Discografia Indispensável: Chico Buarque

Hoje, o blog Discos Indispensáveis Para Ouvir homenageia um dos maiores ídolos da nossa MPB que hoje está chegando aos 70 anos. Ele é um dos mais aplaudidos cantores, compositores e também já pôs o seu material para cinema, teatro e escreve livros muito cultuados pelo público e tem mais de cinco décadas de carreira musica e trouxe em suas canções uma forma de lutar contra a ditadura e fazer o povo gritar por liberdade, demonstrou isso e muito mais: os amores, as críticas da vida cotidiana, as mulheres que mais estiveram presentes em suas músicas durante toda a sua trajetória musical que já atravessou muitas gerações desde sempre, quando ainda começou sua carreira no final da primeira metade dos anos 1960, até chegar ao grau máximo de popularidade nos festivais da Record e da Globo nessa década, até o seu exílio em Roma, na Itália, por onde ficou um ano até que a lenha baixasse devido aos problemas com a ditadura militar e a censura. Na volta, não era mais aquele mesmo homem que transformou histórias de amor e coisas muito sutis, como em "A Banda", "Madalena Foi Pro Mar", "Roda Viva" e entre outros sucessos quando ainda acrescentava o sobrenome De Hollanda, o que faziam o público e a crítica achar que o pai, historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda compunha as músicas para ele, trazendo um pouco mais de dúvidas sobre os talentos da família (Chico tem duas irmãs cantoras: Miúcha, que foi casada com João Gilberto, ambos pais de Bebel Gilberto; e Cristina). Durante os anos 70, Chico sofreu calado e aguentou com a censura, que proibiu muitas de suas músicas e obras e o fizeram alterar muitas coisas, o chegando a gravar um disco com músicas de outros artistas, dentre estes, um tal de Julinho da Adelaide, pseudônimo criado para poder escapar da censura, assim como Leonel Paiva. Despediu-se dos palcos em várias noites lotadas no Canecão acompanhado de Maria Bethânia, em meio à sua celebração de dez anos de carreira musical, e após se afastar dos palcos, Chico buscou a calma escrevendo para teatro, cinema e até balé. Continuou gravando discos, mas sempre em períodos que ele dependesse de apresentar material novo a partir de 1981, quando teve problemas com a gravadora PolyGram, ao dizer que gravaria com a nova gravadora Ariola, os executivos ameaçaram de comprar a nova gravadora, e isso deixou Chico em dúvidas e atormentado para que pudesse trabalhar em poucos dias em um material novo, chamado "Almanaque" que foi um trabalho recorde feito em pouco tempo, partindo o coração aos prantos após a PolyGram brasileira teve de bancar e comprar a Ariola, que a partir de 1983, a Barclay substituiria a Ariola mantendo o cast. Em 1984, gravou um disco novo em meio à dois fatos importantes: o movimento das Diretas-Já, da qual participou, e do florescer da cena roqueira no Brasil, o que deixou até Chico um pouco com ânsia de poder dizer mais do que disse na época dos anos 70, sem tanta onda de críticas ao poder militar e apelando mais pro lado cronista, feminino e romântico. Chico permaneceu raro na televisão, até que retornasse aos palcos após lançar o disco "Francisco" (1987), mas seu retorno na TV Globo foi em um especial com Caetano Veloso, chamado "Chico & Caetano" (1986), que resultou em mais programas, como convidados RPM, Elza Soares, Rita Lee, Milton Nascimento, Maria Bethânia, Dominguinhos, Willie Colón, Pablo Milanés, Mercedes Sosa (1935-2009) e também o grande imortal do tango, Astor Piazolla (1921-1991). A volta aos palcos resultou em um show gravado em Paris, na França no lendário Le Zenith, lar dos grandes espetáculos musicais lançado um ano depois de encerrar a turnê do disco "Francisco" (1987/1989); isso já quando Chico parte mais para a literatura, escrevendo livros por um bom tempo, e foi assim até hoje, depois que lançou seu primeiro romance, "Estorvo" (1991). Em 1998 recebeu homenagens da escola de samba Mangueira, na qual faria a própria se consagrar campeã naquela época; e em ritmo de samba, conseguiu lançar um disco ousado, porém moderno, intitulado "As Cidades", e assim mantendo suas atividades relacionadas à literatura e ao teatro, como o espetáculo para balé "Cambaio" (2001) e o terceiro livro "Budapeste" (2003), durante esse período, vieram as músicas de "Carioca" (2006), lançado com grande sucesso e trazendo novos fãs com o passar dos tempos; a cada disco que passa, surgem novos apreciadores do Velho Francisco. Sua discografia traz uma imensidão de coisas que a gente sempre gostou de ouvir, cheio de perfeições musicais, sutilezas e uma linha poética incomparável que continuará atravessando gerações para sempre. Confira a discografia abaixo:

Chico Buarque de Hollanda (RGE Discos, 1966)
Lançado após ter realizado a parte musical da peça Morte e Vida Severina, a sua carreira como cantor e compositor foi apresentada para o mundo, graças ao sucesso de "A Banda", que foi vencedora do II Festival de Música Popular Brasileira, junto de "Disparada", de Geraldo Vandré e Theo de Barros, interpretada por Jair Rodrigues: o famoso festival polêmico que deu empate, e que teria sido comprado, dizem as más línguas, o que jamais foi provado. O disco traz o romantismo, as histórias de mulheres, como em "Ela e Sua Janela", e as músicas dos primeiros compactos, como "Olê Olá", "Meu Refrão", "Pedro Pedreiro" e "Sonho de Um Carnaval", lançadas em 1965 e que não precisavam ser regravadas. Além das músicas dos primeiros compactos, destacamos a primeira personagem feminina de Chico "A Rita", os sambas (dos primeiros compactos citados anteriormente) "Juca", "Tem Mais Samba" e o clássico dos festivais "A Banda", que catapultou Chico definitivamente como ídolo nacional naquela época.



Chico Buarque de Hollanda Volume 2 (RGE Discos, 1967)
O menino de olhos claros, que havia concorrido a um Festval da MPB, ganhava repercussão a cada dia com seus sucessos, dando mais aceesso a um público, dando uma aproximação entre ele e o pessoal da velha guarda do samba, como Ataulfo Alves, Donga e até o pessoal da bossa nova, como Tom Jobim, Edu Lobo, Carlos Lyra e o então cunhado, na época, João Gilberto. O disco contou com muito carnaval nas letras, a prova disto é "Quem Te Viu, Quem Te Vê" e a marcha-rancho "Noite dos Mascarados", com a presença d'Os Três Morais, além do lirismo feminino sentimental em "Com Açúcar, Com Afeto" apenas com a voz de Jane Morais. É também o disco com músicas curtas, como "Ano Novo", "Um Chorinho" (que fez parte da trilha do filme "Garota de Ipanema", de Leon Hirzsmann), "Lua Cheia" e também muito samba, como "Fica", "Logo Eu?", "Será que Cristina Volta?" e "A Televisão". É marcado também por alguns sucessos que passaram batidos neste disco.

Chico Buarque de Hollanda Volume 3 (RGE Discos, 1968)
No festival lendário de 1967 da Record, o mesmo que fez ele levar um empate campeão com "A Banda" anteriormente, Chico apresentou "Roda Viva" acompanhado do conjunto vocal MPB4, liderado pelo amigo de Chico, Magro. Levaram o 3º lugar, seguidos por "Domingo no Parque", com Gilberto Gil acompanhado dos então desconhecidos Os Mutantes com o segundo lugar e em primeiro lugar, "Ponteio" composto por Edu Lobo e Capinam e interpretada pelo próprio Lobo e por Marília Medalha e acompanhados pelo grupo Momento Quatro e pelo Quarteto Novo (conjunto instrumental). Mas, Chico levou um prêmio maior do que o inevitável 3º lugar, levou um prêmio que apresentaria em seu terceiro e último disco pela RGE antes de partir para a Itália. Além de "Roda Viva" estar presente no disco, os grandes sucessos "Ela Desatinou", "Carolina", "Januária", "Sem Fantasia" que contou com a irmã Cristina cantando, além de "Retrato em Branco e Preto", a primeira parceiria com o eterno maestro Tom Jobim e a participação de Toquinho com seu violão em "Desencontro". Os últimos suspiros deste disco são "Funeral De Um Lavrador", poema de João Cabral de Melo Netpo musicado especialmente para a peça "Morte e Vida Severina" e um tema instrumental da peça. Após este disco, ganha um sofrido III FIC (Festival Internacional da Canção) ao lado de Tom Jobim, com "Sabiá" interpretado por Cynara e Cybele. Em seguida, prepara-se para um exílio na Itália, ao lado de sua esposa, a atriz Marieta Severo por onde conseguiu popularidade além dos circuitos universitários, dos festivais de música e dos programas da TV Excelsior e da TV Record.




Per Un Pugno Di Samba -  com Ennio Morricone (RCA Victor, 1970)
Chico aproveitou que partiria para morar por um bom tempo na Itália, e se antecipou antes para acompanhar a trupe brasileira no evento da indústria fonográfica, o Midem (Mercado Internacional de Discos e Edições Musicais) ao lado de Elis Regina, Edu Lobo, Os Mutantes, Sérgio Mendes, o amigo Edu Lobo e Roberto Carlos, de quem guarda uma grande amizade desde que se cruzavam pelos corredores dos estúdios da TV Record. Gilberto Gil não pôde comparecer, pelo fato de ter sido preso após a noite de Natal (sem trocadilhos por favor) de 1968. Chico chegando na Itália, teve a filha Sílvia, e partiria em uma turnê pela Itália acompanhado de Toquinho e abrindo para Josephine Baker, grande cantora americana de sucesso nos anos 1930 e 1940; e por meio do grande compositor Sergio Bardotti (1939-2007), Chico decidiu adaptar para o italiano, grandes temas seus e isso se deve ao vizinho de rua Bardotti, que fez o trabalho inteiro para ele, e por indicação do próprio compositor italiano foi que Chico decidiu contar com a ajuda do orquestrador Ennio Morricone para dar brilho e novos arranjos em suas músicas, alguns de seus temas do próximo álbum "Chico Buarque de Hollanda Nº 4", como "Ed Ora Dicco Sul Serio" (Agora Falando Sério), "Nicanor", "In Te" (Mulher, Vou Dizer O Quanto Te Amo), "Samba e Amore" (Samba e Amor), "Il Nome di Maria" (Não Fala de Maria) e "In Memoria Di Un Congiurate" (Tema dos Inconfidentes). A gravação do álbum ocorreu no Glob Studios, em Roma, enquanto Chico fazia as vozes para o seu quarto álbum brasileiro, o último com o "De Hollanda" no sobrenome e o primeiro pela Philips.

Chico Buarque de Hollanda Nº 4 (Philips/CBD, 1970)
A gravadora de André Midani tinha um cast de deixar muitos executivos de gravadoras brazucas no chinelo: Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes, Edu Lobo, Tim Maia, Erasmo Carlos (recém-saído da RGE), Jorge Ben, Tom Jobim, Erlon Chaves, MPB4, Vinícius de Moraes & Toquinho, Ronnie Von, Jair Rodrigues e futuramente, Raul Seixas, Jards Macalé, Jorge Mautner, Luiz Melodia, Odair José, Alcione e Raimundo Fagner. Chico fazia parte da turma dos "mininos do Midani" no começo dos anos 70, já que, enquanto vivia em terras italianas (1969), o contrato com a RGE já não existia mais e seu nome já não faziam mais parte do elenco da gravadora, um santo de casa conseguiu fazer milagre, podemos dizer isto: o produtor Manoel Barenbein, que o ajudou em seus primeiros discos, procurou Chico e gravou as vozes no Glob Studios, em Roma e depois mandou gravar as bases nos estúdios da Philips, no Rio de Janeiro. Os arranjos ficaram por conta de Magro, Erlon Chaves e de César Camargo Mariano e contou até com parcerias grandiosas nas músicas, como em "Gente Humilde", com Vinícius de Moraes e baseado em uma música de Aníbal Augusto Sardinha, conhecido também como Garoto; com Tom Jobim em "Pois É" e até musicou um poema de Cecília Meirelles chamado "Tema de Os Inconfidentes", baseado em Romanceiro da Inconfidência; destaque para o sambalanço de "Essa Moça Tá Diferente", o lirismo em "Samba e Amor", "Mulher, Vou Dizer O Quanto Te Amo", "Não Fala de Maria" e algumas pérolas como o samba "Ilmo Sr. Ciro Monteiro ou Receita Pra Virar Casaca de Neném", o mambo "Cara Cara" com o MPB4 fazendo coro, a mistura de samba e forró em "Agora Falando Sério", além de "Rosa dos Ventos". É um dos discos pouco conhecidos e também é o disco renegado por Chico, apesar de alguns dos clássicos favoritos dos fãs serem também deste disco.



Construção (Philips/Phonogram, 1971)
A imagem de Chico na capa já diz tudo: outra pessoa, outra aparência e também um Chico mais politizado e sem aquela imagem dos primeiros anos, o chamado "aspirante a Noel Rosa da nova geração" já não era mais o mesmo depois de 5 anos, ainda tinha aquele astral de sambista, mas com um pouco de canções de protesto. Antes, havia lançado o compacto com "Apesar de Você" e "Desalento", sendo que a primeira foi censurada sem nenhum motivo e mesmo proibida, continuava nos ouvidos aquela frase "Apesar de você, amanhã há de ser outro dia..." e Chico ficava mais incomodado com a censura, que vetava as suas músicas e que às vezes tinha que alterar uma coisa ou outra. "Desalento" permaneceu original, como no compacto, mas algumas músicas foram gravadas após 1970, e assim teve o início do processo de um belo e clássico da nossa MPB: "Construção", que tinha uma relação de linha poética quase parecida com "Pedro Pedreiro" e com os arranjos de Rogério Duprat, também traz um pouco dos versos da música que abre o disco, "Deus Lhe Pague", uma das tantas pérolas clássicas deste disco, assim como o samba "Cotidiano" e suas mudanças nos versos; "Olha Maria", parceria de Chico com Tom e Vinícius de Moraes; "Valsinha", que lembra um pouco os velhos clássicos das serestas; "Minha História", versão da música "Gesú Bambino" de Lucio Dalla, que ficou mais conhecida que a original; "Acalanto", que encerra o disco, parece ser dedicada à filha Helena, que acabara de nascer naquela época. O disco em todo já é uma obra-prima de qualidade, imagina depois de tantos anos que atravessou os ouvidos de nossos pais, nossos tios, nossos avôs e já tem gente do exterior pensando que Chico é um dos maiores ícones musicais brasileiros que existiu na história da MPB nos últimos 45 ou 50 anos.


Caetano e Chico: Juntos e Ao Vivo (Philips/Phonogram, 1972)
A admiração do velho tropicalista por Chico Buarque é grande desde a época dos festivais, quando ambos disputavam pelo Festival da Música Popular Brasileira (aquele festival de 1967 da Record), no qual Caetano Veloso levara um 4º lugar com "Alegria, Alegria" e Chico ficou com o 3º lugar em "Roda Viva", momento de consagração dos novos ídolos da MPB e o motivo de ali ter florescido o sucesso do tropicalismo. Cada um foi tomando o seu rumo, Caetano sofreu na prisão após um show na Boate Sucata em pleno Natal de 1968 e Chico escapou dos militares, partindo para a Itália e retornando um ano e três meses depois, só que o velho tropicalista ficou até a Quarta-Feira de Cinzas vendo o sol nascer quadrado e dali foram para Salvador, assim partindo para Londres magro e irreconhecível, assim como Gilberto Gil, companheiro de tropicalismo que o acompanhou no exílio. Passados quatro anos, eles se juntam no palco e cada um com a sua personalidade em palco: a exuberância andrógina/poética/musical de um Caetano pós-Tropicália que acabava de voltar do exílio com saudades do Brasil, e um Chico que deixava aquela imagem de bom-moço dos primeiros anos de carreira para mostrar que tinha gosto de sangue na boca e pintado pra guerra, num belíssimo registro gravado ao vivo no Teatro Castro Alves em junho de 1972. Chico abre o show com "Bom Conselho", tema de 1968 que não ficou no esquecimento do setlist do show dos dois; enquanto Caetano interpretava "Partido Alto", que a Censura havia sido vetado versos da música, fazendo Chico ter que substituir para que fosse executado nos shows e nas rádios; além de Caetano reviver o sucesso "Tropicália", com um pouco mais de modernidade na interpretação, o caso foi em "Morena Dos Olhos D'Água", de Chico, que acabou caindo bem na sua voz; o momento fica mais marcante no disco quando os dois juntos cantam "Você Não Entende Nada", e no meio, Chico cita "Cotidiano" na música dando assim um gostinho de "quero mais" ao público; Chico apresentou os temas "Bárbara" e "Ana de Amsterdam", da peça Calabar - O Elogio da Traição, feito em parceria com o cineasta brasileiro de origem moçambicana, Ruy Guerra; enquanto "Janelas Abertas Nº 2" já é uma daquelas músicas que ouve e se impressiona, assim como o final em "Os Argonautas", do álbum branco de Caetano, lançado em 1969, que não traz aquele sotaque lusitano da versão original.



Calabar/Chico Canta (Philips, Phonogram, 1973)
Chico Buarque já lida com teatro, desde 1966 quando adaptou o poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, na qual rendeu um prêmio de teatro na França. Após este grande sucesso, foi necessário escrever a peça "Roda Viva", que obteve grande repercussão no Teatro Ruth Escobar naqueles tempos, mas aconteceu um imprevisto ocorrido que era para ter acontecido com uma peça de Augusto Boal chamada "Primeira Feira Paulista de Opinião": um grupo de cem pessoas do CCC (Comando de Caça aos Comunistas) espancou o elenco da peça e depredou os cenários, já que a sessão da peça de Boal já havia se encerrado. Após o massacre com a peça, que foi muito dinheiro gasto em cenários, figurinos e tudo mais, a peça foi estreada em Porto Alegre, meses depois, e proibida pela censura. Mas Chico não se calou contra isso, juntou-se com Ruy Guerra em 1972 e criaram a peça "Calabar - O Elogio da Traição", baseado na história do Brasil colonial do século XVII, onde Calabar na verdade era um traidor, que havia ajudado os holandeses a invadirem o Brasil. A peça estava tudo em ordem, se não fosse mais uma vez, a inimiga de Chico (a Censura), daria seu não, fazendo com que a peça fosse censurada de vez e o conteúdo musical do disco também: para perceberem o tamanho da bagunça que foi, a letra de "Vence na Vida Quem Diz Sim" teve sua parte cantada retirada, deixando apenas uma versão instrumental, assim como a palavra "duas" em "Bárbara" e "sífilis" em "Fado Tropical", palavra esta que Ruy Guerra recitava um poema no meio da música, o que deixou um gosto de vitória dos censores e a letra toda de "Ana de Amsterdam", que só havia algumas palavras vetadas. Só "Cala a Boca, Bárbara", "Tatuagem", "Tira As Mãos de Mim", "Cobra de Fogo", "Não Existe Pecado Ao Sul do Equador", "Boi Voador Não Pode" e "Fortaleza" conseguiram resistir ao risco de terem o veto. O disco têm um tanto da presença do lirismo feminino, ou seja, muitas letras onde a mulher protagoniza os seus sentimentos, vide "Com Açúcar, Com Afeto" e também do sentimentalismo romântico, que está sempre presente e marca o início da parceria de Chico e Edu Lobo, que fez os arranjos musicais da peça.




Sinal Fechado (Philips/Phonogram, 1974)
Chico ficou impressionado com a Censura a cada dia que tinha de apresentar uma letra nova para poder gravar e disponibilizar ao público, e isso já se temia mais uma vez para os próximos discos. Chico sofreu muito no palco do festival Phono 73, no Anhembi, em São Paulo: onde ele e Gilberto Gil, enquanto cantavam "Cálice", o microfone de Chico foi desligado, supostamente, por um censor ou por alguém da equipe de som, com medo de que os policiais prendessem a equipe da Phonogram e até Gil e Chico. Após o susto no palco, veio Calabar e a proibição da peça e das músicas e aí só esperaria mais alguns anos para que fosse liberada, e isso só fez ele se preocupar demais com a sua música e o seu trabalho, foi assim que ele achou um jeito de se vingar dos censores: usar um nome falso e conseguir algo próprio para liberar, e assim surgiu Julinho da Adelaide. Chico estava preparando um espetáculo com o MPB4, mas a censura foi mais rápida no gatilho e assim foi que ele buscou gravar músicas de outros artistas, como Caetano Veloso, de quem gravou o samba "Festa Imodesta"; gravou de Gil, um samba chamado "Copo Vazio", homenageou Noel Rosa, resgatando "Filosofia", assim como gravou dos velhos amigos Toquinho e Vinícius "O Filho Que Eu Quero Ter"; a velha guarda do samba é representada por "Cuidado Com a Outra", de Nelson Cavaquinho, "Lágrima" de Sebastião Nunes, "Sem Compromisso", de Geraldo Pereira, "Você Não Sabe Amar", de Dorival Caymmi. Até o seu pseudônimo Julinho da Adelaide e Leonel Paiva ganharam presença em "Acorda Amor", que não deixou passar batido, assim como a versão de "Lígia" do eterno maestro Tom Jobim e também "Me Deixe Mudo" de Walter Franco e a faixa-título, que ganhou o V Festival da MPB da Record (1969), composta e interpretada por Paulinho da Viola. É, Chico até que  como intérprete, ele cai bem até, sabe cantar muito bem as músicas dos outros num só disco, a não ser que você perceba que Julinho da Adelaide e Leonel Paiva foram nomes falso que ele criou para driblar a censura, né?!




Chico Buarque & Maria Bethânia - Ao Vivo (Philips/Phonogram, 1975)
Passados dez anos do grande começo de carreira de ambos, o Canecão abriu as portas para que o público celebrasse os dez anos de carreira do maior compositor da MPB e de uma das grandes cantoras nacionais, juntos em um mesmo palco, com a orquestração de Lindolfo Gaya e uma superbanda que contava com uma orquestra de acompanhamento, cantando grandes sucessos no palco, como "Sem Fantasia", "Sonho Impossível", "Sinal Fechado", "Vai Levando", "Com Açúcar, Com Afeto", "Quem Te Viu, Quem Te Vê" e dentre outros. Chico anunciou que este seria seu último show, partindo mais para trabalhar em outras àreas, o que estava fazendo como sempre, desta vez no teatro, com "Gota D'Água", em parceria com Paulo Pontes, que falecera antes de receber uma premiação pelo trabalho, o Oscar do teatro, o Prêmio Moliere. Antes disto, em 1974, Chico havia escrito uma novela chamado "Fazenda Modelo", uma mistura de clima rural com a situação do brasil com a ditadura militar naqueles tempos difíceis. Além disto, após de Sílvia e Helena, ele e Marieta tiveram sua 3ª filha, Luísa e também, com o fim dos shows, ele aproveitou mais o tempo para estar mais perto das filhas e ver elas crescendo enquanto o papai escreve e joga um futebol nas horas mais vagas.



Meus Caros Amigos (Philips/Phonogram, 1976)
Chico estava trabalhando com vários músicos, vários parceiros, mas foi Francis Hime quem mais deu um ombro amigo para ajudá-lo durante esta fase pós-show, além de ser o arranjador principal e diretor musical deste disco. O disco conta com vários temas feitos para o teatro, como "Mulheres de Atenas", que foi feita especialmente para uma peça de Augusto Boal, chamado "Lisa, A Mulher Libertadora"; "Basta Um Dia" foi para "Gota D'Água" com Paulo Pontes, na qual adaptaram a peça "Medéia" de Eurípedes numa versão mais brasileira; a inédita da peça "Calabar", "Você Vai Me Seguir", que não entrou no disco da peça, e também foram temas de filmes, em especial "O Que Será (À Flor da Terra)" com participação especial de Milton Nascimento, que foi feita para o filme "Dona Flor; "Vai Trabalhar, Vagabundo", para um filme de Hugo Carvana com o nome; e dois temas do filme "A Noiva da Cidade", de Alex Vianny: o tema homônimo, e a proto-ecológica "Passaredo", ambas em parceiria com Francis Hime. Além das músicas mais fora dos projetos, como "Olhos Nos Olhos" e seu lirismo sentimental tocante, o samba "Corrente (Este É Um Samba Que Vai Pra Frente)", mostrando um Chico mais sambista do que politizado, e "Meu Caro Amigo", que foi feita para Augusto Boal, que estava exilado em Portugal e tem uma história do colaborador da música, Francis Hime: Chico escreveu uma carta para Boal em forma de poema, e Hime no piano precisava de um ritmo para a música, e se lembrou de um chorinho instrumental do filme "O Homem Célebre" (1974), de Miguel Faria Jr. e dali surgiu a base principal da música. O disco já traz um Chico mais delicado, romântico, sutil e simples e recheado de coisas lindas para cantar por aí.



Chico Buarque (Philips/PolyGram, 1978)
O sucesso no final da década, conseguiu ser uma grande virada na carreira musical de Chico Buarque, graças ao disco que teve 3 músicas proibidas pela Censura, liberadas enfim, para o povo cantar junto: "Apesar de Você", lançada em 1970, que teve muitas prensagens do compacto com essa música retiradas das lojas; "Cálice", inédita desde a performance do Phono 73 e feita em parceria com Gilberto Gil, que nesta versão do disco, a parte do dueto fica mesmo com Milton Nascimento; e "Tanto Mar", composta em 1975, que fazia alusão à histeria portuguesa que foi a Revolução dos Cravos (1974), que marcava o fim da ditadura salazarista portuguesa e também o fim do governo de Marcelo Caetano, que após ser derrubado, exilou-se no Brasil, onde morreu em 1980. O disco também traz músicas feitas especialmente para a sua peça "Ópera do Malandro" (1979), como "O Meu Amor", interpretada apenas por Elba Ramalho e por Marieta Severo, "Homenagem ao Malandro", "Pedaço de Mim" com a presença de Zizi Possi em um belo dueto. Chico também apelou um pouco mais pra música cubana, apresentando uma canção de Silvio Rodriguez chamada "Pequeña Serenata Diurna", música que conheceu após participar de um festival em Cuba, onde após voltar de viagem, foi preso ao lado do escritor Antonio Callado e desta vez, Chico passou batido em pouco tempo. Chico leva um pouco de histórias irônicas, como em "Até o Fim", um convite para uma "Feijoada Completa", composta para o filme "Se Segura, Malandro" de Hugo Carvana; a história de um divórcio de um em "Trocando em Miúdos", tema que estava começando a ser tratado em 1977, depois que a Lei do Divórcio foi aprovada no Brasil. O disco é uma salada de coisas da peça "Ópera do Malandro", de música para filme, música cubana, temas recém-liberados pela Censura, tudo para aproveitar num só disco.


Vida (Philips/PolyGram, 1980)
O disco mais romântico, mais sotisficado e sem aquela onda de panfletagem protestante, ou seja, mais romancista e cronista do que um simples cantor de protesto cansado do poder autoritário. O disco foi lançado em meio a dois fatos importantes do Brasil: a aprovação da Lei da Anistia, que dava direito para os políticos retornarem ao Brasil e terem seu perdão pelos crimes praticados em época de ditadura; e também o começo do processo de americanização, da vinda de novidades como os patins, o McDonald's, os computadores, estes que eram apenas para grandes empresas e não tinham a tecnologia ousada e moderna que têm hoje, e também o adeus ao poetinha Vinícius de Moraes, que falecera antes do seu projeto "A Arca de Noé" chegar ao público, seria o primeiro trabalho pela Ariola. O disco é marcado por canções como "Bastidores", que fala de um artista insatisfeito com a humilhação da pessoa amada ao vê-lo no palco; "Qualquer Canção", "Mar e Lua", "Já Passou" e "De Todas As Maneiras" são músicas com menos de dois minutos cheias de poesia e de romance; "Fantasia" conta com uma grande presença de coro e de Geraldo Azevedo no violão; "Deixa a Menina" é um samba ao estilo dos sambas de Noel e Adoniran, com um pouco de ironia com a menina da música; "Não Sonho Mais" é uma história sobre o sonho de uma pessoa que mais parece ser um pesadelo; "Vida" é uma análise de tudo o que Chico viveu e passou na sua vida, como se ele estivesse  confessando sobre tudo o que passou desde sempre, tudo isso em forma de um bolero moderno; "Morena de Angola", um samba que foi feito após participar de um show como convidado em Luanda, na Angola, falando de uma bela morena, sendo que Chico buscou achar referências de lugares que ele nunca visitou; "Eu Te Amo" feita com Tom Jobim e composta para um filme do mesmo nome, dirigido por Arnaldo Jabor, é uma belíssima prova dessa parceria Chico-Tom ter rendido muito, desde "Sabiá", contou também, além do piano mágico de Tom, a voz de Telma Costa; "Bye, Bye Brasil" é baseada um pouco na modernização do país, o processo de americanização que eu tinha falado no começo, um fato que marcou 1979, também composto para o cinema, especialmente para um filme de Cacá Diegues, cujo o nome se chama "Bye Bye Brasil" e contava com José Wilker, Betty Faria e Fábio Jr. no elenco principal.

Almanaque (Ariola, 1981)
Com o fim do bipartidarismo dominado por MDB e ARENA, o surgimento do PT, PMDB, PPB, PDT, e a volta dos extintos PTB e PCB, a política dos militares parecia continuar a mesma, mas isso não incomodava mais Chico depois de muito tempo. O cantor estava querendo dar um basta na Philips, foi quando rescindiu o contrato e assinou com uma nova gravadora, a multinacional Ariola, criada na Alemanha e que aqui lançou Kleiton & Kledir, Marina Lima, Milton Nascimento (recém-saído da EMI-Odeon), Alceu Valença, Elba Ramalho, Moraes Moreira, Geraldo Azevedo entre outros artistas. Um problema com a PolyGram aconteceu para que Chico não pudesse gravar antes do final do ano seu disco: como a Ariola era independente no começo, a PolyGram  acabaria comprando, fazendo com que Chico não tivesse tempo de gravar o seu disco e isso só ocorreria quando no final de outubro, ele começou a gravar os temas do disco nos estúdios SIGLA (os estúdios da Som Livre) e em um tempo recorde, gravou nove temas em menos de um mês, do final de outubro até novembro e a mixagem foi rápida. Os temas do disco não deixaram passar batido, como "As Vitrines", a tocante "O Meu Guri" falando de um menino, mas que morreu, uma possível alusão ao filho da estilista Zuzu Angel, Stuart; "Almanaque", a história sobre uma certa mulher em "Angélica", a caribenha "Tanto Amar", "Moto Contínuo" feita em parceria com Miltinho, do MPB 4; o samba pra cima "Amor Barato" feita com Francis Hime e com participação de Carlinhos Vergueiro; além de "Ela É Dançarina" com a história de um casal que tem compromissos diferentes, motivo de tantos desencontros. Destaque para "A Voz do Dono e O Dono da Voz", que também pode ser uma possível referência ao show do Phono 73, onde enquanto cantava "Cálice" com Gil, desligaram o seu microfone e o do violão. A capa conta ainda mais com um belo encarte criado por Elifas Andreato.




Chico Buarque (Barclay/PolyGram 1984)
A gravadora Ariola deixou de existir em 1983, após a PolyGram internacional, sediada na Holanda, comprar a multinacional alemã que era distribuída pela PolyGram brasileira e assim, o cast da Barclay ficava um pouco rara após os próximos anos, e a partir de 1986, a Barclay deixaria de existir no Brasil, fazendo com que alguns artistas fossem para a Philips ou para a Polydor. Chico estava começando o ano de 1982 triste, com a perda de seu pai, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda, além de ter perdido uma grande amiga, a cantora Elis Regina, que gravou muitas de suas músicas. Em 1984, Chico viu a grande chance do Brasil voltar a ser democrático, isso graças ao movimento chamado Diretas-Já, baseado numa emenda, feita pelo deputado Dante de Oliveira e assim seria realizado os grandes showmícios das Diretas, com grande presença de políticos, artistas, jornalistas e até de Chacrinha. Chico havia participado junto de outros artistas, dentre eles Fagner, um ano antes, do show Abril en Manágua, realizado na cidade de Manágua, na Nicarágua tomada pelos sandinistas. E gravou um disco com seus sucessos em espanhol, traduzidos pelo uruguaio Daniel Viglietti, lançado pela Philips latina dois anos antes (1982), quando havia perdido o seu pai. O disco, produzido por seu cunhado Homero Ferreira (então esposo de Cristina Buarque), também dispensa os arranjos de Francis Hime, dando lugar a Cristóvão Bastos, nos arranjos e direção musical do disco, ao lado de um grande parceiro de Chico, o percussionista Chico Batera. Pela primeira vez, o disco conta com mais parcerias do que anteriormente: João Bosco em "Mano a Mano", Pablo Milanés em "Como Se Fosse A Primavera (Canción)", Francis Hime, desta vez, compondo "Vai Passar" e a de Dominguinhos em "Tantas Palavras". O samba "Pelas Tabelas", que abre o disco, fala um pouco de futebol, política; já "Brejo da Cruz" fala dos meninos de rua e do futuro deles; "Tantas Palavras" é de um casal fascinado em meio à tantos filmes, embalados pelo acordeom de Dominguinhos; o ombro amigo de João Bosco em "Mano a Mano" têm uma levada mais simples, com um pouco de harmonia; "Samba do Grande Amor", é um dos melhores sambas que ele fez, feito para um filme de Miguel Faria Jr., chamado "Para Viver Um Grande Amor"; a presença de Chico no disco ao vivo de ivPablo Milanés, gravado no Canecão (Rio), acabou sendo retribuído em uma música traduzida para o português, chamada "Como Se Fosse A Primavera", baseada em uma "Canción" musicada por Milanés a partir de um poema de Nicolás Guillén; as histórias de desilusões amorosas ainda continuam, o caso de "Suburbano Coração", relembrando a última visita e falando da moça que nunca teve vergonha do próprio coração; os temas de filme continuam embalando, o caso de "Mil Perdões", na qual um homem desesperado pede perdão para a pessoa amada, tema do filme de Braz Chediak, chamado "Perdoa-me Por Traíres"; a mistura de amores e cartas em "As Cartas" já não parece ser um pouco percebida no disco; o encerramento fica com uma música clássica e pra cima, que mais nos lembra samba-enredo, tanto pelo ritmo quanto pela letra, "Vai Passar", composta por Chico e por Hime, acabou embalando a virada do ano de 1984 para 1985, prevendo que tudo o que aconteceu, vai passar. Ou seja, o fim da ditadura e o caos pós-fim do governo militar ia passar rapidinho, mas não rápido como o povo pensava depois de janeiro de 1985.



Francisco (RCA-Ariola, 1987)
A saída de Chico Buarque da PolyGram já acabou deixando uma sensação de que a coisa agora seria outra, outra casa, outro jeito de trabalhar com música e também outro jeito dos executivos trabalharem com um artista de peso da MPB, como Chico. A velha Ariola ficou independente no Brasil em 1983, mas foi comprada pela RCA International em 1986, tornando-se parte da maior indústria fonográfica e no ano seguinte já estava com o cast renovado, estaria se mostrando disposta em outro selo internacional e lucrando muito futuramente, já que a maioria do elenco nacional da RCA não passava de uma mistura de tudo o que tinha na música brasileira: a sambista Alcione, os grupos de rock Engenheiros do Hawaii, Hojerizah, TNT, Picassos Falsos, João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, o grande Nelson Gonçalves, o rei do forró Luiz Gonzaga, o rockstar Lobão e o grupo infantil Trem da Alegria, ou seja, Chico estava (quase) bem acompanhando. Chico trabalhava desde 1982 para teatros, desta vez, em parceria com Edu Lobo, como em "O Grande Circo Místico" e também em 1985, com "O Corsário do Rei", peça que tem "Bancarrota Blues" como um dos temas do 1º disco de Chico pela RCA, que não é tão ruim de se ouvir. O disco abre com "O Velho Francisco", um tema bem mais original, sotisficado, assim como "As Minhas Meninas", uma valsa especialmente linda, inspirada nas filhas Sílvia, Helena e Luísa, todas jovens; "Uma Menina" conta uma história simples e tocante de uma menina morta na favela; a escola de samba Mangueira é homenageada com estilo em "Estação Derradeira", lançada em meio à euforia verde-rosa após ganharem o Carnaval de 1987, na qual homenagearam Carlos Drummond de Andrade, que falecera meses depois da homenagem; o blues entra na onda do disco em "Bancarrota Blues", feita com Edu Lobo; um dos raros parceiros de Chico, Vinicíus Cantuária, colaborou musicalmente em "Ludo Real", na qual participou da música; o maestro Cristóvão Bastos colabora com "Todo o Sentimento" acaba se resultando em uma bela canção romântica apenas ao piano; "Lola" já se trata de uma pessoa que acabou mudando o jeito de viver; o músico e pianista João Donato tem uma série de "Leila" em sua carreira, dentre elas "Cadê Você (Leila XIV)", na qual um alguém fica desesperado pelo amor que foi embora sem avisar; o disco ainda conta com "Cantando no Toró", que encerra o disco com um estilo mais anos 30/40, feita enquanto Chico ainda tinha brigado com a PolyGram, e após um sonho em que estava gravando um disco com um tema estilo "Singing in the Rain", baseado neste sonho, acabou saindo esta música do nada. O disco mostra um "Velho Francisco" mais perto do público jovem, em meio ao apogeu e ao sucesso do rock.




Chico Buarque (RCA/BMG-Ariola, 1989)
O Velho Francisco havia chegado aos 45 anos de vida, bem vividos e com um jeito de que ainda tinha muita coisa para apresentar de novo ao seu público, que se mantinha fiel, com o passar dos anos. O disco novo foi lançado um ano depois do sucesso do balé "Dança da Meia-Lua", trilha assinada por ele e Edu Lobo, e também da volta aos palcos depois de 13 anos, apenas participou de showmícios e shows comuns como convidado. O disco é carregado de sutilezas, um pouco de modernidade e um pouco de sempre: músicas de teatro, cinema e etc. Chico inicia o seu disco com "Morro Dois Irmãos", o cartão-postal do Rio de Janeiro, retratado em forma de poesia; já "Trapaças", uma bela canção de amor provando que a gente aprende certas coisas com quem a gente ama; "Na Ilha de Lia, no Barco de Rosa (Meio-Dia, Meia-Lua)" é uma parte das canções para balé e teatro, desta vez, de "Dança da Meia-Lua", assim como "A Permuta dos Santos" e "Valsa Brasileira"; enquanto "Baticum", feita com Gilberto Gil, é mais um complexo de globalização, de marcas no Brasil; "O Futebol" é uma homenagem de Chico a uma de suas grandes paixões de sua vida, homenageando até os seus ídolos: Mané Garrincha, Pelé, Pagão, Didi e Canhoteiro, sendo que o terceiro (Pagão) é um dos favoritos jogadores do cantor; a canção "A Mais Bonita" ainda conta com a presença da sobrinha Bebel Gilberto, que estava florescendo com a sua carreira musical após ter feito algumas pontas como vocal de apoio, tanto com o tio quanto com o pai, João Gilberto, e a mãe, Miúcha; o sentimentalismo e a forma simples e delicada em "Uma Palavra" dá uma sensação de que depois dos 45, Chico sabe como agradar o público; Chico fez bem resgatar do filme "Para Viver Um Grande Amor" (1983), de Miguel Faria Jr., o tema "Tanta Saudade" em parceria com Djavan, na qual o próprio fez os arranjos da música. Enfim, um disco provando como Chico sabe se evoluir com o passar dos anos, dando ares de que tem muita coisa pra contar e cantar.



Chico Buarque Ao Vivo Paris Le Zénith (RCA/BMG-Ariola, 1990)
Em 1988, Chico volta a se apresentar nos palcos depois de 13 anos, com a turnê do disco "Francisco" e isso trouxe grande repercussão, pois as suas aparições eram mais em shows, como o do 1º de Maio, em 1980, os festivais de Cuba e também o show latino "Abril En Manágua" (1983), na cidade de Manágua (Nicarágua), onde houve grande repercussão a sua presença. O grande retorno mesmo foi na Argentina, no Luna Park, grande casa de espetáculos na cidade de Buenos Aires, no final de 1984, o Brasil teria que esperar um pouco ainda. Só que o show, gravado em 18 de maio de 1989, numa das maiores casas de espetáculos francesas, o Zénith, em Paris, encerrava a turnê do disco "Francisco" e também o sucesso de sua volta aos palcos, com uma banda preciosa: Luiz Claudio Ramos na guitarra e nos violões; Zeca Assumpção no baixo; Chico Batera, Joãozinho Juiz de Fora e Mestre Marçal nos percussões; Marcelo Bernardes nos saxofone, flauta e clarineta; o uruguaio Hugo Fattoruso nos teclados, todos sob o comando de Cristóvão Bastos no piano, teclados, arranjos e direção musical. A maioria dos temas do show são inéditos, raros em shows e também acabaram trazendo um lado raro, de músicas que foram pouco também apresentadas ao público, como "A Volta do Malandro", "Palavra de Mulher" e "Rio 42", ambas do filme de Ruy Guerra "Ópera do Malandro", que também foi parte da peça "Malandro", ambos de 1985; além de "Joana Francesa" do filme homônimo de 1973 dirigido por Cacá Diegues, com uma mistura bilíngue, meio português e meio francês; "João e Maria" (1977), feita em parceria com Sivuca e gravada no disco de duetos de Nara Leão "Os Meus Amigos São Um Barato", depois lançada na novela Dancin' Days (1978); "Gota D'Água", da peça homônima (1975) feita em parceria com Paulo Pontes; a versão "À Flor da Pele" de "O Que Será", utilizada para o filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Bruno Barreto, baseado no livro de Jorge Amado; além dos temas do disco de 1984, "Brejo da Cruz", "Samba do Grande Amor", "Suburbano Coração" e "Vai Passar"; temas que tiveram versos vetados com os versos originais, antes proibidos e hoje liberados, como "Partido Alto" (tema do filme "Quando o Carnaval Chegar", de 1972, inédito em sua voz), "Não Existe Pecado Ao Sul do Equador" (da peça "Calabar", de 1973), "Samba de Orly" (Construção, 1971); a participação de Mestre Marçal cantando em "Sem Compromisso" (Sinal Fechado, 1974) e "Deixa a Menina" (Vida, 1980); o único tema de Francisco presente, "Todo o Sentimento" apenas com o piano de Cristóvão Bastos no acompanhamento; os primeiros anos revividos em "A Rita" (1966) e a nova fase pós-exílio com "Desalento" (1970), faixa que abre o disco, junto de uma abertura instrumental, com citação de "Olê, Olá" (1966) ao piano na qual Chico apresenta os músicos em francês antes de começar a música e o encerramento bem pra cima, com "Eu Quero Um Samba", de Haroldo de Almeida e Janete Barbosa, clássico do samba dos anos 50, seguido de "Essa Moça Tá Diferente" (1970) marcando assim o fim do espetáculo buarquesco (Buarque + burlesco) pra Serge Gainsbourg, Adamo ou qualquer francês botar defeito nenhum. O disco demorou mais de um ano depois da gravação para ser lançado, mas também foi para poder aproveitar o sucesso de Chico na gravadora que o abraçou meses depois de lançar "Francisco" e é um dos melhores registros ao vivo de um brasileiro na Europa, vale a pena ouvir.


ParaTodos (RCA/BMG-Ariola, 1993)
Chico retornou à literatura, depois de "Fazenda Modelo" (1974), o infantil "Chapeuzinho Amarelo" e o inédito "A Bordo do Rui Barbosa", escrito em 1964 e publicado em 1981, entra definitivamente para a literatura após trabalhar em peças de teatro, como "Roda Viva" (1968), "Calabar - O Elogio da Traição" (1973), "Gota D'Água" (1975), "Os Saltimbancos" (1977), "Ópera do Malandro" (1979) e "Malandro" (1985), além das trilhas para balé feitas em parceria com Edu Lobo, como "O Grande Circo Místico" (1982), "O Corsário do Rei" (1985) e "Dança da Meia-Lua" (1988). Chico acabou lançando com grande sucesso "Estorvo" em 1991 e marcou um grande caminho para a literatura, ainda que estivesse aos poucos se preparando para lançar um grande disco depois de cada pausa dedicada a um livro, o caso foi de "ParaTodos", que foi dedicado especialmente a Tom Jobim, a faixa-título e o disco. Para começar a falar do disco, a faixa-título foi dedicada a muitos artistas brasileiros da MPB, mas o mais especial foi "Antonio Brasileiro", que se refere a Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, ou melhor, Antonio Carlos Jobim, ou simplesmente Tom; "Choro Bandido" é uma das tantas belas canções deste disco, que foi composta com Edu Lobo para "O Corsário do Rei" (1985); já "Tempo e Artista" trouxe uma prova de como o artista deve lidar a encenar no palco com o tempo, o inimigo de muitas pessoas no cotidiano; a batida de "De Volta ao Samba" é também uma resposta de Chico à imprensa, sobre ele não fazer mais sambas e apelar mais para o romantismo sentimental; a levada blueseira em "Sobre Todas As Coisas", tema feito com Edu para "O Grande Circo Místico" (1982), um pouco relacionado à imagem de Deus em forma de canção em um formato crítico; "Outra Noite", de parceria com o guitarrista Luis Carlos Ramos, é uma canção que traz um pouco de sutileza e aquele jeito de críticas da vida cotidiana; "Biscate" é a história de um casal que sempre tem suas diferenças, a participação de Gal Costa dá um toque a mais nesta música; em "Romance", a prova de que muitos amores permanecem ou não, para sempre, embora sempre existam algumas diferenças; "Futuros Amantes" é uma das tantas canções de amor que retrata os amores de várias formas, com um belo arranjo; Tom não ficou só na homenagem na faixa-título, mas botou seu "Piano na Mangueira", mais um de tantos sambas presentes no disco, que até fez o seu piano ir para a Mangueira no carnaval daquele ano, já que a música foi feita em 1992 e esteve presente em "No Tom da Mangueira", feito para arrecadar fundos ao Carnaval; o tema "Pivete", do seu álbum de 1978 ressurge especialmente para ser dedicada aos meninos que foram vítimas de uma chacina na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, incluindo a frase utilizada por eles "Ah, monsieur have money per mangiare?", com um arranjo mais novo e moderno; o final em "A Foto da Capa" faz uma alusão à uma foto de Chico quando foi preso em dezembro de 1961, presente no meio da capa do disco, com fotos de gente desconhecidas. O disco é um pouco de tudo, amores, sambas, canções ParaTodos apreciarem e ouvirem, tudo com a ajudinha do maestro soberano, o grande Antonio Brasileiro.


Uma Palavra (RCA/BMG-Ariola, 1995)
50 anos de vida e 30 anos de carreira, celebrados em um só disco onde resume toda a sua carreira revivendo velhos temas, sem nenhum ineditismo de músicas novas ou de algumas raridades, só o que Chico criou em três décadas de carreira como compositor, foi também o lançamento de mais um livro, chamado "Benjamin", que rendeu elogios no mundo todo e recebeu várias premiações. Além de um álbum, houve pouco pra comemorar, pois havia perdido um amigo eterno, como Tom Jobim, em dezembro de 1994, antes de encerrar a turnê de "ParaTodos", falecera em Nova York em decorrência de um problema com o coração. O álbum juntou muita coisa da sua carreira, como "Estação Derradeira" (Francisco, 1987), "Morro Dois Irmãos" (Chico Buarque, 1989), "Ela É Dançarina" (Almanaque, 1981), "Samba e Amor" (Chico Buarque de Hollanda Nº 4, 1970); além de um tema inédito, gravado com o italiano Sergio Endrigo, "A Rosa", lançado no disco brasileiro "Exclusivamente Brasil" (Philips/PolyGram, 1979); o canto bilíngue em "Joana Francesa" (1973), a exaltação a uma de suas maiores paixões "O Futebol (Para Mané, Pagão, Didi, Pelé e Canhoteitro)" (Chico Buarque, 1989), "Ela Desatinou" (Chico Buarque de Hollanda - Volume 3, 1968), "Quem Te Viu, Quem Te Vê" (Chico Buarque de Hollanda - Volume 2, 1967), "Pelas Tabelas" (Chico Buarque, 1984), "Eu Te Amo" (Vida, 1980), "Valsa Brasileira" (Chico Buarque, 1989), "Amor Barato" (Almanaque, 1981), "Vida" (Vida, 1980) e "Uma Palavra" (Chico Buarque, 1989). Enfim, apesar das novas versões serem um pouco diferentes das originais, é quase ao vivo o disco, pois soa como se fosse um show comemorativo, embora não tenha aplausos e gritos de público, prova que os trinta anos de carreira foram mais do que merecidos para Chico.


As Cidades (Ariola/BMG Music Brasil, 1998)
Chico iniciava um ano de 1997 já mais familiar, já que havia nascido seu neto Francisco, filho de Helena com o percussionista/cantor/multiinstrumentista/produtor Carlinhos Brown, e também colaborado com letras para o livro/CD "Terra", com fotos de Sebastião Salgado e encerraria o ano de 1997 com estilo, seria homenageado com honra pela Mangueira, no Carnaval do ano seguinte. Assim como foi com Tom Jobim em 1993, o próprio receberia homenagens até em um CD, para conseguirem arrecadar dinheiro para realizarem o Carnaval, um disco bancado pela Mangueira (em especial o Centro de Memória da Mangueira) em parceria com a BMG Music, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, que compôs uma letra para Chico musicar, algo que ocorreu duas vezes em sua carreira, com a peça "Morte e Vida Severina" (1966), de João Cabral de Melo Neto e em 1970 com o "Romanceiro da Inconfidência" de Cecília Meirelles, e em 1997 com a letra "Chão de Esmeraldas" de Hermínio Bello de Carvalho. Em 1998, graças ao enredo que homenageava o Velho Francisco, a Mangueira sagrou-se campeã, mas a festa depois que comemorou o Carnaval foi pouca, pois Chico saíra de um casamento de 32 anos com a atriz Marieta Severo, e seriam avôs de novo, desta vez Helena e Brown esperavam uma menina, chamaria-se Helena. O novo disco de Chico seria também uma mudança musical, com temas mais urbanos e também mais diferente do que havia feito em "ParaTodos", seu último disco de inéditas até então: a música "Carioca" tem muita citação do Rio de Janeiro, que vai dos gritos dos vendedores "Gostosa, quentinha, tapioca" e também ao baile funk e aos que voam de asa-delta na Pedra da Gávea "o homem da Gávea criou asas", tem uma levada de samba com jazz e bossa nova; "Iracema Voou" fala das pessoas que deixaram o Brasil em busca de oportunidades nas terras estrangeiras; "Sonhos, Sonhos São" traz uma sutileza, baseada no célebre poema de Calderón de La Barca, "A vida é sonho"; os temas de cinema permanecem como sempre nos discos, o caso de "A Ostra e o Vento", de Walter Lima Jr., baseado no livro homônimo de Moacir C. Lopes; parceiria é o que não faltou, desta vez com Dominguinhos em "Xote da Navegação", que pode nos lembrar um pouco "O Barquinho" de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, em referência a barcos e mares, embora o xote esteja mais para uma valsa pelo ritmo; "Você, Você" foi escrita pensando em Francisco, seu neto, quase uma canção de ninar, pelo ritmo da música e pela forma suave de ser interpretada; "Assentamento", que havia sido composto para o livro/CD "Terra" (1997), com as fotos de Sebastião Salgado; "Injuriado" é um samba que não tem como deixar de gostar, um pouco mais crítico, ao estilo Chico de sempre; como é de costume trazer inéditas de filme, desta vez, do filme "Ópera do Malandro" (1985) foi retirada do limbo "Aquela Mulher", o desabafo de um homem que vive a pensar o porquê da mulher ter brigado com o protagonista ou o eu-lírico masculino da música; "Cecília" com uma linha mais pra baixo e mais melódica ao piano, com orquestração, pode ser uma homenagem à poetisa Cecília Meirelles (1901-1964) também; o samba "Chão de Esmeraldas" lançada anteriormente no disco "Chico Buarque de Mangueira - 1998" traz um Chico exaltando a sua Estação Primeira como um velho saudossista, trazendo mais alegria mesmo depois de ganhar o Carnaval com um enredo em sua homenagem. O disco trouxe inovações, foi o primeiro a ter músicas disponíveis para download no site do cantor, lançado junto com o disco, e foi o disco na qual Chico apareceu de quatro formas irreconhecíveis: loiro, negro, oriental e árabe, embora tudo aquilo era feito no computador, por Gringo Cardia, que já tinha trabalhado com Chico nas capas de "ParaTodos" (1993) e "Uma Palavra" (1995). Enfim, Chico provou que estava com tudo na virada do milênio e sem essa de que as músicas dele já não estavam mais no agrado de ninguém, e isso graças à internet e também ao episódio do Napster, no qual deu um problema que não teve o nome de Chico envolvido, mas sim a música em todo e o futuro do MP3 e da indústria fonográfica, mas em respeito a esse assunto, preferiu ficou na dele.



Carioca (Biscoito Fino, 2006)
O cantor estava se despedindo das trilhas para teatro, depois de longos anos criando canções que acabaram marcando muitas peças de teatro e espetáculos de balé, a dupla Edu e Chico já tinha feito tudo o que já se imaginou, Chico não escrevia tantas músicas após 2001, ao escrever para "Cambaio" de Adriana Falcão e João Falcão, partindo de novo para a literatura com "Budapeste", lançado em 2003. Era a velha estratégia, que vinha desde "Estorvo" (1991): depois de lançar um livro, vê se consegue achar um tempo para se inspirar e gravar um disco novo ou não, dependesse da vontade própria e também da paciência, afinal, ele já conseguiu se realizar como um grande nome da MPB durante os anos 60, 70 e 80 e por isso ele tentou buscar fazer algo fora do que já conseguiu fazer durante toda a sua carreira, assim iniciou-se a entrada no selo Biscoito Fino, que conta com nomes excelentes da MPB. O disco traz o chorinho "Subúrbio", uma música que já tem uma linguagem moderna, que nos lembra também um pouco "Carioca", do disco As Cidades (1998); a valsa "Outros Sonhos" leva um pouco de valsa e xote, puxado pela sanfona de Dominguinhos e um pouco de violinos para embalar os outros sonhos; a rara presença dos temas para teatro, ainda mais da parceria com Edu, encerra-se neste disco com "Ode Aos Ratos (Embolada)", feita para o já citado "Cambaio", que conta com uns versos estilo rap, com uma pegada de Caju & Castanha e até uma batida de percussão soando como uma toada; já o samba "Dura na Queda (Ela Desatinou Nº 2)" é um samba que traz de volta o Chico que retratava os amores e as histórias de Carnaval, era uma das músicas que sairiam no disco "As Cidades", mas foi lançada por Elza Soares em 2001; "Porque Era Ela, Porque Era Eu" já traz um pouco do lirismo romântico de sempre, está no filme de João Falcão "A Máquina"; as paixões do cantor continuam em "As Atrizes", na qual Chico falava de suas musas do cinema nos tempos de menino, quando as atrizes mais charmativas conseguiram se imortalizar por grandes papeis (Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, Diana Dors entre outras); a moça de "Ela Faz Cinema", trata de uma jovem atriz quando não tempo para se dedicar com o amado, mas que mostra fidelidade à ele dentro e fora das câmeras; "Bolero Blues" foi uma boa composição feita com o baixista de sua banda, Jorge Helder, tratava de um desencontro ou algo parecido; "Renata Maria" acabou apresentando outra parceria inédita, desta vez com Ivan Lins, tratando de uma moça na praia; Carlinhos Vergueiro, que participou de "Amor Barato" no disco Almanaque (1981), colabora musicalmente em "Leve", que ainda carrega um pouco de todo o seu lirismo poético; "Sempre" ainda carrega um pouco da sua forma simples de cantar e falar de amor, é tema também de "O Maior Amor do Mundo", de Cacá Diegues; "Imagina", que tem a participação de Mônica Salmasso, é também inédita, pois foi composta com Tom Jobim e especialmente para o filme "Para Viver Um Grande Amor", baseado numa das primeiras criações musicais de Tom, no final dos anos 1940 e que só anos depois achou um lugar. O disco foi bem recebido, muitas críticas, mostrando que um disco bem-feito como esse só mesmo o Chico saberia fazer, de um jeito bem "Carioca" que só ele tem.




Chico (Biscoito Fino, 2011)
Durante todos os últimos cinco anos, Chico fez muitos shows, viajou para que pudesse divulgar seu trabalho, fazer shows e também se dedicar aos livros como sempre, pois em 2009 sairia seu 4º romance, intitulado "Leite Derramado". Em 2010, trabalharia em seu próximo disco e o segundo pela Biscoito Fino, com o mesmo time que o acompanha desde "Uma Palavra" (1995): Chico Batera na percussão, Wilson Das Neves na bateria, Jorge Hélder no baixo, João Rebouças nos teclados, Marcelo Bernardes nos sopros e Luiz Cláudio Ramos na guitarra e na direção musical, e alguns músicos convidados. O tema "Querido Diário" já traz um pouco de saudossismo, e também um pouco do seu lado cronista; "Rubato", de parceria com Jorge Hélder, fala de um compositor apresentando uma canção para a sua amada, chamada Aurora; "Essa Pequena"  também traz  novidades, uma possível referência à uma namorada, já que após 2007 se especulava boatos de que Chico estava namorando; com um pé no Nordeste em "Tipo Um Baião", na qual Chico interpreta de uma forma sutil que só ele sabe; os duetos ficam mais importantes, o caso de "Se Eu Soubesse", com Thaís Gulin, que acaba dando um quê de romance, afinal, ambos são namorados; "Sem Você Nº 2" é uma canção, com base na música "Sem Você", que havia feito com Tom Jobim; "Sou Eu" é um samba à moda antiga, com pegada de bossa feita com Ivan Lins e com a presença do baterista Wilson Das Neves; "Nina" é uma das tantas personagens femininas que Chico conseguiu criar para as suas músicas, como "Geni", "Rita", "Bárbara", a "Morena dos Olhos D'Água" e também uma continuação das personagens; "Barafunda" traz um pouco de história e ainda do que ele testemunhou quando pequeno, do Garrincha ao Cartola; "Sinhá", faixa que encerra o disco, conta com uma bela introdução ao violão e uma levada de samba e com um pouco do dialeto popular brasileiro que foi do Brasil colônia até o comecinho do século 20, os "vosmicê" e o sotaque, com uma levada afro, conta com a presença de João Bosco, que compôs junto com ele a música. O disco é mais delicado, um pouco da bossa nova como referência e também uma suavidade, uma leveza sonora no disco que até parece ser um disco de bossa nova antigo, de um jeito mais moderno.

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