Um disco indispensável: Hot Rats - Frank Zappa (Bizarre Records/Reprise Records, 1969)

Era preciso ele ter deixado a Verve ainda em 1968 e trocar pela gravadora Reprise Records, fundada no início da década pelo seu xará Sinatra, que ele acabou vendo, segundo o que dizem, o lendário pianista de jazz Duke Ellington implorando por um adiamento de meros US$10 (baratinho, não?) aos executivos da gravadora, e o pior - não ser atendido. Isso o levou a duas coisas: a dissolução da banda, o que havia dito antes, e o rompimento de Zappa com a Reprise, sim! Agora ele precisava era de entrar em estúdio, mas com um time novo de músicos, ou quase novos, pois sobrou Ian Underwood - tecladista e instrumentista de sopro dos Mothers, e um outro velho conhecido, que era Don Van Vliet - o Captain Beefheart, que além de tocar sopros, cantava e estava trabalhando em um álbum chamado Trout Mask Replica por um selo que o guitarrista havia criado paralelamente de nome Straight Records, e que Zappa estava produzindo e colaborando no álbum, e serviu como uma troca de gentilezas. Quem fazia parte desta nova jornada desta vez eram: os baixistas Max Bennett e Shuggie Otis, os bateristas Paul Humphrey, Jon Guerin mais Ron Selico, os jovens violonistas Don "Sugarcane" Harris e o francês Jean-Luc Ponty, e fechando o time Harvey Shantz em alguns ruídos - pronto! O time de músicos que faria cozinhas sonoras no seu mais novo álbum solo, intitulado Hot Rats - na qual ele faz os arranjos e a produção deste trabalho editado em 10 de outubro de 1969, nos últimos suspiros daquela época cheia de música, cores e viagens de ácidos - o sonho psicodélico estava chegando ao fim, infelizmente. Mas não o fim das viagens sonoras que seriam proporcionadas para nós ainda através dos anos 70 em diante, e neste álbum o som experimental alucicrazy com influências do jazz e do blues garantem a qualidade musical. Para começarmos a falar do álbum, a gente já vai iniciando com o tema Peaches en Regalia, que abre com uma virada de bateria monstruosa e dá a deixa para um instrumental maravilhoso com um suingue incrível e sopros fantásticos aqui, apesar de ser um álbum quase todo instrumental, não podemos negar que este seja um baita tema de seu conjunto da obra e o jazz-rock que perdura no ambiente sonoro do disco já se garante na primeira faixa; na sequência temos o que podemos considerar o grande hit deste álbum, a única faixa cantada do álbum que é Willie The Pimp, com a voz do Capitão Coração-de-Bife e o violino de Sugarcane Harris desfilando harmonias com a guitarra do mestre Zappa dando a gente uma experiência viajante nesse som, com um solo de mais de sete minutos feito com o pedal wahwah que ele mesmo ajudou a desenvolver e se tornou um elemento importante nos riffs que seriam feitos com aquele pedal, deixando nesta faixa a sua guitarra soar como muitas em uma só - que incrível! E a faixa seguinte traz muito mais peso sonoro e belas harmonias na guitarra ao notarmos isso em Son of Mr. Green Genes e seus nove minutos que já são iniciados pelas batidas rítmicas de Paul Humphrey, e a levada mostra que a banda está bem conectada, seguindo o rumo, e aqui também apresenta um senhor solo de guitarra de Frank, sem fazer totalmente feio aqui numa mistura bem doida que podemos chamar de psychofusion por juntar vários elementos como uma resposta à toda acidez sonora do final daquela década; mais em diante, para mostrar que o som deste álbum segue a nos agradar, ainda contamos também com Little Umbrellas que se concentra em uma linha de baixo tocada por Max Bennett e fazendo um casamento com a bateria de John Guerin nessa cozinha instrumental da faixa e seus simples 3 minutos e 9 segundos de pura originalidade sonora; já a faixa mais longa desse disco também é a que mostra ser um grande tema de peso também - estamos falando de The Gumbo Variations, onde Sugarcane, Underwood e Zappa mostram-se monstros em suas performances instrumentais da faixa num ryhthm and blues incrível e maravilhoso com seus quase 13 minutos e o solo de saxofone executado por Ian Underwood se torna algo mágico e rock and roll, sonzaço garantido pra valer - é uma daquelas músicas que se ouve pensando no quão incrível é ouvir isto e marcando nossos ouvidos para sempre; este álbum encerra definitivamente com a faixa It Must Be a Camel, uma das faixas mais experimentais que aparecem neste álbum, com uma vibe bem jazzística, mas sem deixar de lado a essência viajandona que ainda conta com o violino do francês Ponty entre ruídos e na variação de ritmos, uma hora é suave e na hora já vai para algo mais nervoso, e a guitarra de Zappa mandando riffs incríveis sem esquecer solo de bateria marcante tocado por Guerin ajudando ainda mais a mostrar o bom que essa música proporciona, encerrando com chave de ouro.
Gravado já em um equipamento de 16 canais, sendo que na década de 70 ainda haviam mesas de 8 canais, a qualidade sonora do disco já nos surpreende logo de cara, um ponto positivo a mais do álbum que já virou um clássico cultuado com o passar dos anos. A capa, que aparenta ter cores vibrantes e psicodélicas, traz a foto do que aparenta ser Zappa com cabelos longos em uma piscina de Beverly Hills, mas era uma mulher e se chamava Christine Frka (1942-1972), conhecida como Miss Christine e fazia parte de um grupo chamado GTO's (Girls Total Outrageously) fotografada por Andee Nathanson, embora outro nome tenha levado por anos os créditos das fotos. Este trabalho, como sabem, está presente em algumas das variadas listas de melhores álbuns de todos os tempos, e também na dos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer - onde destacou seu papel como músico, compositor e também produto, e também as colaborações dos músicos neste trabalho.
Set do disco:
1 - Peaches en Regalia (Frank Zappa)
2 - Willie The Pimp (Frank Zappa)
3 - Son of Mr. Green Genes (Frank Zappa)
4 - Little Umbrellas (Frank Zappa)
5 - The Gumbo Variations (Frank Zappa)
6 - It Must Be a Camel (Frank Zappa)
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