros. O Steely Dan passou por alguns momentos antes de realizar as sessões do Aja (que, sinceramente, achei o disco muito perfeito demais, um clássico dos 70), tinham se convertido em um duo após o disco The Royal Scam (1976), depois que alguns integrantes pularam fora da banda devido "a mania paranoica de perfeição e aos ataques de 'pelanca' de Fagen", a banda, ou melhor, o duo chutou o balde e foram ser felizes em dois. Escalaram o produtor onipresente Gary Katz para produzir a mais bela obra de arte do duo, que ganhou um Grammy (este disco do qual estamos falando) e acabou virando o álbum predileto de muita gente, inclusive de um brasileiro conhecido na MPB especialista em AOR, discos clássicos e em Steely Dan, o maior colecionador de discos de vinil no Brasil, o cantor Ed Motta (sim, Aja é o disco favorito dele) e também de fãs de jazz-rock e do De La Soul. O disco foi lançado em 23 de setembro de 1977, e o duo gravou de janeiro a julho de 1977, na qual a banda convidou a crítica para assistir as gravações, ou seja, a gravação foi um verdafeiro parto: havia palavras 'proibidas' no estúdio, uma série de esquisitices e o tratamento dispensado a alguns críticos convidados pra assistir as gravações foi algo perto de um cão leproso em fim de carreira. e segundo Fagen, o disco foi baseado em obras ficcionais, para poder criar ao lado de Becker, as sete faixas do disco.
O disco, em todo, é uma perfeição, começando pela faixa de abertura, Black Cow, com uma linha de baixo funky e arranjos de sopros incomparáveis, e uma linha vocal-e-piano,  que inspiraria mais tarde, Adele, o tema contou com o baixo de  Chuck Rainey e um solo instrumental impressionante;  seguido de Aja, que conta com uma suave introdução de piano ao estilo AOR, e batidas de Steve Gadd, além do solo de saxofone caprichoso do líder do Weather Report, Wayne Shorter (trabalhou com Milton Nascimento), e vocais típicos de músicas dos anos 70 (aqueles melódicos, mas não tanto) e um solo de guitarra inigualável, algo diferente do que se pode ouvir dos punks daquela época, regada a sintetizadores e também a muito groove pelo que se pode perceber; o perfeccionismo segue em Deacon Blues, com tudo aquilo que se espera: baixo ok, bateria com levadas simples, mas uma presença de guitarra do Lee Ritenour, com uma base que só Fagen e Becker conseguiriam conceber, o próprio Ritenour já havia participado de gravações do Steely Dan, o que fazia os discos ganharem um brilho a mais com seus acordes e solos; o tema mais conhecido do disco se chama Peg, com mais levada funky e também simples, carregada de influências do fusion-jazz, levando ao Top 5 das paradas e aos samplers de muita gente, o grupo De La Soul usou um sampler da música em "Eye Know"; o tema Home At Last acabou arrasando com o seu groove e também com um toque de algo mais, graças aos toques de grooves e de arranjos pra fazer muitos bailes escolares serem embalados por temas como este, que ainda contou com a bateria de Bernard Prudie; a levada funky-groove de I Got The News têm algo parecido com os então sucessos da era disco, como Good Times (aquela que tem sample instrumental em "Rapper's Delight" do Sugarhill Gang e em "2345meia78" do Gabriel o Pensador), do Chic e de temas dos anos 80, como Manoel e Vamos Dançar, de Conexão Japeri, banda do qual saiu Ed Motta, aliás, o tema carrega um pouco de rock também nos acordes; o final em Josie, dá uma sensação de que também carrega um pouco de rock na base, com uma linha modal que é tomada pela síncope e que já tem jeito de que se pode ouvir uma bela levada de sopros com um solo de guitarra, movidos por uma base mais vibrativa, mais pop, que também nos lembra disco-music e os temas mais pra cima.
O disco acabou sendo uma obra em toda, como eu já tinha dito, mas também é um pouco mais de jazz do que de rock, com uma atmosfera ousada e moderna, com tudo aquilo que se pode pensar de grandes discos de jazz-rock, além da presença dos músicos neste disco, fazendo com que acabassem levando o disco como uma das maiores obras-primas do pop, um disco de sonoridade única e sem tanto exagero do que já se ouvia, embora também tenham influenciado futuras gerações de roqueiros. Afinal, só o Steely Dan pra fazer coisas perfeitas nesse clássico do pop, do jazz-rock e da música americana, que de acordo com a Biblioteca do Congresso americana, é um disco "culturamente, historicamente ou esteticamente importante" para a história da música americana.
Set do disco:
1 - Black Cow (Donald Fagen/Walter Becker)
2 - Aja (Donald Fagen/Walter Becker)
3 - Deacon Blues (Donald Fagen/Walter Becker)
4 - Peg (Donald Fagen/Walter Becker)
5 - Home At Last (Donald Fagen/Walter Becker)
6 - I Got The News (Donald Fagen/Walter Becker)
7 - Josie (Donald Fagen/Walter Becker)

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